(Autor: Eliezer Machado, via e-mail)
Me revolta saber do conteúdo dos tais livros que o senhor Nelson Moraes publicou usando o nome de Raul Seixas, mal disfarçado por um improvisado apelido de Zílio.
Li Um Roqueiro no Além achando que iria encontrar um Raul Seixas reflexivo, mas o que eu vi foi uma caricatura catolicizada e um tanto piegas, nem parecia um roqueiro baiano, parecia mais um noviço de Igreja Católica.
Fiquei fulo da vida. Cara, Raul Seixas morreu cedo, aos 44 anos, mandando bem na carreira, lançando o seu A Panela do Diabo junto com o grande Marcelo Nova, que hoje segue em frente zelando pelo bom rock da Bahia. Raul nos deixou de repente, embora soubéssemos de sua doença, com muito o que fazer e hoje teria feito uns belos 72 anos, esbanjando sabedoria e, com certeza, muito mais rock'n'roll com sua mente afiada que não tinha nada a ver com o molenga que adotava o codinome Zílio.
E que grande desrespeito à memória de Raul quando fui ao Whiplash ver a mensagem do suposto espírito falando um monte de trocadilho barato, como se Raul fosse não um mensageiro sagaz e urgente, mas um acrobata das palavras.
Bobagens como "o mundo só é uma droga para quem se droga no mundo", "a metamorfose agora é outra", "revelar ao mundo das ilusões a verdadeira Sociedade Alternativa", tudo um mero jogo de palavras, tão simplório, com as músicas conhecidas de Raul, que com toda certeza NÃO pode ser Raul Seixas, porque ele não faria uma leviandade dessas, ele não era um moleque a brincar com as letras de seus maiores sucessos. Ele era um homem sério, que pensava a vida de maneira nem sempre otimista, e no final da vida estava até um tanto cético quanto aos rumos do país.
Mas o pior mesmo é quando, nessa mensagem de "Zílio", há um relato que Raul Seixas nunca diria e que só serve para expressar esse moralismo retrógrado que os ditos "espíritas" no Brasil, completamente afastados de Allan Kardec, tanto fazem. De tão ligados à medieval Teologia do Sofrimento que pegaram da Igreja Católica, os "espíritas" brasileiros tiveram a infeliz ideia de incluir Raul Seixas entre os pregadores dessa ideologia infeliz:
"Antes de questionar a vida, questione a si mesmo, analise seus conceitos, seus sentimentos, sua gratidão por aqueles que o ajudaram a renascer na Terra e, com certeza, você encontrará uma grande razão para viver e lutar contra o único inimigo que pode derrotá-lo: você mesmo!"
Cara, Raul nunca diria isso!! Acorda, gente!! Raul era questionador, não diria esse recado absurdo. Nelson Moraes transformou Raul num idiota místico, quando no final da vida o roqueiro baiano já havia abandonado esse misticismo, se concentrando nas raízes roqueiras de sua música.
Raul nunca falaria nessa bobagem medieval de "inimigo de você mesmo", uma ideia muito perigosa que levou muita gente para o suicídio, porque essa ideia vem da Teologia do Sofrimento que deveria ter caído no esquecimento em algum calabouço de um castelo medieval abandonado. Se o sr. Nelson Moraes queria defender tais ideias, ele que o fizesse pela própria pessoa em vez de usar um ilustre nome falecido que não está mais aí para reclamar que nunca defenderia tais ideias.
Com certeza, essa psicografia fake de Raul Seixas/Zílio é uma grave e vergonhosa ofensa à memória de um grande músico e compositor, que nunca seria prisioneiro de suas aventuras místicas nem seria capaz de fazer apologia ao sofrimento humano. Respeitem Raul Seixas, por favor, e parem de faturar em cima de seu nome!!
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