(Autor: Professor Caviar)
O "espiritismo" brasileiro vai enfrentar um acerto de contas, porque desenvolveu seu roustanguismo enrustido jogando fora o nome de J. B. Roustaing e vendendo gato por lebre, promovendo seu igrejismo como se fosse a genuína Doutrina Espírita original.
Todos os que foram enxotados feito cachorros vira-latas expulsos de uma cozinha vão "voltar": Jean-Baptiste Roustaing, Amauri Xavier, Attila Paes Barreto, Osório Borba, Otília Diogo, e, recentemente, o goiano João Teixeira de Faria, o latifundiário dublê de curandeiro João de Deus, preso desde 16 de dezembro passado e respondendo a oito processos por vários crimes, entre eles crimes sexuais e porte ilegal de arma.
A "narrativa de novela" com que se trabalha a história do Espiritismo, sobretudo na época de exibição do longa-metragem Kardec - O Filme, engana as pessoas diante de uma "doutrina espírita" que mais parece um "roustanguismo sem Roustaing e com Kardec", com um histórico simplório e prosaico demais, no qual se narra a trajetória de um professor que identificou fenômenos espirituais para que, depois, brasileiros completassem com sua religiosidade. Seria fácil demais se fosse realmente assim, não é mesmo?
Observando bem as coisas, escândalos ocorreram ao longo do tempo. Não foram poucos e não foram pequenos, e os piores deles envolveram Francisco Cândido Xavier. O estranho sujeito, uma figura bizarra que professava um Catolicismo tão ortodoxo quanto o de Gustavo Corção, mas foi excomungado por esses católicos por suposta (mas irregular) paranormalidade, é conhecido pelo apelido de Chico Xavier e foi o maior deturpador de toda a história do Espiritismo.
No entanto, todo o jogo de cintura e o chamado "jeitinho brasileiro" fez com que o "espiritismo" brasileiro vendesse gato por lebre. Depois do inicial entusiasmo dos "espíritas" brasileiros com J. B. Roustaing, seu sobrenome passou a ser considerado um palavrão e os próprios roustanguistas brasileiros passaram a falar em "não só entender Kardec, mas vivê-lo no dia a dia", uma famosa demagogia tão falada nos seus meios.
Com isso, a cada escândalo ocorrido, são jogados fora tanto os denunciadores de fora quanto os de dentro ou nomes associados a algum ponto que incomoda e compromete o "movimento espírita". De Roustaing a Amauri Xavier, o "espiritismo" brasileiro enxotou e jogou fora, como lixo de casa, sem resolver os problemas relacionados mas, antes, se livrando daqueles que atrapalham o caminho desse alpinismo social através da religião.
O caso recente de João de Deus é ilustrativo. Antes dos escândalos, ele era considerado um "independente" que estava prestes a ser acolhido pelo "movimento espírita". Um suposto médium, um dublê de filantropo, que tinha ganho documentário - o filme João de Deus - O Silêncio é uma Prece - , aparecia em revistas "espíritas" e era cortejado por famosos, inclusive com um portal manifestando simpatia por ele, o Glamurama, da jornalista Joyce Pascowitch.
Com os escândalos, tudo ruiu e João de Deus foi defenestrado do "movimento espírita". A FEB se apressou em dizer que as práticas dele "não são defendidas" pela federação, e o "movimento espírita" foi logo dizendo que o "médium" e latifundiário goiano "nunca foi espírita". Em outros tempos, um "médium" supostamente "independente", Zé Arigó, morreu num acidente de carro em 1971 depois que ele foi denunciado por fazer cobranças financeiras para suas consultas.
