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Como se dá o "monopólio do bom senso" no "espiritismo" brasileiro?


(Autor: Professor Caviar)


Sabe-se que o "espiritismo" brasileiro de hoje, com uma linhagem que prevalece nos últimos 45 anos, quer exercer "monopólio do bom senso" até mesmo sobre o Espiritismo original, ao qual define como "antiquado" e "excessivamente científico".

Seus "médiuns" querem se achar mais kardecianos que o próprio Allan Kardec, e o complexo de superioridade enrustido dos "espíritas" - eles nunca assumem esse complexo no discurso - os faz julgarem, como pretensos senhores da Verdade, que nem tudo pode ser avaliado pelo crivo da Lógica.

A arrogância do "espiritismo" brasileiro, na sua fase "equilibrada" de hoje, é tal que seu igrejismo se impõe aos postulados espíritas originais. Até os "tarefeiros" (voluntários que trabalham em "centros espíritas") fazem o julgamento de valor nos "auxílios fraternos", considerando os motivos de sofrimento de seus clientes como sendo "positivos". "Aquilo que você diz que faz você sofrer é um desafio que lhe permite aprender sobre a vida", é a falácia que resume isso e mostra a má disposição dos "espíritas" em ajudar os outros, pois a verdade é que eles querem que o sofrimento continue.

Resumimos aqui algumas formas de como o "espiritismo" brasileiro tenta monopolizar o bom senso, se configurando numa religião que se apresenta de maneira "enxuta" para a imprensa que, de maneira bovina, aceita tudo que a Federação "Espírita" Brasileira diz, sem fazer o menor questionamento.

1) O FALSO EQUILÍBRIO ENTRE FÉ E RAZÃO

Diante da falácia de que "não se pode avaliar tudo pelo crivo da Lógica", o "espiritismo" brasileiro credita como "certo" o duvidoso, banindo o raciocínio crítico quando ele começa a entrar no âmbito da fé religiosa.

Quando a Razão começa a desafiar os "mistérios da fé espírita", os "espíritas" passam a julgar o raciocínio crítico como "tóxico do intelectualismo". Atribuem, de maneira maledicente, a "obsessão materialista" em questionar dogmas "espíritas" e pôr em xeque até mesmo "psicografias" que fogem dos aspectos pessoais dos supostos autores espirituais.

2) FALSA DEFESA DO CONHECIMENTO

O discurso hipócrita dos "espíritas" remete a uma falsa defesa do Conhecimento, que na verdade é uma defesa limitada, geralmente fora dos âmbitos da religião e dentro apenas de objetivos meramente "instrumentais", como realizar estudos científicos sobre doenças, analisar a vida dos planetas, os hábitos dos consumidores etc.

A Lógica só serve para se submeter aos âmbitos da Fé. O raciocínio lógico têm que renunciar a si mesmo e criar desculpas, por exemplo, para problemas "mediúnicos" e mistificadores diversos. Por exemplo, se a suposta psicografia de Olavo Bilac, no livro Parnaso de Além-Túmulo de Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier), está abaixo do talento original do autor, a desculpa é a "linguagem universal do amor": Olavo Bilac estaria "tão tomado de amor" que ele "esqueceu seu próprio talento". Isso não tem o menor sentido lógico, mas, fazer o quê, diante da "superioridade" dos "espíritas"?

3) FIDELIDADE ABSOLUTA A ALLAN KARDEC. SÓ QUE NÃO

Os "espíritas", sobretudo os chamados "isentões" - que se espalham nas redes sociais, nos fóruns e outros espaços digitais com seu verniz de "imparcialidade" para neutralizar e desfazer debates sérios - , dizem exercer "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" à obra de Allan Kardec, mas isso é só da boca para fora.

Em muitos momentos, são eles que amaldiçoam o que definem como "overdose de ciência" e "excesso de lógica" do pedagogo francês, quando ele apresenta ideias que soam incômodas para os "espíritas" brasileiros. 

No caso do "inimigo interno do Espiritismo", por exemplo, os "isentões espíritas" (espécie de patrulha ideológica a serviço do "movimento espírita", mesmo não estando oficialmente ligados a ele) acham que o que Kardec publicou "foi pesado demais" e vai contra os princípios de misericórdia (perdão visto como permissividade) defendidos pela religião brasileira.

A obra do pedagogo Allan Kardec não é questionada de maneira progressiva, ou seja, no âmbito da Lógica e do Bom Senso, mas em pontos que os "espíritas" brasileiros julgam desagradáveis. Ou seja, se questiona a obra kardeciana nivelando por baixo e não por cima. Não são as descobertas científicas, por exemplo, que questionariam as ideias de Kardec dentro da lógica, mas os preconceitos igrejistas que os brasileiros possuem fixos em suas mentes.

