Esta imagem, que muitos imaginam ser comovente e bonita, revela, na verdade, algo grotesco e deplorável. Trata-se de uma prova de que os "médiuns espíritas", a partir do lamentável exemplo do grande deturpador da causa espírita, Francisco Cândido Xavier, e beneficia pelo culto à personalidade, um grave problema quase nunca percebido pelos brasileiros.
Nela vemos uma fileira de pessoas pobres, sobretudo senhoras idosas, em fileira para cumprir o ritual do beija-mão, saudando o ídolo Chico Xavier. Isso comprova o culto à personalidade, travestido de "saudável adoração amorosa", quando se observa que os pobres em questão apenas tiveram seus problemas amenizados, mas continuam na sua pobreza e inferioridade simbólicas, pois a "caridade espírita" é feita sem romper com os privilégios das classes dominantes. O culto à personalidade faz os "médiuns" brasileiros romperem com a função intermediária dos médiuns originais e substitui-la pela função de "centro das atenções", o que corrompe seriamente a natureza da função.
Sobre as desigualdades sociais, observamos que o "espiritismo" brasileiro se diz contra, mas age como se estivesse plenamente a favor. A "caridade" é paliativa, praticada não pelas lideranças "espíritas" ou seus respectivos "médiuns", mas pelos frequentadores que tiram de seus bolsos o dinheiro para comprar donativos diversos ou tirar de seus bens algo que não lhes serve mais. O povo contribui com sua caridade e o "médium" é que se torna alvo de adoração, ele que se comporta como um pavão recebendo idolatria religiosa às custas de mensagens piegas de moralismo retrógrado.
O gesto acima é ritualístico, um espetáculo de saudações que remete a uma idolatria puramente fútil, à maneira dos antigos velocinos de ouro - cuja adoração chegou a irritar Moisés, segundo registra o Velho Testamento - , e que comprova que os "médiuns" do Brasil nada têm de intermediários, sendo eles "médiuns" apenas pela associação midiática (Chico Xavier é um protegido da Rede Globo de Televisão, que o fez um "filantropo de fachada" como agora busca fazer com Luciano Huck).
Tentando algum esforço de semiótica, podemos comparar a imagem acima com outra imagem que aqui reproduzimos, e que soa desagradável para a chamada "boa sociedade" que segue com gosto a mística igrejeira que é o "espiritismo" brasileiro. Vamos à imagem:
Nela vemos o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, atualmente preso por supostas e duvidosas acusações de corrupção envolvendo um apartamento em Guarujá, abraçando a multidão durante um evento da Caravana do Lula, em 2017.
Note a diferença. Com Lula, nota-se a cumplicidade da população, a interação na qual o líder se identifica com a multidão, num ato de solidariedade mútua, horizontal, informal e descontraída envolvendo uma conhecida autoridade política e a população.
Isso é muito diferente do que se vê na imagem acima, quando pessoas pobres vão a Chico Xavier de maneira extremamente solene, formal e submissa. Na imagem do "médíum" acolhendo pessoas humildes, nota-se um tom de hierarquia, na qual o "humilde" religioso apresenta sua superioridade simbólica, como um monarca ou um sacerdote medieval à paisana, quando recebia a plebe para o beija-mão.
Chico aparece com traje aristocrático, embora cafona, e nota-se um distanciamento simbólico dos pobres e do religioso, não havendo qualquer possibilidade de cumplicidade. Nela, observa-se uma aparente solidariedade que não é horizontal, mas vertical, vinda de cima para baixo, através da reputação do ídolo religioso, na verdade um aristocrata da fé.
É lamentável que as pessoas se deixem levar pelas aparências. Da sociedade conservadora, há uma inversão em torno de Chico Xavier e de Lula, porque o primeiro apresentava uma aparência de caipira inocente e, depois, de velhinho frágil e doente, e o segundo parece um gordinho robusto e de aparência enérgica. Diante disso, ilude-se que o mais humilde e sensível dos dois é o que parece frágil e doente, quando se observa que, para desespero de muitos, o "médium" na verdade foi uma das figuras mais deploráveis como criador de literatura fake e como deturpador dos mais vergonhosos da Doutrina Espírita em toda sua história.
Também é lamentável que as esquerdas, mesmo as que se solidarizam com Lula, tenham uma viciada e perigosa complacência com Chico Xavier, porque o "médium" também foi uma das figuras mais conservadoras e que jamais pode estar associada, mesmo com todo o esforço do relativismo, a nenhuma ideia progressista, até porque o ideário do "bondoso médium" sempre apelava para as pessoas aceitarem as desgraças sem queixumes e em silêncio, e Chico sempre considerava os debates e questionamentos mais aprofundados um "tóxico do intelectualismo".
Para quem está exagerando com a acusação do ultraconservadorismo observado em Chico Xavier, é bom ver o Pinga Fogo da TV Tupi de São Paulo, em 1971, disponível no YouTube e com reproduções até no Dailymotion, outra plataforma de vídeos digitais. E ainda mais nos últimos tempos, em que há a coincidência, enorme demais para ser acidental, dos lemas "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", de Chico Xavier, e "Brasil, acima de tudo, Deus, acima de todos", de Jair Bolsonaro. Deixemos de pensamento desejoso e vamos admitir que o "médium" mineiro sempre foi um arauto do conservadorismo social, estando ele ou não vinculado à pessoa de Bolsonaro.
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