É muito fácil ficar na zona de conforto das paixões religiosas, da fascinação obsessiva e da interpretação do mundo conforme os aspectos agradáveis das convicções. É fácil também usar o aparato das palavras e criar falsos argumentos nos quais se coloque a Fé acima da Razão.
Só mesmo num Brasil que acolhe a adoração piegas a pretensos filantropos, seja a megera católica Madre Teresa de Calcutá - ainda vista por alguns iludidos como "símbolo de bondade plena" - , acusada de deixar os alojados das casas das Missionárias da Caridade em condições desumanas, seja o festejado "médium" Francisco Cândido Xavier, que de produtor de literatura fake passou a ser o pretenso pacifista dos momentos de convulsões sociais no Brasil.
A sociedade brasileira é mais desinformada e apegada às coisas do que se imagina. É mais retrógrada, atrasada e conservadora do que pensa e pode admitir. E isso se observa quando a ficha do bolsonarismo caiu e vimos tanta gente de bem apoiando a campanha de Jair Bolsonaro. Muitos se irritam quando se fala que Chico Xavier teria apoiado Bolsonaro, mas se até Djavan e Toquinho apoiaram...
Dá pena ver tantos "isentões" que, na sua luta contra a Lógica, tenta articular argumentos lógicos para ideias sem lógica, desesperados no seu malabarismo com as palavras. Rebatem réplicas com a agilidade de um vigilante, na sua paranoia de ficarem sempre com a palavra final. Chegam a atrasar almoços para ficarem sempre com a palavra e não serem questionados de forma alguma.
Os "isentões espíritas" são assim. Eles tentam forjar argumentos para a absurda tese de que são "absolutamente fiéis" aos ensinamentos de Allan Kardec, mas em dado momento ou em outro ficam criticando sua "overdose de lógica". Acham que a Razão não pode "interferir em todas as coisas" e tentam alegar que "é necessário ter um espaço para o coração".
A natureza já dá ao cérebro uma posição acima do coração. O coração não substitui o cérebro, na função do raciocínio, nem a dos olhos, na tarefa de olhar as coisas. O coração é apenas um músculo cuja batida regula as atividades do organismo, mas ele se submete às ações do cérebro.
No entanto, apesar do rótulo Espiritismo adotado no Brasil e apesar do verniz de racionalidade que a religião brasileira diz possuir, nota-se que o ato de raciocinar sempre é alvo de restrições pesadas. Os "espíritas" no Brasil, sempre inclinados a um juízo de valor apesar de pedir aos outros que "nunca julgassem quem quer que fosse", acham que, quando o raciocínio lógico penetra em certos temas, sobretudo no terreno da Fé, ele se torna "amaldiçoado" e "descontrolado".
Vamos admitir! O "espiritismo" brasileiro sempre estabeleceu restrições sérias ao ato de raciocinar. Nunca defendeu o debate, contrariando as recomendações de Kardec. Preferiu sempre o igrejismo, a mistificação, os devaneios da Fé. Nunca lutou para melhorar, de verdade, a qualidade de vida das pessoas e ficava sempre apelando para os sofredores aguentarem, resignados e calados, as desgraças acumuladas da vida.
MEDO DE QUESTIONAR CHICO XAVIER
Agora que a "data-limite" ameaça se voltar contra seu próprio idealizador, Francisco Cândido Xavier, os "espíritas" correm para seus quartos e, chorando, fazem rezas desesperadas, em pânico, pedindo para Nossa Senhora (?) interceder para não haver mais textos questionando as irregularidades da "religião espírita" brasileira.
Apavorados, esses verdadeiros devotos do medo temem que Chico Xavier seja mais uma vez questionado, desta vez de maneira póstuma, "sem ele estar aqui para reclamar". Muitos falam essa expressão sem perceber que o próprio Chico Xavier, quando vivo, se promoveu às custas dos mortos, cujos nomes ele usava sem medir escrúpulos, sem que os mortos estivessem vivos para reclamar.
Os "espíritas" adoram falar dos argueiros nos olhos alheios, mas quanto às traves nos seus olhos eles se chateiam quando são advertidos. Pedem, chorando, misericórdia e compreensão, criam martírios de mentirinha quando reagem à menor crítica. Os "espíritas" brasileiros se acham tão donos da verdade que eles determinam até, pasmem, o que Allan Kardec deveria ou não pensar.
O problema é que, no "meio espírita", figuras incômodas de diversos tipos, como Jean-Baptiste Roustaing, Amauri Xavier, Luciano dos Anjos, Otília Diogo e Attila Paes Barreto são enxotadas como cães vira-latas. Eles agora "retornam" para um acerto de contas, porque é impossível empurrar um problema com a barriga e expulsar aqueles que surgem para alertar ou demonstrar irregularidades existentes.
É fácil expulsar alguém que cobra uma dívida, empurrá-lo e chutá-lo para fora de um aposento. É fácil jogar a sujeira debaixo do tapete. É fácil posar de endividado para obter o calote das dívidas. Mas hoje a deturpação do Espiritismo vê suas dívidas voltarem a ser cobradas, e aí a sociedade reage com muito medo.
Juristas, jornalistas, semiólogos, acadêmicos e outros ficam em silêncio. Uns, pondo suas convicções religiosas na gaveta e não esboçando um comentário sequer, com medo de serem contestados com mais propriedade por outrem. Têm medo de serem desqualificados em seus frágeis argumentos e, parafraseando o seu ídolo Chico Xavier, preferem "não botar querosene nesse incêndio".
Os "isentões" tentam desqualificar, apelando para o refrão "não é bem assim", estabelecendo concessões relativizadoras do tipo "eu não sou espírita", "eu não aceito tudo de Chico Xavier", "tem horas que Emmanuel é um chato" etc, sem falar de dúvidas quanto à "data-limite" ou coisa parecida. E tudo isso junto com a onda do momento: dizer que os "médiuns" são "pessoas imperfeitas" e que "também erraram e erram muito". Uma carteirada nivelada por baixo.
Esse medo é tão grande que os textos questionadores são os menos lidos. O medo de se derrubar o mito de Chico Xavier cercado de apelos infantis como céus azuis, jardins floridos e crianças sorrindo com questionamentos severos, porém dotados de profunda lógica e veracidade, é muito grande. O medo de verem retirados das livrarias os livros "mediúnicos" dotados de palavras dóceis é também enorme.
A infância dos chiquistas, ao mesmo tempo birrenta e fantasiosa, que amarra os adultos e idosos numa fascinação obsessiva ao "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba, é algo digno de levar esses beatos a um psiquiatra. Pessoas que se julgam lúcidas, lógicas e normais se apegam a esse misticismo doentio de forma que não podem ver um questionamento que ponha em xeque o mito do "bondoso médium".
E até mesmo a caridade nunca foi feita por Chico Xavier. Senão, o Brasil seria outro, bem melhor do que esse país desastrado que cultua um "médium" farsante, autor de livros fake. Chico pedia aos outros para doar objetos e alimentos, dentro dos limites fajutos do Assistencialismo, e depois se promovia com essa "filantropia" que nem de longe combate seriamente as desigualdades sociais.
Dizer tudo isso deixa muita gente com medo. E as pessoas medrosas preferem ficar satisfeitas na sua mediocridade, baseadas na ilusão de que "dá para viver assim", uma permanente resignação com os retrocessos sociais que fizeram chegar ao Brasil que hoje vivemos, cheio de absurdos, porque, de tanta complacência com o erro - que sempre blindou Chico Xavier - , acabamos produzindo um cenário social, político e cultural bastante deplorável. Será que ainda "dá para viver assim"?
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