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"Espiritismo" e a distorção do sentido de "fraternidade"

(Autor: Professor Caviar)

Os "espíritas" andam distorcendo muito o conceito de "fraternidade". A religião que deturpou o Espiritismo de Allan Kardec em torno de um igrejismo de raiz roustanguista agora adota uma nova estratégia, que é a bajulação em torno das personalidades espíritas autênticas.

O conceito de "fraternidade" está sendo distorcido em prol de interesses levianos. O "esquecimento das diferenças" permite o acobertamento de contradições e equívocos e a manutenção da situação deplorável em que se encontra o Espiritismo, que na sua forma brasileira tornou-se um engodo doutrinário, cuja essência se aproxima cada vez mais do Catolicismo da Idade Média.

A ideia de "esquecer as diferenças e unirmos na fraternidade" esconde um grave problema. É o problema de saber em que direção os "fraternos" irão caminhar. Seria ingênuo se acreditarmos que essa direção é a "paz" porque "todos somos irmãos", porque isso é muito vago, além de representar uma emotividade bastante piegas que mais constrange do que conforta. Além disso, há interesses particulares em jogo diante desse "lindo discurso da fraternidade e da paz".

Não adianta os deturpadores do Espiritismo exaltarem os espíritas autênticos, como se observa nas bajulações recentes a José Herculano Pires, Deolindo Amorim, ao espírito Erasto, e a outros pensadores espíritas autênticos. Como não adianta botar O Livro dos Médiuns em destaque, na tradução de Herculano, e fingir que concorda com tudo aquilo que está escrito no livro kardeciano, que antecipa muitos questionamentos sobre atividades levianas da deturpação feita no Brasil.

Afinal, tudo isso é feito para que os deturpadores de plantão estabeleçam um vínculo artificial com o Espiritismo autêntico. É uma forma de evitar ser descartado quando houver algum escândalo atingindo na carne do "movimento espírita". A "fase dúbia" permite essa atitude "duas caras" de tantos palestrantes "espíritas" escreverem uma coisa e depois outra bem diferente, falarem numa ideia e depois outra bem oposta, serem taxativos numa visão e, depois, tentarem desmentir a mesma.

Tantos artifícios são feitos pelos ideólogos "espíritas", para permitir que eles sejam legitimados botando suas contradições debaixo do tapete. Eles chegam mesmo a dizer que "admitem seus erros" e "não são os donos da verdade", mas no íntimo de suas almas eles nunca admitem críticas a seus erros e se esforçam sempre para ficar com a palavra final.

Sorte deles é que os brasileiros não conhecem armadilhas como o Ad Passiones, recurso falacioso que enfatiza qualquer apelo emocional. E conhecem bem menos a sua forma mais radical, o "bombardeio de amor" (love bombing), por acreditar que "coisas lindas" nunca podem esconder "coisas ruins", desconhecendo os espinhos mortíferos e venenosos que estão por trás das palavras róseas de perfume bastante agradável.

Por isso, raramente as pessoas reconhecerão as armadilhas de um discurso sobre "fraternidade". Basta alguém pronunciar esta palavra e ele vira um "deus", com pessoas nas redes sociais concordando com ele como se fossem um gado bovino seguindo o vaqueiro. Mas o discurso de "fraternidade" pode ser bastante malicioso, sim.

Afinal, é um discurso que pode colocar a "igualdade" em detrimento da "diferença". Podemos ser "fraternos" e combater a diversidade social. A ideia "fraterna" de "nós" pode também representar uma ameaça ao "outro" que não é "igual a nós". E "acolher o outro" muitas vezes se condiciona ao fato do "outro" ter que ser "igual a nós".

O discurso de "fraternidade" não resolve necessariamente os conflitos humanos. Segue-se uma direção e não são todos, que querem seguir rumos diferenciados, que decidirão por isso. Se a "fraternidade" sugere uma "união", ela terá que seguir "um caminho", e "esquecer as diferenças" é muitas vezes botar as divergências debaixo do tapete. Mas elas reaparecem, num momento ou em outro.

No "espiritismo", esse discurso é propagado pelos deturpadores que dominam o "movimento espírita". Esse discurso apela, em tese, para "um Espiritismo único, o de Allan Kardec", uma falácia se percebermos que o que os deturpadores defendem é o igrejismo gosmento de base roustanguista que é feito no Brasil.

Mas a gente vê o caráter traiçoeiro desse discurso de "união e fraternidade". É a "união" pela deturpação, porque são os deturpadores, que geralmente detém o maior prestígio, conquistado em palestras caríssimas e em livros de considerável vendagem, que vão definir o "caminho da paz".

Eles armam uma retórica sofisticada, que parece tranquilizadora a muitos. Desaconselham o questionamento da deturpação espírita, que "causa tantos conflitos desagradáveis", e por isso pedem para "esquecer erros e desavenças", em prol da "paz em Kardec e Jesus". Como no Brasil há lobos que tentam parecer mais ovinos que as ovelhas, o discurso ganha unanimidade, infelizmente.

Aí os "espíritas" usam um artifício bem malandro. Nas práticas "espíritas", prevalece o igrejismo, a mistificação, as mediunidades fake nos quais todo morto vira garoto-propaganda religioso, com falhas nos aspectos pessoais que são aceitas sob a desculpa da "linguagem universal do amor" e na "expressão transcendental de ensinamentos cristãos".

Ao Espiritismo autêntico, os deturpadores reservam apenas espaços de exposição teórica, em livros, artigos e seminários, dando um aparato de que as ideias originais de Allan Kardec estão sendo rigorosamente respeitadas e seguidas. Fora isso, os deturpadores prometem bajulações "da mais pura sinceridade" a personalidades espíritas autênticas, como José Herculano Pires.

Há também outra manobra, que são os "espíritas" elogiarem os ateus, bajularem os ativistas sociais verdadeiros e sobra até para bajulações a personalidades de esquerda. Quanta bajulação não atingiu pessoas diversas como Charlie Chaplin, Mahatma Gandhi, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre, Glauber Rocha, Renato Russo, Martin Luther King, Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas?

O discurso de "fraternidade" é perigoso porque oculta relações de poder. As pessoas se "unem" em torno de um caminho que só uns poucos irão decidir, por se acharem em "melhor posição social". É como diz o ditado popular: "todos são iguais, mas uns são mais iguais que os outros", baseado numa frase descrita no livro A Revolução dos Bichos (Animal Farm), de George Orwell, o mesmo de 1984.

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