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Grupo Folha está blindando Chico Xavier?


(Autor: Professor Caviar)

As recentes reportagens da Folha de São Paulo e do Universo On Line (UOL), de propriedade da família Frias, sobre a Doutrina Espírita, soam como verdadeiros press-releases da Federação "Espírita" Brasileira. As mesmas alegações de que Francisco Cândido Xavier, ou seja, o festejado Chico Xavier, "popularizou o Espiritismo" ou "foi grande divulgador da Doutrina Espírita e realizou muitas obras de caridade" (lembrando que esse papo de que "Chico Xavier fez caridade" é uma grande falácia, porque não existem "grandes árvores" que dão poucos frutos), parecem repetir como um trecho de um disco riscado que "pula" na vitrola.

São sempre essas alegações. Veio a matéria sobre os 150 anos de falecimento de Allan Kardec, adotou-se o mesmo papo: "Chico Xavier divulgou e popularizou a Doutrina Espírita, deixou obras de caridade e blablablá". Veio o filme Kardec e o mesmo papo furado. Agora temos a matéria do Eurípedes Higino, que teve negado pela Justiça o pedido de reconhecimento como "filho adotivo" de Chico Xavier, e veio a mesma conversa.

Devemos lembrar a todos que, se Chico Xavier realmente fez caridade, os resultados seriam muito expressivos. Além dos benefícios terem sido pouquíssimos - e soa ofensivo ajudar pouco e querer ser adorado e aplaudido pelo quase nada que fez - , não foi Chico Xavier quem realmente praticou caridade, ele apenas pediu para terceiros realizarem tarefas: doação de objetos e terrenos, transferência de dinheiro faturado na venda de livros, trabalhos voluntários. Da parte dele, nada saía, ele apenas era a cigarra que comandava o espetáculo produzido pelo trabalho das formigas.

Além do mais, Uberaba atingiu padrões escandinavos de vida? Não podemos fugir disso. É fácil exaltar a suposta caridade de um ídolo religioso e arrumar desculpas para os baixos resultados obtidos, dizendo que não é responsabilidade desse ídolo, que é obrigação dos governantes etc. Erradíssimo. Se o "médium" está associado a uma suposta caridade, entendemos que, em tese, pela grandeza a que ele está associado, ele teria, sim, responsabilidades de realizar transformações profundas da sociedade.

Vamos agora à blindagem midiática. De repente, as Organizações Globo, aparentemente, não estão mais fazendo blindagem com Chico Xavier, cuja "mediunidade", de tão tosca, tornou-se piada do Zorra e uma matéria sobre João Teixeira de Faria, o goiano João de Deus, admitiu apadrinhamento do "médium", contrariando a alegação da FEB de que o curandeiro acusado de crimes "não tem vínculo com o movimento espírita".

Claro que o histórico das relações entre as Organizações Globo e Chico Xavier tiveram variaveis. Nos anos 1930 e 1940, O Globo o tratava como um bizarro paranormal. Com o processo no caso Humberto de Campos, a reputação do "médium" tornou-se suspeita. Nos anos 1950, Chico Xavier foi hostilizado porque, em O Globo, havia colunistas católicos, como Alceu Amoroso Lima e Gustavo Corção.

Sobre essa hostilidade, abrimos parêntesis. Embora oficialmente Chico Xavier tenha sido excomungado do Catolicismo por conta da suposta mediunidade, a verdade é que esse ato se deu porque a paranormalidade dele era desonesta. É curioso que o "movimento espírita", com seu coitadismo, fale tanto em intolerância religiosa até quando se critica uma tosse de um "médium", mas a verdade é que os "espíritas" foram mil vezes mais intolerantes ao rejeitar qualquer argumento lógico de um católico, a respeito dos problemas das "psicografias" de Chico Xavier. E lembremos, também, que o "espiritismo" brasileiro é uma das religiões mais toleradas no Brasil e não o contrário, porque mesmo muitos de seus atos negativos chegam a ser aplaudidos pela sociedade, incluindo ideias moralistas retrógradas relacionadas à reencarnação.

Nos anos 1970, as Organizações Globo foram parceiras da ditadura militar na propaganda de suposto ativismo social, como meio de abafar a indignação popular contra esse lamentável cenário político. Apoiador explícito e entusiasmado da ditadura militar, Chico Xavier, até pelo seu caráter supostamente ecumênico em sua trajetória, foi escolhido para ser símbolo de um pretenso ativismo, à maneira de Madre Teresa de Calcutá, através de um método tomado emprestado do inglês Malcolm Muggeridge, que promoveu a pretensa santa.

O discurso de pretenso ativismo e pretensa sabedoria que, no exterior, envolveu Madre Teresa e que no Brasil promoveu Chico Xavier, foi feito para tentar salvar a ditadura sob a desculpa de que havia uma pessoa a "consolar" e "ajudar" o povo, dentro de uma perspectiva conservadora, embora tida como "ecumênica", "imparcial" e "acima das ideologias e classes". Esquerdistas e ateus foram enganados com esse discurso que prometia uma abordagem "progressista" da bondade humana.

Só que não há como definir como "progressista" uma ideologia religiosa que nunca promete uma "vida melhor" agora, mas só na próxima encarnação ou no além-túmulo. Uma ideologia religiosa que defende que nos conformemos com a nossa desgraça, que aceitemos a servidão, o trabalho exaustivo, a renúncia até ao necessário, e apenas sobrevivamos, sorrindo feito tolos mesmo quando o sofrimento esmaga a alma.

Quanto ao apoio da Folha de São Paulo a Chico Xavier, ele sempre houve. A mídia hegemônica toda apoiava o "médium", o principal da blindagem é que partiu, primeiro, dos Diários Associados - que de maneira parcial esboçou um mito "filantrópico" que antecipou aspectos depois reforçados pelo método de Malcolm Muggeridge - e, depois, pelas Organizações Globo. Apenas havia um veículo midiático para conceber um discurso que, depois, era compartilhado por demais veículos, seja o Grupo Abril, o Grupo Bandeirantes, a Editora Três etc.

Hoje a bola da vez é a Folha. Acreditamos que a Globo não rompeu com Chico Xavier, apenas permitindo que alguns repórteres apresentem informações mais críticas, como os Diário Associados fizeram com os jornalistas de O Cruzeiro. Mas hoje é a Folha que garante maior blindagem, creio que por uma mudança estratégica da FEB e pelo fato de que ideologias conservadoras de apelo populista - como o "espiritismo" e o "funk" - mudem o foco de atuação do Rio de Janeiro para São Paulo.

A gente fica imaginando se o empresário Luiz Frias virou "espírita" ou se ele se acha o predestinado para herdar o espólio de seu irmão, Otávio Frias Filho, que "retornou à pátria espiritual" em 2017. Talvez Luiz Frias esteja esperando por uma suposta psicografia atribuída a Otávio dizendo que o irmão é o favorito para ser o novo dono definitivo do Grupo Folha.

Especulações à parte, uma coisa é certa: Chico Xavier, como um dos maiores paladinos do pensamento ultraconservador brasileiro, é sempre apoiado pelas elites dominantes e pelo poder midiático existente no Brasil. E isso diz muito pelo fato do "médium" nunca merecer estar relacionado às causas progressistas. Mais do que tirar o "médium" do pedestal, temos que tirar o "médium" das fantasias do pensamento desejoso.

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