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Uma análise crítica do livro Libertação e localização do Nosso Lar original

(Autor: Eduardo José Biasetto)

INTRODUÇÃO[3]

Não existiram maiores dificuldades para encontrar várias semelhanças entre as obras Libertação, alegada psicografia de Chico Xavier pelo suposto espírito André Luiz e A vida além do véu, suposta psicografia de George Vale Owen por alegados espíritos diversos. Tais semelhanças levam à conclusão que Xavier plagiou a obra de Owen; porém, existiram dificuldades para organizar & apresentar essas semelhanças, em virtude de dois aspectos: a) as duas obras são consideravelmente extensas; b) as semelhanças nem sempre se encontram em sequências de fácil percepção; algumas vezes, entre as similaridades, há longos discursos fideístas que precisam ser removidos para possibilitar uma fácil percepção das sequências copiadas.

Por conseguinte, surgiu a dúvida de como evidenciar o plágio. Primeiramente, considerei organizar o texto em quadros comparativos, citando ambas as obras; porém, além de se tratar de uma tarefa bastante trabalhosa, pois muitas semelhanças não são textuais, mas sim contextuais, esta apresentação também exigiria um artigo bastante longo, motivo pelo qual descartei tal possibilidade. Então, a opção foi apresentar as evidências num texto-síntese, com citações curtas das passagens semelhantes das obras, seguidas de um comentário.

Para evidenciar a prática de plágio, três circunstâncias podem comparecer: 1) pode haver plágio textual & contextual, com palavras idênticas ou sinônimas & frases idênticas ou similares sendo utilizadas em textos de autores diferentes que tratam do mesmo assunto ou contam uma mesma história, sem a devida citação; 2) plágio narrativo, quando a sequência de ocorrências da narração de uma história ou assunto é a mesma ou similar em textos de autores diferentes, sem a devida citação; 3) plágio estilístico, quando o modo de escrever de autores distintos é muito semelhante. Esta última possibilidade foi aqui desconsiderada, por implicar em longo e mais subjetivo desenvolvimento, muito acima das possibilidades deste breve estudo. Permanecem os itens 1 & 2, que significam que um determinado escritor não é o autor, ou seja, que a idéia imbricada na narrativa de uma história pertence a outro alguém, o verdadeiro autor, intencional e dolosamente oculto.

NOTÍCIAS HISTÓRICAS

O reverendo Owen nasceu em 1869, em Birmingham, na Inglaterra, e desencarnou em 09/03/1931. Inicialmente, foi um religioso protestante e, em seguida, um médium espiritualista[4]. Owen ordenou-se sacerdote anglicano em Liverpool, aos vinte e quatro anos, passando a trabalhar como religioso profissional; em 1909, após o desencarne de sua mãe, suas alegadas capacidades mediúnicas despertaram, começando a receber supostas comunicações de sua genitora falecida em 1913; destacou-se como médium na Inglaterra até os primeiros anos da década de 20.

Algumas das mensagens que Owen recebeu constituíram quatro livros, reunidos sob o título de A vida além do véu. No início, recebia mensagens de sua mãe que, como novata no além, descrevia-o ao seu filho; em seguida, começou a receber mensagens mais filosóficas, de um espírito ou anjo que se identificava como Astriel, reunidas no livro Os baixos campos do céu, ao qual seguiu-se o livro Os altos campos do céu. Na sequência, veio à luz o livro Os mistérios do céu, inspirado por um espírito ou anjo que se identificava como Leader, que assumiu o monopólio de suas comunicações posteriores (mudando de nome para Ariel). Essas mensagens formaram o quarto e último livro, Os batalhões do céu. O volume resultante foi prefaciado por Arthur Conan Doyle, famoso espiritualista inglês, célebre pela autoria da série Sherlock Holmes.

Possivelmente, a opção do Ministro Owen pela condição de médium tenha resultado na perda de sua paróquia anglicana e, por conseguinte, de sua fonte de recursos primeira; aos cinqüenta e três anos de idade, iniciou a tarefa de divulgar o espiritualismo nos EUA, onde fez palestras e, regressando posteriormente à Inglaterra, proferiu mais de cento e cinqüenta conferências[5].

Xavier nasceu em Pedro Leopoldo/MG, em 02/04/1910, e desencarnou em Uberaba, em 30/06/2002. Foi o “médium” espírita mais conhecido e influente do Brasil; nasceu numa família humilde e, segundo biógrafos, sua alegada mediunidade teria se manifestado pela primeira vez aos quatro anos de idade, quando respondeu ao pai sobre ciências durante conversa com uma senhora. Dizia ver, ouvir e conversar com espíritos. Afirmou ter psicografado mais de quatrocentos livros – nunca admitiu ser o autor de nenhuma dessas obras, dizendo reproduzir apenas o que espíritos lhe ditavam. Assim, diz-se, não aceitava o dinheiro arrecadado com a venda de seus livros, mais de cinqüenta milhões de exemplares em português, com traduções em inglês, espanhol, japonês, esperanto, italiano, russo, romeno etc. Afirmava ter psicografado as cerca de dez mil cartas que produziu, nas quais pessoas mortas davam notícia às famílias. Desde o primeiro livro, diz-se, cedeu os direitos autorais para organizações espíritas e instituições de caridade; uma de suas obras mais reconhecidas é Libertação, publicada inicialmente em 1949[6].

Uma das críticas que recebi ao postar artigos no blog de Visoni, sobre as relações entre A vida além do véu e livros psicografados por Xavier, envolve a questão de quando o livro de Owen teria sido traduzido pela primeira vez para o português. Após muito pesquisar, consegui encontrar a resposta: por volta de 1920, Owen já havia concluído sua obra e, no Brasil, Carlos Imbassahy (1883-1969, advogado, jornalista e escritor espírita) foi quem primeiramente verteu o livro do reverendo inglês para o português, publicando sua tradução em 1921, segundo assentamentos da Federação Espírita Brasileira[7].

EVIDÊNCIAS DE SIMILARIDADES

1ª) Em 2010, as semelhanças existentes entre passagens da Introdução (atribuída a Emmanuel, o suposto espírito-guia de Xavier) ao livro Libertação, de Xavier, e passagens de um conto “psicografado” pela “médium” inglesa Joan Grant, e publicado também em 1942, foram percebidas no exterior por Guy Lyon Playfair:

“Esta história aparece no livro de Joan Grant, The scarlet fish & other stories, publicado em 1942 e, até onde fui capaz de descobrir, nunca havia sido traduzida para o português. A versão de Chico consta na Introdução (por Emmanuel, seu guia principal) do livro Libertação, publicado em 1949” (negritos meus) [8].

O caso veio à tona por ocasião da publicação do livro Deus conosco, em 2007, por Wanda Joviano, filha de ex-patrão de Xavier[9]; nessa obra, ela reuniu diversas mensagens inéditas do “médium” mineiro. Candidamente, a própria organizadora da compilação informa ter traduzido a história do Peixinho vermelho do livro de Grant e apresentado seu trabalho a Xavier:

“Nota da organizadora: a antiga lenda do Peixinho vermelho consta de um dos livros da médium inglesa Joan Grant, sobre o Egito antigo. Eu a tinha lido em inglês, e contei ao Chico. Muito sensibilizada fiquei quando soube que Emmanuel a incluíra no prefácio do livro Libertação, de André Luiz, revelando que estivera presente à nossa conversa” (negritos meus)[10].

Em 2007, através do livro de Joviano, tornou-se público que, privadamente, em mensagem datada de 26/01/1949, o próprio Xavier admitiu ter utilizado uma tradução, feita pela “irmã Wanda”, para escrever sua versão da lenda do peixinho vermelho. Segundo Xavier, em mensagem assinada por seu suposto espírito-guia, Emmanuel, no capítulo intitulado Os dons de servir:

“Agradecemos a cooperação com que nos auxiliastes na projeção do novo trabalho de André Luiz, registrando, igualmente, nosso reconhecimento pela história do Peixinho vermelho, que tão bem se ajustou aos nossos propósitos de apresentação. (nota 1: Gratos à nossa irmã Wanda pela tradução oportuna e fiel” (negrito meu)[11].

Assim, desde 1949 até 2007, por ocasião da publicação de Libertação até a publicação do livro de Joviano, Deus conosco, a origem do texto “psicografado” por Xavier & Emmanuel permaneceu oculta; o máximo que Xavier disse foi o seguinte:

“Ante as portas livres de acesso ao trabalho cristão e ao conhecimento salutar que André Luiz vai desvelando, recordamos prazerosamente a antiga lenda egípcia do peixinho vermelho” (negrito meu)[12].

