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Quando o Espiritismo consente com a violência


(Autor: Professor Caviar)

Oficialmente, o "espiritismo" brasileiro condena radicalmente a violência. Francisco Cândido Xavier, que os devotos conhecem como Chico Xavier, é o que aparentemente mais reprova atos violentos. No entanto, a teia de contradições na qual se atola a doutrina igrejeira brasileira, nada fizeram de concreto diante das convulsões sociais e, em muitos casos, consente com a tragédia e o infortúnio humanos.

O "espiritismo" brasileiro é, ao mesmo tempo, causa e efeito da mediocridade arrivista, ignorante e astuciosa do Brasil. É uma religião que traduz a confusão mental e a pressa em se ascender na vida do brasileiro médio, ao mesmo tempo desonesto e ambicioso, tendencioso e dissimulador, retrógrado com pretensões de modernidade etc. Além disso, o "espiritismo" brasileiro trai Allan Kardec o tempo inteiro, 24 horas por dia, sete dias por semana, e ainda beija o Codificador. Quantos Judas estiveram ou estão escondidos na "seara espírita" brasileira, a partir do próprio Chico Xavier!...

Daí que temos que desconfiar de tudo que se fala no Brasil sob o rótulo do Espiritismo e a nossa imprensa investigativa, nossos acadêmicos questionadores e nossos juristas averiguadores teriam que contribuir para pôr em xeque os dogmas "espíritas" e seus totens. Só que não. Eles são os que mais ficam complacentes na fascinação obsessiva que, de tão excessiva nesses homens, os faz na verdade ficarem subjugados, o que é um estágio ainda mais perigoso de obsessão, por deixar a alma praticamente escrava do obsessor, ainda que de forma inconsciente.

Quando o "espiritismo" brasileiro e, em particular, Chico Xavier, dizem condenar a violência, devemos ver isso com reservas. O moralismo "espírita", trazido pelo "médium" mas herdado de Jean-Baptiste Roustaing, é de natureza punitiva. A vítima é considerada "culpada" por seus infortúnios, os algozes são consentidos em seus erros abusivos e a eles se atribui a suposta aplicação da justiça divina, em tempo mais adiante.

Além disso, há a tese de "resgates espirituais", "reajustes morais", "tragédias coletivas", que fazem com que até o holocausto fosse justificado pelos "espíritas" como um "pagamento de dívidas". E Chico Xavier, que pedia para ninguém fazer juízo de valor e dizia defender os humildes (é tido como o "médium dos pés descalços) e dizia reprovar a violência e o ódio, se contradisse três vezes no livro Cartas e Crônicas, que ele escreveu junto a redatores da FEB e creditou o livro a "Irmão X", supostamente pseudônimo atribuído a Humberto de Campos para "uso externo", evitando ações na Justiça.

Chico Xavier - ele mesmo, pois Humberto não tem a menor participação disso e ele não está aí para reclamar do que o "médium" havia feito com ele - acusou os pobres cidadãos que saíram mortos, feridos ou, se ilesos, emocionalmente abalados com a tragédia do Gran Circo Norte-Americano, em Niterói, destruído por um incêndio criminoso em 17 de dezembro de 1961, de terem sido "cidadãos sanguinários da Gália do século II".

Primeiro, isso foi um juízo de valor. O ditado "Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço" aplica a Chico Xavier, que julgou perversamente as vítimas da tragédia no circo. Segundo, eram pessoas humildes que haviam sido ofendidas por um juízo de valor, que, em outro caso e atingindo pessoas de classe média (a acusação, no livro O Voo da Esperança, de Woyne Figner Sacchetin mas creditado a Alberto Santos Dumont, de que as vítimas de um acidente com um avião da TAM em 2007, teriam sido "cidadãos sanguinários da Gália do Século II), gerou processo judicial por danos morais. Se as pessoas humildes tivessem condições de serem informadas do dano moral, teriam colocado Chico Xavier mais uma vez no banco dos réus.

O terceiro ponto se refere à falta de misericórdia. Afinal, Chico Xavier (nada de botar as ideias dele na conta dos mortos; Cartas e Crônicas é um livro de opiniões pessoais do "médium") perdeu tempo lembrando de suposta encarnação antiga que, se fosse verdade que teria havido, ela já foi superada. No entanto, não há fundamento algum, nenhuma espécie de base teórica, que indicasse que as vítimas do criminoso incêndio do Gran Circo Norte-Americano teriam sido patrícios romanos com sede de sangue que viveram na Gália no Século II.

Diante disso, que moral tem o "espiritismo" brasileiro para falar em misericórdia e rejeição ao ódio?  Nenhuma. E ainda mais quando constatamos que os seguidores de Chico Xavier são pessoas rancorosas, vulcões adormecidos que parecem montanhas de serenidade e paz, mas que se explodem em violentos surtos de raiva, ódio e vingança.

O "espiritismo" brasileiro, apegado à Teologia do Sofrimento - que seus partidários não assumem na teoria, mas se esbaldam na prática - , criou as condições psicológicas que garantiram a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro. Vale lembrar que Jair Bolsonaro e Chico Xavier se afinam em trajetórias arrivistas e num ideário ultraconservador, que da parte do "médium" ainda surpreende seus seguidores que ignoram que o beato de Pedro Leopoldo sempre foi um reacionário contumaz.

E isso faz com que o "espiritismo" brasileiro, que sempre viu a encarnação terrena como uma coleção de flagelos, uma espécie de "gincana do mal" que em nada ajudou na libertação dos oprimidos, antes mantendo-os na desgraça extrema, se consentisse com o bolsonarismo, que no fundo apoiou com gosto, mas não pode jamais assumir isso, para não "ficar mal na fita".

Para piorar, no ano da "data-limite" do corrente 2019, ao qual os "espíritas" deixaram que Jair Bolsonaro se tornasse presidente da República, o próprio "espiritismo" brasileiro e a pessoa de Chico Xavier acabam sendo vítimas do próprio "limite temporal" que rogavam aos outros, pois o suposto Espiritismo no Brasil, que se autoproclamava a "religião da caridade", nada fez para melhorar o Brasil e deixou que o nosso país regredisse de maneira descontrolada.

Esses retrocessos criaram e criarão prejuízos os quais não serão reparados até 2057, ano que os "espíritas" supõem ser a conclusão do "período de regeneração", tese que nunca vimos nem veremos, até porque ela vai contra os postulados espíritas, que desaconselham o recreio de predefinir datas de acontecimentos futuros. 

Agora o que resta aos "espíritas" é orar para lhes amparar na catástrofe que atingirá a eles mesmos, e não precisam eles orarem para os mortos do futuro holocausto bolsonarista, a ser servido em doses "homeopáticas" por cidadãos comuns armados ou por policiais e militares (e paramilitares, como os milicianos) violentos, porque os "espíritas" nunca fizeram para evitar tantas tragédias, e Chico Xavier apenas embarcou nelas para produzir falsas psicografias. Para os "espíritas", só lhes restam chorar por si mesmos, e não se acharem vitoriosos na derrota que deram a si mesmos.

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