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Religiões mais favorecidas pela ditadura militar ajudaram Jair Bolsonaro


(Autor: Professor Caviar)

Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus e o "movimento espírita" de base roustanguista, religiões que foram mais favorecidas durante a ditadura militar, contribuíram para a vantagem eleitoral de Jair Bolsonaro, que chegou ao segundo turno da campanha para a Presidência da República, e para a eleição de um grande número de aventureiros políticos de caráter reacionário, muitos deles sintonizados com a extrema-direita representada pelo candidato do PSL.

Embora tenham surgido rivais, as religiões neopentecostais (a Igreja Universal e a Igreja Internacional da Graça de Deus) e o "movimento espírita" - este simbolizado pela figura ultraconservadora de Francisco Cândido Xavier - se convergiram nos últimos anos, em pautas que vão da condenação ao aborto em qualquer caso (até no estupro - a vítima que vá se casar com o estuprador ou se entenda com ele no caso de ficar grávida do algoz) até a exaltação dos movimentos reacionários do "Fora Dilma" em 2016 e na atuação tendenciosa da Operação Lava Jato, do Ministério Público e do Poder Judiciário.

É chocante que os "espíritas" brasileiros (não se fala dos espíritas autênticos que recentemente expressaram repúdio a Bolsonaro) estejam apoiando o golpismo dos últimos anos. Mas registra o historiador Jorge Ferreira, autor de uma biografia de João Goulart - cujo filho, João Vicente Goulart, usando a alcunha João Goulart Filho, concorreu à Presidência da República na campanha do primeiro turno encerrada ontem - , que os "kardecistas" estavam entre os grupos religiosos reunidos na Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade, manifestação que foi crucial para a realização do golpe militar de 1964. 

Na época, os maiores ídolos religiosos conservadores cultuados pelos brasileiros eram o católico irlandês radicado nos EUA, o padre Patrick Peyton, o "pároco de Hollywood" que comandava a Cruzada do Rosário em Família, e o pastor canadense radicado no Brasil, Robert McAllister, criador da Igreja da Nova Vida, seita pentecostal da qual vieram R. R. Soares (da Igreja Internacional da Graça de Deus) e Edir Macedo (da IURD). 

Chico Xavier também manifestava seu profundo repúdio ao governo João Goulart e, mais tarde, em 1971, diante de um grande público, manifestou sua defesa pela ditadura militar, a ponto de condenar os movimentos sociais (organizações de trabalhadores, camponeses e sem-teto, pessoas de origem humilde!) e dizer que os militares (inclusive os torturadores) estavam fazendo do Brasil um "reino de amor". E para as esquerdas que ainda se sentem seduzidas pelo "bondoso médium", um lembrete: Chico Xavier apoiou Fernando Collor na campanha de segundo turno para a Presidência da República, em 1989.

Recentemente, o jornalista de esquerda Ricardo Kotscho deu uma ajudinha acidental. Em sua coluna publicada no portal R7, ele escreveu um artigo "sentindo saudade" de Chico Xavier, e reproduziu um texto ultraconservador intitulado "O Silêncio". Atraiu as energias que fizeram com que o grupo Record, hoje de propriedade de Edir Macedo, o demitisse depois que o "bispo" da IURD manifestou seu apoio a Jair Bolsonaro, atraindo a maioria esmagadora de seus fiéis para o candidato do PSL. Kotscho pensou que a "paz" de Chico Xavier iria eleger Fernando Haddad presidente, quebrou a cara. Se esqueceu que seu "adorado médium" era uma figura ultraconservadora, por trás da imagem adocicada acreditada pelos seus seguidores.

