(Autor: Professor Caviar)
Que entretenimento irresponsável é o que acontece no "espiritismo" brasileiro. Na sua mania de ser um receituário moralista, a doutrina brasileira que se afasta cada vez mais de Allan Kardec, por mais que seu nome seja bajulado zilhões e trizilhões de vezes, se vale pela diversão fútil das "estórias comoventes".
Isso veio sobretudo de Francisco Cândido Xavier, o ídolo religioso tão blindado que, não fossem os escândalos do PSDB de hoje, poderia ser muito bem apelidado "O homem chamado Tucano". Pois foi a partir de Chico Xavier, no fundo um mito construído para alimentar vendas de livros na FEB, que vieram os tais romances "espíritas" com enredos piegas e lições moralistas que soam arremedos de contos de fadas para pessoas adultas.
Aí, criou-se um "mercado" de "estórias lindas", de gente que acumulou desgraças, perdeu tudo, sofreu tudo que for de opressão que podemos imaginar, e depois conseguiram as tais "bênçãos", um fenômeno disforme que pode se reduzir a coisas como, por exemplo, o jovem abatido por tantas desgraças ficar vendo o por-do-sol ao lado do avô.
Como as pessoas não imaginam que tais comoções trazidas por tantas estórias tristes, de suposta superação humana, não passam de mera "masturbação com os olhos". O êxtase fútil da comoção fácil, a diversão às custas do sofrimento alheio, gera um entretenimento que pode não ter o nível sangrento das antigas lutas de gladiadores do Império Romano, mas tem a mesma aridez moral ao se mostrar um jogo de derrotas e vitórias na vida humana.
Isso tudo é ruim. E cria nas pessoas adultas um apego a um moralismo doentio. E revela o quanto desocupados são muitos "espíritas", que parecem buscar apenas meras estórias de vitórias e derrotas, como se a vida humana fosse uma mera gincana.
Sem saber, acabam desrespeitando e humilhando desconhecidos, guiados pela própria doutrina igrejeira que apela para essa desmoralização. Sofrer não é uma situação mole e a narrativa muitas vezes dá uma falsa impressão da facilidade de encarar desgraças na vida, e isso acaba ofendendo quem encarou tantas dificuldades na vida e saiu vencedor por alguma sorte.
E por que isso se torna ofensivo? Porque a pessoa que venceu dificuldades pesadas quer esquecê-las. A não ser aqueles que querem lucrar com o próprio sofrimento, vendendo livros biográficos, fazendo palestras, como quem busca uma indenização. Mas ver que o "espiritismo" faz propaganda da desgraça humana é algo bastante ofensivo, e vai contra a moral, a ética e o respeito humano.
O espetáculo do "marketing da superação" através dessas "estórias lindas" trazidas pelas casas e pela literatura "espírita" só revela um entretenimento fútil, travestido de "lições de vida", que mais parecem propaganda do sofrimento do que solidariedade ao sofredor. O sofredor que se dane e o fato dele ter vencido uma dificuldade só revela a insensibilidade daqueles que acham que sofrer é fácil, porque pensam que o sofredor venceu por pouca coisa.
O quanto infeliz é, portanto, esse entretenimento de pura "masturbação com os olhos", porque faz muitas pessoas perderem tempo ouvindo relatos de vítimas de desgraça como se elas tivessem sido premiadas pela dura competição da vida. O no pain, no gain "espírita" se revela, portanto, uma grande perversidade, criando uma diversão às custas da desgraça alheia.
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