(Autor: Professor Caviar)
Que moral tem Francisco Cândido Xavier para ser considerado, na posteridade, um "profeta"? Se ele não consegue "absorver" a integridade de personalidades dos espíritos do além-túmulo, reproduzindo mal os estilos e aspectos pessoais dos falecidos, sempre mostrando uma falha aqui e ali - como os "cacófatos" e o igrejismo débil-mental do suposto espírito "Humberto de Campos" - , que moral tem para ter um mínimo de credibilidade para suas supostas previsões sobre a "Data-Limite"?
Que "médiuns erram muito" isso é uma ideia que a literatura kardeciana transmitia e não era segredo algum. No entanto, admitamos: Chico Xavier errou demais. E errou tão vergonhosamente que só mesmo um tolo para abrir relativizações aqui e ali, como um meio de manter sua mórbida adoração a uma pessoa dessas, que só merece um desprezo e um repúdio absolutos, de forma até pacífica, mas bastante crítica.
Chico Xavier foi, em seu tempo, uma espécie de Sérgio Moro da religiosidade, um sujeito que alimentou um imaginário ultraconservador, porém pretensamente messiânico, com ares de falso futurismo e, de forma mais hipócrita, um também falso progressismo. Muitos caíram no conto do "progressismo procrastinador" de Chico Xavier e ignoraram que ele defendia retrocessos sociais e políticos bastante profundos.
E ele não pode ser considerado profeta e devemos rejeitar sua "profecia da Data-Limite", apesar dela simbolizar uma tentação forte para vídeos sensacionalistas que se multiplicam no YouTube e para pautas de programas televisivos sem muita coisa para fazer.
Isso se deve por muitos aspectos, como os erros de abordagem sociológica, antropológica e geológica, entre tantos outros erros científicos da suposta previsão de Chico Xavier. Como, por exemplo, se houver uma catástrofe natural que, através de explosões vulcânicas e terremotos, destruiria a Califórnia e o Havaí, nos EUA, e pouparia o Chile, que fica na mesma área desses cataclismos? E, para piorar, Chico Xavier se esqueceu que os eslavos não iriam povoar o Nordeste brasileiro, pelo contraste climático, e quando ele nasceu já haviam migrações desses povos, não para a presumida região conhecida pelo seu calor, mas para o Sul do país e o interior de São Paulo.
A "profecia" divide chiquistas e há uma parcela deles que rejeita essa tese, alegando que ela partiu de Geraldo Lemos Neto (é aquele famoso problema do "disse Chico Xavier..." ou não), apesar de vermos elementos desse profetismo fajuto nas obras do "médium" e nos depoimentos no Pinga Fogo da TV Tupi. E isso mostra o quanto Chico Xavier nunca foi um unificador, porque apesar do seu profundo igrejismo que prometia conciliar as pessoas, ele desunia com seus apelos sensacionalistas e suas irregularidades.
"PROFECIA" JÁ FRACASSADA
A "profecia" de Chico Xavier sobre a "data-limite" é fracassada em todos os aspectos que se pode imaginar. E isso parte do princípio de que ela vai contra uma recomendação kardeciana, que alertava que prever fatos futuros com datas pré-determinadas é indício de mistificação, além de expressar um baixo nível moral de espíritos zombeteiros que, com a sintonia de um "médium", se aproveitam das fraquezas humanas para brincar com suas emoções, produzindo de ansiedade a temor, desviando-as de suas tarefas importantes para se perderem nas supostas previsões sobre o futuro.
E isso está explícito na obra kardeciana, não tem como relativizar o caso de Chico Xavier, como fazem até mesmo certos acadêmicos que variam entre ingênuos e tendenciosos, que perdem tempo fingindo que analisam a suposta psicografia desse deturpador do Espiritismo para depois assinarem em baixo em prol dessa prática que, da parte do suposto médium, envolve uma coleção de irregularidades fartas de provas contundentes.
A "profecia" está falida pela falta de lógica em suas "previsões", e pelo caráter leviano de supor que se pode prever o futuro determinando uma data fixa. Aí os seguidores de Chico Xavier tentam alegar dizendo "mas ele não previu o futuro, não disse o que vai acontecer em 2019". E aí contestamos, porque a intenção era, sim, prever o futuro, com a pretensão de usar um ano determinado para fazer diagnósticos, ainda que através de um discurso confuso e cheio de falhas e, ainda por cima, falando em "missionários extra-terrestres".
Isso tudo é sensacionalismo barato e se Chico Xavier foi exemplo de alguma coisa, ele o foi pela coleção de ações negativas que iam de um livro poético de valor duvidoso, Parnaso de Além-Túmulo, que podemos definitivamente classificar como "clássico da literatura fake", porque não há tese de possível autenticidade que se sustente com argumentos lógicos.
Além disso, se Chico Xavier não consegue pressentir o tipo negativo de seu apadrinhado goiano, o latifundiário João Teixeira de Faria, o João de Deus, acolhendo-o como um discípulo - a não ser que Chico fosse também um cafajeste que já havia apoiado fraudes de materialização e poderia muito bem apoiar um charlatão curandeiro, hipótese que soa bem plausível - , então ele não pode prever coisa alguma na vida.
O que se conclui é que Chico Xavier foi um equivalente tardio dos ilusionistas e charlatães dos EUA, como P. T. Barnum e William H. Mumler, mas com o agravante do "médium" brasileiro ser um farsante à maneira do seu quase xará Frank Abagnale - retratado no filme Prenda-Me Se For Capaz (Catch Me If You Can), de Steven Spielberg - , capaz de enganar todo mundo e se dar bem na vida. Ver que um sujeito que começou com estranhos pastiches literários se tornou uma quase unanimidade é assustador. A fascinação obsessiva é realmente uma das piores tentações do mundo.
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