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A teologia do sofrimento de Chico Xavier


(Autor: Professor Caviar)

É um grave equívoco chamar Francisco Cândido Xavier de ativista, progressista e transformador. É um sério erro atribuir a ele qualquer qualidade de renovador, revigorante, revolucionário, pois Chico Xavier é, na verdade, o que há de retrógrado e passadista na História do Brasil.

Quem tiver a disposição de prestar atenção no histórico de Chico Xavier, vai reparar que ele nunca passou de um católico paranormal, que se comportava como se fosse um caipira saudoso do Segundo Império, e que teve a fantasia infantil, que carregou por toda a vida, de ver seu incipiente país se tornar a nação mais poderosa do mundo.

A desculpa dessa fantasia ganhou nome: "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho". Essa ideia, que virou até livro - usando o nome de Humberto de Campos, que em verdade nunca iria escrever uma palhaçada como esta - , já existia desde o Parnaso de Além-Túmulo e ainda era expressa em 1986 quando Chico Xavier divulgou o sonho que ele teve em 1969.

Nesse relato, Chico dizia que o Hemisfério Norte seria destruído por guerras e catástrofes naturais, e, mesmo com aberrantes erros de abordagem geológica, sociológica e geográfica - Chico achava que estadunidenses iriam morar na Amazônia, eslavos migrariam para o calor do Nordeste, e o Chile, integrante do Círculo de Fogo do Pacífico, seria poupado pelas explosões vulcânicas que destuririam a Califórnia e o Japão - , garantia que o Brasil se ascenderia no comando do planeta.

O suposto médium que transformou a Doutrina Espírita num sub-Catolicismo, sabemos, nada sabia e, no fundo, não queria saber de Allan Kardec, e tudo do que o mineiro escreveu contraria frontalmente a obra trabalhosamente analisada pelo professor francês.

O que poucos percebem é que o "progressista", "ativista" e "transformador" Chico Xavier, que alegra tantos incautos no Facebook, a despejar bovinamente seus "memes" bonitinhos, em que o velhinho aparece até sob fundo de jardins floridos ou céus ensolarados, é um ideólogo de um sistema de valores perigoso, chamado "teologia do sofrimento".

Exagerando em episódios como a chamada "paixão de Cristo" - drama que, na verdade, envolve episódios que nunca existiu em registros históricos, como o "julgamento" de Pôncio Pilatos, passagem inventada por católicos na Idade Média para culpar judeus e inocentar romanos - , Chico Xavier achava que o sofrimento humano era um meio de atingir os benefícios futuros.

SOFRER É "LINDO"

A ideia era fazer com que as pessoas usassem o flagelo, as dificuldades pesadas, os obstáculos intransponíveis e as angústias irresolúveis como "moedas" para futuras graças, tomando como modelo o mito do sacrifício de Jesus crucificado, transformando os chiquistas em verdadeiros "sacos de pancadas" da vida.

Chico Xavier pregava que o sofrimento é "lindo", que as pessoas deveriam sofrer acreditando numa "vida melhor" no futuro, usava como desculpa a ideia de que "tudo passa", e que cabe as pessoas sofrer sem queixar, porque as bênçãos viram em breve, não se sabe quando, nem como serão, e talvez até nem se realmente virão. No final, tudo vira conversa para boi dormir.

Em sua bibliografia, Chico Xavier pregava o "sofrimento sem queixumes". Como doutrinador, Chico já mostrava sua oposição ferrenha (sim, isso mesmo) a Allan Kardec, nos níveis de um Rodrigo Constantino contra o PT, quando ele, ou o seu mentor jesuíta Emmanuel (o Padre Manoel da Nóbrega do tempo do Brasil-colônia), dizia para ninguém contestar nem questionar as coisas.

Por que oposição ferrenha? Porque Allan Kardec estimulava justamente a contestação, o questionamento e o raciocínio crítico. Kardec não temia ser questionado, ele mesmo admitia que podia mudar, até porque a Doutrina Espírita era um assunto novo e, por isso, Kardec queria mais que se debatesse, se discutissem os temas.

