Pular para o conteúdo principal

Rádio Cidade, mostra que fanatismo religioso, no Rio de Janeiro, ultrapassou os limites da religião


(Autor: Senhor dos Anéis, por e-mail)

O Rio de Janeiro, que os "espíritas" asseguram ser protegido pela "colônia espiritual" de Nosso Lar, é uma sociedade estranha, que sucumbiu aos retrocessos sócio-culturais nos últimos 25 anos, que fizeram com que problemas crônicos que vão da imbecilidade cultural, do reacionarismo do povo carioca, da intolerância à diferença do outro, a criminalidade crescente, a falência econômica e as tempestades violentas, permanecessem, derrubando o antigo glamour que desapareceu por completo.

Culturalmente, nota-se que os cariocas inserem um sentimento de transe, mistificação e fanatismo religiosos até em assuntos que não envolvem religião. Medidas medíocres, como a pintura padronizada nos ônibus municipais do Rio de Janeiro, foram exaltadas por busólogos locais - "busólogo" é aquele que tem por hobby admirar ônibus - como "a salvação da humanidade". 

Só que essa medida fez derrubar tanto o sistema de ônibus que, enquanto a Secretaria Municipal de Transportes, na pessoa do tecnocrata Alexandre Sansão, exerceu poderes descomunais, o serviço piorou e as empresas começaram a ter frotas sucateadas e falir, diante desse poder estatal desmensurado. E isso se reflete até hoje, mesmo quando empresas de ônibus começam a recuperar as identidades visuais para serem facilmente reconhecidas pelos passageiros comuns.

No Rio de Janeiro, futebol é uma "religião", onde o esporte serve como um totalitário regulador social, que faz com que pessoas que não apreciem essa modalidade sejam discriminadas e expostas à humilhação pública. É um local onde universitários forçam calouros a tomar cerveja, as mulheres dizem ser fãs da pintora espanhola Frida Kahlo sem conhecer sua obra, apenas se impressionando pelo exótico adorno de flores no cabelo e usando o ridículo trocadilho "sou Frida mas não me Kahlo", que soa como uma piada sem graça.

O Rio de Janeiro se tornou tão provinciano que o fanatismo religioso se expandiu até para o imaginável terreno da cultura rock, onde uma emissora, a Rádio Cidade, que completa 42 anos de existência hoje (surgiu em 01º de maio de 1977), tornou-se uma espécie de "Igreja Universal do Rock", com seus ouvintes teleguiados que parecem uns zumbis (não se está fazendo trocadilho com a famosa banda de rock britânica The Zombies).

A Rádio Cidade nunca teve uma trajetória honrada nem competente como rádio de rock. Na verdade ela nunca foi rádio de rock ontem, nem hoje e nem amanhã. Isso porque o rock apareceu apenas como vitrolão, pois a rádio, descontando alguns programas específicos ao longo dos anos, nunca teve o necessário estado de espírito roqueiro, tendo sua programação quase sempre conduzida por radialistas sem a menor especialização ou mesmo sem a mínima identificação com o segmento.

Cobiçando o rock desde 1985 e atuando oficialmente "em nome do gênero" desde 1995, a Rádio Cidade mais parece uma seita. Seus ouvintes parecem viver de um transe místico e ouvem rock sem ter ideia alguma de quais bandas são, a não ser aquelas bem conhecidas. 

Mesmo assim, pouco importa para eles se uma música que ouvem é do AC/DC ou Iron Maiden ou se a banda faz rock melódico ou barulhento, o que lhes importa é a mística de sintonizar os 102,9 mhz e ouvir uma sequência ininterrupta de sons identificáveis como "rock". Os ouvintes da Rádio Cidade são como animais que precisam ouvir uma sequência mais ou menos "uniforme" de sons identificáveis como rock, para estimular seus hormônios orgânicos, sem no entanto se identificar realmente com a música.

Afinal, os ouvintes da Rádio Cidade são homens que precisam ouvir rock para exercerem a virilidade e um verniz de rebeldia. As mulheres, por sua vez, têm a preocupação vã em parecerem cool, afastando a reputação de "patricinhas bonitinhas". Tudo isso é um jogo de conveniências, afinal os ouvintes da Rádio Cidade não são, realmente, fãs de rock como música, mas tão somente ouvem rock pela mística e pela simbologia de prestígio social que buscam obter na sociedade.