Ou seja, embora Xavier afirme tratar-se de uma lenda, retirada supostamente de tradição egípcia antiga, não informa que a história foi extraída de um texto moderno de Grant, anterior ao seu, em livros publicados em 1937 & 1942[13], nem que soube dessa história graças à tradução de Joviano a partir do idioma inglês. O processo “psicográfico” de Xavier nada teve de “espiritual”, e a ausência de citação caracteriza plágio, até porque trata-se de uma longa e estrita tradução, com uso praticamente literal de um extenso texto alheio. Ademais, resta provado que Xavier tinha quem lhe auxiliasse na obtenção e tradução de textos em idioma estrangeiro. Por fim, vale lembrar que o enredo seja do conto Scarlet fish de Grant ou do Peixinho vermelho de Xavier não tem origem conhecida no Egito antigo, e sim no livro 7 de a República de Platão, o famoso mito da caverna, fonte real e muito bem conhecida de tal tema. Seguem os textos de Grant e Xavier:

“In the middle of a garden there was a very large and beautiful pool. It was tiled in turquoise colour, and fresh water always ran into it through a little stone channel and out again through a grid at the other end. In it there lived a lot of very, very fat contented fishes, and one little scarlet fish”.
   

“No centro de formoso jardim, havia grande lago, adornado de ladrilhos azul-turquesa. Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito estreita. Nesse reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de peixes, a se refestelarem, nédios e satisfeitos (…). Junto deles, porém, havia um peixinho vermelho”.

“The big fat fish ate up all the flies and all the worms, and they took for themselves all the nicest shadow caves, which the lotus leaves made. But the poor little scarlet fish had very little to eat and no private place where he could sleep out of the hot sunshine”.   

“Menosprezado de todos[, ... n]ão conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos. Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todas as formas larvárias e ocupavam, displicentes, todos os lugares consagrados ao descanso”.

“He couldn’t spend his time eating or being lazy in the shade, so he had to do a lot of thinking to keep himself from going sad. And he explored every bit of the pool, until he knew just how many tiles were on the walls, and which lotus bud was going to open next”.   

“O peixinho vermelho (…), em correria constante, perseguido pela canícula ou atormentado de fome (…), não dispunha de tempo para muito lazer e começou a estudar com bastante interesse. Fez o inventário de todos os ladrilhos que enfeitavam as bordas do poço, arrolou todos os buracos nele existentes”.

“The little scarlet fish got thinner and thinner, until one day, when he was swimming past the grating, he knew that he was thin enough to swim right through it. It was rather a struggle getting through, and he lost quite a lot of his scales doing it, but at last he was free. He swam down the water-channels until he got to the great river; and he swam on and on down the great river until he came to the sea”.   

“Apesar de macérrimo pela abstenção completa de qualquer conforto, perdeu várias escamas, com grande sofrimento, a fim de atravessar a passagem estreitíssima. Pronunciando votos renovadores, avançou, otimista, pelo rego d’água, encantado com as novas paisagens, ricas de flores e sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperança… Em breve, alcançou grande rio (…). Conseguiu, desse modo, atingir o oceano”.

“Once, he saw a fish so big that he could have drunk the whole of his home pool for breakfast and still have been thirsty. The great fish was swimming along with his mouth open, collecting his breakfast, just like a fisherman drawing in his net, and the poor little scarlet fish went down his throat into the awful churning darkness of the great fish’s belly. Then the little scarlet fish prayed very hard to the god of fishes, and the god heard him in spite of his being in such a dark place. And the god made the big fish have hiccoughs, and he hiccoughed the little scarlet fish back into the sea again”.   

“Fascinado pela paixão de observar, aproximou-se de uma baleia para quem toda a água do lago em que vivera não seria mais que diminuta ração; impressionado com o espetáculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os elementos que lhe constituíam a primeira refeição diária. Em apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, rogando proteção no bojo do monstro e, não obstante as trevas em que pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valente cetáceo começou a soluçar e vomitou, restituindo-o às correntes marinhas”.

“Then the little scarlet fish found a beautiful palace of coral in the clear, green depths of the sea; and beautiful little fishes with blue and gold spots brought him the most lovely fat worms on mother of pearl plates. He enjoyed it so much that he might have stayed there the rest of his life; but he wanted to go back to his own home pool”.   

“O pequeno viajante, agradecido e feliz, procurou companhias simpáticas (…), descobriu a existência de muitos peixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quais se sentia maravilhosamente feliz. Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palácio de Coral (…). O peixinho pensou, pensou… (…) deliberou (…) [e] empreendeu comprida viagem de volta”.

“So he left the sea and swam back up the river. And on the way he had many more adventures, and some were nearly as dangerous as being swallowed by the great big fish. And he swam and he swam up the long river, and up the water channels, until he came to his own grating, and now he was so thin from his adventures that he got through it quite easily. He thought everybody would be very surprised to see him again, but nobody had even noticed he had been away”.   

“Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se encaminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar. Esbelto e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e serviço a que se devotava, varou a grade e procurou, ansiosamente, os velhos companheiros. Estimulado pela proeza de amor que efetuava, supôs que o seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Certo, a coletividade inteira lhe celebraria o feito, mas depressa verificou que ninguém se mexia”.

“He swam up to a big, very fat fish, who was the king fish of the pool, and he said, ‘Stop eating and blowing bubbles, and listen to me, you fat and foolish fish! I have come to tell you of all the wonderful things that happened to me on the other side of the grating; and I shall teach you to grow thin, so that you, too, may go upon the same journey and become as wise as I am.’ The fat fish swam towards the grating, and when he saw that the bars were so close together that not even one of his fins could go between them, he blew two bubbles, slowly and scornfully, and said, ‘Silly little scarlet fish! Do not disturb my meditations with your foolish chatter. I am much wiser than you are, for I am king of all the fish. How could you have got through the grating when even I cannot put a fin through it?’ And the big fat fish swam back to the shadows under the lotus leaves. The little scarlet fish was very sad that nobody would listen to him; so he slipped through the grating and swam back towards the sea” [14].   

“Procurou, então, o rei de guelras enormes e comunicou-lhe a reveladora aventura. (…) Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porém, tinha igualmente seu preço. Deveriam todos emagrecer (…). O soberano da comunidade, para melhor ironizar o peixinho, dirigiu-se em companhia dele até à grade de escoamento e, tentando, de longe, a travessia, exclamou, borbulhante: — “Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas? Grande tolo! Vai-te daqui! não nos perturbes o bem-estar… Nosso lago é o centro do Universo… Ninguém possui vida igual à nossa! Expulso a golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagem de retorno”[15].

Agora, passemos às similaridades existentes entre o livro A vida além do véu, de Owen, e o texto principal do livro Libertação, de Xavier.

2ª) Em A vida além do véu, na mensagem de 17/12/1917, o “médium” Owen, curioso, pergunta ao seu guia acerca do tipo de trabalho que este realiza no além; o suposto espírito Arnel informa que realiza múltiplas & diversas obrigações e, como exemplo, promete descrever uma tarefa para a qual fora recentemente convocado:

“– Você poderia me dizer um pouco mais destas obrigações, por favor? – Mas são múltiplas em número, e na diversidade também são! Contaremos uma tarefa a que fomos recentemente convocados e como foi levada até o fim” (p. 231).

Por sua vez, em Libertação, o suposto espírito André Luiz informa que possui serviços particulares, quando entrou em algumas atividades secundárias de auxílio, engajando-se num trabalho para o qual fora admitido:

“Além dos serviços referentes ao encargo particular que nos mobilizava, entraríamos em algumas atividades secundárias de auxílio. Técnico em missões dessa natureza, [Gúbio] afirmou que nos admitira, num trabalho” (p. 49).

Comentário: em ambos os textos, o assunto inicial são as obrigações/serviços ordinários desenvolvidos pelo espírito protagonista no além, com especial ênfase numa tarefa (Owen)/trabalho (Xavier) especial que será narrado – um esforço de libertação de cativos, adianto.

3ª) Em A vida além do véu, em mensagens obtidas respectivamente em 17/12/1917, 08/12/1913 e 05/02/1918, o personagem Ariel caminha até um templo, o Templo do Monte Sagrado, um acesso a outras esferas que permite mesclar as duas esferas, onde anjos de reinos superiores surgem, ensinam sobre seu reino e missionários seguem às esferas inferiores, para cumprir deveres de trabalho:

“Na esfera da qual viemos a você, há um Templo no alto de uma colina. É o Templo de que Zabdiel falou. – O Templo do Monte Sagrado? – O mesmo. Fomos em variadas missões de bênçãos para aquela esfera e às inferiores” (pp. 231-232).

“[No Templo,] há anjos que vêm encontrar-se com os que são chamados. Estes prestam seu auxílio a nós, ensinando daqueles Mistérios que são dos Reinos Superiores” (p. 39).

“Este Templo foi levantado com o propósito de mesclar as duas esferas, com seus vários aspectos de serviço, juntas. Aqui, então, aqueles que estão quase saindo de uma para a outra são postos juntos e habitam aqui usualmente por um período prolongado, indo, de vez em quando, para a Esfera Dez e as inferiores, no seu serviço de assegurar ajuda, ou proteger, ou instruir, ou desenvolver aqueles que habitam ali. Mas também começam a acompanhar os da esfera superior em suas missões na esfera Onze. No princípio, não vão muito longe, nem por longo tempo. Mas conforme vão se fortalecendo e sintonizando-se com as pulsações mais sutis daquela esfera, então seguem mais adiante para o interior, e ficam ali mais e mais tempo. Retornando, descansam no Templo, e, talvez, no ínterim, vão às esferas inferiores para cumprir deveres de trabalho” (pp. 274-275).

