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"Espiritismo" brasileiro e a turma do "não é bem assim"

(Autor: Equipe Dossiê Espírita)

A deturpação do Espiritismo também tem seus "cães de guarda". Eles se inserem em fóruns questioandores e fingem concordar com "certos equívocos" feitos pelo "movimento espírita". Tentam relativizar os questionamentos, mas também tentam dar a impressão de que não estão sendo tão complacentes com o "movimento espírita".

Sabemos que o "movimento espírita", no fundo, não passa de uma Torre de Babel em que "médiuns" e "pensadores" (não nos esqueçamos que os próprios "médiuns" bancam dublês de pensadores) tentam alcançar o céu através de uma carreira em que táticas de manipulação discursiva, o Ad Passiones (através de textos com "belas palavras" e "mensagens de amor") e Assistencialismo (caridade espetacularizada, mas de resultados medíocres), são feitas para impressionar o público.

E aí sabemos o que se deu na deturpação, que causou muita confusão entre os próprios "espíritas" que, não satisfeitos em desfigurar o trabalhoso legado de Allan Kardec, ainda se contradizem entre si. São tantas confusões que hoje o "espiritismo", além de reduzido a um sub-Catolicismo de moldes medievais, ainda virou um lodo de ideias desconexas que se contradizem umas às outras.

Uma delas é o endeusamento de Francisco Cândido Xavier, o suposto médium que, ele mesmo, causou inúmeras confusões, como a literatura fake de Parnaso de Além-Túmulo, de 1932. Uns endeusam Chico Xavier tratando-o como um semi-deus, outros tentam exaltar sua suposta imagem de humilde (mas igualmente espetacularizada e mitológica), outros o definem como "profeta", outros apenas como "mensageiro", há quem o considere "filósofo" etc etc etc.

Há roustanguistas assumidos e outros envergonhados, há um igrejismo extremo de gente que, no entanto, adora bajular personalidades associadas ao Espiritismo autêntico, de Erasto a Deolindo Amorim. E todo esse clima de "casa da mãe Joana" que se reduziu o "movimento espírita", espécie de PSDB das religiões, se esconde por trás da encantadora embalagem de "religião modesta, iluminada e despretensiosa".

E aí questiona-se tudo de irregularidades no "espiritismo" e surgem pessoas que querem puxar para trás. Temos sempre esse cacoete: sempre que andamos adiante com uma causa, há gente querendo dar o freio. Não por acaso as novidades só são assimiladas no Brasil quando são banalizadas demais e mesmo assim sacrificando sua essência em respeito a valores velhos e obsoletos, mas que precisam ser mantidos para o bem dos interessados.

A turma do "não é bem assim" sempre faz uma patrulha em torno da contestação da deturpação espírita. Querem sempre barrar o avanço dos questionamentos para coisas menos óbvias. E isso se dá por razões bastante evidentes.

Eles apenas aceitam quando os questionamentos à deturpação do Espiritismo se limitam ao que já foi feito por gente como José Herculano Pires ou à comparação mais manjada dos livros de Allan Kardec e de Chico Xavier. Um clichê dessa permissão é que praticamente é quase um consenso a baixa validade dos livros que levam o crédito de Emmanuel, por apresentar um igrejismo escancarado até demais.

Mas diante de outros problemas como o caso Zílio, em que um suposto espírito de Raul Seixas aparece abobalhado e místico através dos livros do "médium" Nelson Moraes, a turma do "não é bem assim" abre guarda. "Você tem que entender que Raul parecia patético por morrer fragilizado e retomou a fé para se consolar das dores da morte prematura", poderia dizer, em hábil falácia, algum "espírita" com mania de argumentar sem lógica.

Porém, é só rever as últimas aparições e entrevistas de Raul Seixas, entre 1987 e 1989, para ver que a atribuição do suposto Zílio ao espírito do cantor é falsa. No final da vida, Raul poderia estar muito doente, mas espiritualmente ele largou o antigo misticismo e passou a ver a realidade com cinismo e um certo humor corrosivo, que lhe rendeu letras divertidas mas ácidas como "Muita Estrela, Pouca Constelação" e declarações como "o Brasil virou uma charrete que perdeu o condutor".

