(Autor: Professor Caviar)
A "caridade" de Francisco Cândido Xavier garante todo tipo de blindagem, de fazer inveja a um político do PSDB. Unindo a esperteza de Aécio Neves com o reacionarismo de Jair Bolsonaro, Chico Xavier tinha também a ambição pseudo-ativista que hoje vemos em Luciano Huck, este um confesso admirador do "médium" mineiro.
Só que essa "caridade", que garante coros de louvores dos deslumbrados de toda espécie, garantindo uma pretensa unanimidade na adoração - agora admitindo "imperfeições" - a Chico Xavier, foi fajuta. Se ela tivesse sido verdadeira, o Brasil teria superado a pobreza há muito tempo e se tornado país desenvolvido, tal era a grandeza com que se atribui ao "adorado médium". Não dá para desmentir isso, sob a alegação de que "médiuns erram" ou "médiuns não são salvadores da pátria". Então, para que serve tanta idolatria?
Vendo a reportagem de Realidade, de novembro de 1971, na qual foi desmascarada a "mediunidade" de Chico, que "psicografou" um nome fictício e "recebeu o espírito" de uma mulher viva - que pouco depois morreria, mas sem tempo de se refazer do desenlace e correr para aparecer ao lado de Chico Xavier, ainda mais no fim de uma sessão doutrinária - , ela descreve que Chico Xavier doava o dinheiro da venda de seus livros pós-1970 para instituições filantrópicas, como orfanatos, asilos e outras entidades.
Isso faz os chiquistas se exaltarem e dizerem, com aquela arrogância e exagero: "Viram, Chico Xavier fez realmente caridade e vocês se enrolam todos para negar tudo isso. Vocês falam em provas e olha aqui o que trazemos: provas! Limpem suas bocas antes de falar qualquer besteira sobre o maior ser humano que passou pela face da Terra!".
Só que isso tudo é falácia. Desviar remuneração para outro destinatário é a coisa mais fácil do mundo. Instituição filantrópica? Qualquer bingo da cidade do interior dedica o faturamento das apostas e inscrições para a filantropia. Qualquer jogador de futebol que ostenta carrões e mulheres com corpão avantajado e possui fortunas de fazer inveja a muita gente pode doar um cachê - geralmente uma parte da fortuna que ele ganha todo mês - para a "caridade".
Pode-se cruzar os braços e dizer: "meu salário hoje será dado a uma instituição de caridade". Ou então: "o que eu vender vai para o Lar Fulano de Tal, na cidade qual etc". Isso não traz mérito algum e é uma atitude muitíssimo banal. O próprio Luciano Huck também faz isso. Neymar faz isso. Sem falar de muito político corrupto que "lava dinheiro" dando o que roubou para a "caridade".
Recentemente, grupos de criminosos de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, que envolvem milicianos rivais aos quais estão ligados políticos locais, disputam não apenas ao poder propriamente dito na área da Gardênia Azul (vizinha à Barra da Tijuca), mas também a execução de "atividades comunitárias", que envolvem uma aparente filantropia.
Temos também que questionar o sentido de "caridade" que muitos acreditam, porque elas podem esconder mecanismos de dominação, de maus tratos, de "lavagem de dinheiro", de promoção pessoal, neste caso com a manifestação do orgulho humano se dissimular por uma suposta "dedicação ao próximo". Por exemplo, poucos questionam se o fato de alojar um pobre numa casa pode se equiparar à criação de um animal em cativeiro.
É muito doloroso, para muitos, ler textos como este. Mas, vejamos. As pessoas escondem sua hipocrisia com a adoração a Chico Xavier e elas mesmas ocultam preconceitos, neuroses, ou mesmo desejos macabros. Se disfarçam adorando, como pretenso símbolo de caridade, um "médium" que nem foi tão generoso assim e já ofendeu pessoas pobres, como naquele juízo de valor feito em 1966 acusando humildes frequentadores de um circo, destruído por um incêndio criminoso cinco anos antes, de terem sido "romanos sanguinários".
Agora dizer que doar o lucro de livros para instituições assistenciais é "caridade" é muito, muito duvidoso. Com uma canetada, se faz isso, sem que se tenha o envolvimento emocional com a suposta filantropia. Qualquer bingo do interior doa lucro para a "caridade", qualquer miliciano dá uma parte do dinheiro que extorque da população para a "caridade". Qualquer jogador ou astro de TV doa cachê para a "caridade". E ninguém vira alvo de adoração por isso. E Chico Xavier não deveria.
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