Por sua vez, em Libertação, o personagem André Luiz caminha até um templo, um templo gracioso, um acesso a outras esferas, onde entidades sublimes se materializam e instruem sobre o serviço a ser realizado nas esferas mais baixas:

“A essa altura da instrutiva conversação, chegamos a gracioso templo. Nesse doce recanto consagrado à materialização de entidades sublimes (…), o instrutor tomou-nos a frente e, juntos, penetramos o jardim que circundava o aprazível santuário. (…) Os doadores de fluidos sublimados encontram-se a postos e a outra comissão já veio. Entramos sem detença. Soube, de imediato, que outro grupo, constituído, aliás, por duas irmãs, ali se achava com objetivo de receber instruções de serviço para esferas mais baixas” (pp. 37-38).

Comentário: em A vida além do véu, o personagem Arnel informa a Owen que seu grupo missionário passou pelo Templo do Monte Sagrado. A função deste templo consiste em mesclar as duas esferas, ou seja, trata-se de uma passagem que, por materialização ou desmaterialização, permite o trânsito de espíritos entre as esferas; ali, os missionários recebem ensino sobre os reinos superiores e seguem às esferas inferiores, a trabalho. Por sua vez, em Libertação, o grupo missionário de André Luiz passou por um templo gracioso. A função deste templo consiste em materializar entidades sublimes de esferas superiores, que instruem sobre o serviço nas esferas mais baixas.

4ª) Em A vida além do véu, na mensagem de 17/12/1917, o personagem Arnel informa que seu grupo missionário aguardava ordens de o Vidente acerca de um trabalho nas esferas ainda abaixo quando, de repente, surgiu outro homem, angélico, que em torno de si ostentava uma névoa azul e dourada, enfeitada de safiras, que cumprimentou a todos:

“Vocês foram chamados para cá para receberem ordens a fim de cumprirem um trabalho que lhes é requerido nas esferas ainda abaixo. Tenham a bondade de esperarem a chegada de nosso irmão, o Vidente, que lhes fará entender o que é requisitado de seu grupo”. Enquanto estávamos ali esperando, chegou por trás da cadeira outro homem. Era mais alto que nosso guia, e em torno dele, conforme se movia, parecia haver uma névoa azul e dourada, enfeitada de safiras. Ele veio em nossa direção e deu-nos a mão, cumprimentando um a um” (pp. 232-233).

Em A vida além do véu, na mensagem de 18/12/1917, o personagem Ariel relata que seu grupo seguiu para a sala de Audiência, para receber as palavras do Vidente. Ao final de seu discurso, no qual forneceu as especificações da tarefa, os trabalhadores ajoelharam-se para receber a bênção do Vidente, seguindo numa longa jornada:

“Fomos para a sala de Audiência, onde recebemos as palavras do Vidente. (…) Tendo pego nosso estoque de coisas e as especificações da tarefa que esperava por  nós no trabalho que tínhamos adiante, ajoelhamo-nos e ele nos abençoou, e fomos embora. Tomamos o rumo da esquerda e viemos para além da abertura, lançando-nos em direção a nossa longa jornada” (p. 234).

Por sua vez, em Libertação, o personagem André Luiz relata que, com algumas dezenas de companheiros, seguiu para o salão do educandário para registrar as instruções do Ministro Flácus:

“No vasto salão do educandário que nos reunia, o Ministro Flácus, fixando em nós o olhar saturado de doce magnetismo, convidava-nos a preciosas meditações. Congregamo-nos, ali, somente algumas dezenas de companheiros, de modo a registrar-lhe as instruções edificantes. E, sem dúvida, a preleção revestia-se de profundo interesse. Podíamos perguntar à vontade, dentro do assunto, e guardar todas as informações compatíveis com o novo trabalho que nos cumpria desempenhar ” (p. 10).

Nesse instante da narração, em ambas as obras, seguiram-se longos discursos emotivos e religiosos, a guisa de instrução sobre o novo trabalho a desempenhar nas esferas inferiores, arrebanhando criaturas sofredoras. Como os discursos são muito extensos, convido o leitor a ler nos originais. Em Libertação, ao final de longo discurso fideísta, o personagem André Luiz narra uma passagem semelhante à do personagem Arnel, no mesmo momento da história, pouco antes do grupo partir em grande jornada, a trabalho:

“Eis que a tribuna doméstica se ilumina. Esbranquiçada nuvem de substância leitosa-brilhante adensa-se em derredor e, pouco a pouco, desse bloco de neve translúcida, emerge a figura viva e respeitável de veneranda mulher. Indizível serenidade caracteriza-lhe o olhar simpático e o porte de madona antiga, repentinamente trazida à nossa frente. Cumprimenta-nos com um gesto de bênção, como que nos endereçando, a todos, os raios da luz esmeraldina que em forma de auréola lhe exornam a cabeça. As duas moças que formavam a comissão de serviços, estranha à nossa, avançaram com lágrimas discretas e rojaram-se, genuflexas. – Mãe querida – clamou uma delas, com tal inflexão de voz que nos cortava as fibras mais íntimas –, ajuda-me a falar-te! A saudade longamente reprimida é um fogo que consome o coração. Auxilia-me! Não me deixes perder este doce e divino minuto! Apesar dos soluços de emoção que lhe vibravam no peito, continuou: – Abençoa-nos para a grande jornada!” (pp. 38-39).

Comentário: observe-se a sequência praticamente idêntica: a) em A vida além do véu, Arnel e seu grupo receberam ordens/especificações do Vidente na sala de Audiência para cumprir uma missão, libertar espíritos escravizados nas esferas inferiores; em Libertação, André Luiz e algumas dezenas de companheiros receberam instruções/preleção do Ministro Flácus no salão do educandário para cumprir uma missão, libertar espíritos sofredores nas esferas inferiores; b) em A vida além do véu, surgiu inesperadamente um personagem sem nome, um homem angelical, que tinha em torno de si uma névoa colorida, azul, dourada e enfeitada de safiras, que foi aos missionários e deu-lhes a mão, cumprimentando um a um; em Libertação, surgiu repentinamente uma personagem inicialmente sem nome, veneranda mulher, que tinha em derredor de si uma nuvem e uma auréola com raios de luz esmeraldina a lhe exornar, que cumprimentou a todos; c) em A vida além do véu, os trabalhadores se ajoelharam para receber uma bênção de seu instrutor com vistas à longa jornada; em Libertação, trabalhadoras se rojaram genuflexas para receber uma bênção de um espírito angelical com vistas à grande jornada.

5ª) Em A vida além do véu, na mensagem obtida em 08/01/1918, o guia Arnel relata que a jornada se inicia com uma descida que leva a uma condição inóspita muito precisa:

“Logo chegamos a um lugar onde se abria para nós uma ampla boca de caverna que levava para os lugares intestinos daquela região. Não andamos quase nada e veio em nossa direção, em rajadas, um vento de odor tão nojento, quente e fétido que voltamos e paramos por um pouco de tempo para recuperarmos as forças. Isto feito, endurecemos nosso coração e fomos para dentro e para baixo” (p 252).

Por sua vez, em Libertação, o personagem André Luiz informa que a descida logo apresentou um inconveniente bastante preciso:

“Passamos a inalar as substâncias espessas que pairavam em derredor, como se o ar fosse constituído de fluidos viscosos. Elói estirou-se, ofegante, e não obstante experimentar, por minha vez, asfixiante opressão, busquei padronizar atitudes pela conduta do Instrutor, que tolerava a metamorfose, silencioso e palidíssimo” (p. 51).

Comentário: o personagem Arnel narra ter enfrentado dificuldade por causa de vento nojento, e o personagem André Luiz narra ter enfrentado dificuldade por causa do ar viscoso. Ao fim, ambos os grupos são obrigados a se adaptar às circunstâncias infernais, o primeiro, endurecendo o coração e, o segundo, tolerando a situação.

6ª) Em A vida além do véu, na mensagem da noite de ano novo de 1917, o personagem Arnel narra os seguintes detalhes de sua descida a trabalho às esferas inferiores: a luz é obscura, as árvores feias e a cidade desordenada:

“De nossa descida até aqui falamos resumidamente, mas agora chegamos a estas esferas onde a luz torna-se mais obscura”. (…) “Havia árvores também, algumas muito grandes, e estas com folhas nada graciosas, porque as folhas eram de um verde escuro e amarelo, e espigadas com bordas dentadas. (…) Não era uma cidade, mas um agrupamento de casas, algumas amplas, outras pequenas. Eram espalhadas, aqui e ali, e não ordenadamente” (pp. 241-243).