Isso se comprova pelas queixas que muita gente faz do deslumbramento desses ouvintes, que impedem que pessoas comuns tenham uma conversa consistente sobre rock. Não dá para falar, por exemplo, da trajetória dos músicos de rock, discutir sons de marcas de guitarras ou qual o melhor amplificador a ser usado. Não dá para discutir formações de grupos, qual o disco mais importante de um artista etc.

Os ouvintes da Rádio Cidade são uns deslumbrados. Se comportam como fanáticos religiosos. Assim como não dá para falar do Jesus histórico para cristãos fanáticos, que o veem de maneira deslumbrada e fantasiosa, não dá para falar de rock com os ouvintes da Rádio Cidade, porque, para eles, "tudo é maravilhoso sendo rock", sem ter o discernimento necessário aos verdadeiros fãs do gênero.

Diferente dos antigos ouvintes da antiga Fluminense FM, mais pé no chão e vendo o rock como um gênero produzido por humanos, os ouvintes da Cidade divinizam tudo. Para eles, rock é "tudo de bom", "show de bola" e coisa parecida. É um deslumbramento, uma mistificação a tudo que é "rock", uma religião da qual só existem deuses e mitos, mas não é algo que os ouvintes da Cidade possam explicar de maneira lógica e consistente.

Essa incapacidade de explicar o rock que "admiram" os faz temperamentais, arrogantes, narcisistas e exclusivistas no seu ponto de vista. Os ouvintes da Rádio Cidade sabem que não são levados a sério pelo público de rock em geral, até porque, na vida normal, esses ouvintes ouvem outros estilos musicais, só usam o rock como meio de obter prestígio social, parecer "legais" para seus colegas nas redes sociais.

Daí que os ouvintes da Rádio Cidade são considerados de fácil irritabilidade, e nem o eventual pedantismo roqueiro de alguns deles consegue lhes fazer tornarem sérios diante do público roqueiro em geral. Embora haja a complacência de parte da mídia especializada em rock que, da revista Internacional Magazine à rádio digital de rock Cult FM (que segue a linha da Fluminense FM), manifestaram comentários elogiosos à Rádio Cidade, tudo é um grande faz-de-conta.

A Cidade finge que é rádio rock e os ouvintes fingem que são roqueiros. Enquanto isso, as páginas da Rádio Cidade nas redes sociais são de fazer inveja ao colunismo social juvenil ao mostrar tantos jovens riquinhos e bonitos exibindo as camisetas promocionais da emissora. Nem o Circulando do Luciano Huck foi capaz de mostrar tanta "gente bonita".

O grande problema é que existe o fanatismo doentio em associar a Rádio Cidade ao rock, como se ela fosse uma catedral do gênero. Esse fanatismo é defendido de forma tão doentia que a Rádio Cidade, que surgiu como emissora pop convencional (não muito diferente da Jovem Pan), tem hoje um histórico confuso, na qual a trajetória de 42 anos é exaltada mas o seu legado original renegado. Ao mesmo tempo que se fala que a Rádio Cidade é a "número 1 do FM", que "mudou o comportamento do rádio" etc, há um vínculo obsessivo com a cultura rock que a emissora nunca representou com dignidade.

Ultimamente, para tentar levar a sério sua obsessão ao rock - comparada à obsessão que Michael Jackson, por exemplo, teve com o gênero, contribuindo para sua morte em 2009 pela busca de "embranquecimento" de sua pele com remédios - , a Rádio Cidade "melhorou" o repertório musical tocado, agora apelando para um tal de "flash rock" que é na verdade um rótulo mercadológico para rádios comerciais que tentam parecer "corretas" na abordagem do rock, tocando um misto de coisas antigas e novas e tentando fugir dos hits

As comparações com a Eldo Pop (antiga rádio de rock dos anos 1970) e a Fluminense FM dos primeiros dias são inevitáveis, apesar da Cidade ter um nível de criatividade e competência infinitamente menor. Até porque a Rádio Cidade dos últimos meses mais parece um daqueles canais de áudio segmentados da TV por assinatura ou uma daquelas sequências de pendrive que qualquer pessoa monta no celular. 

