Pular para o conteúdo principal

Ainda sobre a criminalização da razão por Chico Xavier

(Autor: Professor Caviar)

O conto "Diálogo e Estudo" do livro Estantes da Vida, atribuído a Humberto de Campos, não bastasse a hipocrisia do titulo, que sugere alguma coisa mais intelectualizada mas que vai contra o intelectualismo, nota-se que esta obra trazida por Francisco Cândido Xavier entra em séria colisão com os postulados originais tão trabalhosamente desenvolvidos por Allan Kardec, com o agravante de que o referido livro chiquista foi lançado em 1969, ocasião do centenário de falecimento do pedagogo francês.

Sabe-se que os postulados originais kardecianos sempre primavam pelo conhecimento científico, pela análise questionadora e investigativa, pelo raciocínio apurador e pela argumentação precisa e não raro contestadora de supostas certezas que perdem o sentido quando confrontados com a lógica e o bom senso.

O "espiritismo" brasileiro apenas finge adorar o rigor investigativo de Kardec. Finge, faz-de-conta, apenas para dar a falsa impressão do vínculo "orgânico" com a Doutrina Espírita. Mas, na medida em que exalta o igrejismo medieval de Chico Xavier, nota-se que os "espíritas" brasileiros partem para um anti-cientificismo em muitos casos bastante furioso, que os faz atribuir à Ciência e ao Intelecto apenas tarefas limitadas como estudar doenças, analisar temas abstratos e evitar qualquer confronto com a fé religiosa.

Quando se fala que não se deve recuperar as bases originais da Doutrina Espírita dando qualquer consideração com Chico Xavier, por menor que seja, não se está fazendo qualquer calúnia ou perseguição de espécie alguma, como bradam os tão chorosos "espíritas", que se assustam até quando se aponta uma vírgula contra o "bondoso médium".

O que se quer, com isso, é dizer que o "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba deveria, sim, ser responsável pela deturpação que fez à Doutrina Espírita, algo que não foi feito por acidente nem por decisão alheia, porque Xavier escolheu, com muito gosto, essa deturpação, até porque ele nunca foi espírita de verdade.

Chico Xavier sempre foi um católico, medieval de tão ortodoxo. Ele apenas praticava paranormalidade, mas seu Catolicismo era muito velho e antiquado, bastante ortodoxo em ideias, tanto que os críticos católicos que o hostilizavam acabaram migrando para posturas que, se não eram radicalmente progressistas, tornaram-se pelo menos humanistas e democráticos. 

A título de comparação, o escritor Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde), que acusou Parnaso de Além-Túmulo de ser uma fraude editorial, "maculando" o "homem de bem" que é oficialmente conhecido Chico Xavier, defendeu o golpe de 1964 tanto quanto o "bondoso médium" que certos incautos acreditam ser "progressista" a ponto de setores das esquerdas aderirem à pegadinha "filantrópica" do chiquismo.

No entanto, enquanto Chico Xavier reafirmava, para milhares de brasileiros, a sua defesa à ditadura militar - ele pedia para "orarmos aos generais" porque eles estavam "construindo o reino de amor do futuro" - , na sua pior fase em 1971, Alceu já estava na oposição, defendendo a redemocratização do Brasil.

Vendo o conto atribuído levianamente a Humberto de Campos, com o crédito de Irmão X para "evitar novos dissabores", pois o autor maranhense nunca teria escrito uma coisa dessas, nota-se que a criminalização da Ciência - a literatura do "médium" inclui termos maliciosos como "tóxico do intelectualismo" - é um grande desperdício ideológico que cria um maniqueísmo inútil e, de certa forma, perigoso.

Se a Ciência revela suas maldades eventuais, ela se dá pelos desvios morais do homem. O caso da bomba atômica pode ser ilustrativo nesse sentido, afinal, se esquece que tanto esse artefato bélico quanto os regimes fascistas que a Segunda Guerra Mundial queria combater não são só fruto da ganância da Ciência, mas também da ganância da Religião.

