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Pensamento desejoso, o veneno que seduz as pessoas diante dos "médiuns"


(Autor: Professor Caviar)

Um dos grandes males que fazem cegar os corações e mentes dos brasileiros em relação aos "médiuns espíritas" é o pensamento desejoso. Este é o veneno que entorpece muitas almas, e que fazem as pessoas virarem reféns de suas próprias fantasias.

O que é o pensamento desejoso, que em inglês é um termo bastante conhecido, wishful thinking? É a mania de ver as coisas não como realmente são, mas como cada pessoa gostaria que fosse. A teimosia em colocar a fantasia acima da realidade torna-se um vício perigoso, na qual a pessoa reage à contestação alheia com certa irritação, enquanto ignora que sofrerá consequências drásticas ao manter suas ilusões.

O "espiritismo" brasileiro tornou-se uma religião que se revelou portadora de um moralismo retrógado, desde que a chamada "catolicização da Doutrina Espírita" fez o legado de Allan Kardec ser desfigurado. Em vez de andar para a frente, guiado pelo Iluminismo francês, o "espiritismo" brasileiro caminhou para trás, em direção a uma repaginação do Catolicismo jesuíta medieval, que prevaleceu no Brasil durante o período colonial e que, sob o rótulo de "espiritismo", foi restaurado, como reação às transformações que a Igreja Católica sofreu nas últimas décadas.

O pensamento desejoso que envolve os "médiuns espíritas" foi uma manobra que o "espiritismo" brasileiro, que se tornou cada vez mais dissimulado nas últimas décadas após os escândalos de 1969-1974 que se seguiram à aposentadoria e, depois, morte, de Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB que atuou como um dublê de "empresário" de Francisco Cândido Xavier.

Nessa época, vários escândalos foram denunciados: a de que os livros de Chico Xavier alimentavam a fortuna de Wantuil, que o "médium" era cúmplice da farsante Otília Diogo, que havia um plano de criar traduções "roustanguistas" da obra de Allan Kardec e que havia uma disputa interna na cúpula da FEB para quem seria o herdeiro do poder do falecido Wantuil.

Diante disso, Chico Xavier e Divaldo Franco resolveram, espertos, atuar juntamente aos "regionalistas" - federações "espíritas" fora do eixo Rio-São Paulo - , por serem eles mesmos mineiro e baiano, respectivamente, para bajular os espíritas autênticos (como Deolindo Amorim e Herculano Pires) e fingir participar de um processo de recuperação das bases doutrinárias originais do Espiritismo francês.

Com isso, surgiu o chamado "kardecismo autêntico", farsa que foi denunciada, sem muita repercussão, pelo escritor espírita original, Carlos Imbassahy (o pai). Segundo ele, a farsa consistiu em uma postura falsamente "genuína" de supostos críticos da deturpação espírita - pouco depois, vemos Alamar Régis Carvalho, hoje falecido, engrossar o coro dos pretensos "autênticos", fingindo rejeitar a "vaticanização" e os "constantinos" do "espiritismo" brasileiro - , que no entanto sempre professaram seu igrejismo entusiasmado, sua catolicização que se tornava mais explícita, apesar de rejeitada no discurso.

A partir dessa fase, que se define como "fase dúbia" do "movimento espírita", porque disfarça seu conteúdo roustanguista (base da doutrina brasileira) por atitudes de conveniência supostamente voltadas às bases espíritas originais, o que se viu foi uma série de dissimulações. Ideias que se contradizem, da literatura kardeciana original e dos livros trazidos por Chico Xavier, passaram a coexistir criando uma confusão ignorada pela maioria das pessoas, desinformadas dos assuntos. Apelos igrejeiros também coexistiam com temas supostamente científicos, nos quais se misturavam, como num engodo, conceitos de Psicologia, Física e História com Astrologia e outras pseudo-ciências.

A "fase dúbia" do "espiritismo" virou um vale-tudo marcado pela desinformação generalizada das pessoas. Ignora-se até que a Doutrina Espírita original foi deturpada, e de maneira gravíssima e irresponsável. Tudo virou uma bagunça doutrinária, na qual as pessoas acabam sendo envolvidas num entretenimento fútil e inútil de palestras e obras de apelo fortemente igrejeiro, e da ação publicitária de romances "espíritas" e novelas do gênero que passam pela televisão, sobretudo a Rede Globo, que blinda Chico Xavier.

Essa confusão marcada por muita desinformação faz com que haja o pensamento desejoso até em setores das esquerdas, que não são informadas que os "médiuns espíritas" são deturpadores do legado kardeciano e eles expressam um pensamento ideológico conservador. Chico Xavier defendeu a ditadura militar e condenou o comunismo diante de um grande público, em 1971, e há quem o ache, erroneamente, um "comunista", apenas pela imagem supostamente "humilde" que ele trabalhou, ao sabor do pensamento desejoso estimulado pela grande mídia.

Com isso, os "médiuns" tornaram-se alvo de interpretações fantasiosas, só porque elas soam "positivas" e "agradáveis". Isso é um grande perigo, e causa choques como o que provocou Divaldo Franco quando apoiou a "farinata" de João Dória, acolheu o farsante Sri Prem Baba no evento "Você e a Paz", fez juízo de valor cruel acusando refugiados do Oriente Médio de terem sido "colonizadores sanguinários" em "outras vidas", apoiou o irregular juiz Sérgio Moro e ainda fez comentários homofóbicos violentos num seminário "espírita".

Muitos brasileiros, com seu pensamento desejoso, tentam atribuir poder de decisão aos "médiuns" apenas quando seus atos são positivos. Quando os atos são negativos, tentam atribuir responsabilidade de "terceiros", ainda que fossem supostos espíritos obsessores.

Isso não só é um grande erro como cria contradições que só deixam os "médiuns" num impasse irreversível: se eles são influenciados por outros nos erros, é porque os "médiuns" não têm firmeza e são manipuláveis, derrubando qualquer status de liderança e sabedoria a eles atribuído. Se eles, por outro lado, não são influenciados e agem por consciência própria, o que é uma hipótese mais plausível, eles não são pessoas corretas e não merecem a atribuição de perfeição que recebem.

Diante disso, o pensamento desejoso só traz problemas, fazendo com que as pessoas, em nome da idolatria cega aos "médiuns espíritas", caiam em constantes enganos e desilusões, se sujeitando a um grave desequilíbrio emocional na medida em que suas floridas ilusões, que tratam os "médiuns" como "fadas-madrinhas", são desfeitas ou desafiadas pela realidade cruel, que coloca esses ídolos religiosos como realmente são: deturpadores da Doutrina Espírita e ideologicamente reacionários.

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