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Mais do que nunca, precisamos de novos Attila Paes Barreto

(Autor: Professor Caviar)

Enquanto esperamos que uma alma generosa escaneasse as preciosas páginas do livro investigativo O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, de Attila Paes Barreto, publicado há 75 anos mas dotado de uma atualidade e um frescor contundentes, temos que nos manter vigilantes diante das tentações que o mito de Francisco Cândido Xavier traz para seus seguidores.

Se não nos tornarmos vigilantes, o mito volta, com as armadilhas emocionais do "bombardeio de amor", com o rosto de Chico Xavier inserido em paisagens floridas, céus azuis, com suas terríveis frases calcadas na Teologia do Sofrimento em belas fontes gráficas, para dar um aparato caprichado de "lindas mensagens". Ou volta mencionado em páginas esquerdistas ou ateias, em artigos acadêmicos chapa-branca e em jornalismos que deveriam ser investigativos mas são muito complacentes, seduzidos, também, pelas paixões religiosas.

É constrangedor e preocupante que, com a liberdade que se tem na Internet, embora relativa aqui e ali e sob um terrível cenário político que o Brasil suporta desde 2016, que não haja mais aquele jornalismo investigativo que punha em xeque a deturpação do Espiritismo e os abusos do "movimento espírita".

Hoje o que temos, mesmo na imprensa investigativa, são reportagens chapa-branca, às quais se aceita tudo o que a Federação "Espírita" Brasileira disser. O que a instituição diz se acata sem questionar e se diz amém. Não se investiga sequer as contradições que a obra de Chico Xavier apresenta em relação à literatura kardeciana, e essas contradições são muitas e gravíssimas, constituindo em preocupantes desvios doutrinários.

Mas, infelizmente, se aceitam esses desvios doutrinários, causando uma verdadeira erosão doutrinária, porque se aposta na cretinice de que o Espiritismo não precisa entender de assuntos espíritas, mas só de caridade e moral. Isso é terrível porque vemos que essa "caridade" é fajuta e essa "moral" é retrógrada, a primeira apenas agindo de maneira paliativa e parcial, sem combater a pobreza de verdade, e a segunda fazendo apologia ao sofrimento, o que é, aliás, uma ação anti-caridade, uma verdadeira omissão de socorro.

A situação é aberrante, surreal. Quer dizer que o Espiritismo pode se anular como doutrina, que se esqueçam os estudos sérios sobre contato com os mortos, tudo isso porque a prioridade é a adoração, agora mais hipócrita, dos "médiuns que erram". É aquela coisa: monta-se uma falácia que diz que "médiuns não são salvadores da pátria, não são semi-deuses, nem sempre acertam tudo, mas podem falhar e errar muito", mas continua firme e forte a adoração cega e (agora não assumidamente) divinizada, marcada pelo mesmo fanatismo de sempre.

Ninguém investiga, ninguém questiona. Aliás, seguiu-se a recomendação moralista ultraconservadora das obras de Chico Xavier: "não questiones". O senso crítico foi amaldiçoado pelo rótulo preconceituoso de "tóxico do intelectualismo", quando, por outro lado, nunca se fala do "tóxico da fé" nem do "tóxico da devoção". E as esquerdas que adoram Chico Xavier caem no ridículo, em todos os aspectos, porque são elas que mais questionam os abusos do poder midiático, as limitações do patronato aos trabalhadores, a opressão do latifúndio que violenta e mata os camponeses. Mas adoram um "médium" que pede para ninguém questionar esses abusos e se limitarem a orar para Deus para os algozes ficarem "bonzinhos".

Esquecem as esquerdas que Chico Xavier era ultraconservador. Alguns esquerdistas explodem em raiva parecida com os bolsonaristas quando se revoltam diante da tese realista de que Chico Xavier apoiaria Jair Bolsonaro, apesar de reprovar os exageros dele e seus associados e a sua apologia à violência. Acham que Chico Xavier, que em verdade era anti-petista doentio, apoiaria o candidato Fernando Haddad porque ele era professor. Quanta ingenuidade. Se Djavan apoiou Bolsonaro, surpreendendo a muita gente, Chico, que não surpreenderia tanto no seu provável bolsonarismo, deveria ser compreendido nesta postura, cuja tese se baseia nas próprias ideias do "médium".

Infelizmente, o pensamento desejoso e as paixões religiosas corrompem a realidade. As próprias esquerdas deixaram Jair Bolsonaro ser eleito. A histérica colunista do Repórter Nordeste reagiu com raiva bolsomínion - apesar dela se declarar esquerdista - quando o discípulo de Chico, Carlos Baccelli, manifestava apoio ao hoje presidente da República.

Essa colunista deveria se informar das coisas. Chico Xavier, em seus livros e depoimentos, defendia o trabalho exaustivo, a servidão humana, a "cura gay" e valores presentes na Escola Sem Partido, apoiou a ditadura militar, dizia que os sofredores deveriam aguentar as desgraças calados, entre outras bandeiras ultraconservadoras de arrepiar.

Aí o pessoal não gosta. Chico Xavier tem que ser visto conforme as fantasias de cada um. Um brinquedo "encardido" - virou moda falar em "médiuns falíveis" - , mas sempre com abordagens agradáveis, em que a fantasia luta para se manter acima da realidade.

Que isso até esteja presente nas atrações jornalísticas da Rede Globo, do SBT e da Band, que possa estar em matérias tendenciosas da Folha de São Paulo, Estadão e O Dia, vá lá. Mas o nosso jornalismo investigativo, se preciso, deveria questionar até o couro de Chico Xavier, ir mais ao longe, mesmo sob pena de ser acusado por "espíritas" fanáticos de praticar o "tóxico do intelectualismo".

Mais corajoso é aquele que enfrenta um ídolo religioso, que não resiste à sua mais perigosa armadilha, que é o "bombardeio de amor", ardil dos mais traiçoeiros, motivado por aspectos pretensos de profunda beleza e amorosidade. A narrativa do canto-de-sereia da Odisseia de Homero pouco tem a ver com a tentação da beleza feminina em particular, mas com todo tipo de aspecto de pretensa beleza que pudesse deixar as pessoas desnorteadas e seduzidas para a perdição.

Que nossos jornalistas resistam aos traiçoeiros apelos de beleza associados a Chico Xavier, ele mesmo um grande manipulador de mentes humanas. Que se voltem os jornalistas investigativos como Attila Paes Barreto, além de críticos literários como Osório Borba e João Dornas Filho, a colocar a lógica e o bom senso acima da fé. A fé tem sua liberdade de atuação, mas não pode se julgar acima da realidade. É a supremacia da fé que está destruindo o país, com seus chiquistas, terraplanistas, olavistas e outras aberrações. Isso tem que acaber.

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