As três religiões, IURD, IIGD e FEB, foram as mais favorecidas pela ditadura militar. Edir Macedo e R. R. Soares se ascenderam arrendando horários para suas pregações na televisão. Naquela época, o "movimento espírita" foi adotado pela Rede Globo de Televisão para concorrer com os neopentecostais que se apresentavam nas emissoras concorrentes. A Globo assim o fez para evitar desconfianças, porque o "espiritismo" brasileiro é um genérico da Igreja Católica - na verdade, o "espiritismo" tornou-se uma repaginação do Catolicismo medieval - , mas não conta com o aparato nem as formalidades caraterísticas dos católicos.

A rivalidade não impediu das três religiões, juntas, serem as que mais foram favorecidas pela ditadura militar, recebendo subsídios do Governo Federal e se ascendendo na sociedade brasileira. Tanto as figuras dos pregadores evangélicos R. R. Soares e Edir Macedo quanto a figura sensacionalista de Chico Xavier ocupavam o imaginário popular do regime militar disputando a mesma imagem de "salvadores da pátria" e pretenso "messianismo cristão", como meio de distrair o povo diante da crise que vivia a ditadura, naqueles anos finais da década de 1970.

Durante anos, essa rivalidade se deu e foi fortalecida pela fachada "despretensiosa" e "esclarecedora" do "movimento espírita", que aproveitava as perspectivas de "Nova Era" e "novos tempos" para viver o seu auge, do final dos anos 1970 até meados dos anos 2000. A farsa das "cartas espirituais" de Chico Xavier eram um gancho cuja mensagem oculta era criar um clima psicológico de conformação com a ditadura militar, pois, se as pessoas passavam a se conformar com as mortes dos entes queridos, ficariam ainda mais aliviadas com as mortes dos presos políticos do regime ditatorial.

O imaginário ultraconservador do "espiritismo" brasileiro, que apelava para os sofredores se conformarem com a própria desgraça, só saindo dela através de um esforço acima de suas condições individuais, se afina perfeitamente com o projeto político de Jair Bolsonaro. Além disso, Bolsonaro se ascendeu da mesma forma arrivista que Chico Xavier: se o "médium" se ascendeu criando literatura fake que causou confusão e irritou a comunidade literária, o ex-capitão planejou um ato terrorista, não consumado, que irritou as forças armadas. A literatura fake de Chico Xavier (risivelmente legitimada por causa das "boas mensagens") também trouxe energias que favoreceram a veiculação de fake news por identidades fake que impulsionaram Bolsonaro nas redes sociais.

Na cidade adotiva de Chico Xavier, Uberaba, do Triângulo Mineiro, Jair Bolsonaro saiu-se muito bem nas votações presidenciais, conquistando uma porcentagem de 55%, contra 19% de Fernando Haddad, do PT. Em Pedro Leopoldo, cidade natal do "médium", Bolsonaro teve 52% dos votos, contra 18% de Haddad. A margem supera a diferença no plano nacional, quando Bolsonaro encerrou o dia com 46% contra 29% do rival petista. Tanto em Uberaba quanto em Pedro Leopoldo, Pedro Zema, do partido Novo, foi o preferido nas votações para governador, seguido de Antônio Anastasia, braço-direito de Aécio Neves (que se elegeu deputado federal). Em ambas as cidades, o petista Fernando Pimentel, atual governador mineiro, aparece em terceiro lugar, não se reelegendo. 

A maré conservadora anda sendo bem acolhida pelos "espíritas" brasileiros, e nem mesmo as associações de Bolsonaro a tortura e preconceitos sociais assusta. Pelo contrário. Chico Xavier já expressou posições semelhantes às dos bolsonaristas no programa Pinga Fogo. A sintonia entre Xavier e Bolsonaro foi tanta que o "médium" era mais endeusado ultimamente nos mesmos redutos reacionários das redes sociais, através dos memes que eram divulgados. A afinidade de sintonia foi tanta que houve exageros de dizer que Chico Xavier previu a ascensão de Bolsonaro em carta de 1952, coisa que não ocorreu, mas é fruto das energias afins entre os dois. Depois vem gente dizendo que Chico Xavier era "comunista". Deveriam ver a entrevista do Pinga Fogo.

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