(Autor: Professor Caviar)
A memória curta, o jeitinho brasileiro e o pensamento desejoso desenvolveram uma imagem adocicada de Francisco Cândido Xavier. O popular Chico Xavier aparece como se fosse uma fada-madrinha da vida real, com uma imagem glamourizada cheia de pieguice, alternando visões surreais de sua pessoa, quando promovido a semi-deus e pretenso sábio, com outras falsamente realistas, no caso de atribuir a ele "singelas condições de homem simples, humilde e bom".
Mas essa imagem dócil é falsa, pois Chico Xavier foi uma das figuras mais desonestas que passaram pela humanidade no Brasil e no mundo. Sua desonestidade, gritante, não é admitida pelos seus seguidores, simpatizantes e até leigos que lhe apreciam de alguma forma e estes, assustados, fecham olhos e ouvidos diante do desmascaramento dessa "fada-madrinha" de seu imaginário fantasioso, no qual se estabelece um espaço para jogar a lógica, a coerência e o bom senso no lixo, usando a falácia de que "tudo é amor" e que, portanto, se permite acreditar que "esse amor" pode ocorrer à margem da lógica e de qualquer sentido realista.
A desonestidade de Chico Xavier é gravíssima, e se o Brasil fosse um país menos crédulo, ela seria suficiente para derrubar praticamente todo o mérito de sua adoração. Chico Xavier é adorado como se fosse a "personificação das virtudes humanas", mas quase ninguém sabe que essa adoração é, na verdade, um processo doentio de fascinação obsessiva, associado a uma falsa simbologia de beleza e simplicidade que não existe naturalmente nas pessoas.
É, portanto, um processo que se equipara a um alucinógeno, no qual são produzidas sensações de prazer e êxtase que soam ao mesmo tempo artificiais e viciadas, criando uma falsa sensação de leveza espiritual que, diante da menor contrariedade, se converte em irritação e agressividade, por mais dissimuladas que sejam.
Chico Xavier foi um mito construído em três etapas por um discurso bastante sutil e engenhoso, como se observa no marketing. Isso significa que o "médium" também foi um produto de marketing, que se desenvolveu em três fases.
Primeiro, pela habilidade engenhosa do "tutor" de Chico Xavier, o presidente da FEB Antônio Wantuil de Freitas, que criou no suposto médium uma figura exótica, um pretenso paranormal que combinava duas ideias contrastantes: o caipira de modesta escolaridade que supostamente entrava em contato com os maiores literatos que passaram pelo Brasil tempos atrás.
Isso produziu muito sensacionalismo na época, mas também mostrava uma atividade irregular, que apontava falhas estilísticas imensas. As supostas psicografias que, na época, evocaram autores famosos, como Castro Alves, Olavo Bilac ou mesmo Auta de Souza, apresentavam sérios problemas de estilo, com provas apontadas por especialistas literários sérios. Infelizmente, pelo apego que se tem à mística religiosa, os especialistas literários foram vistos como "vilões", quando eles apontaram fraudes que comprovam a desonestidade e o oportunismo de Chico Xavier.
Nota-se que, em toda sua bibliografia, Chico Xavier também cometeu uma desonestidade não menos preocupante, coisa de arrancar os cabelos, se não fosse a escravidão emocional que os seguidores se sujeitam a seu mito religioso. É que Chico Xavier foi um dos maiores e, portanto, mais condenáveis deturpadores do Espiritismo, ofendendo o legado deixado pela Doutrina Espírita original, desmoralizando de forma vergonhosa e revoltante o trabalhoso legado de Allan Kardec.
Isso está claro nos livros que lançam conceitos anti-doutrinários graves, criando fantasias materialistas sobre o mundo espiritual, sem que estudos sérios apontassem qualquer probabilidade de tais devaneios. Além disso, os conceitos também são carregados de pontos de vistas dignos da Idade Média, como a Teologia do Sofrimento, corrente medieval do Catolicismo que é facilmente identificada em diversas ideias trazidas por Chico Xavier, em próprio punho ou usando (falsamente) os nomes de personalidades mortas.
São ideias que muitas pessoas, de maneira enganosa, acreditam serem "progressistas" por conta de uma bem construída falácia que combina fantasiar o futuro como pretexto para aceitar as desgraças do presente, no qual os projetos de vida da encarnação presente são comprometidos e imagina-se poderem ser adiados para a encarnação posterior. Em outras palavras, toma-se o certo pelo incerto e muitos pensam que ideias pregadas por Chico Xavier como "aceitar o sofrimento em silêncio" são "progressistas", quando elas são, em verdade, reacionárias e com fundo extremamente conservador.
Chico Xavier, depois de trabalhado por Wantuil como um suposto paranormal que dizia "se comunicar com grandes escritores", passou a ser blindado pela TV Tupi como um suposto filantropo e pregador religioso. O gancho, a partir dessa estratégia, era a dramaturgia e um lobby trazido por produtores, diretores e atores, dos quais se destacavam Augusto César Vannucci, Nair Bello, o casal Paulo Goulart e Nicette Bruno, entre outros.
Foi esse lobby que fez com que o filho de Humberto de Campos, que lhe herdou o nome, jornalista que foi trabalhar como diretor e produtor de TV nos anos 1950, fosse assediado por Chico Xavier numa espécie de "emboscada do bem", convidando-o para assistir a uma doutrinária no Grupo "Espírita" da Prece, em Uberaba, e, depois, acompanhar uma caravana de Assistencialismo ("caridade" espetacularizada à maneira do que hoje se vê com Luciano Huck, de baixos resultados sociais e mais adoração ao "benfeitor"). Ao abraçar Humberto de Campos Filho, Chico Xavier ensaiou um falsete que desnorteou a vítima, num processo que pode ser conhecido como "assédio moral de cunho religioso".
Com a TV Tupi em processo de falência e Wantuil morto, a FEB (mesmo com a cúpula rompida com o movimento espírita) resolveu apelar para a Rede Globo para blindar Chico Xavier. Isso teve um duplo objetivo: neutralizar a ascensão de pastores eletrônicos (R. R. Soares e Edir Macedo) e abafar o crescimento dos movimentos sociais, simbolizado por Lula, através de um pretenso ativista religioso que defendia uma "caridade" que não mexesse nos privilégios das elites.
Juntos, Wantuil, Diários Associados e Rede Globo criaram um Chico Xavier adocicado, feito para a adoração pública mais obsessiva e mórbida, criando elementos ideológicos que garantissem uma pretensa unanimidade e uma reputação tida como inabalável. Mas os aspectos sombrios de Chico Xavier, como a deturpação do Espiritismo, seu reacionarismo medieval e a produção de literatura fake revelam o quanto sua desonestidade não pode ser premiada pela imagem dócil montada pela FEB e pela mídia hegemônica.
Pior do que ser desonesto e retrógrado é dissimular essas qualidades negativas trabalhando ideias pretensamente sublimes de sua pessoa, produzindo artificialmente apelos supostamente ligados a humildade, misericórdia, compaixão, bondade e generosidade. Diante disso, conclui-se que a trajetória de Chico Xavier foi nociva para o Espiritismo brasileiro sob todos os aspectos, entre eles o da deturpação doutrinária e do desenvolvimento da fascinação obsessiva para provocar a adoração pública. Desonestidade não se premia com santidade.
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