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"Espiritismo" brasileiro perdeu uma grande oportunidade de se assumir Católico

(Autor: Alexandre Figueiredo)

O que conhecemos como "Espiritismo" brasileiro está dentro do contexto habitual do Brasil de sempre usar novas formas para promover o velho. Constroem-se edifícios novos em bases antigas, ideias novas são distorcidas através de um conteúdo ideológico antigo. E queremos ainda ser potência mundial mantendo esse verdadeiro complexo de vira-lata.

Se até o nosso rock'n'roll surgiu com bases no meloso roquinho de Pat Boone e companhia, mesclado ainda com o mais meloso ainda cancioneiro italiano, enquanto os ingleses mergulhavam no mais audacioso blues e no mais orgânico rock norte-americano, o Espiritismo tão arduamente estudado e explicado pelo professor Allan Kardec foi introduzido no Brasil sob as bases mais resistentes do antigo catolicismo brasileiro.

Em nome do pretensiosismo, o Brasil sempre se comportou assim, assimilando muito mal causas e fenômenos novos vindos de fora, "adaptados" dentro de bases bastante conservadoras. Não realizamos rupturas com ideologias velhas, mas adaptamos essas mesmas ideologias dentro de conceitos novos apenas parcialmente adotados, geralmente através de clichês e algumas ideias mais inócuas.

No cenário político, também sempre foi assim. O Iluminismo francês, só para citar um importante movimento humanista intelectual da pátria terrestre do professor Rivail, também chegou ao Brasil muito distorcido, porque o movimento iluminista pelos direitos humanos, em terras brasileiras, sempre esbarrava na "necessidade" das elites em se manter o regime escravista, reduzindo a novidade a um mero "iluminismo de engenho", mais uma conversa para bois e escravos dormirem.

O império brasileiro se deu sem romper com as bases do Brasil colonial. A república brasileira se instaurou apenas por um relativo aborrecimento das oligarquias rurais com a abolição da escravatura decretada pelo Segundo Império. E mesmo a Revolução de 1930 de Getúlio Vargas apenas tirou a influência coronelista que patrocinava a República Velha dos centros urbanos, deixando o coronelismo intato nas áreas rurais, nas cidades do interior ou mesmo em capitais socialmente mais atrasadas do país.

Mas não precisamos voltar muito atrás do tempo para sabermos o exemplo mais conhecido entre nós. Mesmo os dois governos Lula e, agora, de Dilma Rousseff, se desenvolveram e desenvolvem no mesmo sistema de acordos políticos oriundo do fim da ditadura militar, válidos até mesmo durante os governos Collor e Fernando Henrique Cardoso.

Tudo isso é citado para dar ideia do quanto o Brasil sempre se alimenta do velho para manter seus interesses, introduzindo o novo parcialmente conforme as circunstâncias. E esse pretensiosismo acaba fazendo com que o país não progrida da forma desejada, sempre adiando os avanços sociais quando o contexto torná-los inofensivos e banais.

"ESPIRITISMO" BRASILEIRO: DISTORÇÕES E EQUÍVOCOS

E o que entendemos por "Espiritismo" ou "Doutrina Espírita", no Brasil, infelizmente não foge à regra e representa um exemplo gritante de como as lições do professor Rivail foram tão pouco valorizadas. Vemos que o pretensiosismo falou muito mais alto do que qualquer hipótese de identificação real com a nova causa apresentada com detalhadas explicações pelo professor lionês.

Em vez disso, criamos uma gororoba de referenciais religiosos antigos, centralizados na influência católica. Criou-se, na prática, um sincretismo religioso católico que, por apresentar como novidade os fenômenos espirituais, se autoproclamou "espiritismo" sem medir escrúpulos de cometer sérios equívocos em relação à doutrina originalmente codificada por Allan Kardec.

E, o que é pior, muitos desses equívocos eram feitos de propósito, mesmo, por interesse dos dirigentes da Federação Espírita Brasileira (FEB), que distorceu muito a doutrina espírita original, em traduções "domesticadas" que substituíam a objetividade direta de Kardec com jargões típicos do vocabulário católico ou do simples moralismo social vigente.

Muitas irregularidades foram feitas pela FEB, que geraram conflitos, desavenças, levando ao extremo as distorções que o próprio Espiritismo original havia sofrido no país de origem, quando a França sofreu um retrocesso político de influência católica que isolou o professor lionês na incompreensão até mesmo de seus seguidores, e na criação de condições para que um Espiritismo distorcido fosse introduzido no Brasil, sobretudo através da falsa "novidade" do "espiritismo" de Jean Baptise Roustaing, religioso que primeiro distorceu os conhecimentos trazidos por Kardec.