Por sua vez, em Libertação, André Luiz narra os seguintes detalhes de sua descida a trabalho até vasto domínio de sombras: o fumo cinzento cobria o céu, as árvores eram feias e a cidade decadente e sórdida:

“Após a travessia de várias regiões, em descida, com escalas por diversos postos e instituições socorristas, penetramos vasto domínio de sombras. A claridade solar jazia diferençada. Fumo cinzento cobria o céu em toda a sua extensão. (…) As árvores não se vestiam de folhagem farta e os galhos, quase secos, davam a ideia de braços erguidos em súplicas dolorosas. (…) Em minutos breves, penetramos vastíssima aglomeração de vielas, reunindo casario decadente e sórdido” (pp. 49-54).

Comentário: observem a sequência: 1) o personagem Arnel diz que os missionários seguiram em descida; 2) diz que alcançaram esferas com luz muito obscura; 3) fala de árvores feias; e 4) informa a existência de um agrupamento de casas. Por sua vez, 1) o personagem André Luiz diz que os missionários atravessaram várias regiões em descida; 2) diz que alcançaram vasto domínio de sombras; 3) fala de árvores feias; e 4) informa a existência de uma aglomeração de vielas com casario.

7ª) Em A vida além do véu, nas mensagens de 04/01/1918 e 18/01/1918, o personagem Arnel relata a seguinte sequência: o grupo missionário alcança uma grande cidade, encontra guardas,  observa fortalezas, a estátua de um nobre romano de toga (simbolizando a aspiração de nobreza da elite local) e adentra o Palácio do Mal:

“Chegamos a uma grande cidade, e entramos por um portal enorme onde guardas marchavam de lá para cá. (…) Vimos que a ampla avenida em frente ao portal era alinhada com enormes construções pesadas, como prisões e fortalezas. (…) Seguimos até um grande cruzamento onde havia uma estátua num alto pedestal, não no meio, mas em um dos lados, onde estava o prédio maior. A estátua era de um homem que usava a toga de nobre romano, e em sua mão esquerda ele segurava um espelho no qual ele se olhava, mas sua mão direita segurava uma jarra, de onde ele vertia vinho tinto que espirrava numa bacia embaixo – caricatura de nobreza. (…) [Então,] adentramos o portão do obscuro Palácio do Mal” (pp. 246-247).

“Sorri para meus amigos e (…) contei-lhes que éramos prisioneiros, tão rápido quanto ele nos pôde fazer, e quando alguém foi até a porta por onde entramos, rapidamente percebemos que fomos trancados” (p. 260).

“Naquele ridículo Salão do Trono, ele agrupou sua corte e, tendo tochas acesas e colocadas em torno da sala nas paredes, e fogueiras acesas no centro do chão para iluminar o hall, fez um discurso solene para seus sombrios servidores. Então, a porta de nossa antessala foi solenemente destrancada, e fomos chamados para irmos até ele” (p. 261).

Por sua vez, em Libertação, André Luiz narra a seguinte seqüência: seu grupo missionário alcança uma grande cidade, observa uma fortaleza, adentra um palácio esquisito, no qual há guardas e dignitários que se portam como romanos:

“O aspecto devia, a nosso ver, identificar-se com o das grandes cidades do Oriente, de duzentos anos atrás. (…) Respeitável edifício destacava-se diante de uma fortaleza” (p. 60).

“O esquisito palácio guardava a forma de enorme hexágono, alongando-se para cima em torres pardacentas, e reunia muitos salões consagrados a estranhos serviços. Iluminado externa e interiormente pela claridade de volumosos tocheiros, apresentava o aspecto desagradável de uma casa incendiada. Sob a custódia de quatro guardas da residência de Gregório, que nos comunicaram a necessidade de exame antes de qualquer contacto direto com o aludido sacerdote, penetramos o recinto de largas dimensões, no qual se congregavam algumas dezenas de entidades” (p. 62).

“Funcionários rigorosamente trajados à moda dos lictores da Roma antiga, carregando a simbólica machadinha (fasces) ao ombro, avançavam, ladeados por servidores que sobraçavam grandes tochas a lhes clarearem o caminho. Penetraram o átrio em passos rítmicos e, depois deles, sete andores, sustentados por dignitários diversos daquela corte brutalizada, traziam os juizes, esquisitamente ataviados” (p. 65).

“O instrutor, versado em expedições idênticas à nossa, recomendou-nos não tocar os varões de metal que nos impediam a retirada, esclarecendo se achavam imantados por forças elétricas de vigilância e acentuando que a nossa condição ainda era de simples prisioneiros” (p. 76).

“A sala em que fomos recebidos pelo sacerdote Gregório semelhava-se a estranho santuário, cuja luz interior se alimentava de tochas ardentes. Sentado em pequeno trono que lhe singularizava a figura no desagradável ambiente, a exótica personagem rodeava-se de mais de cem entidades (…). Fixou em nós o olhar percuciente e inquiridor e estendeu-nos a destra, dando-nos a entender que podíamos aproximar” (p. 98).

Comentário: observe-se a sequência praticamente idêntica: no livro de Owen, o grupo missionário adentrou o Palácio do Mal e Arnel informou aos seus que foram feitos prisioneiros. Em seguida, foram chamados pelo governante ao salão do trono (salão iluminado por tochas ) e, na frente da nobreza romanizada local, o governante chamou que fossem até ele. Por sua vez, o grupo missionário de André Luiz adentrou um palácio esquisito e o instrutor informou aos seus que foram feitos prisioneiros. Em seguida, foram recebidos pelo sacerdote num recinto de largas dimensões com um pequeno trono (recinto iluminado por tochas) e, na frente da nobreza romanizada local, o sacerdote deu a entender que podiam se aproximar.

8ª) Em A vida além do véu, na mensagem de 04/01/1918, o personagem Arnel ouve a seguinte e muito precisa informação do Governador do reino maligno:

“E em seus ouvidos, tão afinados à delicadeza vulgar, minhas irmãs, eu cochicharia uma palavra de conselho também. Crianças não vêm até aqui nestes grandes reinos, dos quais vocês me deram a honra de eleger-me Governador” (p. 248).

Por sua vez, em Libertação, o personagem André Luiz ouve a seguinte e muito precisa informação de seu Instrutor no inferno do Grande Juiz:

“Na atualidade, este grande empório de padecimentos regenerativos permanece dirigido por um sátrapa de inqualificável impiedade, que aliciou para si próprio o pomposo título de Grande Juiz. (…) E porque não visse crianças, exceção feita das raças de anões, cuja existência percebia sem distinguir os pais dos filhos, arrisquei, de novo, uma indagação, em voz baixa. Respondeu o Instrutor, atencioso: — Para os homens da Terra, propriamente considerados, este plano é quase infernal. Se a compaixão humana separa as crianças dos criminosos definidos, que dizer do carinho com que a compaixão celestial vela pelos infantes?” (p. 58).

Comentário: em A vida além do véu, o guia Arnel informa ao médium Owen que crianças não vão até a região das trevas; por sua vez, em Libertação, o Instrutor informa ao personagem André Luiz que não há crianças na região quase infernal. Em Owen, o chefe maligno tem o cargo de Governador; em Xavier, o chefe trevoso é um Sátrapa[16]/Grande Juiz.

9ª) Em A vida além do véu, na mensagem de 08/01/1918, o personagem Arnel conta a seguinte história sobre suas realizações com seus amigos em reinos malignos:

“Entramos e fomos desafiados pelo guarda no portão. (…) Que negócios têm aqui, bons senhores e cavalheiros?” disse ele, já que ele tinha sido educado na vida da Terra e isso ainda ressalta do que foi em suas maneiras, mas agora estava mesclado com alguma malícia e com escárnio, como nos modos da maioria destes tristes lugares. A esta pergunta, nós respondemos – eu, por todos: “Nós temos uma missão junto aos trabalhadores das minas, os quais seu mestre escraviza”. “Um fim muito atraente para sua jornada”, disse ele com um tom agradável, procurando nos enganar. “Estas pobres almas trabalham muito para estarem prontos para qualquer bom amigo que aja por eles, sua existência e seus problemas”. “E alguns”, eu disse, “estão também prontos para partir em direção à liberdade do jugo de seu senhor, o qual, cada um em seu degrau, está interligado a vocês todos”. Num átimo, sua face mudou de risonha para fechada e carrancuda, e seus dentes mostraram-se parecidos com os de um lobo faminto. Mais ainda, com a mudança de humor, ali pareceu descer uma névoa mais escura e assentar-se sobre ele. (…) Mas eu fiquei um pouco mais perto dele e pus minha mão sobre seu punho direito, e este contato foi angustiante para ele, e abaixou sua pequena espada com a qual tinha apontado para nós. Eu ainda o segurava para que a aura dele com a minha perturbassem sua alma, para sua agonia, mas não para mim, pois, sendo de maior poder em força espiritual, continuei incólume enquanto ele se angustiava. (…) Então, eu disse, “Nós não somos destas esferas escuras, senhor. Viemos de um lugar na luz do Sol da presença Daquele de Cuja Vida você participava e violou tudo por causa de seus propósitos malignos. Para você, ainda não é hora para alcançar a liberdade destas muralhas e da tirania dos mestres cruéis daqui”. Então, ele saiu da fina casca de seu comportamento e chorou lamentando, “Por que não posso também ficar livre deste inferno e do diabo que governa aqui? Por que os outros podem, e eu não?” E eu respondi, “Você não foi tido como merecedor. Observe o que fazemos neste lugar, não oponha sua vontade à nossa, ajude-nos a fazermos o que temos à mão para fazer e, quando nos formos, pondere bem e longamente então, e talvez até você encontre em nós alguma bênção. Por isso você deveria nos levar às bocas das minas”. (…)  Sigam-me, por obséquio, e vou levá-los aonde encontrarão o que procuram (…) desde o meu aperto, ele estava mais submisso e não mais se opunha a nós, que o seguimos” (pp. 251-252).

