
(Autor: Professor Caviar)
No maior desespero de manter a reputação de um deturpador da causa espírita, Francisco Cândido Xavier, um musical de teatro estreia hoje em Curitiba, reduto de Sérgio Moro, endeusado pelos "espíritas" como se fosse um "enviado dos planos superiores".
Intitulada Um Cisco, a peça se baseia na visão fantasiosa e adocicada que o reacionário Chico Xavier mantém no inconsciente coletivo de muitos brasileiros. Um musical que nada tem de esclarecedor, nada tem de realista, e que somente serve para alimentar a idolatria motivada por paixões religiosas e exercida pela fascinação obsessiva pelo "médium", um dos maiores obsediados pela sociedade brasileira, apesar de vergonhoso traidor dos ensinamentos espíritas originais.
A peça é baseada na biografia - evidentemente, a fonte é uma cinebiografia da Globo Filmes (é bom lembrar que Chico Xavier é blindado pela Rede Globo) - e mantém a linha melodramática com números musicais. O título da peça vem de uma das canções da trilha sonora, composta por Plínio Oliveira.
ATOR PRÓ-HADDAD FOI ESCALADO, NA BOA FÉ, PARA VIVER UM REACIONÁRIO
O ator escalado para fazer o papel do arrivista, Marcelo Veronez, na sua boa-fé, aderiu ao convite, achando que Chico Xavier é uma figura "progressista". Não, não é. A verdadeira imagem de Chico Xavier, que se consagrou no Pinga Fogo da TV Tupi, como um anticomunista ferrenho, fato que permaneceu até o fim da vida, depois que o "médium" apoiou, em 1989, Fernando Collor e, pouco antes de morrer, sinalizava apoio ao PSDB, apesar de ter visto em José Serra uma figura "insossa" (Chico preferia Aécio Neves, até por ser mineiro e mais comunicativo). Chico sempre repudiou o PT.
Veronez, no seu perfil do Facebook, afirma ser eleitor de Fernando Haddad e repudia Bolsonaro. Certamente ele insistirá na sua visão favorável a Chico Xavier, mas ele traz um contraste muito grande à sua visão ideológica, problema que não pode ser subestimado.
Afinal, Chico Xavier não está acima das ideologias. Ele sempre foi ultraconservador, um reacionário convicto. Essa visão realista, driblada pelo pensamento desejoso de seus seguidores - que fazem o que podem para contrargumentar em prol de suas convicções pessoais, motivadas pela pieguice emocional e pela fascinação obsessiva ao "médium" que mais traiu Allan Kardec - , se confirma em obras, enquanto a tese de que Chico era "progressista" é montada por ideias soltas, fantasiosas, sem nexo.
No programa Pinga Fogo, em 1971, Chico esculhambou os movimentos camponês, operário e sem-teto, dizendo que a ditadura militar foi "necessária" para atender ao apelo das "famílias cristãs". Diante do grande público, Chico, que estava consciente de suas próprias declarações, disse para "orarmos a favor dos militares", porque eles estavam fazendo do Brasil "um reino de amor" para o futuro.
Parece doloroso, mas entre os militares está incluído o monstruoso torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Ele estava construindo um "reino de amor"? Com o sangue de muitos inocentes? Ou será que isso se deve por causa da tese dos "resgates espirituais" porque o moralismo do "espiritismo" ibrejista no Brasil investe na culpabilização da vítima?
O que ninguém percebe é que Chico Xavier pode não ter previsto a ascensão de Jair Bolsonaro, mas seu lema, "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", já está sendo comparado com o lema bolsonarista "Brasil, acima de tudo, Deus, acima de todos".
É muito perigoso um atro que apoia um candidato do PT interprete o reacionário Chico Xavier (paciência, se até Regina Duarte, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo são reacionários, por que negar isso de um "médium" que pedia para os oprimidos "sofrerem desgraças em silêncio, sem queixumes"?) quando vemos que Bolsonaro, com uma campanha suja, se julga com uma das mãos já segurando a faixa presidencial.
Isso é o que dá trabalhar a imagem de um "médium" à maneira de uma fada-madrinha do mundo real, com uma suposta caridade que não trouxe resultado algum, fora a idolatria cega ao "benfeitor". E, diante disso, será que temos que "acreditar no amor...daçar" e "jair se acostumando" com o mito "progressista" de Chico Xavier, enquanto somos convidados a sofrer os retrocessos em silêncio?
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