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Texto sobre "monopólio do bom senso" é recado para "espíritas" brasileiros


(Autor: Professor Caviar)

"Não sei se tudo está sempre no crivo da razão. Tem coisas que escapam da lógica e eu acredito que elas sejam válidas, creio que elas tenham sentido, sim. O que parece para nós absurdo pode ser sinônimo de coerência no mundo espiritual".

Essa falácia, dita pelos chamados "isentões espíritas", mostra que o "espiritismo" brasileiro, contrariando os ensinamentos de Allan Kardec, detém o monopólio do bom senso, chegando a manipular as ideias do pedagogo francês de acordo com suas convicções. Os monopolizadores da razão usam o prestígio religioso para se imporem como "portadores da verdade", não necessariamente na cara dura. Afinal, os pretensos donos da verdade nunca se afirmam como tais, mas reconhece essa postura na luta que eles têm para, mesmo com argumentos duvidosos e cheios de contradições, ficarem com a palavra final. É uma luta para que eles sempre fiquem com a razão, e, como sofistas modernos, eles meçam a coerência das coisas de acordo com suas convicções.

O "movimento espírita" é assim. Nos "centros espíritas", o que mais os atendentes do "auxílio fraterno" fazem é juízo de valor. Julgam o problema descrito pelo sofredor como se ele fosse "necessário", o atendente é que se acha julgar o que o atendido precisa ou quer na vida, decide até sobre o tipo de mulher que um rapaz deve namorar, que homem uma mulher deve se casar etc.

No caso das reportagens, nota-se que prevalece uma narrativa que parece enxuta, mas é cheia de contradições. A imprensa aceita tudo e noticia um estranho Espiritismo que mais parece enredo de novela: Allan Kardec descobre fenômenos espirituais, estabelece a Codificação e os brasileiros acrescentam com religiosidade, com Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier) popularizando e tudo fica nisso mesmo. Esquecem os nossos jornalistas que houve a deturpação feita por J. B. Roustaing - apelidado de "João Batista" tanto por Chico Xavier quanto por Divaldo Franco - que arruinou os postulados espíritas originais e moldou o "espiritismo à brasileira" que temos atualmente.

Chegou-se a distorcer uma frase de Kardec, para atender aos interesses igrejistas do "movimento espírita", durante a divulgação de Kardec - O Filme, de Wagner de Assis. A ideia que diz "A fé inabalável é aquela capaz de enfrentar sem temor a Razão. Essa é a mais pura verdade" foi deturpada para que seja creditada como "foi raisonée" - "fé fundamentada", muito mal traduzida, no Brasil, pelo termo ambíguo de "fé raciocinada" - o que na verdade é uma "fé cega", quando a Fé se julga acima da Razão. 

A "fé cega" é defendida pelos "espíritas" sob o eufemismo do "olhar do coração", principalmente para blindar o igrejismo mistificador de Chico Xavier. No entanto, disse Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo 19 - A Fé que Transporta Montanhas, no segmento "A Fé Religiosa - Condição da Fé Inabalável":

"É precisamente o dogma da fé cega que hoje em dia produz o maior número de incrédulos. Porque ela quer impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: a que se constitui do raciocínio e do livre-arbítrio".

A obra de Chico Xavier, na contramão dos ensinamentos kardecianos, é sempre a reprovação do senso crítico, em que usa-se o termo "liberdade de pensamento" e "busca do Conhecimento" de forma hipócrita. Isso equivale ao que fazia a ditadura militar com o termo "democracia" e as religiões que fizeram a Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade (incluindo o próprio "espiritismo" e com aval do próprio Chico Xavier), defendendo o golpe de 1964, usaram de maneira tendenciosa o termo "liberdade", também neste sentido.

Na retórica religiosa, "liberdade" é eufemismo para servidão na fé. A pessoa é "livre" quando ela se subjuga ao misticismo religioso e deixa os "desígnios divinos" manipularem sua vida. Daí a aceitação de adversidades, mesmo quando elas esmagam a alma e traumatizam a consciência.

No texto que mostraremos abaixo, extraído de O Livro dos Espíritos, Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, item IX - Monopolizadores do Bom Senso, cita-se também que o charlatanismo só existe em atividades que exigem lucro financeiro, quando vemos que, apesar da aparente gratuidade das atividades "espíritas", as ações de charlatanismo - como a pretensa mediunidade de Chico Xavier que usurpa a memória dos mortos em obras abaixo e aquém de suas naturezas pessoais - , há também outras formas de captação de renda, das quais a produção de filmes e de seminários são os principais, comprometidos, estes, com a mistificação de raiz roustanguista. Ainda se vai falar sobre o charlatanismo no "movimento espírita", por ser um assunto de muita complexidade.

