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A "caridade" como encenação

(Autor: Matias Nepomuceno, via e-mail)

As pessoas no Brasil são muito ingênuas no que se diz à concepção de "bondade" em que acreditam. Ela serve mais à promoção da imagem do "benfeitor" do que ajuda aos necessitados, e vemos muitos festejando demais supostos filantropos que fazem tão pouco.

É constrangedor ver como é fácil glorificar alguém por tão pouca ajuda e citar ideias vagas como "ele ajudou muita gente", "ela beneficiou milhões", "muitos conquistaram vida digna" e por aí vai. Sem dados concretos e sem resultados expressivos, diga-se de passagem.

Pesquisando o que se começa a analisar sobre a construção dos mitos de Chico Xavier e Madre Teresa de Calcutá, percebo que essa "bondade" de novela da TV não passa de encenação, de um truque de marketing. Não digo que absolutamente nada seja feito, mas o que é feito em prol do próximo é longe de qualquer comemoração, festeja-se demais pelo pouco que é feito. E muito pouco.

Observando tudo isso, dá até para conceber um roteiro dramático que faz com que esse marketing da "filantropia" comova com facilidade impressionante as mentes emocionalmente tão fracas, que são incapazes de raciocinar e perguntar: "será que eles realmente ajudaram?", "como foi essa ajuda?", "não há um proselitismo religioso por trás de seu projeto educacional?", "a caridade é para esconder alguma fraude?". Todos aceitam sem questionar, desperdiçando a capacidade de raciocínio do ser huamno, que não veio aqui na Terra para acreditar, e sim para saber. E tão pouco se interessa a saber, se preferindo acreditar cegamente sob o rótulo de pretensa sabedoria.

O roteiro é o seguinte:

1. O filantropo caminha na rua em direção a uma casa de caridade. Multidões o cercam cumprimentando com muita alegria. 

2. O filantropo segura um bebê, oferecido por uma senhora, no colo, fazendo o devido carinho a ele. Depois o filantropo vai para a calçada cumprimentar miseráveis que lhe estendem a mão.

3. O filantropo cumprimenta algum membro da direção da casa. Ele lhe saúda e o convida a entrar, começando a visita na casa de caridade.

4. A casa de caridade tem estrutura modesta, como uma repartição pública de cidade do interior. Ou uma sede de prefeitura em zona rural. O filantropo começa a percorrer os aposentos.

5. No quarto, ele observa velhos doentes, um deles se esforçando, com muita dificuldade, a se levantar da cama. O filantropo faz algumas perguntas a um deles, mas esse é um aspecto facultativo do roteiro. Geralmente ele observa e vai embora.

6. Ele vai para a cozinha, na qual crianças carentes, geralmente mestiças, negras ou de outra etnia associada à pobreza, estão tomando um prato de sopa. O filantropo chega perto de uma dessas crianças e pergunta se ela está gostando da sopa. Ela, com a boca cheia, balança a cabeça afirmativamente.

7. Depois de visitados os cômodos, o filantropo é convidado a ir para o salão. Nele há uma mesa larga, do tamanho da que se vê nas pinturas da última ceia de Jesus Cristo. 

8. Na mesa, o(a) diretor(a) da casa e um(a)assistente sentam ao lado do filantropo, que fica no meio entre as cadeiras distribuídas. Às vezes outras pessoas do grupo também sentam à mesa.

9. Imprensa coloca seus gravadores. Há fotógrafos e cinegrafistas. O filantropo então faz um discurso e cita frases religiosas, referentes a clichês de humildade, sofrimento, esperança, calcadas sobretudo na Teologia do Sofrimento.

10. A pequena plateia que se reuniu em modestas cadeiras para ver o filantropo o aplaude com muito entusiasmo. É facultativo aplaudir em pé ou sentado, mas os aplausos sempre soam fortes.

Com isso, imaginamos a moleza com que Madre Teresa de Calcutá, que deixava seus assistidos em condições sub-humanas, e Chico Xavier, o maior e mais grave deturpador da Doutrina Espírita, viraram pretensas unanimidades, com um padrão de "amor e caridade" cujo único efeito é garantir aos dois a idolatria cega e deslumbrada de pessoas fanáticas e iludidas.

Com isso, a bondade perde o sentido original de ajuda, para se tornar um mero artifício da religião para convencer as pessoas a idolatrar certos ídolos que servem para os interesses comerciais dessas instituições religiosas. Infelizmente, a "bondade" que muitos acreditam é muito menos bondosa do que se imagina.

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