CHICO XAVIER DEVE SER RESPONSABILIZADO POR APOIAR JOÃO DE DEUS
O "médium" Chico Xavier abençoou João de Deus em 1993, como mostra a foto acima, em que o "médium" goiano mais parecia um sósia do personagem Beiçola, de A Grande Família. Nessa época, João de Deus não tinha um estabelecimento certo, e a Casa Dom Inácio de Loyola em Abadiânia - município goiano cujo nome é inspirado na Nossa Senhora de Abadia, santa de devoção de Chico Xavier - e recebeu a seguinte mensagem do "médium", com caligrafia inconfundível:
"Prezado João, caro amigo, Abadiânia é o abençoado recinto de sua iluminada missão e de sua paz. Chico Xavier, 18-9-93".

João de Deus estava sendo acusado de exercício ilegal da medicina e de charlatanismo, acusação que assombra o "movimento espírita" e sua paranormalidade feita ao arrepio da Ciência Espírita, há muitas décadas.
Além disso, Chico Xavier não teria sido ingênuo nem teria cometido um "errinho de nada" com tal apadrinhamento. Ele fez de alguma forma sabendo das coisas. Ou, se não soubesse, deveria ter sentido alguma intuição desagradável, pois acredita-se que, como "maior médium do Brasil", ele tivesse sido também um intuitivo, mesmo com todas as imperfeições hoje admissíveis a ele.
Se tivesse havido uma intuição, Chico Xavier não teria apadrinhado João de Deus. Ele o teria recolhido para uma conversa secreta e dito: "João, sinto terríveis pressentimentos quanto à sua pessoa. Eu não quero julgar nada, mas creio que algo em sua trajetória me causa incômodo, e peço que você trabalhe na Casa Dom Inácio, seu novo lar, mas com muito cuidado. Cultive a humildade, não se ostente e, se cometeu algum erro grave, abandone esses atos e se mantenha vigilante nos seus maus instintos. Quando as más influências lhe oferecerem tentação, recolha-se e ore para Nosso Senhor Jesus Cristo que a força de Deus voltará a se iluminar no seu coração".
Mas isso não aconteceu. Em vez disso, Chico Xavier apadrinhou João de Deus, dando a crer que ele era seu discípulo, o que comprova o vínculo que o goiano tem com o "movimento espírita" - que considera Chico Xavier seu "mestre maior" - que, depois das denúncias do final do ano passado, passou a renegá-lo como se fosse alguém estranho.
Isso é um exemplo de como o "espiritismo" brasileiro empurra seus problemas com a barriga e, agora, vê suas dívidas se cobrarem, na verdadeira "data-limite" em que a religião brasileira que se supôs "esclarecedora, fraternal e caridosa" terá um acerto de contas, porque, em 135 anos de existência, é a religião que assumiu compromissos mais sérios, os quais, todavia, nunca foram devidamente cumpridos.
Por mais imperfeitas fossem as perspectivas do nosso Brasil, nunca chegaríamos a esse momento caótico de hoje, com o governo Jair Bolsonaro sem uma agenda positiva e com um quadro de deterioração social, econômica e política que bota tudo a perder. Na pior das hipóteses, continuaríamos vivendo períodos como os da Era Geisel e da Era FHC, com muita convulsão social, mas sem a desordem escancarada de hoje e com alguma sinalização de relativa, pelo menos mediana, prosperidade econômica.
Hoje se fala muito dos "médiuns que erram", de tal forma que acaba expressando um estranho orgulho de "ser errado", um envaidecimento da "imperfeição" que mais parece um daqueles truques discursivos em que a pessoa diz que "erra muito, é imperfeita e endividada" apenas para cometer um calote moral, sob o pretexto da banalização do erro humano, diante da retórica de que "se todo mundo erra, ninguém será punido".
E tudo isso se baseia num episódio fake que o Catolicismo medieval inseriu no Novo Testamento, o episódio da adúltera - do qual veio o lema "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra" - , uma invenção fictícia que norteia o confuso moralismo conservador que até hoje vigora, no qual as pessoas são rígidas e inflexíveis com outrem, mas querem a complacência absoluta aos seus erros. Enquanto isso, as pessoas que dizem que "sempre erram" continuam atirando as suas pedras aos infortunados...