Por sua vez, em Libertação, o personagem André Luiz narra um julgamento no além, no qual o Sátrapa/Grande Juiz atuou:

“Incidindo toda a força magnética que lhe era peculiar, através das mãos, sobre uma pobre mulher que o fixava, estarrecida, ordenou-lhe com voz soturna: – Venha! Venha! Com expressão de sonâmbula, a infeliz obedeceu à ordem, destacando-se da multidão e colocando-se, em baixo, sob os raios positivos da atenção dele. – Confesse! Confesse! – determinou o desapiedado julgador, conhecendo a organização frágil e passiva a que se dirigia. A desventurada senhora bateu no peito, dando-nos a impressão de que rezava o “confiteor” e gritou lacrimosa: – Perdoai-me! Perdoai-me, ó Deus meu! E como se estivesse sob a ação de droga misteriosa que a obrigasse a desnudar o íntimo, diante de nós, falou, em voz alta e pausada: – Matei quatro filhinhos inocentes e tenros… e combinei o assassínio de meu intolerável esposo… O crime, porém, é um monstro vivo. Perseguiu-me, enquanto me demorei no corpo… Tentei fugir-lhe através de todos os recursos, em vão… e por mais buscasse afogar o infortúnio em “bebidas de prazer”, mais me chafurdei no charco de mim mesma… De repente, parecendo sofrer a interferência de lembranças menos dignas, clamou: – Quero vinho! Vinho! Prazer!… Em vigorosa demonstração de poder, afirmou triunfante, o magistrado: – Como libertar semelhante fera humana ao preço de rogativas e lágrimas? Em seguida, fixando sobre ela as irradiações que lhe emanavam do temível olhar, asseverou, peremptório: – A sentença foi lavrada por si mesma! Não passa de uma loba, de uma loba… À medida que repetia a afirmação, qual se procurasse persuadi-la a sentir-se na condição do irracional mencionado, notei que a mulher, profundamente influenciável, modificava a expressão fisionômica. Entortou-se-lhe a boca, a cerviz curvou-se, espontânea, para frente, os olhos alteraram-se, dentro das órbitas. Simiesca expressão revestiu-lhe o rosto. (…) [Gúbio] acentuando, de modo singular, a voz quase imperceptível, acrescentou: – Temos aqui a gênese dos fenômenos de licantropia, inextricáveis, ainda, para a investigação dos médicos encarnados. (…) O hipnotismo é tão velho quanto o mundo e é recurso empregado pelos bons e pelos maus. Notando, porém, que a mulher infeliz prosseguia guardando estranhos caracteres no semblante, perguntei: – Esta irmã infortunada permanecerá doravante em tal aviltamento da forma? Finda longa pausa, o instrutor informou, com tristeza: – Ela não passaria por esta humilhação se não a merecesse” (pp. 68-70).

Comentário: em ambas as histórias, um personagem transfigura-se em lobo. Na primeira, a de Owen, o espírito “bom” controla o espírito maligno, influenciável e lupino, em virtude de seu poder espiritual superior, levando-o a obedecer às suas sugestões; na segunda, o poder de persuasão do mau juiz faz com que uma mulher, profundamente influenciável, se transfigure em loba. Numa história, o fenômeno de licantropia, acompanhado de uma mudança de humor, resulta na modificação de um rosto; noutra, o mesmo fenômeno, acompanhado de uma repentina interferência de lembranças, resulta na mudança de uma face. Num caso, um espírito “bom” julga sumariamente um guarda mau como alguém que não foi tido como merecedor de ascender às esferas superiores; noutro, um juiz maligno julga sumariamente uma mulher má culpada, e um espírito “bom” diz que ela não passaria por esta humilhação se não a merecesse.

10ª) Em A vida além do véu, na mensagem de 15/01/1918, Arnel, o guia de Owen, informa os detalhes do arremate de sua missão. De início, os missionários produzem uma dissidência nas falanges malignas, conseguindo o apoio do personagem Capitão – inicialmente, figura de confiança do Governador; em seguida, auxiliados por aquele, entram nas minas e cantam canções evangélicas, anunciando assim a oportunidade de fuga aos escravos; aproximando-se, o primeiro ajoelha-se em frente aos missionários; após esse, seguem-se centenas, milhares; por fim, os missionários confrontam o Governador e seus escravos fiéis, evitando o embate militar e se libertando:

“Conforme cantávamos, um após outro daqueles escravos do diabo vieram a nos ver. Uma pálida e cinza face emergiu pela metade de um túnel, e então de outro, ou de uma rachadura na pedra, e dos buracos e guaritas de onde nem tínhamos percebido olharem para nós, até que todos os precipícios em torno de nós estavam lotados de apavorados, ainda que desejosos, tímidos demais para se achegarem, ainda tragando golfadas de ar fresco como homens sedentos do deserto. (…) Cantamos mais suavemente, e terminamos num doce e longo coro de repouso e paz, e um longo e solene “Amém”. Então, um deles veio em nossa direção, ficou a uma pequena distância, ajoelhou-se e disse, “Amém”. (…) Então, vieram em número de quatrocentos, aos pares, aos trios, e então às dúzias, e ficaram como criancinhas respondendo sua lição, e murmuravam, como ouviram-no fazer, “Amém”.(…) Então voltei-me ao nosso grupo e às almas socorridas, porque elas estavam temerosas e tremendo pela aventura que empreenderam, e disse: “E vocês, meus irmãos, façam seus caminhos para a cidade, (…) porque o Chefe deste lugar vem, e devemos ter considerações com ele em primeiro lugar para que consequentemente seu caminho para frente esteja claro”. Assim viramo-nos em direção ao portão pelo qual o Capitão havia saído, e através do qual muitos dos quatrocentos vieram para somar ao nosso grupo” (p. 257).

“Esperamos a chegada do Chefe que, quando passava de uma caverna a outra, chamava seus escravos para seguirem-no e vingarem-se dos insolentes intrusos ao seu reino, que enfrentaram seus vigilantes e desafiaram sua autoridade. Com estas palavras de ameaça e muitos juramentos e imprecações, ele chegou; e aqueles espíritos acovardados, aterrorizados pelo medo de sua presença, seguiram-no com maldições e gritos, tomando para si seus juramentos blasfemadores para cumprirem suas ordens. Ficamos à frente do grupo para recebê-lo quando passou pelo portão, e finalmente apareceu. (…) Mas agora ele hesitava em falar, já que permanecemos em silêncio, porque ele estava acostumado há muito tempo a falar com autoridade e à maneira de um tirano, e faltava-lhe coragem de nos falar agora que nos viu, porque temos aparência pacífica em contraste com toda a temerosa e trêmula atitude de todos os outros naquele lugar. Mas enquanto esperávamos, encarando cada um dos outros, percebi que atrás dele havia um homem amarrado e preso por dois com o uniforme dos guardas que encontráramos no Portão Principal. Olhei muito acuradamente agora, porque ele estava nas sombras, e percebi que era nosso guia, o Capitão. Vendo isto, avancei rapidamente em sua direção e, ao passar pelo Chefe, toquei a lâmina de sua espada na passagem, e então fiquei diante deles que seguravam o homem amarrado e ordenei: “Soltem este homem destas correias e mandem-no para cá para perto de nosso grupo”. A estas palavras um grito de raiva saiu do Chefe, e ele tentou levantar sua espada contra mim. Mas toda a têmpera havia saído da lâmina, e ficou torta, mole como uma alga; ele fitava aquilo horrorizado naquela hora, porque ele a havia desembainhado em defesa de sua autoridade diminuída de poder. Eu não tinha em mente fazer dele motivo de riso, mas os outros, seus escravos, viram o lado cômico de seu apuro, não com humor, mas com malícia, e dos lugares escondidos vieram gargalhadas e zombaria. Então a lâmina murchou e caiu do cabo todo estragado, e ele a lançou para um ponto entre as rochas onde alguém ria mais alto que seus colegas. Então virei para os guardas novamente, e eles rapidamente soltaram o prisioneiro e mandaram-no a nós” (pp. 257-259).