4) "ESPÍRITAS" SÃO IGREJEIROS, MAS SE JULGAM MAIS KARDECIANOS QUE KARDEC

O termo "kardecismo" é um eufemismo para definir um "espiritismo" que pouco tem a ver com Kardec. Trata-se de uma forma revista do roustanguismo - o igrejismo astral de J. B. Roustaing, base doutrinária original da FEB - , eliminando aspectos incômodos como o "Jesus fluídico" e os "criptógamos carnudos" (tese na qual as pessoas reencarnariam em animais, plantas ou vermes).

Nesse "roustanguismo repaginado" que chama "kardecismo", apenas se tolera as atividades intelectuais e científicas dentro de limites "instrumentais", como já afirmamos. Quando a Ciência e a Lógica atuam de maneira "pragmática", o "espiritismo" brasileiro até apoia e lhes dirige elogios e aprovações. Mas quando elas vão ao encontro dos "dogmas espíritas", há a maledicência e a errônea atribuição de que as atividades científico-intelectuais estão a serviço da "cupidez" e das "paixões materiais".

Desta forma, os "espíritas" brasileiros, arrogantes, se acham mais kardecianos que Kardec. "Kardec é que tem que pensar igual a gente, não como ele pensava. Sua lógica tem que encontrar limites, porque a Fé é um terreno impenetrável", pensam os "espíritas", presunçosos com sua pretensa posse da Verdade, nunca assumida no discurso, mas demonstrada pela preocupação obsessiva em ficar com a palavra final.

5) MEDIUNIDADE TEM SEMPRE QUE SER UMA QUESTÃO "EM ABERTO"

De maneira covarde, o acadêmico Alexandre Caroli Rocha diz que a suposta psicografia de Humberto de Campos por Chico Xavier "não pode" ser analisada pela simples análise textual, negando o critério "2+2=4" dos questionamentos contra tais obras. Caroli Rocha defende que "sejam primeiro analisadas" as questões da vida espiritual e do contato entre vivos e mortos.

O problema é que essa análise não é feita sequer pelos próprios "espíritas". E, em outras palavras, o que o acadêmico defende é que a questão fique sempre "em aberto", admitindo que não haja uma tese conclusiva a respeito. Só que isso acaba esbarrando em outro problema.

Esse problema consiste na ideia de que, se a questão não é conclusiva, então teria-se que proibir a publicação, divulgação e comercialização de obras "mediúnicas" - até o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho teria que ser retirada das livrarias - até que se possam concluir as análises "exigidas" por Caroli Rocha.

Em vez disso, o que se vê são obras publicadas e disponibilizadas impunemente, de maneira irresponsável, e aí a máscara cai quando a questão "em aberto" dá lugar à "liberdade da fé", uma permissividade leviana da FEB na qual a pessoa "tem direito de acreditar na veracidade ou não" de uma obra "mediúnica", ofendendo, assim, a memória de um nome morto, o qual os "médiuns" podem usar e abusar da maneira que querem confirmando o estranho fenômeno dos "donos dos mortos" que existe no Brasil.

CONCLUSÃO

Confirmando todos os perigos alertados com antecedência por Allan Kardec, o "espiritismo" brasileiro levou a deturpação roustanguista às últimas consequências e, em vez de traduzir o pensamento do pedagogo francês, usou seu nome e o aparato de sua doutrina para repaginarem o Catolicismo medieval e a arrogância dos antigos escribas rejeitados por Jesus, mas hoje representados pelos "médiuns" que bajulam o admirável ativista da Judeia.

Sob os vernizes do "equilíbrio" e da "imparcialidade" - feitos para forçar um suposto meio-termo entre o Bom Senso e o Contrassenso (ao qual atribui-se o eufemismo do "sobrenatural") - , o "espiritismo" brasileiro busca o monopólio do bom senso que havia sido alertado por Kardec como uma perigosa e reprovável tendência.

Afinal, os "espíritas" usam o prestígio religioso e a mística da fé religiosa e da emotividade para criarem um "terreno" onde a Razão não encontra validade, mas sim ideias absurdas nas quais se usa como pretexto os "aspectos que desafiam a Lógica" para serem validadas, sob a desculpa de que, no mundo espiritual, esses absurdos sejam aceitos como "verdadeiros".

Isso é o "monopólio do bom senso" que coloca os "espíritas" como pretensos donos da verdade - embora tentem renegar tal atribuição - , se deixando valer pela carteirada religiosa que carregam em si. Essa atitude é completamente leviana e mostra o quanto a deturpação do Espiritismo original foi longe demais em suas pretensões.

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