O "espiritismo" brasileiro vai enfrentar um acerto de contas, porque desenvolveu seu roustanguismo enrustido jogando fora o nome de J. B. Roustaing e vendendo gato por lebre, promovendo seu igrejismo como se fosse a genuína Doutrina Espírita original.
Todos os que foram enxotados feito cachorros vira-latas expulsos de uma cozinha vão "voltar": Jean-Baptiste Roustaing, Amauri Xavier, Attila Paes Barreto, Osório Borba, Otília Diogo, e, recentemente, o goiano João Teixeira de Faria, o latifundiário dublê de curandeiro João de Deus, preso desde 16 de dezembro passado e respondendo a oito processos por vários crimes, entre eles crimes sexuais e porte ilegal de arma.
A "narrativa de novela" com que se trabalha a história do Espiritismo, sobretudo na época de exibição do longa-metragem Kardec - O Filme, engana as pessoas diante de uma "doutrina espírita" que mais parece um "roustanguismo sem Roustaing e com Kardec", com um histórico simplório e prosaico demais, no qual se narra a trajetória de um professor que identificou fenômenos espirituais para que, depois, brasileiros completassem com sua religiosidade. Seria fácil demais se fosse realmente assim, não é mesmo?
Observando bem as coisas, escândalos ocorreram ao longo do tempo. Não foram poucos e não foram pequenos, e os piores deles envolveram Francisco Cândido Xavier. O estranho sujeito, uma figura bizarra que professava um Catolicismo tão ortodoxo quanto o de Gustavo Corção, mas foi excomungado por esses católicos por suposta (mas irregular) paranormalidade, é conhecido pelo apelido de Chico Xavier e foi o maior deturpador de toda a história do Espiritismo.
No entanto, todo o jogo de cintura e o chamado "jeitinho brasileiro" fez com que o "espiritismo" brasileiro vendesse gato por lebre. Depois do inicial entusiasmo dos "espíritas" brasileiros com J. B. Roustaing, seu sobrenome passou a ser considerado um palavrão e os próprios roustanguistas brasileiros passaram a falar em "não só entender Kardec, mas vivê-lo no dia a dia", uma famosa demagogia tão falada nos seus meios.
Com isso, a cada escândalo ocorrido, são jogados fora tanto os denunciadores de fora quanto os de dentro ou nomes associados a algum ponto que incomoda e compromete o "movimento espírita". De Roustaing a Amauri Xavier, o "espiritismo" brasileiro enxotou e jogou fora, como lixo de casa, sem resolver os problemas relacionados mas, antes, se livrando daqueles que atrapalham o caminho desse alpinismo social através da religião.
O caso recente de João de Deus é ilustrativo. Antes dos escândalos, ele era considerado um "independente" que estava prestes a ser acolhido pelo "movimento espírita". Um suposto médium, um dublê de filantropo, que tinha ganho documentário - o filme João de Deus - O Silêncio é uma Prece - , aparecia em revistas "espíritas" e era cortejado por famosos, inclusive com um portal manifestando simpatia por ele, o Glamurama, da jornalista Joyce Pascowitch.
Com os escândalos, tudo ruiu e João de Deus foi defenestrado do "movimento espírita". A FEB se apressou em dizer que as práticas dele "não são defendidas" pela federação, e o "movimento espírita" foi logo dizendo que o "médium" e latifundiário goiano "nunca foi espírita". Em outros tempos, um "médium" supostamente "independente", Zé Arigó, morreu num acidente de carro em 1971 depois que ele foi denunciado por fazer cobranças financeiras para suas consultas.
