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Versos põem fim a tese de que "poema espiritual" de Casimiro de Abreu é "autêntico"

(Autor: Professor Caviar)

Há cerca de um ano, o umbandista mas simpatizante do "médium" Francisco Cândido Xavier, Jorge Caetano Júnior, que tem até livros publicados no Clube de Autores, lançou um artigo apelando "pela autenticidade" do livro Parnaso de Além-Túmulo, primeira publicação do conhecido ídolo religioso.

Jorge tenta refutar a tese de que o livro é uma coleção de pastiches literários, com base na alegação de que Chico Xavier organizou sozinho o livro e, por isso, não teria condições de imitar mais de cinquenta estilos de autores literários.

Ele chama a atenção de "semelhanças mais impressionantes" de poemas atribuídos ao espírito do poeta ultrarromântico Casimiro de Abreu (1837-1860), confrontando "Saudades", um poema que ele escreveu em vida, com "A Terra", atribuído à sua suposta criação no mundo espiritual.

Jorge tenta dizer que as semelhanças "surpreendem", e, por isso, deveria-se reconhecer no suposto poema espiritual a veracidade desta suposição. Só que, com uma análise mais apurada, como se verá abaixo, dois versos põem terra abaixo qualquer chance de autenticidade.

É na penúltima estrofe, quando os dois últimos versos eliminam qualquer nuance pessoal de Casimiro. O trecho "E enche-se de esperanças / Para sofrer e lutar" não corresponde à natureza pessoal de Casimiro de Abreu que, sabemos, não seria um propagandista do sofrimento, sempre visto de maneira lamentosa pelos poetas ultrarromânticos.

Esses dois versos refletem o pensamento pessoal de Chico Xavier. Isso é comprovado. Ele queria botar na conta de autores mortos o seu pensamento pessoal, como se quisesse forçar que almas do além concordassem com o que ele pensava, o que é um absurdo, até pelo fato de que os espíritos se afastaram da Terra e não têm condições para reclamar de ideias e conceitos que Chico Xavier teve como seus mas que queria também dar responsabilidade a terceiros.

Chico Xavier, como devoto da Teologia do Sofrimento - corrente medieval católica que tem em Madre Teresa de Calcutá sua maior devota - , achava que a desgraça humana era um "atalho para Deus" e, por isso, sempre fazia do sofrimento uma bandeira de devoção e fé, coisa que, no entanto, não era da natureza dos espíritos que tiveram créditos nos livros lançados pelo "médium".

Vamos reproduzir, na íntegra, os poemas citados por Jorge Caetano, que apenas os reproduziu na íntegra. Embora haja semelhanças estilísticas entre os dois poemas - embora se alerte que o poema "A Terra" poderia ser creditado "sem problemas" a Castro Alves - , só os dois citados versos derrubam qualquer chance de autenticidade. "Ter esperança para sofrer" é coisa da mente de Chico Xavier. Vamos aos poemas:

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Saudades - Casimiro de Abreu

Nas horas mortas da noite
Como é doce o meditar 
Quando as estrelas cintilam 
Nas ondas quietas do mar; 
Quando a lua majestosa 
Surgindo linda e formosa, 
Como donzela vaidosa 
Nas águas se vai mirar!

Nessas horas de silêncio 
De tristezas e de amor, 
Eu gosto de ouvir ao longe, 
Cheio de mágoa e de dor, 
O sino do campanário 
Que fala tão solitário 
Com esse som mortuário 
Que nos enche de pavor.

Então — Proscrito e sozinho — 
Eu solto aos ecos da serra 
Suspiros dessa saudade 
Que no meu peito se encerra 
Esses prantos de amargores 
São prantos cheios de dores: 
— Saudades — Dos meus amores 
— Saudades — Da minha terra!

********************

A Terra - Francisco Cândido Xavier, atribuído ao espírito de Casimiro de Abreu

Aos pessimistas 

Se há noite escura na Terra, 
Onde rugem tempestades, 
Se há tristezas, se há saudades, 
Amargura e dissabor, 
Também há dias dourados 
De sol e de melodias,

Esperanças e alegrias, 
Canções de eterno fulgor! 
A Terra é um mundo ditoso, 
Um paraíso de amores, 
Jardim de risos e flores 
Rolando no céu azul. 
Um hino de força e vida 
Palpita em suas entranhas, 
Retumba pelas montanhas, 
Ecoa de Norte a Sul. 

Os sonhos da mocidade, 
As galas da Natureza, 
Livro de excelsa beleza 
Com páginas de esplendor, 
Onde as histórias são cantos 
De gárrulos passarinhos, 
Onde as gravuras são ninhos 
Estampados no verdor; 

Onde há reis que são poetas, 
E trovadores alados, 
Heróis ternos, namorados, 
Gargantas de ouro a cantar, 
Saudando a aurora que surge 
Como ninfa luminosa, 
A olhar-se toda orgulhosa 
No espelho do grande mar! 

Onde as princesas são flores, 
Que se beijam luzidias, 
Perfumando as pradarias
Com seu hálito de amor; 
Desabrochando às centenas, 
Na estrada onde o homem passa, 
Oferecendo-lhe graça, 
Sorrindo, cheias de olor. 

O dia todo é alvorada 
De doces encantamentos; 
A noite, deslumbramentos 
Da Lua, em seus brancos véus! 
A tarde oscula as estrelas, 
Os astros o Sol-nascente, 
O Sol o prado ridente, 
O prado perfuma os céus!... 

Quem vive num éden desses, 
É sempre risonho e forte, 
Jamais almeja que a morte 
Na vida o venha tragar; 
Sabe encontrar a ventura 
Nesse jardim de pujanças, 
E enche-se de esperanças 
Para sofrer e lutar. 

Se há noite escura na Terra, 
Abarrotada de dores, 
De lágrimas e amargores, 
De triste e rude carpir, 
Também há dias dourados 
De juventude e esplendores, 
De aromas, risos e flores, 
De áureos sonhos no porvir!...

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