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"Cartas mediúnicas" de Chico Xavier foram para defender a ditadura militar


(Autor: Senhor dos Anéis)

Já se falou desse assunto em outras ocasiões, mas vamos enfatizar o tema de que as "cartas mediúnicas" de Francisco Cândido Xavier foram, na verdade, um meio de evitar que o Brasil lutasse pela redemocratização, essa "frescura" que os "espíritas" alegam ser produto das "paixões religiosas" porque "dá para viver" sob um regime tirânico aceitando tudo através da prece em silêncio e da resignação da fé.

O que eram as "cartas mediúnicas"? Um embuste sensacionalista feito para distrair as pessoas comuns e explorar as tragédias familiares de maneira pitoresca, que fez a festa da imprensa policialesca e fez até delegados de polícia virarem "médiuns", diante da fascinação obsessiva por Chico Xavier.

Não vamos destacar aspectos de mensagens fake, uso de "leitura fria", de consultas de fontes da imprensa, diários pessoais dos mortos apresentados por familiares etc. Esses outros aspectos já foram e poderão ser expostos em outras oportunidades. Também a catarse familiar é algo que, se mencionado aqui, aparece de maneira secundária.

Vemos que as "cartas mediúnicas" seguem o caminho inverso dos fenômenos espíritas estudados por Allan Kardec. Ele estabelecia pesquisas científicas a partir de análises de atividades recreativas como as das mesas girantes e das tábuas Ouija. No caso de Chico Xavier, era a mediunidade que se desviava de seu objetivo teórico para se tornar um entretenimento de famílias saudosas e emocionalmente frágeis.

Nesses eventos, a divulgação de supostas mensagens do além criava um clima de catarse que envolvia saudades, ansiedades, obsessões e até mesmo discórdias, pois havia familiares que duvidavam da veracidade dessas mensagens. Por outro lado, mães saltitavam, histéricas, ao ouvirem as mensagens, envoltas naquele clima suavemente soturno de músicas suaves e o som transmitido por alto-falantes pelos quais se trabalhava o transe emotivo desses ambientes.

Esses eventos tinham, em tese, popularizar o tema da "vida após a morte". Comparado a eventos moralmente opostos que enfatizavam o sexo - como a breguice erótica nos ídolos que apareciam nos programas de auditório da televisão - , um outro processo de manipulação mental dos brasileiros para evitar a luta pela redemocratização do país, as "cartas mediúnicas", mesmo diferentes da erotização brega nas TVs, tinham o mesmo objetivo.

Esse objetivo era criar a catarse coletiva que serviria de cortina de fumaça para evitar com que, devido á crise do chamado "milagre brasileiro", se fortalecesse a luta contra a ditadura militar, já latente em 1979-1980. De um lado, o cafajestismo brega que seria herdado, de 1989 em diante, pelo "funk carioca" e derivados. De outro, o suposto pacifismo, de caráter ultraconservador, de Chico Xavier. Ambos eram feitos para anestesiar a população e fazê-la esquecer que a ditadura militar mereceria ser derrubada.

A analogia dos mortos nas "cartas mediúnicas" com as vítimas da repressão militar é ilustrativa. Com a abordagem, um tanto tendenciosa, fantasiosa e equivocada em termos realistas, da "vida após a morte", supõe-se que o "mundo espiritual", concebido conforme as paixões terrenas, seja "melhor" do que a vida material. 

Não há, no entanto, fundamento teórico nem científico sobre como é a vida espiritual, o que faz o "espiritismo" brasileiro ser um repositório de paixões terrenas, transportadas para a perspectiva da "vida futura".

Com isso, supõe-se que os mortos comuns que supostamente "transmitiam mensagens mediúnicas" para Chico Xavier e, por efeito, seus discípulos, "estejam bem na vida espiritual". Isso tem um dado subliminar. Se eles "estão bem no mundo espiritual", significa que as vítimas da tortura ditatorial também "estão", talvez até "melhor ainda".

O que isso significa? Glamourização da tragédia humana. Espetacularização da morte. E tudo isso para anestesiar as pessoas, fazê-las se conformarem não só com suas tristezas em doses traumáticas, mas também pela ideia do sofrimento humano, do qual Chico Xavier sempre fez apologia, devoto ele que sempre foi da Teologia do Sofrimento, que levava às últimas consequências o medievalismo católico.

Com isso, se conformava, sobretudo, com o cenário da ditadura militar e os "sacrifícios necessários" que deveriam viver os brasileiros. Era uma maneira de dizer que os que morrem é porque "foram para um mundo melhor", garantindo, assim, a resignação com o regime ditatorial, que só entraria num desgaste irreversível por conta de outras circunstâncias. As "cartas mediúnicas", portanto, foram um artifício de Chico Xavier para tentar salvar a ditadura militar que ele sempre apoiou.

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