(Autor: Senhor dos Anéis)
A imprensa se acovarda diante de certas coisas. E é estranho que se acovarda justamente diante do "movimento espírita", a ponto de aceitar tudo o que a Federação "Espírita" Brasileira diz, de mão beijada.
No caso de Kardec - O Filme, obra cinematográfica dirigida por Wagner de Assis, as pessoas ficam felizes em levar gato por lebre, que estão acostumadas a ver coelhos miando, sem esboçar a menor desconfiança. Pelo contrário, devem estar divagando sobre que espécie de coelhos é essa que passa o tempo todo miando.
As reportagens que foram publicadas, no Brasil, tanto sobre os 150 anos de falecimento de Allan Kardec quanto sobre o lançamento do filme que, supostamente, o homenageia - mas com uma abordagem biográfica que, feita sob a ótica "espírita" brasileira, é muito cheia de falhas - , mais parecem press release da FEB, textos meramente publicitários, maquiados de reportagem.
Para piorar ainda mais as coisas, nota-se que os textos jornalísticos são todos iguais entre si. Observando os textos da BBC, Folha de São Paulo e UOL sobre os 150 anos sem Kardec e as matérias da Folha de São Paulo e UOL sobre o filme de Wagner de Assis - cujo apetite pela deturpação espírita se deve ao fato de que ele dirigiu o filme Nosso Lar, baseado em livro de Francisco Cândido Xavier - , nota-se que eles praticamente seguem o mesmo roteiro:
1) Os textos exaltam, aparentemente, a figura de Allan Kardec e ressaltam a importância dele como precursor do Espiritismo;
2) Os textos lembram que o Espiritismo é, segundo suas abordagens, mais popular no Brasil do que na França;
3) Os textos exaltam a figura de Chico Xavier como popularizador do que creditam como Espiritismo.
Em algumas dessas reportagens, dados estatísticos são lançados sobre a quantidade de "espíritas" segundo o Censo de 2010. Dirigentes da FEB e escritores como Marcel Souto Maior aparecem como entrevistados. Os textos, cerca de cinco, são essencialmente iguais uns aos outros e o assunto é simplório e repetitivo em vários deles, de forma que é uma grande perda de tempo escrever diferentes matérias, pois o conteúdo delas é praticamente o mesmo.
VERGONHA PARA A IMPRENSA INVESTIGATIVA
O que se torna vergonhoso é que, com a presença da Internet e uma amplitude de liberdade e alcance das informações, que se tornam mais instantâneas que no passado, a postura do jornalismo investigativo diante da deturpação do Espiritismo seja muitíssimo inferior à de 1944.
Até 1971, tínhamos vestígios, na imprensa brasileira, de críticas tanto à deturpação da Doutrina Espírita, que hoje se reduziu a um sub-Catolicismo, quanto à duvidosa "mediunidade" de Chico Xavier, cheia de irregularidades que, surpreendentemente, contam com provas robustas contra o religioso nascido em Pedro Leopoldo.
Casos como a Revista da Semana, o Diário de Notícias, o Diário Carioca e o Diário de São Paulo, assim como a revista Realidade, sem falar dos famosos Manchete e O Globo, faziam reportagens investigativas que não poupavam Chico Xavier, que naquela época ainda não tinha recebido a blindagem que hoje o faz, mesmo postumamente, uma pretensa unanimidade religiosa, com base no método de "fabricar santos" do inglês Malcolm Muggeridge.
Depois de então, não se vê reportagens assim. Em vez disso, mesmo a imprensa investigativa e a mídia de esquerda acabam, muitas vezes com ingenuidade servil, exaltando Chico Xavier como um pretenso pacifista, como um suposto filantropo, sem esboçar um questionamento sequer.
Para piorar, mesmo a imprensa de esquerda, famosa por contestar os mais sutis artifícios de abordagem da mídia hegemônica, não consegue enxergar falsidade nas supostas psicografias que levam os nomes de Humberto de Campos, Olavo Bilac, Castro Alves etc.
Mas o mais grave é que mesmo semiólogos como Wilson Roberto Vieira Ferreira, do Cinegnose, e Nelson Job, ainda aceitam, com submissão bovina, que teses delirantes como Nosso Lar, uma "cidade espiritual" concebida sem o menor fundamento científico, e a vinda de extraterrestres para salvar a humanidade, "profecia" trazida por Chico Xavier.
Isso é preocupante. Vieira Ferreira, capaz de ver as chamadas "bombas semióticas" nos mais complexos enredos cinematográficos europeus e nos chamados "não-acontecimentos" que repercutem na mídia hegemônica (como o controverso atentado ao World Trade Center, em 2001), não consegue ver bombas semióticas no exemplo arrivista de Chico Xavier, que de plagiador de livros virou um semi-deus, num processo simbólico de premiação da desonestidade humana com uma "santificação" improvisada pela emotividade cega dos seguidores e simpatizantes do "médium".
E Nelson Job aceitou a tese dos alienígenas, enquanto o próprio Kardec teria reprovado todo o profetismo barato da "data-limite", desqualificando Chico Xavier como um espírito fanfarrão, preocupado em criar datas fixas para fatos futuros - indício de mistificação - e obcecado pela ideia fútil de ver um país dominando o mundo sob o âmbito da religião e da política (Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho), não muito diferente do que Adolf Hitler sonhava para sua Alemanha.
É vergonhoso que nenhuma viva alma se empenhe em quebrar com essa fascinação em torno de Chico Xavier, cuja imagem sofre o apelo piegas e gosmento de estar associada a coraçõezinhos, paisagens floridas e céus azuis.
É necessário uma ruptura a essas tentações do "bombardeio de amor", a esse canto-de-sereia mais traiçoeiro, que de maneira insólita não veio de mocinhas lindas com rabo de peixe, mas da aparência "insuspeita" de um velhinho feioso de olhos esbugalhados e físico franzino, que usava peruca ou boné e vestia ternos cafonas.
Ver que a pior e mais incurável obsessão tem como foco um homem desses é assustador. E o ponto de partida para romper com isso é relembrar os pontos obscuros da trajetória de Chico Xavier, para informar as pessoas que ele foi o inimigo interno do Espiritismo e um dos deturpadores mais perigosos. E isso tem provas robustas. É só ler os livros de Chico Xavier que neles se encontra os piores desvios doutrinários, que simplesmente ofendem o legado trabalhoso de Allan Kardec.
De que adianta Allan Kardec ser bajulado e exaltado, ser visto como "exemplo admirável para a humanidade", se suas lições são desobedecidas? Inventa-se mensagens de "mortos" como se quer, botando "lições religiosas" para enganar as pessoas, e se desenvolve um igrejismo medieval sob o rótulo do Espiritismo, e é necessário que nossos jornalistas comecem a tirar o véu da fascinação e passem a investigar as irregularidades do "movimento espírita".
Investigar a farsa, como ensina Kardec, é caridade. Melhor cair um ídolo, como Chico Xavier, do que cair um Brasil inteiro. Chega de proteger um ídolo religioso enquanto os brasileiros continuam sendo vulneráveis e confusos! E chega de tanta covardia diante das paixões religiosas, jornalistas!!
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