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Os retrocessos sociais, segundo Chico Xavier

(Autor: Professor Caviar)

Muitos pensam que Francisco Cândido Xavier era progressista. Grande engano. Ele foi um grande reacionário e mesmo suas recomendações mais dóceis envolvem valores retrógrados, como "suportar as desgraças em silêncio". A prova contundente do reacionarismo de Chico Xavier, o programa Pinga Fogo da TV Tupi, em 1971, foi subestimado por multidões, apesar de seu caráter explícito, escancarado e do seu amplo alcance do público, pois este é a única edição do famoso programa de entrevistas que teve repercussão gigantesca até a posteridade.

Daí que muitos se chocam quando se associa Chico Xavier a Jair Bolsonaro. Mas as declarações do "médium" no programa Pinga Fogo são explicitamente idênticas ao projeto político do candidato do PSL, que desafia todo um pensamento desejoso que tenta desesperadamente se sustentar na imagem adocicada que Chico tem - e que foi produzida pela Rede Globo, no final dos anos 1970, baseado em um roteiro que o inglês Malcolm Muggeridge fez para Madre Teresa de Calcutá, outra reaça santificada - , buscando textos tardios para forjar, mediante interpretações sem fundamento, uma imagem "progressista" do "médium", só para favorecer esse mito açucarado de sua pessoa, que rende adorações no Brasil inteiro (e muito, muito dinheiro para a FEB).

Aqui vamos mostrar o sentido dos retrocessos sociais, com base no pensamento de Chico Xavier, o que pode parecer chocante. São interpretações feitas no mais puro realismo, e procuramos nos manter fiéis até ao que Chico Xavier pensava e pregava, e os resultados são muito decepcionantes para quem quisesse vê-lo como uma figura progressista e até de esquerda, se esquecendo do anti-esquerdismo convicto que ele teve em toda sua vida. Vamos lá:

REFORMA TRABALHISTA - Chico Xavier apoiaria as mudanças. Sua orientação seria de que os trabalhadores estariam "recebendo regalias demais". Ele reprovaria o Bolsa-Família, embora dissesse que "a Doutrina Espírita já faz algo semelhante e melhor (sic)". O "espiritismo" brasileiro, sob orientação de Chico Xavier, não via diferença entre serviço e servidão, e pouco se importava com o fim dos benefícios trabalhistas trazidos pela CLT. Além disso, reduzir direitos trabalhistas, no seu entender, seriam formas de "desapego à matéria". O que importa, para Chico Xavier, é "servir, sob quais condições fossem", e apenas ter as "condições básicas" para viver "na medida do possível".

CARGA HORÁRIA EXCESSIVA - Diante do princípio do "servir", sem distinguir serviço e servidão, Chico Xavier defenderia as mudanças na carga horária para 12 horas diárias, chegando a dizer que "nem todas as funções são insalubres para se temer tamanho tempo de serviço diário". Para ele, dava para trabalhar 12 horas e aproveitar o resto do dia para a prece, a comunhão da família e dos amigos, e o descanso.

FIM DOS ACORDOS TRABALHISTAS - Chico Xavier seria o primeiro a pedir a flexibilização das negociações trabalhistas. Ele já esculhambou o movimento operário no Pinga Fogo. Defenderia, abertamente, o fim da intermediação da lei para as negociações trabalhistas, preferindo o negociado sobre o legislado. Chico diria que os trabalhadores "têm direitos demais" e veria na "livre negociação" (em que pese a tendência de prevalecer os interesses patronais) um "acordo entre irmãos", dendo de sua pespectiva igrejeira pelo "espiritismo" brasileiro.

REFORMA PREVIDENCIÁRIA - Chico Xavier também definiria como "frescura" o trabalhador querer se aposentar com 55 / 60 anos de idade (mulher / homem) ou, na mesma proporção, por 25 / 30 anos de contribuição para o INSS. "O pessoal ainda está tão jovem, com forças para trabalhar, ainda mais com o aumento da expectativa de vida", diria ele. A declaração também se baseia na ideia de "servir sempre, seja de que forma for", defendida pelo "médium".