Em A vida além do véu, na mensagem de 18/01/1918, Owen obteve o relato do fim da história – milhares de fujões seguiram a um local combinado, para se libertar:

“Nossa comitiva foi aumentando em tamanho por aqueles que se ajuntavam a nós vindos das cavernas que se estendiam pela escuridão distante para qualquer que fosse o lado. As novidades, tão escassas entre eles, foram espalhadas rapidamente até os limites mais distantes destas regiões trevosas, e agora a nossa contagem era de milhares, onde antes eram centenas. Quando paramos diante do muro, embaixo do buraco por onde espiamos a caverna onde agora estávamos, eu me virei e pude ver pouco além dos mais próximos da multidão, mas podia ouvir aqueles que tinham estado nos trabalhos mais afastados e no mais profundo subterrâneo ainda chegando com pressa febril e juntando-se a nós atrás dos outros, ficando em silêncio na presença do Chefe e seus convidados desconcertantes. (…) Então eu falei à multidão: “E quanto a vocês, de forma alguma fiquem com medo do que vai acontecer pela escolha que vocês fizeram, porque escolheram a parte mais forte, que jamais falhará com vocês. Somente sejam muito verdadeiros e não vacilem em seus passos, e atingirão a liberdade rapidamente e os altos planos, onde a luz está no final da jornada”. (…) Ficamos de lado para deixá-los passar e, enquanto iam, procurei pelo Capitão para dizer-lhe de meu desejo quanto a estas pessoas e a ele. Então ele se misturou em seu meio e passou com eles para fora das minas. Então reunimos os retardatários vindo atrás, e finalmente todos tinham passado pela porta e ficamos sozinhos. Então nós também passamos por ela, e finalmente viemos ao campo que havia na boca das minas. Ali novamente falei às pessoas, e contei-lhes que deveriam separar-se uns dos outros e ir pela Cidade naquelas casas e guaritas que melhor conheciam, contar as novidades e trazer aqueles que gostariam de vir com eles à praça da Rua Principal, onde deveríamos nos encontrar. (…) ficamos esperando pela chegada de nossa companhia na praça diante da Rua Principal. Não vimos mais o Chefe” (pp. 260-261).

Por sua vez, em Libertação, o personagem André Luiz informa os detalhes do arremate de sua missão. De início, os missionários produzem uma dissidência nas falanges malignas, conseguindo o apoio do diretor da falange operante – inicialmente, personagem de confiança do Sátrapa; em seguida, auxiliados por aquele, entram, controlam um posto avançado nos domínios malignos e anunciam a oportunidade de fuga aos espíritos sofredores; aproximando-se, o primeiro ajoelha-se em frente aos missionários; após esse, seguem-no dezenas; por fim, os missionários cantam canções evangélicas enquanto esperam a chegada do Sátrapa e seus assalariados, evitando o embate militar e se libertando:

“O diretor da falange operante, veio receber-nos. Pôs-se a fazer gestos hostis, mas, ante a senha com que Gregório nos favorecera, admitiu-nos na condição de companheiros importantes. – O chefe deliberou apertar o cerco? – perguntou ao nosso instrutor, confidencialmente” (pp. 110-111).

“[Saldanha] sentia-se estimulado ao bem, através da palavra cordial de nosso orientador e revelava-se disposto a não perder o mínimo ensejo de corresponder-lhe à dedicação fraterna. Depois de alguns minutos, ausentávamo-nos do hospício conduzindo as irmãs enfermas a recolhimento adequado, onde Gúbio as internou com todo o prestígio de suas virtudes celestes, ante o visível espanto de Saldanha que não sabia como exprimir-se no reconhecimento a extravasar-lhe da alma” (p. 160).

“Espíritos sofredores e perseguidos, mas bem intencionados, apareceram em grande número. A primeira entidade a aproximar-se foi uma senhora que se ajoelhou, à entrada (…). Logo após, surgiram dois velhos, rogando pousada. (…) A corrente dos pedintes, contudo, não ficou aí. Tive a idéia de que a missão de Gúbio se convertera, de repente, numa avançada instituição de pronto-socorro espiritual. Dezenas de criaturas desencarnadas, sob regime de prisão aos círculos inferiores, alinhavam-se, agora, ao lado da residência de Gabriel, sob a determinação de Gúbio que dizia aguardar a noite para os serviços da prece em geral. Antes, porém, que o dia expirasse, começaram a surgir vários elementos da falange de Gregório, afirmando-se dispostos à renovação de caminho. Procediam da própria colônia que visitáramos, e um deles, com grande assombro para mim, foi claro na enunciação dos propósitos de que se achava inspirado. – Salvem-me dos juizes cruéis! – suplicou, emocionando-nos pela inflexão de voz – não posso mais! Não suporto, por mais tempo, as atrocidades que sou constrangido a praticar. Soube que o próprio Saldanha se transformou” (pp. 214-215).

“Algumas irmãs entoaram formoso hino de louvor à bondade do Cristo, com visível desassombro no olhar firme, dantes ansioso e dorido, enchendo-nos o coração de intraduzível bem-estar. Raios de safirina luz derramaram-se profusamente sobre nós, enquanto as vozes harmoniosas e singelas se espalhavam, em derredor, tangendo-nos as fibras mais recônditas, nos recessos do ser. Terminado o cântico melodioso e tocante que nos recordava os pensamentos sublimes de inolvidável Salmo de David, o instrutor retomou a palavra e informou que, não obstante as santificadas alegrias daquela hora, a batalha não estava finda. (…) Gregório, ciente das novidades havidas no drama de Margarida e informado acerca da renovação de muitos companheiros e colaboradores dele, agora francamente inclinados ao bem, entediados da ignorância e do ódio, da perversidade e da insensatez, se revoltara contra ele (…). Amparados os mais doentes naqueles que se mostravam mais fortes, retiramo-nos, cautelosos, pondo-nos a caminho da zona preestabelecida. Duas horas de jornada, sob a supervisão de Gúbio perfeitamente treinado em experiências daquela natureza, conduziram-nos ao local desejado. (…) Não foi preciso esperar muito. Alguns minutos se desdobraram apressados e Gregório, com algumas dezenas de assalariados, surgiu em campo, investindo-nos com palavrões que se caracterizavam pela dureza e violência. Os recém-chegados apareceram acompanhados de grande cópia de animais, em maioria monstruosos. (…) O sacerdote das sombras avançou para o nosso orientador, à semelhança de general parlamentando na praça, antes de começar a batalha, e acusou sem rodeios: – Miserável hipnotizador de servos ingênuos, onde se alinham tuas armas para o duelo desta hora? (…) Combatamos! Gregório espraiou torvo olhar pela assistência muda e exclamou: – Aqui descansam inermes, ao teu lado, os meus colaboradores que adormeceram, vergonhosamente, ao teu cântico sedutor; entretanto, cada qual deles me pagará, muito caro, a defecção e a desobediência (…) arrancou a espada da bainha e bradou encolerizado: – Vim para combater, não para argumentar. Não temo sortilégios. Sou um chefe e não posso perder os minutos com palavras tergiversantes. Não admito a presença de minha mãe espiritual de outras eras. Conheço as artimanhas dos fascinadores e não tenho outra alternativa senão duelar. Fitando a delicada forma de luz que pairava no espaço, acrescentou: – Por quem és! Anjo ou demônio, aparece e combate! Aceitas meu desafio? – Sim… – respondeu Matilde, com ternura e humildade. – Tua espada? – trovejou Gregório, arquejante. – Vê-la-ás dentro em breve… Após alguns momentos de ansiosa expectativa, apagou-se a garganta luminosa que brilhava sobre nós, mas leve massa radiante e disforme surgiu, não longe, à nossa vista. Compreendi que a valorosa emissária se materializaria, ali mesmo, utilizando os fluidos vitais que o nosso orientador lhe forneceria. Júbilo e assombro dominavam a assembléia. Em poucos instantes, erguia-se Matilde, a nosso olhar, de rosto velado por véu de gaze tenuíssima. A túnica alva e luminescente, aliada ao porte esguio e nobre, sob a auréola de safirina luz de que se tocava, traziam à lembrança alguma encantada madona da Idade Média, em repentina aparição. Adiantava-se, digna e calma, na direção do sombrio perseguidor; todavia, Gregório, perturbado e impaciente, atacou-a de longe e empunhou a lâmina em riste, exclamando, resoluto: – Às armas! às armas!… Matilde estacou, serena e humilde, embora imponente e bela, com a majestade de uma rainha coroada de Sol. Decorridos alguns instantes ligeiros, movimentou-se novamente e, alçando a destra radiosa até ao coração, caminhou para ele, afirmando, em voz doce e terna: – Eu não tenho outra espada, senão a do amor com que sempre te amei! E de súbito desvelou o semblante vestalino, revelando-lhe a individualidade num dilúvio de intensa luz. Contemplando-lhe, então, a beleza suave e sublime, banhada de lágrimas, e sentindo-lhe as irradiações enternecedoras dos braços que, agora, se lhe abriam, envolventes e acolhedores, Gregório deixou cair a lâmina acerada e de joelhos se prosternou, bradando: – Mãe! Minha mãe! Minha mãe!… Matilde enlaçou-o e exclamou: – Meu filho! Meu filho! Deus te abençoe! Quero-te mais que nunca!” (pp. 249-259).

