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Chico Xavier, o padre dos sonhos do coronel Brilhante Ustra?


(Autor: Professor Caviar)

Francisco Cândido Xavier, oficialmente, simboliza o "amor". Jair Bolsonaro, o "ódio". Mas provas indicam que os dois são frutos de um mesmo imaginário que envolve catarse, baixo senso crítico, emotividade cega e exaltada e idolatria fanática.

Ultimamente, as sintonias se afinam de tal forma que ocorrem caminhos "inversos". Jair Bolsonaro, tentando manter seu pretenso favoritismo eleitoral - factoide plantado pela grande mídia e levado a sério demais por uma opinião pública despreparada - , veste a máscara de "humanista", tentando disfarçar seus notórios preconceitos sociais, manifestos publicamente em diversas ocasiões.

Por outro lado, se revelam aspectos bastante sombrios de Chico Xavier, que até hoje são renegados pelos seus seguidores, dominados pelas paixões religiosas e pela fascinação obsessiva - isso quando não atinge níveis de subjugação, que neste caso paralisa trabalhos intelectuais, cineastas e jornalísticos na contestação do mito do "bondoso médium" - que insistem numa imagem adocicada do seu ídolo, trabalhado como se fosse uma "fada-madrinha do mundo real".

Chico Xavier foi uma figura reacionária e extremamente conservadora. Sua formação católica havia sido ortodoxa, apenas a suposta paranormalidade e a tendenciosa excomungação da Igreja Católica após o escândalo do sobrinho Amauri Xavier (morto em circunstâncias suspeitas e nunca esclarecidas, em 1961) davam a falsa impressão de hetorodoxia. Chico Xavier era medieval nas ideias e o Catolicismo que professava incluía a tenebrosa Teologia do Sofrimento, corrente macabra cultuada na Idade Média e resgatada na época contemporânea pela masoquista Santa Teresa de Lisieux, no século XIX, e por Madre Teresa de Calcutá, no século XX.

Embora muitos torçam o nariz para essa constatação - o pensamento desejoso, motivado por paixões religiosas, não deixa que os chiquistas aceitem uma visão realista e muito menos agradável de seu ídolo - , a Teologia do Sofrimento pode ser comprovada, com surpreendente facilidade, nos livros de Chico Xavier.

Ele sempre fazia apelos do tipo "sofrer em silêncio, sem queixumes". Da forma como ele escrevia ou falava (em certos casos usando, falsamente, o nome de um morto, na tentativa de tornar suas opiniões "menos pessoais"), tudo parece lindo: "em vez de reclamar da vida, veja como a natureza mantém o seu curso, as águas descendo pelos rios, os passarinhos sobrevoando as flores".

O problema é que esses pontos de vista de Chico Xavier, mesmo trabalhados com palavras dóceis, são do mais sombrio e trevoso conservadorismo. Que ideia progressista se pode supor no apelo para "sofrer em silêncio"? Nenhuma. O moralismo "espírita" apela para os oprimidos aceitarem a opressão enquanto, por outro lado, perdoam os abusos dos opressores. Isso nada tem de progressista, e até nas esquerdas muitos tolos caem em falácias motivadas por apelos falsamente progressistas.

"Sofrer em silêncio e sem queixumes" não é progressista. Da mesma forma, a Teologia do Sofrimento se diz cristã, mas sua abordagem sobre o sofrimento de Jesus vem do ponto de vista dos seus condenadores. Circula na Internet um desenho deplorável de várias pessoas carregando a cruz, como se isso fosse um ato bonito. Sem sabermos, promove-se o masoquismo religioso, sob a desculpa de que "forças divinas" irão nos salvar na agonia extrema.

PINGA FOGO COMPROVOU: CHICO XAVIER É REACIONÁRIO

Quantas vezes vamos falar para um esquerdista, que, de repente, surta de vez e, dominado pela fascinação obsessiva, faz uma declaração amorosa a Chico Xavier, que ele sempre foi um grande reacionário? Será que temos que aceitar os dribles do pensamento desejoso diante de tal realidade, quando os chiquistas em geral fazem todo um malabarismo de desculpas para manter suas impressões agradáveis, porém fantasiosas, de Chico Xavier?