ESCOLA SEM PARTIDO - Com práticas similares adotadas pelo "movimento espírita" (até o projeto educacional da Mansão do Caminho, de Divaldo Franco, é um exemplo), a Escola Sem Partido seria defendida até com entusiasmo por Chico Xavier. Ele não veria problema algum, pois para ele seria um projeto educacional que visava o "básico": ensinar a ler, escrever, aprender um trabalho e acolher os ensinamentos do Cristo. Sabe-se que Chico Xavier rejeitava o questionamento aprofundado, definido como "tóxico do intelectualismo" o que indica que a Escola Sem Partido seria aprovada por ele por imediato, devido à dispensa de "perder o tempo discutindo coisas fora do que se ensina nas aulas".

HOMOFOBIA - Tando no livro Vida e Sexo, de 1970, quanto na entrevista do Pinga Fogo, Chico Xavier dizia "respeitar o homossexualismo". No entanto, essa postura não sinaliza apoio à causa LGBTT, porque Chico sempre argumentava que o fenômeno era fruto de "problemas emocionais" dos encarnados, o que significa que ele sempre o via como uma "doença", e não como uma escolha social. O "respeito" se compara ao de um médico em relação a uma vítima de enfermidade.

MACHISMO E RACISMO - Em obras como Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de 1928, e O Consolador, de 1941, há alusões a racismo ou machismo. Na primeira obra, negros e índios são tratados como animais, ainda que pelo relato "bondoso" de "puros do coração". Mas os negros também foram descritos como "animais selvagens" em determinada passagem. Já na segunda obra, os movimentos feministas são definidos como "perigosos" e se recomenda que o "verdadeiro feminismo" (sic) da mulher seja defendido pela prece e dentro do lar, e não fora dele.

OPRESSÃO - Em praticamente toda a obra de Chico Xavier se fazia apologia da desgraça humana. A ideia é pedir aos sofredores que aguentem calados as adversidades da vida e perdoassem os algozes pelos seus abusos e privilégios excessivos. É um relato ultraconservador, fundamentado na medieval Teologia do Sofrimento, embora estranhamente muitos pensem ser um apelo "progressista". A desculpa é a de que Deus, um dia, irá "resolver tais injustiças". Tal apelo de Chico Xavier faria a festa dos ditadores e torturadores de qualquer regime autoritário, diante da postura "cordeirinha" dos oprimidos.

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL - Usando como pretexto uma interpretação tendenciosa dos conceitos espíritas, Chico Xavier iria defender a redução da maioridade penal alegando que, na adolescência, os espíritos "têm exata consciência de seus atos e do seu livre-arbítrio". Só que a defesa dessa tese só faz piorar as coisas, até porque o menor sucumbe ao crime pela influência de adultos que são inocentados diante dessa medida que vai contra o Estatuto da Criança e do Adolescente.

ABORTO - É um consenso dentro do "espiritismo" brasileiro a reprovação incondicional do aborto. Chico Xavier concordaria em 100%. É até irônico, porque os "espíritas", em casos como o do feminicídio, veem atenuantes em certos atos de extermínio da vida humana (atribuem culpabilidade à vítima, que supostamente pagou por faltas da vida passada, tese feita sem fundamento científico). No caso do aborto, mesmo em casos de risco à saúde - prefere-se a sobrevida de alguém que ainda não nasceu do que fazer seguir em frente a vida da gestante em risco - , a reprovação é total. No caso da gravidez por estupro, os "espíritas", em certos casos, chegam a recomendar à estuprada que estabeleça diálogo com o estuprador, dentro dos princípios do "entendimento cristão" e da "reparação de conflitos da vida passada".

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