Temos que tomar muito cuidado com textos que parecem "lindos". Muitos deles são armadilhas que deixam as pessoas imobilizadas. Eles escondem desde apelos para aceitar o prejuízo humano até mensagens aparentemente belas que escondem ideias absurdas. Vale lembrar que a obra de Allan Kardec já mostrou inúmeros alertas sobre mensagens que parecem "lindas" e escondem mecanismos perversos de persuasão ante a ideias absurdas que contrariam os ensinamentos espíritas originais.
Dito isso, reproduzimos aqui um texto de Francisco Cândido Xavier sobre Jesus. Como em muitos textos, pedimos aos leitores muita cautela para não se deixarem seduzidos pelo "balé das palavras", até porque o texto, em si, é um grande manifesto igrejeiro que só confunde as coisas, porque não se trata de uma real interpretação do legado de Jesus de Nazaré feita pela Doutrina Espírita, ainda mais sabendo que Chico Xavier foi um gravíssimo e preocupante deturpador do Espiritismo. Este texto, que leremos abaixo, é um texto católico ortodoxo travestido de "espírita", cheio de mistificações e falsas belezas, mas que simplesmente não oferece ensinamento algum e consiste num texto mais prolixo e rebuscado do que esclarecedor.
O texto menciona, claro, Herculano Pires - o autêntico divulgador espírita que estabeleceu com Chico uma relação típica do ditado "amigos, amigos, negócios à parte" - , o que tem que ser encarado com cautela, pois Chico nunca seria alguém aproveitável na hipótese de recuperação dos postulados espíritas originais. Pelo contrário, o "médium" mineiro sempre foi uma figura que merece a mais enérgica rejeição dos espíritas autênticos, não cabendo sequer relativizações, ainda mais a respeito da suposta bondade atribuída ao "médium".
Deixamos então o texto reproduzido abaixo, que prova que Chico Xavier, mesmo prometendo a todo custo "maneirar" nos devaneios igrejistas, nunca se identificou com a lógica e o bom senso espíritas, antes sendo sempre o mesmo igrejeiro medieval, o mesmo católico ortodoxo a frear os avanços das descobertas científicas e filosóficas do legado kardeciano. Portanto, leiam o texto abaixo, com muito cuidado para não ser seduzido pelo "balé das palavras" e pelo "açúcar" em doses diabéticas das mensagens:
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COMO CONSIDERAMOS JESUS, POR CHICO XAVIER
Do Livro Na Era do Espírito - 1973 - Francisco Cândido Xavier e José Herculano Pires (*) - Ed. GEEM
Do que posso pessoalmente compreender, dos ensinamentos dos espíritos amigos, consideramos Jesus Cristo como sendo espírito de evolução suprema, em confronto com a evolução dos chamados terrícolas que somos nós outros. Não o senhor do sistema solar, com todo o respeito que temos à personalidade sublime de Jesus, mas consideramo-lo como supremo orientador da evolução moral do planeta.
E os espíritos como Buda, como Zoroastro, como aqueles outros grandes instrutores da Índia e da Grécia, por exemplo, que eram considerados orientadores ou chefes de grandes movimentos mitológicos, serão ministros do Cristo, pois não temos ainda outra definição para classificá-los, dentro dos nossos parcos conhecimentos a respeito da nossa história no lado espiritual da vida.
Vemos que Jesus convidou doze discípulos. Eram discípulos humanos tanto quanto nós, para que não fôssemos instruídos por anjos, pois senão nada entenderíamos da doutrina do Cristo. Teríamos de entender a doutrina com os discípulos também humanos, frágeis portadores de deficiências como as nossas, embora respeitemos, nos doze, personalidades eminentemente elevadas em confronto com a nossa posição atual na Terra. Mas, do plano espiritual, ministros do Senhor cooperaram, cooperam e cooperarão sempre para que a nossa personalidade se consolide cada vez mais no plano físico.
Nós estamos, vamos dizer, no limiar da era do espírito, mas estamos ainda sacudidos por grandes calamidades psicológicas, como a Terra no seu início, como habitação sólida, esteve movimentada por grandes convulsões. Psicologicamente estamos sacudidos por esses movimentos que dificultam a nossa compreensão. Mas os ministros do Senhor estão cooperando para que alcancemos a segurança, com a estabilidade precisa, para que o planeta seja realmente promovido a mundo de paz e felicidade para todos os seus habitantes. (Não sei se expliquei bem.)
O Criador, a nosso ver, conforme ensinam espíritos amigos que nos visitam – é o Criador. Não podemos ainda ter outra definição de Deus mais alta do que aquela de Jesus Cristo quando o chamou de Pai Nosso. Além disso, a nossa mente vagueia como se estivéssemos em águas demasiadamente profundas, sem recursos para tatear a terra sólida. Pai Nosso, Deus Criador do Universo.
Então, a força que Deus representa ter-se-ia manifestado em Jesus Cristo para que ele, como um grande engenheiro, de mente quase divina, pudesse realizar prodígios sob a inspiração de Deus na plasmagem, na estruturação do mundo maravilhoso que habitamos. Mas não consideramos Jesus como criador, conquanto o respeito que lhe devemos.
Acho formidável o que o prof. Herculano Pires disse. Quer dizer que Jesus seria o demiurgo da Terra. E o demiurgo do sistema solar será, então, um demiurgo da mais alta potência construtora. A esse respeito peço licença para dizer que certa feita, indagando de Emmanuel qual a posição de Jesus no sistema solar, ele me respondeu que ficasse, a respeito de Deus, com a expressão do Pai Nosso dito por Jesus, e não perguntasse muito, porque eu não tinha mente capaz de entrar no domínio desses conhecimentos com a segurança precisa. Eu insisti e ele então desdobrou um painel à minha vista, num fenômeno mediúnico.
Apareceu então a Terra na Comunidade dos Mundos do nosso sistema evolutivo, em torno do Sol. O nosso Sol, depois, em outra face do painel, evoluindo para a constelação que, se não me engano, é chamada de Andrômeda. Depois, essa constelação, arrastando o nosso sistema e outros, evoluía em direção a outra constelação que já não tinha nome na minha cabeça. Essa outra constelação avançava para outra muito maior dentro da nossa galáxia. Depois, apareceu a nossa galáxia, imensa, como se uma lente de alta potencialidade estivesse entre os meus olhos e o painel. E a nossa galáxia evoluía com outras galáxias em torno de uma nebulosa enorme, e que Emmanuel me disse que passava a evoluir em torno de outras nebulosas.
Então, a minha cabeça ficou cansada e eu pedi para voltar, como se tivesse saído de um foguete da Terra e me perdesse pelo espaço afora, e sentisse uma vontade louca de voltar a ser gente e ficar outra vez no meu lugar. Porque tudo está dentro da Ordem Divina. Cada mundo, cada sistema, cada galáxia, orientados por inteligências divinas, e Deus para lá disso tudo, sem que possamos fazer-lhe uma definição. Senti uma vontade enorme de voltar para a minha cama e tomar café quente!
(*) NOTA: Devemos aqui notar apenas a opção pessoal de Herculano Pires em chamar seu amigo Chico Xavier para os verdadeiros espíritas, mas é uma atitude que não deve ser levada a sério porque Herculano o fazia na sua boa-fé, tentando converter um deturpador irrecuperável, visando motivos ligados à amizade. Todavia, conforme o texto comprova, o resultado continuou sendo o mesmo velho igrejismo que o próprio Herculano Pires criticava, mas deixava passar.
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