Comentários: em A vida além do véu, o personagem Arnel narra a seguinte sequência final: a) graças à dissidência do personagem Capitão, antes fiel ao Governador, os missionários entram nas minas; b) os missionários chamam os escravos para a fuga, cantando hinos evangélicos; c) aproximando-se, o primeiro se ajoelha; d) centenas ou milhares de escravos seguem-no; e) esperado, o Governador chega com seus escravos fiéis, falando palavrões; f) desembainha a espada; porém, esta murcha na presença de todos; g) a comitiva de milhares de pessoas se ajunta num ponto determinado para se libertar. Por sua vez, em Libertação, o personagem André Luiz narra a seguinte sequência final: a) graças à dissidência do diretor da falange operante, antes fiel ao Sátrapa, os missionários controlam um ponto avançado nos domínios malignos; b) os missionários anunciam aos espíritos sofredores a chance de fuga; c) aproximando-se, uma senhora se ajoelha; d) dezenas de sofredores seguem-na; f) o grupo resgatado segue a um local combinado para se libertar; g) os missionários cantam canções evangélicas enquanto esperam o Sátrapa chegar com seus assalariados, h) falando palavrões, o Grande Juiz desembainha a espada, esta cai e ele é derrotado sem luta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como exposto acima, as evidências apontam que a trama do livro Libertação, que Xavier afirmava ter psicografado do espírito André Luiz, é apenas um plágio, incrivelmente prefaciada por outro plágio, um escrito atribuído por Xavier ao espírito Emmanuel. E mais: sustento que a alegada colônia espiritual que Xavier chamou de Nosso lar também tem sua origem em A vida além do véu, na mensagem de 01/02/1918, nesta obra figurando como a Universidade das Cinco Torres:

“[Na Universidade] há cinco torres – quatro de tamanho igual, mas não de mesmo modelo – e, no meio delas, a Cúpula. A Grande Torre eleva-se mais adiante, e é continuada até uma grande altura. (…) Além do Pórtico está um lago e, andando, nos aproximamos daquilo para o que pórtico se abre, e que se estende a alguma distância para a esquerda e para a direita. O prédio principal eleva-se do lago, e todos os seus jardins e agrupamentos de prédios menores são unidos a ele por pontes, a maioria coberta. A Cúpula cobre um saguão que é usado para a observação. (…) As quatro Torres têm cada uma um conjunto de prédios próprio. Não posso dar-lhe os nomes, mas você pode transcrevê-los como a Torre da Vida Dormente, a qual você chamaria de mineral; a Torre da Vida Sonhadora, que você chamaria vegetal; a Torre da Vida Despertando, a qual você chamaria de animal; e a Torre da Consciência, a qual você chamaria de humana. A Grande Torre é a Torre da Vida Angélica, que observa todas as formas de vida abaixo dela em grau de progresso, e também coroa todas elas. Pois em direção à ordem Angélica está se movendo toda a criação inferior. Estas Torres são servidas pela Casa da Cúpula e, para ela, eles se voltam por algum item especial de conhecimento que necessitem em seu trabalho de pesquisa e classificação (…). A Grande Torre é muito agradável de se ver. É de uma cor que não há na Terra; mas chame-a de alabastro dourado recoberto de pérolas, e terá uma ideia dela. É quase como uma fonte ampla e esplêndida de gemas líquidas em perpétuo movimento. Mas ao invés da água caindo, ali se dá a harmonia de uma música sussurrada, de tal forma que ninguém pode se aproximar do prédio sem que se modifique, quase para um encantamento em êxtase, pela influência que ela emana sobre tudo. As águas também são lindas, já que dão voltas em torno dos canteiros em flor; e aqui há um córrego, e ali há um lago no qual as Torres, ou a Cúpula, ou alguma preciosidade da arquitetura, é refletida, e permanece em plácida e repousante beleza, como uma criança angelical em seu berço, por assim dizer a você. Vou levá-lo para a Grande Torre, e perceba um pouco de suas qualidades. Ela não tem um prédio amplo em sua base, mas lança-se por igual desde suas fundações. Ficamos em seu interior e olhamos para cima, e você paralisa pela admiração. (…) A Torre é construída de paredes duplas, e nos quatro lados há salas e saguões e habitações dos Anjos. Assim que se olha para cima, pode-se ver uma porta, e então um balcão ou janela suspensa, ou uma ponte ligando uma habitação a outra, numa curva para fora no espaço, ou para dentro novamente para sua destinação. Ou uma linha diagonal na parede mostrará onde um lance de escadas vai de uma casa, ou local de lazer, a outro local. Até mesmo jardins há ali, plantados em amplos canteiros saídos das paredes laterais da Torre. E tão alta e tão larga é esta grande construção que estes itens, que são de proporção espaçosa quando se aproxima deles, mesmo assim não impedem a visão do céu acima, nem alteram o contorno da abertura no topo. E quando se olha em torno, vê-se como a luz altera e se mistura, e intensifica ou desaparece nas diferentes partes da ascensão. Desta forma, em uma casa, conforme o que ela forneça para o bem da Torre, lá parece que brilha o sol do crepúsculo. Em outra, o sol da manhã parece estar surgindo e iluminando o jardim no terraço, com suas belas árvores verdes e arbustos, com o lampejo do pôr do sol. (…) Retome em sua mente ao nome que dei a estas Cinco Torres e verá que não é o caso. Esta Grande Torre supervisiona o trabalho das outras quatro, e a Cúpula puxa daqui o poder requerido para a tarefa. Aqui residem Anjos de elevado grau, num vai e vem de reinos muito altos para darem de sua força poderosa e de sua experiência ampla, para auxiliarem aqueles que agora buscam acertar o passo no caminho que eles trilharam antes, eras atrás. Estes que habitam nas Quatro Torres e na Casa da Cúpula estão fazendo, na presente eternidade, o que eles mesmos fizeram nas eternidades já passadas, cujos cidadãos passaram pelo ciclo de progresso e deixaram seu lugar para ser ocupado pela raça atual” (pp. 287-289).

Em o Nosso lar, livro de Xavier, existem as seguintes informações sobre a colônia Nosso lar:

“A essa altura, atingíramos uma praça de maravilhosos contornos, ostentando extensos jardins. No centro da praça, erguia-se um palácio de magnificente beleza, encabeçado de torres soberanas, que se perdiam no céu. – Os fundadores da colônia começaram o esforço, partindo daqui, onde se localiza a Governadoria – disse o visitador. Apontando o palácio, continuou: – Temos, nesta praça, o ponto de convergência dos seis ministérios a que me referi. Todos começam da Governadoria, estendendo-se em forma triangular”.

Comentário: Xavier fez uso da descrição que o “espírito” Arnel fez da Universidade das Cinco Torres, contida em A vida além do véu, para idealizar a colônia espiritual Nosso Lar. As torres de Owen são os ministérios de Xavier; na universidade há casas, lindos jardins, água em abundância – eis o Nosso lar original. Foi a partir da leitura que Xavier fez da Universidade das Cinco Torres de Owen que ele ideou a colônia Nosso Lar. Observe-se as informações sobre a Universidade das Cinco Torres: os caminhos e as pontes sempre convergentes para a Grande Torre; na colônia Nosso lar, Xavier transformou a Grande Torre no palácio da Governadoria – colocando-o no centro, para onde convergem todas as estradas e ruas de o Nosso lar. Em A vida além do véu, todas as informações sobre a Universidade das Cinco Torres recordam um pentágono. Em o Nosso lar, a configuração da “colônia”, sua estrutura etc. remete-nos ao hexágono. Xavier apenas trocou cinco por meia-dúzia.

No livro Cidade no além (Edifel, que na sua 26ª edição, em julho de 2001, indicava a impressão de duzentos mil exemplares), Heigorina Cunha escreveu:

“Desconhecida que sou da grande família espírita, e do público em geral, a quem é destinada a mensagem deste livro, vinda do Mundo Maior, com a minha pequena parcela de cooperação, gostaria de contar, neste limiar, um pouco da minha vida para que os queridos leitores se inteirem da precariedade de recursos dos quais os Espíritos dispuseram para se manifestarem por meu intermédio, o que pode explicar as falhas técnicas e, às vezes, elementares de desenho, principalmente tendo em vista a qualidade da matéria a ser retratada, que envolve aspectos, paisagens e coisas do Mundo Espiritual. (…) Foi em 1962, quase um ano após a partida de Mamãe, em uma tarde amena, quando contemplava, melancólica, o pôr-do-sol, que senti mais nítida a sua presença, e, a partir daí, comecei a penetrar os dois planos da vida com mais freqüência. Mas foi no dia 2 de março de 1979, quando vivi a mais fascinante experiência de minha vida. Vi-me saindo do corpo, conduzida por um Espírito que não pude identificar, seguindo para uma cidade espiritual que depois soube tratar-se da cidade “Nosso Lar”.

