(Autor: Professor Caviar)
As pessoas adoram o discurso religioso que fala em "vencer a si mesmo". A ideia de que o indivíduo é seu próprio inimigo que deve ser combatido. Uma falácia pretensamente filosófica, que se reforça diante de apropriações de frases soltas de filósofos e pensadores, em muitos casos mal interpretadas e mal traduzidas.
No "espiritismo" brasileiro, se trabalha esse discurso como se fosse uma "ideia linda" e "estimulante". A ideia do "inimigo de si mesmo" como meio de suposta emancipação humana, é tão exaltada por seus adeptos, que acreditam que tal ideia, apesar de austera, é uma "lição de sabedoria" e "exemplo de vida".
Só que, pensando justamente à luz da Filosofia, vemos que esse conceito de "vencer a si mesmo" é um grande equívoco. E isso não é difícil de entender, pela combinação de situações nesta "competição individual" que só é vista parcialmente.
Paremos para pensar. Numa competição, numa luta, há um vencedor e há um derrotado. Quando alguém vence, outro alguém perde. A vitória de alguém ocorre em função da derrota do outro. Neste sentido, o que podemos entender o sentido de "vencer a si mesmo"?
Simples. Se a pessoa "vencer a si mesma", isso quer dizer que ela também é a própria derrotada. A pessoa acaba sendo, ao mesmo tempo, vencedora e derrotada, e aí entra uma grande contradição. A ideia de "vencer a si mesmo" ou de "inimigo de si mesmo" é falaciosa, porque reflete uma grande confusão que pode estimular atos suicidas.
O "espiritismo" brasileiro, portanto, tem seu "jogo da Baleia Azul", o jogo de "vencer a si mesmo". Os "espíritas" abraçaram a causa da Teologia do Sofrimento e demonstram pouco caso com a desgraça humana. E aí ficam fazendo todo um malabarismo discursivo, estufando o peito e falando que o outro deve "combater o maior inimigo, que é ele mesmo". Um suposto médium botou até mesmo essa ideia na conta de Raul Seixas, numa apropriação indébita de sua pessoa, sob o nome Zílio.
Essa ideia é equivocada e bastante perigosa. Pode levar alguém a se suicidar, liquidando com "ele mesmo, seu maior inimigo". Quando os "espíritas" revisarem seus argumentos, inicialmente taxativos, depois diluídos em explicações confusas, é tarde demais, já produziram seus cadáveres pela apologia ao sofrimento.
Além disso, se o indivíduo "vencer a si próprio", ele pode ser o vencedor, mas também é o derrotado. E em que o indivíduo será derrotado, aí está o problema, como no caso da perda da individualidade, na desqualificação da vida, na criminalização do prazer, no desenvolvimento da servidão, aspectos bastante sombrios que o discurso religioso oculta no seu balé de palavras bonitas. Daí o grave equívoco dessa ideia, tão improcedente quanto perigosa, a de "vencer a si mesmo" ou ser "inimigo de si próprio".
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