O programa Pinga Fogo, da TV Tupi, em julho de 1971, mostrou que Chico Xavier sempre foi uma figura conservadora. Se as esquerdas pudessem manter seu realismo sem falhas, teriam se decepcionado com o "médium". Muitos esquerdistas até se decepcionaram, mas outros mantém-se presos ao pensamento desejoso, porque acham que "médium" é a "fada-madrinha" do mundo real e só pode ter virtudes que são agradáveis ao sabor das convicções pessoais de cada um.

O anti-comunismo de Chico Xavier era notório, explícito e convicto. Ele sabia da responsabilidade de tal declaração. E ela teve grande repercussão, não se acredita que Chico cometesse tal risco se ele tivesse agido por suposta força das circunstâncias. Ele pouco falou dos torturados, e, em vez disso, pediu aos brasileiros que "orassem pelos militares" porque eles estavam fazendo do Brasil um "reino de luz".

Detalhe: em 1971, a ditadura militar vivia sua fase mais cruel. A Operação Bandeirantes havia, pouco antes, se transformado num órgão, o DOI-CODI. Torturadores como Sérgio Paranhos Fleury e, principalmente, Carlos Alberto Brilhante Ustra, botavam para quebrar. Mas eles estavam construindo um "reino de amor" com o sangue de muitos inocentes "acusados de subversão".

Só para entender a gravidade da coisa, naqueles tempos até um vizinho que odeia uma pessoa pode, de maneira leviana, mentir e dizer que a pessoa odiada por ele "estava envolvida em atividades comunistas". Criando um discurso falso e plantando falsas provas, pode-se fazer um preso político com facilidade, criando fofocas, e daí fazendo com que a pessoa fosse presa e, depois, assassinada. Quantas pessoas morreram assim.

O "espiritismo" brasileiro vende a imagem falsa de "progressista", porque sinalizava, em seu ideário, um certo desdém com o sofrimento alheio. A tese dos "reajustes espirituais", "resgates morais" e dos "flagelos coletivos" são desenvolvidas, sem um digno estudo sobre reencarnação, de forma a justificar os prejuízos alheios com supostos pagamentos de dívidas morais. A tese é feita sem o menor fundamento científico, sustentada por um reles juízo de valor.

Chico Xavier havia acusado humildes frequentadores do Gran Circo Norte-Americano, que, em Niterói, a uma semana do Natal de 1961, sofreu um incêndio criminoso deixando centenas de mortos e feridos, além de um grande trauma nos sobreviventes, de terem sido gauleses sanguinários no distante século II.

O juízo de valor foi feito sem o menor fundamento científico e, para piorar, Chico Xavier, para se livrar de culpa, botou tais acusações infundadas e sem misericórdia (porque evocam um passado remoto, que sugere que a acusação, se é que ela ocorreu, havia sido superada há muito) na conta de Humberto de Campos, mal disfarçado pelo codinome "Irmão X", no livro Cartas e Crônicas, de 1966.

Isso era uma forma de Chico Xavier esconder suas opiniões pessoais, bastante reacionárias, elitistas e preconceituosas. Em outros casos, ele também recorria aos nomes dos mortos para "despersonalizar" posturas abertamente individuais, como o apelo para "sofrer em silêncio e sem queixumes", que Chico escreveu, em vários momentos, botando como créditos os nomes de Auta de Souza, Olavo Bilac, Humberto de Campos e até Jair Presente.

Mas em dado momento Chico demonstra seu reacionarismo convicto, e ele fez isso com clara consciência dos seus atos, para desespero dos esquerdistas que ainda se iludem com sua imagem "bondosa". Isso está claro no Pinga Fogo, Chico disse com suas palavras e, se ele não fosse reacionário, ele não teria dito tais palavras, atacando os movimentos sociais e dizendo que o golpe militar foi uma necessidade das "famílias cristãs", das quais ele demonstra solidariedade.

