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Por que podemos assegurar que a obra de Chico Xavier é 'fake'?

(Autor: Professor Caviar)

Pode ser extremamente cruel, para muitos, a definição de que a obra de Francisco Cândido Xavier é fake. Obras associadas a "mensagens positivas", a "lições de vida" e "recados de fraternidade", em tese, não poderiam ser falsas, porque supõe-se que não se pode fazer coisas falsas visando expalhar a "boa palavra".

Só que as coisas não são assim. As mensagens "espirituais" trazidas por Chico Xavier demonstram, com surpreendente evidência, sérios problemas relativos a estilos e aspectos pessoais dos autores mortos alegados. Há uma série de provas, desde conflitos de estilos literários diversos até aberrantes disparidades das assinaturas "mediúnicas" comparadas com as assinaturas deixadas pelos respectivos mortos em documentos como carteira de identidade e outras provas materiais.

É chocante afirmar isso, mas os fatos comprovam. Em nome das paixões religiosas, põe-se a coisa debaixo do tapete. Os partidários de Chico Xavier, com medo, se escondem exigindo critérios escalafobéticos a problemas de fácil comprovação. É como se exigisse uma equação matemática bastante complicada para se chegar ao resultado "4", em vez do fácil e simples "2 + 2".

Um dado que devemos levar em conta é que, em que pese as "lições de vida", as mensagens "em prol da fraternidade e da paz" e outros apelos aparentemente positivos, as obras "psicográficas" apresentam uma qualidade medíocre em relação ao que expressavam os supostos autores espirituais. Fala-se, pelo menos, dos famosos, embora se admita que pessoas comuns teriam sido bem mais diferenciadas do que sugerem as "cartas mediúnicas" padronizadas, que explicitamente soam ser produzidas por uma única pessoa, que é o respectivo "médium", no caso Chico Xavier.

O jornalista Léo Gilson Ribeiro, da revista Realidade e um dos fundadores da revista Caros Amigos, havia dito, em 1971, uma frase bastante irônica: "O espírito sobe, o talento desce". A declaração condiz com o que, tempos antes, o escritor João Dornas Filho escreveu a respeito da farsa de Parnaso de Além-Túmulo, usando como exemplo Olavo Bilac:

"Olavo Bilac, um homem que no estágio de imperfeição nunca assinou um verso imperfeito, depois de morto ditou a Chico Xavier sonetos inteirinhos abaixo dos medíocres".

As declarações, que o "movimento espírita", de maneira muito tendenciosa, credita como "inveja" ou "incompreensão" ao trabalho de Chico Xavier, são na verdade muito consistentes. Elas seguem a lógica e o bom senso, critérios que são de alto valor segundo Allan Kardec, e que deveriam estar acima de qualquer critério de fé e religiosidade. Por mais que se considere a importância da fé e da religiosidade, elas não podem ocorrer à revelia da razão nem se posicionar acima da lógica e do bom senso.

Observa-se uma "queda de talento" nas supostas mensagens espirituais que carregam o nome de personagens famosos. O caso Humberto de Campos é dos mais notórios, pois o "espírito" tem um estilo diferente do que o autor nos deixou em vida. Superficialmente, há apenas algumas semelhanças pontuais, e não são muitas, mas é só parar para se dedicar a uma leitura mais atenta para concluir que os estilos são completamente diferentes. O Humberto que viveu entre nós tinha uma escrita ágil que "desaparece" na suposta psicografia que leva seu nome.

As obras são medíocres e não partem só de Chico Xavier. Ele abriu apenas um precedente. Um exemplo ocorrido nos últimos anos é o livro Getúlio Vargas em Dois Mundos, que a suposta médium Wanda A. Canutti, já falecida, atribuiu ao espírito do escritor português Eça de Queiroz.

A obra é extremamente medíocre, podendo até defini-lo como ruim, e não lembra um pingo do que foi o estilo ágil, muito bem escrito e de narrativa movimentada do autor de O Primo Basílio. Em muitos momentos, a narrativa é pachorrenta, extremamente panfletarista quanto à suposta teoria espírita, e o livro é muito cansativo e sem movimentação. Perde-se tempo teorizando demais sobre o "mundo espiritual", conforme os padrões defendidos pelo "espiritismo" brasileiro, de bases igrejeiras-medievais.

NO MUNDO ESPIRITUAL, AUMENTA-SE A INTUIÇÃO MENTAL, E NÃO O CONTRÁRIO

Vendo essas supostas psicografias, que só são "autênticas" devido a critérios sentimentais motivados pelas paixões religiosas, a queda de talento é notória e indícios de imitação fraudulenta se mostram até em casos "inabaláveis" como as obras de Chico Xavier e Divaldo Franco.

Chico Xavier foi beneficiado pela falácia de que "fazia tudo sozinho". Na verdade, ele escrevia o básico dos textos, mas sempre tinha algum colaborador, em boa parte das vezes o seu tutor na Terra, o presidente da FEB Antônio Wantuil de Freitas, e outros colaboradores na mesma federação, além da orientação de consultores literários de fora desta mesma instituição.

A tese de que ele "fazia tudo sozinho" foi sustentada para abafar as acusações e deixar a coisa "em aberto", que é o que sempre fez o "movimento espírita" quando, diante das supostas psicografias, ao mesmo tempo que não se podia comprovar a autenticidade diante das irregularidades evidentes, também se evitava comprovar a fraude, atribuindo critérios exorbitantes e desnecessários, como "estudar a natureza do espírito", como se fosse possível eliminar a individualidade no além-túmulo.