O que muitos imaginam é que a Doutrina Espírita não foi complementada por Chico Xavier e seus amiguinhos. Ou, antes, pelo "Dr. Bezerra" visto hoje como o "Papai Noel" dos "espíritas". Uma coisa é a doutrina de Kardec se transformar, mas mantendo a coerência estabelecida pelo Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos. Outra é a doutrina de Kardec ser empastelada por igrejistas que desconhecem praticamente os pontos mais importantes e profundos do pensamento kardeciano.

Sofrer sem questionar, ver as coisas darem errado na vida sem poder agir para superar tudo isso, ficar só orando, orando, orando, indo a doutrinárias, fazendo tratamento espiritual, aguentando líder de casa "espírita" dizer que "os tratamentos dão certo, sim, mas são os irmãozinhos pouco esclarecidos é que fazem tudo para atrapalhar". Tudo isso é forçar o apego exagerado a esse "espiritismo" igrejista.

É o sujeito que ganha na loteria, pega o dinheiro e perde tudo num assalto. É a mãe que se cura do câncer de mama mas tem sua filha e maior confidente morrendo num acidente de moto. É o internauta que, com uma polêmica menor, é humilhado e ameaçado por valentões digitais que criam até um website todo para humilhá-lo. É o nerd que não pôde conquistar a garota mais bonita de sua classe, mas é assediado pela funqueira e ex-mulher de um traficante ciumento. E por aí vai.

Claro, a tendência dos tratamentos espirituais trazerem mais azar do que sorte, por mais que os membros dos "centros espíritas" digam que tais terapias "sempre dão certo" e que os infortúnios são apenas "pequenas (?!) reações de irmãozinhos incomodados", é um fruto desse "maravilhoso" ideário trazido pelo "progressista" (sic) Chico Xavier.

SOFRER PELA "VIDA FUTURA"

Outra desculpa, que enche os "espíritas" brasileiros de muito orgulho, é que o sofrimento humano, quanto mais grave for, "mais garantias" trará para a "vida futura". O orgulho se dá porque os chiquistas acreditam que, depois da morte física, virão as bênçãos e benefícios tão desejados. Mesmo quando os benefícios prometidos não passem de vãs promessas para sofrer mais no presente.

Usam a vida espiritual como desculpa para defender o sofrimento das pessoas. Pregam verdadeiros holocaustos para seus seguidores, ou para os familiares e amigos, alegando que no futuro virão as recompensas. Dizem que a vida é eterna, que daqui a cem anos teremos o que queremos, que décadas de sofrimento são só um milionésimo de segundo na eternidade universal e blablablá.

Se for assim, no entanto, então a encarnação foi inútil, porque dessa forma as pessoas não podem aproveitar seus talentos para o progresso, nem contar com seus melhores amigos, porque só vivem para ter tudo a perder. O pouco que ganham com sacrifícios e dificuldades é perdido em pouco tempo, e obstáculos crescem mais do que os sofredores tenham condições de suportar.

E aí, segundo a "transformadora" (sic) teologia do sofrimento de Chico Xavier, a única "caridade" possível é aceitar quieto os arbítrios e abusos dos algozes, transformar a vida num bullying permanente contra o sofredor e aguentar qualquer tragédia ou encrenca.

De repente, a "faculdade da vida" ensinada pelo "sábio" Francisco Cândido Xavier pode "permitir" viver experiências "enriquecedoras" (?!), como cursar faculdade para, de infortúnio em infortúnio (sobretudo desemprego), ter "estágio" numa cracolândia, com fedor, sujeira e doenças em volta, pessoas lhe agredindo e lhe enfiando crack pelo nariz. Sofrer é "realmente muito lindo".

E Chico Xavier, sádico que era, dizia para sofrermos com amor, e se, por exemplo, estamos nos afundando numa areia movediça, tenhamos a consciência de que, sobre nós, passarinhos e árvores frondosas continuam sua trajetória, e que devemos exaltar suas belezas e encantos, enquanto nos perecemos em infortúnios que não conseguimos resolver.

Francamente (não, não estamos fazendo alusão ao amiguinho de Chico, Divaldo Franco): a "maravilhosa" ideologia de "transformação espiritual" de Chico Xavier se resume numa só frase: QUANTO PIOR, MELHOR.

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OBS.: Na foto, aparece Ian Curtis, cantor da banda inglesa Joy Division, visto pelo chiquismo como "criminoso", só por ter cometido suicídio.

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