Recentemente, consta-se que Chico Xavier apoiaria Jair Bolsonaro. O anti-petismo do "médium" tornou-se uma realidade que nenhum pensamento desejoso pode desmentir. Tem gente boa criando um discurso bonito, dizendo que o "médium" apoiaria a candidatura de Lula ou Haddad, costurando, no seu sofisma, alegações bonitas sobre "paz e fraternidade", imagens fantasiosas sobre a "caridade" de Chico Xavier comparadas com o projeto progessista do Partido dos Trabalhadores, e montar um texto bonito, perfumado, que joga nas redes sociais e só recebe mensagem de apoio dos leitores.

Mas a realidade não é assim que se sonha. Assim como não se pode transformar uma mulher-fruta num Nobel de Física, também não se pode moldar um "médium" ao sabor dos desejos fantasiosos dos seus seguidores. Os "médiuns" brasileiros sempre foram figuras conservadoras e reacionárias e o próprio "espiritismo" brasileiro, ao preferir o Catolicismo medieval jesuíta sob inspiração de Jean-Baptiste Roustaing (conhecido por J. B. Roustaing, com o "JB" que lembra Jair Bolsonaro), sempre deu preferência a ideias bastante conservadoras.

Chico Xavier, que de forma explícita apoiou a ditadura militar até quando boa parte da direita passou para a oposição, apoiaria Bolsonaro por justificativas prováveis de "exigir maiores sacrifícios aos brasileiros" e até admitindo que o candidato do PSL "possui aspectos desagradáveis" e "manifesta sentimentos lamentáveis" em seus seguidores.

Mas Chico defenderia Bolsonaro, preferindo uma postura anti-petista, por ter sido ele um anti-comunista convicto (paciência, caros esquerdistas, se até Regina Duarte e Pelé são reacionários, por que não um "médium espírita"?), e diria que a eleição de Bolsonaro "é necessária" para afastar o "mal comunista" e promover, "não sem dificuldades", a nação brasileira de acordo com os "princípios cristãos". E ainda diria que o projeto político de Bolsonaro é uma forma de "educar os brasileiros" a "abrirem mão dos gozos da matéria e voltar seus olhos ao Cristo" (Bolsonaro se declara religioso e foi até "batizado" no rio Jordão).

A armadilha das "palavras bonitas" de Chico Xavier em apologia às desgraças humanas sinaliza esse conservadorismo sombrio, renegado pelos seguidores que idealizam demais o "médium" por inspiração de suas fantasias movidas pela paixão religiosa e pela fascinação obsessiva. Nem mesmo o pensamento desejoso que inventa, de Chico Xavier, um "esquerdismo" que nunca existiu, consegue admitir progressismo na ideia de sofrer desgraças sem reclamar da vida. As próprias esquerdas, que reclamam o tempo todo dos arbítrios da mídia hegemônica e da Justiça aristocrática, sabem disso.

No entanto, essas "lindas palavras" são como as dos padres que, chamados a atender os condenados à pena de morte, também trazem "mensagens lindas e confortadoras". Na sentença fatal, também surgem padres e outros religiosos (como pastores, gurus etc) que também trazem o mesmo teor "bonito" das mensagens em prol da aceitação da desgraça e da tragédia final. Chico Xavier não se torna mais progressista com isso. Pelo contrário, ele se nivela aos mesmos padres que torturadores e condenadores severos convocam para a extrema-unção dos condenados à morte.

Dessa forma, que padre não teria o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra para realizar a extrema-unção dos presos políticos que seriam jogados para a morte, por uma simples acusação de terem reagido contra o arbítrio do "movimento de 1964" (nas palavras tendenciosas do juiz Dias Toffoli, de uma linhagem parcialista da Justiça brasileira que, em outros tempos, entregou Chico Xavier à impunidade no caso da usurpação de Humberto de Campos).

Chico Xavier seria o padre exato, desprovido da roupagam da batina católica, a dar extrema-unção aos condenados à morte pela tortura militar. Seria o "padre misericordioso e bom" a tentar aliviar os corações dos condenados diante da pena capital. Muitos pensam que isso é caridade e consolação, mas a verdade é que, quando religiosos pedem para os oprimidos aceitarem suas desgraças opressoras, é porque esses mesmos religiosos estão a serviço dos opressores, e não de suas vítimas.

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