(Autor: Professor Caviar)
Devemos desconfiar de mensagens aparentemente belas. Em muitos casos, o "balé das palavras" pode não ter sentido prático, as mensagens podem ser tendenciosas e o contexto em que elas foram publicadas não se tornar tão humanista quanto parece à primeira vista.
Setores das esquerdas, ingenuamente, recorreram a Francisco Cândido Xavier para falar em "paz", diante do contexto de convulsões sociais, e isso foi uma ideia infeliz, principalmente num momento em que golpes políticos tendem a se radicalizar. Esses setores se esquecem que o esquerdismo havia sido associado, em declaração pública de Chico Xavier para o grande público, não só do programa Pinga Fogo da TV Tupi transmitido na época (fim de julho de 1971), mas também das visualizações do YouTube nos últimos anos, ao caos e aos conflitos sociais.
Como figura extremamente conservadora, Chico Xavier condenava os movimentos sociais. Seus pontos de vista combinam com impressionante exatidão aos golpistas que defenderam a prisão de Lula e que se assustam com qualquer hipótese de recuperar seus direitos políticos, principalmente depois de recomendação da ONU neste sentido. Chico era adepto da Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica, que defendia que os sofredores tinham que suportar as desgraças em silêncio, para obterem as ditas "bênçãos divinas".
O texto que Ricardo Kotscho ingenuamente publicou, "O Silêncio", é uma verdadeira armadilha textual. Ele achou que o texto era um apelo para a paz, mas a mensagem, apesar da aparente beleza típica do "balé das palavras", era mais um apelo para a conformação com o golpismo e com as ameaças que, agora, estão simbolizadas por Jair Bolsonaro, um subproduto do "reino de amor" que Chico Xavier dizia que a ditadura militar estava construindo. E Chico disse com palavras próprias, diante do grande público, o que indica que ele o fez com exata consciência dos seus atos.
Vamos analisar então o texto "O Silêncio", veiculado na Internet. Muitos atribuem ao espírito Emmanuel, outros à própria mente de Chico Xavier. Mas há também quem sugere que o texto foi plagiado por algum texto de auto-ajuda católico, da corrente da Teologia do Sofrimento, mas até agora não surgiu uma fonte que comprovasse esse plágio. Em todo caso, "O Silêncio" é claramente inspirado nos textos católicos provenientes dessa corrente medieval. Depois dos textos, prosseguiremos com nossa análise.
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O SILÊNCIO
O silêncio, onde quer que você esteja, seja a alma deste lugar…
Discutir não alimenta. Reclamar não resolve. Revolta não auxilia. Desespero não ilumina. Tristeza não leva a nada. Lágrima não substitui suor.
Irritação intoxica. Deserção agrava. Calúnia responde sempre com o pior.
Para todos os males, só existe um medicamento de eficiência comprovada.
Continuar na paz, compreendendo, ajudando, aguardando o concurso sábio do Tempo, na certeza, de que o que não for bom para os outros não será bom para nós…
Pessoas feridas ferem pessoas. Pessoas curadas curam pessoas. Pessoas amadas amam pessoas. Pessoas transformadas transformam pessoas.
Pessoas chatas chateiam pessoas. Pessoas amarguradas amarguram pessoas.
Pessoas santificadas santificam pessoas.
Quem eu sou interfere diretamente naqueles que estão ao meu redor.
Acorde…
Se cubra de gratidão, se encha de amor e recomece… O que for benção para a sua vida, Deus te entregará, e o que não for, ele te livrará!
Um dia bonito nem sempre é um dia de sol….
Mas com certeza é um dia de paz”
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Em primeiro lugar, o texto nem de longe contribui para a resolução dos problemas humanos. Do mesmo modo, também não resolve as tensões humanas. Seduzidos pela beleza das palavras, nos esquecemos que, dependendo do contexto, mensagens assim podem ser mais irritantes do que admiráveis. Pelo contrário, mensagens assim só são agradáveis para quem tem algum conforto na vida, e, convenhamos, parte das esquerdas são de classe média e ainda se deixam seduzir por fenômenos falsamente associados a gente pobre, seja "funk" ou Chico Xavier.