Tanto o nazi-fascismo quanto o capitalismo (com eventual e condicionado apoio do stalinismo) eram simpatizantes da fé religiosa, e deve-se lembrar que Josef Stalin foi um deturpador do marxismo, e ele muito favoreceu os católicos ortodoxos soviéticos. E o cardeal alemão Joseph Ratzinger, que foi a ser o Papa Bento XVI, tem em seu histórico o apoio ao nazismo na juventude e a condenação à Teologia da Libertação, corrente progressista da Igreja Católica.

Também não vamos nos esquecer que movimentos sanguinários se formam através da catarse religiosa, com todos os seus ritos, dogmas e devoções copiados da religiosidade. Mesmo grupos como a Família Manson e a Klu Klux Klan foram formados usando o sentimentalismo religioso para fins bastante sombrios.

O conto "Diálogo e Estudo", portanto, caiu numa grave contradição. O título tenta dar uma ideia de um texto esclarecedor, quando a verdade é um texto que defende o obscurantismo. O que revela a herança de Jean-Baptiste Roustaing sobre Chico Xavier, quando o igrejismo prevalecia sobre o cientificismo. O que mostra o grave equívoco que é os adeptos do Espiritismo verdadeiro sonharem em recuperar as bases doutrinárias mantendo o "médium" mineiro no pedestal.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Provas de que Chico Xavier NÃO foi enganado por Otília Diogo

 (Autor: Professor Caviar) Diante do caso do prefeito de São Paulo, João Dória Jr., que divulgou uma farsa alimentícia durante o evento Você e a Paz, encontro comandado por Divaldo Franco, o "médium" baiano, beneficiado pela omissão da imprensa, tenta se redimir da responsabilidade de ter homenageado o político e deixado ele divulgar o produto vestindo a camiseta do referido evento. Isso lembra um caso em que um "médium" tentava se livrar da responsabilidade de seus piores atos, como se ser "médium espírita" permitisse o calote moral. Oficialmente, diz-se que o "médium" Francisco Cândido Xavier "havia sido enganado" pela farsante Otília Diogo. Isso é uma mentira descarada, sem pé nem cabeça. Essa constatação, para desespero dos "espíritas", não se baseia em mais um "manifesto de ódio" contra um "homem de bem", mas em fotos tiradas pelo próprio fotógrafo oficial, Nedyr Mendes da Rocha, solidário a

Publio Lentulus nunca existiu: é invenção de "Emmanuel" da Nóbrega! - Parte 3

OBS de Profeta Gandalf: Este estudo mostra que o personagem Publio Lentulus, utilizado pelo obsessor de Chico Xavier, Emmanuel, para tentar dizer que "esteve com Jesus", é um personagem fictício, de uma obra fictícia, mas com intenções reais de tentar estragar a doutrina espírita, difundindo muita mentira e travando a evolução espiritual. Testemunhos Lentulianos Por José Carlos Ferreira Fernandes - Blog Obras Psicografadas Considerações de Pesquisadores Espíritas acerca da Historicidade de Públio Lêntulo (1944) :   Em agosto de 1944, o periódico carioca “Jornal da Noite” publicou reportagens investigativas acerca da mediunidade de Francisco Cândido Xavier.   Nas suas edições de 09 e de 11 de agosto de 1944, encontram-se contra-argumentações espíritas defendendo tal mediunidade, inclusive em resposta a uma reportagem anterior (negando-a, e baseando seus argumentos, principalmente, na inexistência de “Públio Lêntulo”, uma das encarnações pretéritas do

Um grave equívoco numa frase de Chico Xavier

(Autor: Professor Caviar) Pretenso sábio, o "médium" Francisco Cândido Xavier é uma das figuras mais blindadas do "espiritismo" brasileiro a ponto de até seus críticos terem medo de questioná-lo de maneira mais enérgica e aprofundada. Ele foi dado a dizer frases de efeito a partir dos anos 1970, quando seu mito de pretenso filantropo ganhou uma abordagem menos confusa que a de seu antigo tutor institucional, o ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas. Nessa nova abordagem, feita sob o respaldo da Rede Globo, Chico Xavier era trabalhado como ídolo religioso nos moldes que o jornalista católico inglês Malcolm Muggeridge havia feito no documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God) , em relação a Madre Teresa de Calcutá. Para um público simplório que é o brasileiro, que anda com mania de pretensa "sabedoria de bolso", colecionando frases de diversas personalidades, umas admiráveis e outras nem tanto, sem que tivesse um