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Imprensa trata FEB como se fosse mais suprema que o STF


(Autor: Professor Caviar)

Se há duas coisas que o jornalismo investigativo não mexe são o "funk" e o "espiritismo". Quando os aborda, as reportagens são descritivas, as abordagens, oficiosas, e as informações, bem chapa-branca. O pretexto é que, como os dois fenômenos estão associados a imagens de gente pobre sorrindo, ninguém faz o menor questionamento.

A grande imprensa não sabe que o que se conhece no Brasil como Espiritismo é bastante deturpado. Com toda certeza, nossos jornalistas não leem os livros espíritas nem aqueles supostamente relacionados a essa crença. Aceitam de bom grado o que a Federação "Espírita" Brasileira diz, e é surpreendente que ela se tornou mais Vaticano que o próprio Vaticano, porque hoje até o Papa Francisco é alvo de duras críticas pela imprensa mundial.

Hoje é dia de lançamento do filme Kardec, de Wagner de Assis, e a resenha mais próxima de alguma abordagem, digamos, "crítica", foi publicada pelo portal UOL. O jornalista, pelo jeito um leigo absoluto no assunto, apenas se limitou a dizer que o filme "peca pelo didatismo" e criticou uma cena piegas, a de um mendigo se suicidando. Só isso. E foram críticas rápidas.

Ninguém sabe e ninguém se dispõe a informar que o Espiritismo foi vítima de violenta deturpação no Brasil. As traduções de Allan Kardec foram violadas, verificando conteúdo igrejista, ainda que sutil, nos livros traduzidos por Guillon Ribeiro (FEB) e Salvador Gentile (IDE), e o próprio pedagogo francês paga a conta pela farra catolicizada do "movimento espírita" brasileiro, mais próximo dos delírios de J. B. Roustaing.

A impressão que se tem é que os jornalistas nunca leram os livros "espíritas". Se comparassem os livros originais de Allan Kardec - a tradução mais fiel à original é do jornalista José Herculano Pires - com os livros lançados por Francisco Cândido Xavier, os jornalistas cairiam da cadeira, vendo os disparates doutrinários de uns e de outros.

Mas como a religiosidade, no Brasil, é algo visto como tão natural quanto o ar que respiramos - a maioria dos brasileiros se diz "católica não praticante" mas é capaz de ver como "milagre divino" uma tolice como a Rádio Cidade, emissora FM do Rio de Janeiro, tocando rock (sem um décimo da competência das verdadeiras rádios do gênero) - , a "catolicização" do Espiritismo é como daqueles casos em que jovens pulam o muro de um pavilhão de eventos para assistirem a um festival de música sem pagar ingresso e os seguranças deixam para lá.

Católicos pularam o muro das atividades espíritas e tudo fica nisso mesmo. Como os desvios doutrinários seguem esse sentido, então poucos têm coragem de investigar a supremacia da Fé sobre a Razão, sob a desculpa de que "pelo menos o pão dos pobres, o remédio dos enfermos e o abrigo dos desalojados está garantido". Se for por isso mesmo, muitos crimes eleitorais seriam inocentados porque muito do que os demagogos fazem é usar o Assistencialismo para atrair votos.

JORNALISMO INVESTIGATIVO NÃO SURGE DO NADA

O jornalismo investigativo não surge do nada. A opinião pública média imagina que o jornalismo investigativo surge como um material pronto. Basta um jornalista corajoso, com alguma matéria de impacto, publicando fatos chocantes, e aí, pronto, veio a reportagem investigativa.

Não é bem assim que acontece. Em primeiro momento, há uma normalidade em determinada situação. Mas alguns aspectos estranhos aparecem sutilmente, e o jornalista resolve apurar. Ele vê documentos, faz entrevistas e, em muitos casos, tem a sorte de contar com uma fonte secreta que lhe traz informações ainda mais complexas.

Com isso, algumas personalidades que são consideradas totens inabaláveis são denunciadas. Cria-se um clima de incômodo e instabilidade. Os denunciados tentam desmentir e manifestam sua indignação com as reportagens. Surge um clima de mal estar. Pessoas e instituições que antes gozavam de muita respeitabilidade têm sua reputação reduzida drasticamente, causando indignação em boa parte da sociedade.

O fato de o "espiritismo" brasileiro trabalhar com religiosidade e, supostamente, investir em filantropia, portanto, não significa que possa estar imune à investigação de um jornalismo mais apurado. Muito pelo contrário, todo jornalismo investigativo tem que ser feito, mesmo quando ponha em risco os totens religiosos. Se não fosse assim, não poderíamos investigar os casos de assédio sexual feitos na Igreja Católica.

O mais grave disso tudo é que, nos tempos em que o fluxo de informações era qualitativamente mais limitado, tanto no tempo, quanto no espaço e no nível ideológico das notícias e opiniões, tínhamos, contra a deturpação do Espiritismo, um jornalismo investigativo muito melhor do que hoje.

Ver que, no passado, tivemos Attila Paes Barreto, a Revista da Semana, David Nasser (picareta como foi Chico Xavier, mas quando queria fazia jornalismo investigativo), a revista Realidade, e hoje um portal como a BBC Brasil faz uma matéria chapa-branca sobre o Espiritismo deturpado, é vergonhoso. Já se fala que, neste caso, a BBC acrescentou uma letra A depois de cada consoante.