Para quem sofre, mensagens como esta são irritantes. Quem é que, no fundo do poço, esperando por socorro, é aconselhado a se calar e, em vez de reclamar, ver a luz do sol? Além disso, as esquerdas que se deixam seduzir por essa "linda mensagem", acima publicada, se esquecem que elas mesmas se comprometem com o debate e o questionamento que eram reprovados por Chico Xavier.
As esquerdas, que falam em "imprensa hidrófoba", "Partido da Imprensa Golpista", "jornalistas urubólogos", "Justiça partidarizada", questionam a supremacia da Rede Globo, a seletividade do juiz Sérgio Moro (idolatrado pelo movimento espírita a ponto de ser atribuído como "enviado de espíritos benfeitores), alertam sobre o perigo da ascensão do fascista Jair Bolsonaro, fazem o que o "lindo texto" desaconselha.
Devemos tomar cuidado com o "bale das palavras". Pode-se ferir alguém com uma "linda palavra", e quantas pessoas se sentem ofendidas quando, diante do pior sofrimento que têm que encarar, fala-se em "dia bonito" e "dia de sol"? Que mensagens sádicas não podem haver no "balé das palavras"? Que intenções não podem estar por trás de "lindas mensagens" senão o de fazer com que sofredores aguentem as desgraças conformados?
CHICO XAVIER ERA RESMUNGÃO
Não existe pessoa mais resmungona e ranzinza do que aquela que se irrita com as queixas dos outros. Esquecemos que Chico Xavier, ao pedir aos outros silêncio ante o sofrimento e nenhuma reclamação ou queixume seja qual fosse, estava pedindo, na verdade, o consentimento às ações irregulares do "médium", denunciado por obras fake - como Parnaso de Além-Túmulo e a "série Humberto de Campos-Irmão X" que destoam dos estilos originais dos autores alegados - que lhe custaram o banco dos réus (por sorte, temos uma Justiça seletiva e tendenciosa, e Chico saiu impune).
Se esse "lindo texto" fosse lançado nos corredores do DOI-CODI? E se o referido texto fosse lançado num campo de concentração nazista? Um texto como esse não pode ser aceito, por si só, porque os textos de Chico Xavier são muito nebulosos e expressam aquilo que Allan Kardec preveniu, a respeito de textos mistificadores, dissimulados pelo aparato de belas mensagens e dotados de ideias truncadas e que afrontam claramente os ensinamentos espíritas originais.
Chico Xavier pedia para as pessoas ficarem em silêncio, não questionarem e nem reclamarem, porque fazia isso em causa própria. Seus atos sempre foram irregulares, mas a habilidade de quem o blindava, seja o então presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, que com o "médium" atuava como se fosse empresário de um astro pop, e, mais tarde, com as ações midiáticas da TV Tupi e Rede Globo (que atualmente blinda o "médium"), transformaram Chico num pretenso "espírito de luz". Como é perigoso trabalhar mitos e fabricar consensos.
O texto "O Silêncio" nada diz de profundidade na vida. Na ocasião do sofrimento, o sofredor prefere buscar soluções em sua vida do que depender do "balé das palavras" para dizer o que ele deve fazer ou não. Em muitos casos, não se deve teorizar a "paz", porque sendo a paz prisioneira da coreografia das palavras, ela deixa passar o ódio, que sempre sai do papel e é liberado pelos instintos humanos. Em muitos casos, palavreado demais ofende e o "balé das palavras", dependendo do contexto, mais irrita do que consola os sofredores extremos, que querem soluções e não a conformação com seus problemas, por mais que se falem em céu azul, passarinhos, flores e brilho do Sol.
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