Muitos dos elementos "espíritas" brasileiros, como em toda "novidade" desenvolvida em bases antiquadas, nem de longe representam uma ruptura com o velho estabelecido e isso também não significa uma abordagem "original" brasileira, porque nem de longe a "novidade" é inteiramente assimilada, a não ser nos enunciados mais inócuos.

O "evangelho no lar", o auxílio-fraterno, a devoção aos médiuns, a água fluidificada, tudo isso é adotado não em virtude das ideias de Kardec, mas pela influência católica sobretudo ditada por antigos religiosos, como o padre Manuel da Nóbrega e a sóror Joana Angélica, que respectivamente ditam as diretrizes do "espiritismo" brasileiro pelos nomes de Emmanuel e Joana de Angelis.

Mesmo a cantoria nos centros espíritas, a musiquinha "astral" que tanto conforta plateias, é uma herança protestante que no entanto acontece, à sua maneira, nos grupos jovens católicos. E é espantoso como muitos dos processos associados ao Espiritismo no Brasil estão, na verdade, distantes de qualquer lógica em relação aos princípios e ideias propagados pelas mensagens do Espírito da Verdade a Kardec.

Estas mensagens, aliás, foram difundidas, por fontes diversas de médiuns e sob análise cautelosa de Kardec (que não era médium). Os médiuns que estavam a serviço de Kardec eram pessoas discretíssimas, quase anônimas, e cujo serviço não lhes foi pretexto para qualquer estrelismo ou mitificação. Tanto que vários desses médiuns são quase desconhecidos, obscuros, apenas são nomes divulgados a título de informação, que nunca se tornaram celebridades.

Mas aqui há o espetáculo, a festa, a fé, o sentimentalismo. A pieguice distorce o novo em prol do velho, tudo é feito na "santa paz" (bota "santa" nisso), mas quando alguém questiona, o devoto da ocasião se irrita, desfazendo toda sua aura de "paz e perfeição" com comentários simpaticamente belicosos ou irônicos.

NÃO PRECISAVA CHAMAR DE ESPIRITISMO

Tudo isso representou um grande desperdício. Em nome de um rótulo novo, preferiu-se corromper no Brasil uma nova doutrina que nem de longe assimilou as lições de Kardec - num país como o Brasil, onde até os "marxistas" são os últimos do planeta a se interessarem a ler uma vírgula do que o economista alemão escreveu - e mostrar a coisa já confusa e cheia de equívocos e contradições.

Se aquilo que conhecemos como "Espiritismo" brasileiro tivesse evitado tamanha pretensão, veríamos quantos benefícios teriam sido feitos. Afinal, a responsabilidade dos espíritas brasileiros com as distorções e deturpações feitas em décadas expressa o agravante de quem deveria assumir seriamente uma causa nova e no entanto se deixou levar pela incompreensão e ignorância não assumidas.

Desse modo, o "Espiritismo" brasileiro representou um sério retrocesso em relação ao legado de Kardec. Significou a introdução de enunciados novos nas bases mais apodrecidas do catolicismo medieval, num jesuitismo que havia sido extinto no Brasil sob ordens do Marquês do Pombal, que, com Portugal em falência depois do violento terremoto de 1775, não queria mais gastar dinheiro com a Companhia de Jesus nas terras da então colônia brasileira.

Mas pelo menos o "nosso Espiritismo", se assumisse tão somente um simples catolicismo revisto e atualizado, teria cometido erros menores. A pretensão agrava os erros e a ignorância torna-se um erro grave quando se traveste em sabedoria. Se em vez de se autoproclamar "Espiritismo" o nosso catolicismo híbrido fosse tão somente um catolicismo híbrido, os erros não deixariam de ser cometidos, mas a pretensão seria menor, o que seria um atenuante.

O catolicismo híbrido, se fosse assim assumido como tal, teria sido até um pequeno e modesto avanço em relação ao catolicismo tradicional. Não seria grande coisa, não renderia espetáculo nem sensacionalismo, mas a despretensão mostraria, pelo menos, um relativo grau de sinceridade que teria poupado muitos ditos "espíritas" de tamanhos incidentes chocantes que volta e meia assombram a opinião pública brasileira, embora seus fanáticos sigam tranquilos fazendo vista grossa.

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OBS: Vamos esclarecer de uma vez por todas. O Espiritismo ainda é totalmente desconhecido no Brasil! Ninguém conhecer realmente a doutrina codificada por Kardec. Isso que está aí e se define como "espírita" é na verdade um Catolicismo Reencarnacionista e lucraria muito mais e causaria muito menos polêmicas se assumisse como tal, parando de usar o nome de Kardec como carimbo para besteiras. Parem de fingir que seguem Kardec, já que o contradizem! A FEB adminsitra na verdade um Catolicismo enrustido, com todas as características que o definem como tal!

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