Portanto, por mais esforçado que fosse o repertório, a programação da Rádio Cidade carece em profundidade e espontaneidade. A equipe não ajuda, porque ninguém lá é especializado em rock, consultores ligados à indústria fonográfica é que praticamente fazem o repertório a ser tocado. Se tirar o vitrolão roqueiro da Rádio Cidade, o que sobra é uma rádio pop com seus locutores pop que, fora do trabalho, fogem de pavor de tudo que lembre rock, porque aquilo é só um emprego.

Mas isso pouco importa num Rio de Janeiro emburrecido que quer uma rádio de rock com o nome de Rádio Cidade (nome que, aliás, não possui diferencial algum, tal a quantidade de emissoras-xará em todo o Brasil). Para quem é fanático por futebol, diz admirar Frida Kahlo sem conhecer sua obra, acha que pintura padronizada em ônibus é "dádiva de Deus", pouco importa uma rádio com trajetória confusa representar o rock. Afinal, esses "roqueiros" só veem o rock como misticismo, achando tudo "bom" desde que soasse como rock, tratado mais como "religião" do que como música.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Publio Lentulus nunca existiu: é invenção de "Emmanuel" da Nóbrega! - Parte 3

OBS de Profeta Gandalf: Este estudo mostra que o personagem Publio Lentulus, utilizado pelo obsessor de Chico Xavier, Emmanuel, para tentar dizer que "esteve com Jesus", é um personagem fictício, de uma obra fictícia, mas com intenções reais de tentar estragar a doutrina espírita, difundindo muita mentira e travando a evolução espiritual. Testemunhos Lentulianos Por José Carlos Ferreira Fernandes - Blog Obras Psicografadas Considerações de Pesquisadores Espíritas acerca da Historicidade de Públio Lêntulo (1944) :   Em agosto de 1944, o periódico carioca “Jornal da Noite” publicou reportagens investigativas acerca da mediunidade de Francisco Cândido Xavier.   Nas suas edições de 09 e de 11 de agosto de 1944, encontram-se contra-argumentações espíritas defendendo tal mediunidade, inclusive em resposta a uma reportagem anterior (negando-a, e baseando seus argumentos, principalmente, na inexistência de “Públio Lêntulo”, uma das encarnações pretéritas do

Provas de que Chico Xavier NÃO foi enganado por Otília Diogo

 (Autor: Professor Caviar) Diante do caso do prefeito de São Paulo, João Dória Jr., que divulgou uma farsa alimentícia durante o evento Você e a Paz, encontro comandado por Divaldo Franco, o "médium" baiano, beneficiado pela omissão da imprensa, tenta se redimir da responsabilidade de ter homenageado o político e deixado ele divulgar o produto vestindo a camiseta do referido evento. Isso lembra um caso em que um "médium" tentava se livrar da responsabilidade de seus piores atos, como se ser "médium espírita" permitisse o calote moral. Oficialmente, diz-se que o "médium" Francisco Cândido Xavier "havia sido enganado" pela farsante Otília Diogo. Isso é uma mentira descarada, sem pé nem cabeça. Essa constatação, para desespero dos "espíritas", não se baseia em mais um "manifesto de ódio" contra um "homem de bem", mas em fotos tiradas pelo próprio fotógrafo oficial, Nedyr Mendes da Rocha, solidário a

Um grave equívoco numa frase de Chico Xavier

(Autor: Professor Caviar) Pretenso sábio, o "médium" Francisco Cândido Xavier é uma das figuras mais blindadas do "espiritismo" brasileiro a ponto de até seus críticos terem medo de questioná-lo de maneira mais enérgica e aprofundada. Ele foi dado a dizer frases de efeito a partir dos anos 1970, quando seu mito de pretenso filantropo ganhou uma abordagem menos confusa que a de seu antigo tutor institucional, o ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas. Nessa nova abordagem, feita sob o respaldo da Rede Globo, Chico Xavier era trabalhado como ídolo religioso nos moldes que o jornalista católico inglês Malcolm Muggeridge havia feito no documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God) , em relação a Madre Teresa de Calcutá. Para um público simplório que é o brasileiro, que anda com mania de pretensa "sabedoria de bolso", colecionando frases de diversas personalidades, umas admiráveis e outras nem tanto, sem que tivesse um