Fiquemos então com o texto que critica o "movimento espírita", que, com seu rol de mistificações e práticas irregulares, tenta obter o monopólio do bom senso, com sua "patrulha canina" de "isentões espíritas" tentando obter a posse da verdade (sem assumir isso no discurso) que chegam mesmo a, contraditoriamente, interpretar Allan Kardec de acordo com suas convicções e, quando isso não é possível, desqualificar o próprio Codificador como "antiquado para os tempos atuais". Tudo isso é feito para manter em pé a ilusão do igrejismo do "espiritismo à brasileira", sempre empenhado em se colocar acima da Razão e da Lógica e a definir as contestações alheias como "tóxico do intelectualismo":

IX – Monopolizadores do Bom Senso

Por Allan Kardec - O Livro dos Espíritos

O movimento de objetos é um fato comprovado; resta saber se nesse movimento há ou não manifestação inteligente e, em caso afirmativo, qual a sua origem.

Não falamos do movimento inteligente de certos objetos, nem das comunicações verbais ou das que são escritas diretamente pelos médiuns. Esse gênero de manifestações, tão evidente para aqueles que viram e aprofundaram o assunto, não é, à primeira vista, bastante independente da vontade para convencer um observador novato. Não trataremos, portanto, senão da escrita obtida com a ajuda de um objeto munido de lápis, com a cesta, a prancheta etc. A maneira por que os dedos do médium são postos sobre o objeto desafia, como já dissemos, a mais consumada destreza em participar de qualquer forma da formação de letras. Mas admitamos ainda que, por uma habilidade maravilhosa, possa ele enganar os olhos mais atentos. Como explicar-se a natureza das respostas, quando elas superam as idéias e os conhecimentos do médium? E note-se que não se trata de respostas monossilábicas, mas quase sempre de muitas páginas escritas com admirável rapidez, seja espontaneamente ou sobre assunto determinado. Pela mão do médium menos versado em literatura, surgem poesias de uma sublimidade e de uma pureza impecáveis, que não desmereceriam os melhores poetas humanos. E o que aumenta ainda a estranheza desses fatos é que eles se produzem e que os médiuns se multiplicam ao infinito. Esses fatos são reais ou não? A esta pergunta só podemos responder: vede e observai; não vos faltarão oportunidades; mas, sobretudo, observai com consciência, por longo tempo e obedecendo às condições necessárias.

À evidência, o que respondem os antagonistas? Sois vítimas do charlatanismo, dizem eles, ou joguetes de uma ilusão. Responderemos, de início, que é preciso afastar a palavra charlatanismo de onde não existem lucros, pois os charlatães não agem gratuitamente. Seria, quando muito, uma mistificação. Mas por que estranha coincidência os mistificadores se teriam entendido, de um extremo ao outro do mundo, para agir da mesma maneira, produzir os mesmos efeitos e dar, sobre os mesmos assuntos e nas diversas línguas, respostas idênticas, senão quanto às palavras, pelo menos quanto ao sentido? Como é que pessoas sérias, honradas e instruídas se prestariam a semelhantes manobras, e com que objetivo? Como teriam encontrado entre as crianças a paciência e a habilidade necessárias? Porque, se os médiuns não forem instrumentos passivos, é claro que necessitam de habilidade e de conhecimentos incompatíveis com certas idades e posições sociais.

Então acrescentam que, se não há embuste, dos dois lados podem estar embaídos por uma ilusão. Em boa lógica, a qualidade das testemunhas tem um certo peso; ora, é o caso de perguntar se a doutrina espírita, que conta hoje milhões de adeptos, só os recruta entre os ignorantes. Os fenômenos em que ela se apóia são tão extraordinários que concebemos a dúvida, mas não se pode admitir a pretensão de alguns incrédulos ao monopólio de bom senso, ou que, sem respeito às conveniências e ao valor moral dos adversários, tachem de ineptos a todos os que não concordam com as suas opiniões. Aos olhos de toda pessoa judiciosa, a opinião dos homens esclarecidos que viram determinado fato por longo tempo e o estudaram e meditaram será sempre uma prova ou, pelo menos, uma presunção favorável, por ter podido prender a atenção de homens sérios, que não tinham nenhum interesse em propagar erros nem tempo a perder com futilidades.

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