Cunha informa que teve mais um desdobramento, no jargão espírita, uma saída da alma do corpo, no qual teria visitado a colônia espiritual Nosso lar, e que esta ocorrência notável lhe permitiu fazer alguns desenhos da “cidade” visitada em seu “transe”:

“Entusiasmada com o segundo desenho, mostrei-o a algumas pessoas mais íntimas e de minha confiança. Uma delas foi um primo, que levou a notícia a Francisco Cândido Xavier. O bondoso médium de Uberaba se interessou e pediu-me que lhe levasse os desenhos, e qual não foi a minha surpresa quando me afirmou se tratar da cidade “Nosso Lar”, correspondendo-lhe exatamente à forma. Sob estímulo de seu carinho e compreensão, procurei grafar outros detalhes da cidade, que estão oferecidos neste livro. Depositei nas mãos de Francisco Cândido Xavier, que se incumbiu generosamente dos detalhes complementares e do encaminhamento do material para o Instituto de Difusão Espírita, de Araras, que, afinal o editou. Na oportunidade, devo agradecer a Deus e aos Bons Espíritos pela participação que tive neste trabalho, rogando escusas, inclusive aos leitores, pelas deficiências naturais impostas pelas minhas limitações pessoais. Heigorina Cunha, Sacramento, 4 de fevereiro de 1983”.

O livro de Cunha pode ser encontrado na internet, com desenhos de como seria o plano arquitetônico da “colônia espiritual” Nosso lar:

“Da Governadoria partem as coordenadas que dividem a cidade em seis partes distintas, afetas, cada uma, ao mesmo número de organizações especializadas, em que se desdobra a administração pública, representadas, como já disse, pelos Ministérios da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação, do Esclarecimento, da Elevação e da União Divina” (p. 36).



Fig.  –  Plano arquitetônico da “colônia espiritual” Nosso lar, segundo Cunha e Xavier.


Assim, poder-se-ia indagar:

I – Então, Cunha mentiu?

Afirmo que ela não mentiu, longe de mim duvidar da integridade desta senhora. Provavelmente, ela teve um “sonho”, algo nesta linha.

II – Por que Xavier confirmou o que Cunha disse?

Xavier facilmente deve ter percebido que as sugestões de Cunha seguiam ao encontro das linhas gerais que ele havia reproposto para a “colônia espiritual” Nosso lar. Quando lhe perguntavam se André Luiz teria sido Oswaldo Cruz, Carlos Chagas ou Faustino Esposel, ele deixava sempre a dúvida no ar; dava um sorriso, não dizia nem sim nem não! Sabia que não era nenhum deles, simplesmente porque havia inventado esse personagem. Mas a Xavier interessava esse “joguinho” de curiosidades, de discussões sobre o tema; isto alimentava as histórias mitológicas sobre sua “mediunidade”. Entendo que o traço psicológico fundamental para a compreensão de Xavier, o que o motivava, era ser sempre o centro das atenções. 

NOTAS:

[1]              Texto terminado em 23/09/2011, produzido inicialmente para ser publicado no blog Obras psicografadas.

[2]              Professor de história com licenciatura plena e habilitação em geografia, formado pela Faculdade de Ciências e Letras de Bragança Paulista – hoje FESB. Professor efetivo de história do Brasil e história geral numa escola estadual e noutra municipal. Trabalhou também como professor de história do Brasil, geral e da arte, geografia do Brasil e geral em escolas particulares e cursos pré-vestibulares. Nascido em 1966, foi bastante influenciado pelo catolicismo, ao qual, por iniciativa própria, abandonou; simpatiza com a doutrina espírita – contudo, ultimamente, caminha no sentido da crítica e do ceticismo.

[3]              Agradeço a colaboração de Marcio Rodrigues Horta (doutor em filosofia pela USP e funcionário de carreira do TRE/SP) pelo auxílio na pesquisa, redação e argumentos. Agradeço também a Vitor Moura Visoni (parapsicólogo e profundo conhecedor da vida e obra de Xavier) pelos acréscimos de similaridades e por me despertar do sono dogmático.

[4]              A saber, distintamente do espiritismo kardecista, como regra, os adeptos do novo espiritualismo inglês e, em seguida, americano, não acreditam na reencarnação, sendo sua matriz religiosa original o protestantismo.

[5]              Adaptado de Wikipédia, http://www.pt.wikipedia.org/wiki/George_Vale_Owen; o livro A vida além do véu está em http://www.espiritando.com.br/saladeleitura/a_vida_alem_do_veu.pdf.

[6]              Link para baixar o livro Libertação, de Xavier: https://sites.google.com/site/spirityss/cx1fsadf/37-ChicoXavier-AndreLuiz-Liberta%C3%A7%C3%A3o.pdf?attredirects=0&d=1

[7]              Agradeço a colaboração de Alberto Alonso Muñoz (doutor em filosofia pela USP e Juiz do Tribunal de Justiça/SP) pela pesquisa suplementar e descoberta (em ficha catalográfica da biblioteca da FEB) do ano da primeira publicação em português da obra de Owen. Horta também constatou que a edição em inglês disponível na internet foi publicada em Nova Yorque em 1921; o internauta Caio afirmou, no blog Obras psicografadas, que, em pesquisa virtual, descobriu que na biblioteca do Congresso dos EUA existe uma cópia do livro de Owen datada de 1921.

[8]              Cf. Playfair, Chico Xavier: medium of the century, p. 78, publicado em 2010 – trecho traduzido por Visoni. Este tema foi desenvolvido por Visoni e publicado inicialmente em www.obraspsicografadas.haaan.com/2011/o-primeiro-plgio-internacional-de-chico-xavier/

[9]              Foi o pai de Wanda Joviano, Rômulo Joviano que, em 1934, levou Xavier para uma fazenda modelo do Ministério da Agricultura, onde o “médium” trabalhou como datilógrafo e iniciou a “psicografia” de seus primeiros livros, Parnaso do além-túmulo e Nosso lar.

[10]             Cf. Joviano, Deus conosco, 2007, cap. Os dons de servir.

[11]             Idem.

[12]             Xavier, Libertação, p. 4.

[13]            Este conto foi publicado inicialmente em 1937, no livro Winged pharaoh, pp. 11-13 (provavelmente, o livro a que Wanda Joviano se referiu). Em The scarlet fish & other stories, de 1942, transformou-se no conto principal de uma coletânea infantil.

[14]            Idem.

[15]             Cf. Libertação, Xavier, 1949, pp. 4-9.

[16]             Sátrapa significava governador dentre os persas. Este nome se harmoniza com a alegação de Xavier que a cidade inferior era similar às grandes cidades orientais de duzentos anos atrás; todavia, conflita com a pretensão de nobreza romana da elite local, que aproxima a narração de Xavier à de Owen. 

COMENTÁRIO DE BIASETTO:

Isto aqui, não é discussão estéril. Isto aqui é prova. Prova de que o livro Libertação é plágio do livro A Vida Além do Véu. Mas existem duas explicações pra isto:

A 1ª, o óbvio, o lógico, o racional: o senhor Chico Xavier, leu o livro do reverendo George Vale Owen e resolveu escrever um livro dele, dizendo que era de um tal espírito André Luiz. Então, recordou a história do livro do Owen, fez algumas consultas ao livro, mudou umas coisitas aqui e ali, acrescentou outras coisitas aqui e ali. Assim, nasceu Libertação. Pra completar, ele se lembrou da “história do peixnho”, que a moça tinha traduzido pra ele, e tascou como prefácio do livro, alegando que era o Emmanuel (o guia que ele inventou), que estava escrevendo.

A 2ª explicação, esta é ótima, é compactuada pelo Luciano dos Anjos, o Marcos Arduin e mais uma turma de espíritas aí. Esta explicação, é a seguinte: o espírito André Luiz, queria falar sobre a vida no além, mas não tinha história interessante pra contar. Aí, ele pegou o livro do Owen, leu, achou interessante e resolveu passar a história pro Chico Xavier. Então, ele, o André Luiz, arrancou da história, o espírito Arnel, assumiu o lugar dele, e contou a história pro Chico, como se ele tivesse vivenciado tudo aquilo. Pra completar, o Emmanuel que tinha visto a moça traduzir a “história do peixinho” pro Chico, achou tão bonita a historinha, que resolveu colocá-la no prefácio do livro. Será que ele disse pro Chico: “Vai Chico pega aí na gaveta, aquela historinha do peixinho, copia e põe como meu prefácio.” OU será que ele não precisou disto: como espírito evoluído, tantas reencarnações, até com Jesus trocou ideia, então, será que ele simplesmente foi narrando a história pro Chico, porque bastou a moça traduzi-la e ele já gravou a história na mente espiritual. E, será que o Chico não viu que a história do prefácio, era aquela que a moça havia traduzido?
Ah! vão fantasiar na Disneylândia, na Terra do Nunca!

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