Os livros de Chico Xavier são de um igrejismo medieval. São mais obras de louvor religioso e pregação moralista do que de transmissão de conhecimento. Os supostos ensinamentos são na verdade a defesa de valores moralistas ultraconservadores, voltados à Teologia do Sofrimento, corrente que levava o Catolicismo medieval às últimas consequências. A Teologia do Sofrimento é tão retrógrada que nem os católicos querem mais saber dela, mas Chico Xavier, mesmo sem assumir essa corrente, defendia claramente suas ideias.

Quem vai investigar isso? Qual o repórter que vai colher provas de denúncias contra Chico Xavier e esbarrar num "não" de seu chefe de redação? A fé religiosa é um terreno proibido no qual se evitam investigações e questionamentos? Certamente, não. Mas a imagem construída em torno do "médium", nos últimos 40 anos, faz com que aqueles que deveriam investigar Chico Xavier já nem sintam apenas fascinação obsessiva, mas subjugação, um tipo ainda maior de obsessão.

Se, por exemplo, um universitário propõe a seu orientador de Mestrado que quer investigar os desvios doutrinários realizados por Chico Xavier, o acadêmico diz não. Ele arruma desculpas: "Tem que tomar cuidado, senão as bolsas de pesquisa são canceladas, o sujeito é um homem de bem" etc.

Se há um projeto de filme documentário sobre as irregularidades de Chico Xavier, as recusas aparecem. Se é o roteirista que sugere isso ao produtor, o produtor diz não. Se o produtor é que sugere ao diretor, a resposta também é não. O mesmo acontece quando o produtor e o diretor encaminham a proposta aos patrocinadores. Eles não dão um centavo.

Infelizmente, no Brasil em que o senso crítico é discriminado de tal forma e o mito da imparcialidade se confunde com o da neutralidade - o que pode criar uma falsa objetividade que dá peso igual a coisas absurdas e outras coerentes - , o que faz com que as teses acadêmicas, por exemplo, se tornem apenas uma cosmética de discursos neutros e linguagens prolixas, que só serve para causar burburinho entre os colegiados de faculdades, mas, pela sua esterilidade social (a tese nunca contesta a "problemática" abordada, antes a expusesse para legitimá-la no final).

Ninguém questiona se Chico Xavier realmente fez caridade. Nós constatamos que ele não fez. Ele apenas se promovia pelo débil Assistencialismo que os outros faziam, e o que o "médium" fez foi na verdade o mesmo truque publicitário de Luciano Huck, se promovendo com falsa filantropia, que nunca trouxe resultados concretos no combate à pobreza. Se trouxesse, nosso Brasil seria outro, tamanha a grandeza que muitos atribuem à pessoa do "médium".

E as doações dos livros para "a caridade"? Será que o dinheiro foi mesmo para os mais necessitados? Ou será que foi para os dirigentes amigos? E que "ativista" muitos dizem que Chico Xavier havia sido, se ele nunca cobrou coisa alguma dos ricos e poderosos, antes os elogiando e louvando quando recebia medalhas, diplomas e troféus? E que "humanista" era esse que ia receber homenagens na ditadura militar? E ainda falam que Chico Xavier não apoiou a ditadura? Tenham paciência.

FEB COM PODERES ABSOLUTOS

Se a Federação "Espírita" Brasileira não é alvo de questionamento e tudo o que seus dirigentes falam e dizem é acolhido de maneira acrítica até por jornalistas investigativos - que, seduzidos e hipnotizados pela imagem de Chico Xavier inserida em paisagens floridas e céus azuis, travam seus raciocínios, que em outras ocasiões funcionam muito bem - , então a FEB goza de um poder fenomenal, como se tudo o que ela diz tivesse um tom de verdade absoluta, dentro daquela forma não-assumida, de não se achar "dono da verdade" mas lutar para ficar com a palavra final.

Nem o Supremo Tribunal Federal, que é a instância máxima do Poder Judiciário e cujos juízes ganham mais até do que o presidente da República, é beneficiado por tanta blindagem. Enquanto o STF começa a virar "vidraça" por parte de jornalistas mais afiados, tanto à esquerda quanto à direita, a FEB pode soltar uma mentira que o pessoal aceita numa boa. Ninguém pergunta, ninguém questiona, tudo aceita.

Se um dirigente da FEB disser que pescou um tubarão em um lago, lutou com ele com braços e pernas e mordeu sua cabeça, deixando o peixe desnorteado, as pessoas nem esboçam um questionamento. "Veio da FEB, veio de Deus", é o que imaginam, e as reações permanecem as mesmas ainda que se admita que os dirigentes "espíritas" também erram e são imperfeitos.

É necessário que se haja uma mudança muito grande no comportamento de nossos jornalistas. Antes de tentarem afirmar que o Espiritismo de Kardec é inteiramente respeitado no Brasil, verifiquem as denúncias de deturpação. Não tenham medo de derrubar totens religiosos, ver ídolos caindo de seus pedestais sem que encontrem um altar para acolhê-los. 

O próprio Kardec recomendava que era melhor cair um homem do que cair uma multidão. E Erasto de Paneas, um dos mensageiros aproveitados pela literatura kardeciana, avisava que era melhor rejeitar dez verdades do que aceitar uma única mentira. Mas, no Brasil, prefere-se que caia um país inteiro do que ver cair Chico Xavier. E que a mentira representada por Xavier é aceita de maneira submissa por um país inseguro que vive uma perigosa dependência psicológica da adoração ao "médium".

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