Ele nunca reapareceria, como espírito, como um esotérico manipulador de trocadilhos ("o mundo só é uma droga para quem se droga no mundo"), um igrejista ingênuo e quase debiloide, muito diferente do roqueiro desconfiado com os rumos do Brasil, que nunca iria largar sua visão crítica e analítica quando, se desfazendo dos laços materiais, retomaria a visão mais aguçada que os limites da matéria física costumam ocultar.

Geralmente a turma do "não é bem assim" tem muito medo de questionar a autenticidade de supostas mensagens espirituais, temendo arruinar a reputação dos "médiuns". Quando muito, tentam uma abstenção, alegando "incapacidade" de reconhecerem se as mensagens são verdadeiras ou não ou defini-las como "autênticas" apenas pela "boa moral" que elas apresentam.

A turma do "não é bem assim" mais parece proteger os deturpadores e reduzir as críticas à deturpação a uma análise do crime sem identificar o criminoso. Ou seja, investiga-se o crime, o reconstitui e tudo o mais, mas sem identificar os culpados. Algo inverso ao que a mídia reacionária faz em relação aos políticos do PT: identificam os "criminosos" sem se preocuparem com as provas do crime.

Os critérios que a turma do "não é bem assim" usam para evitar o avanço dos questionamentos da deturpação espírita são esses:

1) Só admitem que as irregularidades do "espiritismo" brasileiro sejam investigadas por alguém dotado de muita visibilidade e prestígio, ainda que fosse um espírita autêntico dotado de opiniões bastante polêmicas;

2) Questionar a deturpação, entre pessoas comuns, só devem ser feitas dentro dos limites do que já foi questionado e na comparação textual entre as obras kardecianas e as que os "médiuns" brasileiros publicam expressando seu igrejismo;

3) Não se pode questionar o caráter fake das mensagens "mediúnicas" pelo suposto "mistério" das "mensagens espirituais". Para todo o caso, aceita-se que um suposto autor espiritual abriu mão de seu estilo pessoal em nome da "linguagem universal do amor";

4) Cobra-se excessivo rigor científico, seja nos argumentos, seja na forma textual (a mais formal, erudita e objetiva possível), nos questionamentos da deturpação espírita, de forma a apresentar um discurso supostamente imparcial e um número excessivo de provas de uma irregularidade "espírita".

Quanto a este último item, uma coisa engraçada ocorre. A turma do "não é bem assim" pede que, para questionar obras de Chico Xavier, Divaldo Franco e similares, se tenha "embasamento científico" e "extremo rigor" nas argumentações. Mas, quando um internauta comum escreve um texto com muitos argumentos lógicos e expressa uma coerência impecável nas provas apresentadas, a turma do "não é bem assim" não gosta, invalidando a argumentação sem dar explicações lógicas para isso.

Por outro lado, se eles pedem para que se tenha "embasamento científico" e "bases lógicas rigorosas" para questionar os "médiuns espíritas", mas não exige disso quando algum aventureiro da doutrina igrejeira venha com um fake atribuído a uma mensagem do além-túmulo, ainda mais se esse aventureiro for algum "médium" badalado por setores privilegiados da sociedade brasileira.

Um exemplo é se surgir uma suposta mensagem espiritual de Getúlio Vargas pedindo para que orássemos em favor de Michel Temer, como se o falecido governante o apoiasse. Sabe-se que isso é ilógico, porque Temer está comprometido com o desmonte de muitos progressos trazidos pelo próprio Vargas.

No entanto, para agradar a turma do "não é bem assim" (que pode aceitar uma hipotética mudança de posição de Getúlio), seria preciso ter muita visibilidade, prestígio e, se preciso, uma coleção de diplomas para dizer que a mensagem do "espírito de Getúlio Vargas" é fake e ainda assim através de um cansativo discurso monográfico de uma retórica de aparência científica e, de preferência, com questionamentos muito pálidos e hesitantes, forjando falsa imparcialidade.
"Espiritismo" brasileiro e a turma do "não é bem assim"


A turma do "não é bem assim" mais parece zelar pela deturpação do que questioná-la. E eles vão na contramão das recomendações do espírito Erasto, publicadas em O Livro dos Médiuns, que pediu rigor e firmeza nos questionamentos à deturpação espírita e não estabeleceu critérios de visibilidade e diploma para quem se encorajar a fazer tais questionamentos. Neste caso, o Brasil permanece surdo aos conselhos de Erasto, que Allan Kardec define como espírito com significativo grau de evolução.

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