A lógica que temos, a partir dos ensinamentos do Espiritismo original francês, é que o espírito, quando retorna ao mundo espiritual, tem suas faculdades mentais ampliadas. Sua intuição mental se torna ainda maior e o talento que ele desempenhou na Terra, segundo essa hipótese, se tornaria ainda mais reforçado e aperfeiçoado.

Na prática, o que se observa é o contrário. As supostas psicografias sugerem que o "talento desceu", contrariando frontalmente a lógica do espírito que se liberta da matéria e amplia seus horizontes mentais. Confunde-se a difusão de mensagens "sublimes", atribuídas ao imaginário religioso católico, com talento refinado, num Brasil em que o hábito de leitura, se não é nulo, é medíocre e de baixa qualidade intelectual.

O que se observa são aspectos de mensagens, abordagens de fatos, formas de escrita, que se tornam medíocres na obra dita espiritual. Em muitos casos, a visão escancaradamente terrena é explícita, pois não existe uma única informação que fosse inédita e remetesse a uma suposta revelação espiritual.

O livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, por exemplo, mostra abordagens da História do Brasil que nada acrescentam aos livros didáticos mais conhecidos da Terra. Para piorar, tais abordagens chegam mesmo a se nivelar aos piores livros didáticos, com uma narrativa ufanista cheia de idealizações e de pretensos heróis da pátria.

Um dos inconvenientes trazidos pelo livro de Chico Xavier e Wantuil, mas creditados de forma oportunista a Humberto de Campos, é que o imperador Dom Pedro II e sua filha, a princesa Isabel, teriam sido militantes abolicionistas. Os registros históricos revelam o contrário, tendo sido o imperador bastante hesitante diante das pressões do movimento abolicionista e Isabel teria apenas assinado um documento resultante da atuação de vários parlamentares.

Isso em si põe em xeque, digamos até xeque-mate, às supostas psicografias de Chico Xavier, um homem que, pelo jeito, não é lá um conhecedor de História. Falhas históricas se observam também em livros como Há Dois Mil Anos e Paulo e Estevão, referentes aos tempos do Cristianismo primitivo.

Mas na suposta profecia da "data-limite", Chico Xavier demonstra erros sociológicos e geológicos graves. Ele atribuiu que, no caso do Hemisfério Norte se tornar inabitável, os eslavos migrariam para o Nordeste brasileiro, o que é um disparate climático. Esqueceu-se que, na época em que o "médium" nasceu, em 1910, já haviam migrações de eslavos para o Sul do Brasil, pela afinidade climática. O Nordeste soaria mortal para os padrões climáticos dos povos eslavos.

No caso do Chile, Chico Xavier alegou que o país seria poupado de uma catástrofe de explosões vulcânicas, terremotos e maremotos que atingiriam áreas como o Japão e os Estados da Califórnia e do Havaí, nos EUA. Isso é absurdo, porque, como as demais áreas, o Chile faz parte do Círculo de Fogo do Pacífico, o que significa que, se a Califórnia desaparecer, o Chile tende a ter um destino semelhante.

POR QUE AS OBRAS SÃO FAKE?

A constatação de que as obras "psicográficas" de Chico Xavier soam fake pode soar dolorosa para muitos, mas segue uma série de motivos. Em primeiro lugar, pelo apelo exageradamente sensacionalista de reunir diferentes escritores numa única obra "espiritual", que sofreu reparos editoriais sucessivos e estranhos, que é Parnaso de Além-Túmulo, que abriu precedente para as teses inconcebíveis das "falanges espirituais" da forma que conhecemos.

Afinal, a própria vida na Terra demonstra essa dificuldade de reunir uma grande multidão de personagens de diferentes épocas e procedências. Lembremos do caso de reunir uma turma de ex-colegas da escola, após 20 ou 30 anos de desencontro. Será difícil reunir todo mundo para comemorar 30 anos de saudades, se chegar à metade está de bom tamanho.

Por isso é que as fraudes que se observam em obras "mediúnicas" podem fazer as pessoas chorarem de tão contrariadas, mas são constatações realistas, porque é praticamente impossível reunir espíritos de diferentes pintores, escritores ou compositores, vindos de diferentes épocas e lugares, para um mesmo evento. Sem contar da aberrante irregularidade estilística dos resultados "mediúnicos".

As supostas obras "mediúnicas" são fake porque apresentam irregularidades de estilos e aspectos pessoais. Lembremos que uma obra autêntica não se define necessariamente pelas semelhanças, mas pela ausência de diferenças comprometedoras. Um produto pirata guarda semelhanças expressivas em relação ao produto original, mas sempre há uma diferença comprometedora. É o caso das obras "mediúnicas", que podem lembrar, em muitos aspectos, a obra original do suposto autor espiritual, mas há aspectos comprometedores sérios.

No poema "A Terra", que Chico Xavier atribui a Casimiro de Abreu no livro Parnaso de Além-Túmulo, nota-se que o poema quase todo é um pastiche verossímil do estilo do poeta ultrarromântico, até que dois versos derrubam qualquer hipótese de veracidade: "E enche-se de esperanças / Para sofrer e lutar. Isso não condiz ao espírito de Casimiro de Abreu, porque os versos sugerem um "prazer pelo sofrimento", e correspondem, na verdade, a uma opinião pessoal de Chico Xavier com base na Teologia do Sofrimento.

Portanto, são nuances graves que se deixam passar porque, no Brasil, o hábito de leitura é muito medíocre e a maioria dos brasileiros possui um nível de instrução precário, se é que chegaram a ter alguma considerável escolaridade. Com isso, o "movimento espírita" deita e rola, botando gato por lebre e vendendo literatura fake como se fosse obra do outro mundo. Uma simples observação derruba qualquer esperança de atribuir veracidade a essas obras medíocres e de visão terrena demais para serem consideradas "vindas de elevadas esferas espirituais".

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