CHICO XAVIER DEVE SER RESPONSABILIZADO POR APOIAR JOÃO DE DEUS
O "médium" Chico Xavier abençoou João de Deus em 1993, como mostra a foto acima, em que o "médium" goiano mais parecia um sósia do personagem Beiçola, de A Grande Família. Nessa época, João de Deus não tinha um estabelecimento certo, e a Casa Dom Inácio de Loyola em Abadiânia - município goiano cujo nome é inspirado na Nossa Senhora de Abadia, santa de devoção de Chico Xavier - e recebeu a seguinte mensagem do "médium", com caligrafia inconfundível:
"Prezado João, caro amigo, Abadiânia é o abençoado recinto de sua iluminada missão e de sua paz. Chico Xavier, 18-9-93".

João de Deus estava sendo acusado de exercício ilegal da medicina e de charlatanismo, acusação que assombra o "movimento espírita" e sua paranormalidade feita ao arrepio da Ciência Espírita, há muitas décadas.
Além disso, Chico Xavier não teria sido ingênuo nem teria cometido um "errinho de nada" com tal apadrinhamento. Ele fez de alguma forma sabendo das coisas. Ou, se não soubesse, deveria ter sentido alguma intuição desagradável, pois acredita-se que, como "maior médium do Brasil", ele tivesse sido também um intuitivo, mesmo com todas as imperfeições hoje admissíveis a ele.
Se tivesse havido uma intuição, Chico Xavier não teria apadrinhado João de Deus. Ele o teria recolhido para uma conversa secreta e dito: "João, sinto terríveis pressentimentos quanto à sua pessoa. Eu não quero julgar nada, mas creio que algo em sua trajetória me causa incômodo, e peço que você trabalhe na Casa Dom Inácio, seu novo lar, mas com muito cuidado. Cultive a humildade, não se ostente e, se cometeu algum erro grave, abandone esses atos e se mantenha vigilante nos seus maus instintos. Quando as más influências lhe oferecerem tentação, recolha-se e ore para Nosso Senhor Jesus Cristo que a força de Deus voltará a se iluminar no seu coração".
Mas isso não aconteceu. Em vez disso, Chico Xavier apadrinhou João de Deus, dando a crer que ele era seu discípulo, o que comprova o vínculo que o goiano tem com o "movimento espírita" - que considera Chico Xavier seu "mestre maior" - que, depois das denúncias do final do ano passado, passou a renegá-lo como se fosse alguém estranho.
Isso é um exemplo de como o "espiritismo" brasileiro empurra seus problemas com a barriga e, agora, vê suas dívidas se cobrarem, na verdadeira "data-limite" em que a religião brasileira que se supôs "esclarecedora, fraternal e caridosa" terá um acerto de contas, porque, em 135 anos de existência, é a religião que assumiu compromissos mais sérios, os quais, todavia, nunca foram devidamente cumpridos.
Por mais imperfeitas fossem as perspectivas do nosso Brasil, nunca chegaríamos a esse momento caótico de hoje, com o governo Jair Bolsonaro sem uma agenda positiva e com um quadro de deterioração social, econômica e política que bota tudo a perder. Na pior das hipóteses, continuaríamos vivendo períodos como os da Era Geisel e da Era FHC, com muita convulsão social, mas sem a desordem escancarada de hoje e com alguma sinalização de relativa, pelo menos mediana, prosperidade econômica.
Hoje se fala muito dos "médiuns que erram", de tal forma que acaba expressando um estranho orgulho de "ser errado", um envaidecimento da "imperfeição" que mais parece um daqueles truques discursivos em que a pessoa diz que "erra muito, é imperfeita e endividada" apenas para cometer um calote moral, sob o pretexto da banalização do erro humano, diante da retórica de que "se todo mundo erra, ninguém será punido".
E tudo isso se baseia num episódio fake que o Catolicismo medieval inseriu no Novo Testamento, o episódio da adúltera - do qual veio o lema "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra" - , uma invenção fictícia que norteia o confuso moralismo conservador que até hoje vigora, no qual as pessoas são rígidas e inflexíveis com outrem, mas querem a complacência absoluta aos seus erros. Enquanto isso, as pessoas que dizem que "sempre erram" continuam atirando as suas pedras aos infortunados...
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