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'Parnaso de Além-Túmulo' foi uma armação para favorecer a FEB

(Autor: Professor Caviar)

Devemos desconfiar de certas polêmicas, usadas para desviar o foco e promover personagens que parecem agradáveis, mas deveriam despertar desconfiança séria e vigilante.

Vamos deixar de fantasias. Só a memória curta e horas e horas vendo TV Globo para achar que Francisco Cândido Xavier é "símbolo máximo de bondade, amor e esperança". Uma imagem construída não de maneira original, inspirada em Malcolm Muggeridge, de um deturpador do Espiritismo que era apenas um grande vendedor de livros da FEB, não pode ser alvo de tamanha adoração, que atinge níveis de puro fanatismo, mesmo de parte dos que tentam não assumir tal postura.

Pois o Brasil que ficou surdo aos alertas de Erasto deixou que o mito do maior deturpador da Doutrina Espírita cresça de maneira tão descontrolada que existe uma corrente na qual as bases doutrinárias possam ser recuperadas mantendo toda consideração ao deturpador Chico Xavier. Mesmo que seja como enfeite e às custas de uma parcela de depoimentos pessoais.

Isso é terrível. O arrivismo de Xavier tornou-se uma das coisas mais perigosas e uma das armadilhas às quais a maioria dos brasileiros se sucumbiu de maneira altamente vulnerável. Se existe alguém que personifique o "canto da sereia" que leva muita gente à perdição, então essa "sereia" é Chico Xavier.

Relembrando o primeiro e tendencioso livro, Parnaso de Além-Túmulo, comprovadamente uma coleção de pastiches literários pelo fato de que muitos dos poemas "espirituais", por mais que se assemelhem aos estilos originais, também apresentam alguma irregularidade.

O livro é um daqueles artifícios que alguma instituição usa para tirar do foco qualquer debate sério. Imagine debatermos, por exemplo, os salários dos trabalhadores e, numa passeata, um homem nu corre pela calçada. Vamos discutir a validade, ou não, do homem se manifestar daquela forma, se ele fez um desafio aos valores moralistas ou se causou atentado ao pudor.

Na crise do governo João Goulart, enquanto as pessoas debatiam a aplicação das reformas de base, como a reforma agrária que iria começar pelas propriedades improdutivas situadas à beira de rodovias, surgiu um estranho sargento que desviou o foco para levar como "prioridade" a discussão de uns direitos para militares de baixa patente. Chamado José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, ele desviu o foco criando uma polêmica desnecessária que causou confusão e permitiu que a oposição pedisse o golpe militar, dando origem à ditadura militar que manchou nossa História.

Durante o governo Lula, enquanto se discutiam os debates da qualidade de vida das classes populares, um antigo intérprete de "funk carioca", MC Leonardo, virou dublê de "ativista político e sócio-cultural" criando uma ideologia de "periferia" que mais lembrava o ufanismo de favela, desviando o foco dos debates para a aceitação forçada do "funk" (um ritmo dançante de valor muito duvidoso) e para a glamourização da miséria e da ignorância.

Em ambos os casos, o foco foi desviado e polêmicas desnecessárias apenas viraram um gancho para a ascensão de determinados arrivistas. A analogia dos discursos de Cabo Anselmo e MC Leonardo, com toda aquela falsa "consciência social", é surpreendente, e os dois, não bastasse serem pessoas conservadoras fantasiadas de transgressoras, tiveram como precedente o caso de Chico Xavier, outro arrivista a surfar em cima de polêmicas fabricadas e tendenciosas.

Os debates em torno das ideias kardecianas que já não foram devidamente apreciadas no Brasil - até porque a intenção inicial da FEB é seguir Jean-Baptiste Roustaing, mistificador igrejista que se contrapôs ao professor lionês - foram desviados com um livro muito estranho lançado em 1932, que alega ter sido uma antologia de poetas que mandavam obras novas do além, através da "mediunidade" de Chico Xavier.

COMO SE DEU A FARSA

O livro Parnaso de Além-Túmulo gerou uma grande confusão, o que já derruba qualquer esforço de dizer que o "médium" mineiro é vítima de tantas controvérsias e demais problemas que envolveram o seu nome (e até o envolvem, postumamente).

A obra causou controvérsia porque renomados analistas literários identificaram fraudes severas nos alegados poemas. Foram identificados pastiches até em poemas que apresentavam alguma semelhança mais verossímil em relação aos estilos dos autores originais. No entanto, uma grande malandragem se aproveitou quando da réplica às acusações de fraude: a de que Chico Xavier seria incapaz de fazer, sozinho, pastiches dos mais diversos estilos literários.

O "plano perfeito", no entanto, escondeu um detalhe. O livro poético da FEB teve a colaboração de editores, redatores e consultores literários. Chico Xavier não teria feito sozinho os pastiches, é verdade, mas também não se comunicou com os poetas do além, já que também ficaria difícil reunir gente de diferentes movimentos e épocas. Se já não é fácil reunir colegas de escola de 20 anos atrás, quanto mais espíritos de autores mortos que viveram em épocas e lugares diferentes?

Isso é que as pessoas se esquecem. Acham que Chico Xavier ou recebeu mensagens de diferentes espíritos, ou estaria fazendo um sofisticadíssimo trabalho de imitação. Em ambos os casos, é vantagem ao suposto médium. O sensacionalismo que isso acarreta permitiu que o mito chiquista crescesse de modo descontrolado, e é uma glória na vantagem pessoal de um arrivista, que de um mero caipira anônimo se transformou num semi-deus.

A polêmica toda de Parnaso de Além-Túmulo foi feita para favorecer a FEB. Muito do que foi feito foi por decisão de Wantuil e sob o consentimento convicto de Xavier. Foi um meio desonesto de fazer crescer a FEB e o que ela entende como "espiritismo", muito distante dos postulados de Allan Kardec.

O livro desviou o foco dos debates e lançou, na cara-dura e sem qualquer preparação de estudos e pesquisas, uma suposta mediunidade de celebridades literárias, criando muito sensacionalismo e deturpando as discussões sobre vida espiritual e comunicação com os mortos. Chico Xavier costuma criticar as "fogueiras" que os outros lançam contra ele, mas o "médium" se esquece das "fogueiras" que ele alimentou com seu "querosene" que favoreceram a deturpação espírita e o poder da FEB.

Dá pena que muitos glorificam Chico Xavier pela "linda imagem de bondade" que eles viram na tela da Rede Globo e se esqueceram. A Globo manipula, seja pela política, pelo "funk", pelo "espiritismo" e muitos imaginam que tudo que assimilam da Globo veio naturalmente como o ar que respiramos. Que nada. Tudo foi um discurso construído, dentro de um país marcado pela memória curta, pelo jeitinho de se levar vantagem em tudo e pela complacência fácil aos ídolos religiosos adorados de maneira obsessiva e doentia.

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