
(Autor: Professor Caviar)
2016. Com os fatos ocorridos desde 2013, desde as primeiras indignações contra Dilma Rousseff até a eclosão de manifestações pedindo seu impeachment e manifestando apoio à Operação Lava Jato, o "movimento espírita" anunciou: iniciava-se a Regeneração da humanidade, construindo a Pátria do Evangelho, com os brasileiros reagindo indignados contra séculos de corrupção e impunidade.
As manifestações do "Fora Dilma" eram consideradas um "despertar do povo brasileiro" e a Operação Lava Jato era divinizada por atribuir ao juiz Sérgio Moro e sua equipe - da qual se destaca, sobretudo, o procurador Deltan Dallagnol, famoso por um gráfico feito com o programa Microsoft Power Point - uma missão intuída por "benfeitores espirituais". Moro era considerado um "homem simples" que "iniciou sua luta contra a corrupção, como um cidadão brasileiro indignado com a onda de impunidade no Brasil".
Passados três anos, denúncias do jornal The Intercept, cujo editor é o jornalista estadunidense Glenn Greenwald, revelam gravações envolvendo membros da Lava Jato cometendo ações ilícitas, relacionadas principalmente com o autoritarismo de Sérgio Moro e sua atitude, inconveniente para sua então função de juiz, em interferir nas decisões e ações dos procuradores.
O episódio criou um escândalo que aumenta a cada revelação. Há até mesmo um desejo de Moro e Dallagnol em evitar que Fernando Henrique Cardoso, acusado de vários esquemas de corrupção, seja investigado pela Operação Lava Jato. FHC, sociólogo e ex-presidente da República, foi inocentado pelo mesmo Sérgio Moro no escândalo do Banestado (Banco do Estado do Paraná, hoje extinto), em 2003, apesar de provas de envolvimento em corrupção.
Com as denúncias de que as manifestações do "Fora Dilma" - não bastassem as baixarias (com manifestantes exibindo os glúteos ao ar livre), os clamores pelo golpe militar (sob o eufemismo de "intervenção militar") e exibição de símbolos nazistas - foram financiadas pelo empresariado mais corrupto, com o Movimento Brasil Livre denunciado como organização politiqueira e, agora, com a revelação das conversas entre os membros da Operação Lava Jato, o "espiritismo" brasileiro entrou num impasse.
Depois de manifestar seu apoio ao governo Michel Temer e com os "médiuns" Divaldo Franco e João de Deus exaltando a figura de Sérgio Moro, além do apoio do "movimento espírita" às causas político-econômicas pós-2016, como a reforma trabalhista (cujos padrões de precarização do trabalho já eram antecipados por "espíritas" famosos como José Medrado e o falecido Alamar Régis Carvalho) e a Escola Sem Partido (cujos valores já eram adotados pela Mansão do Caminho de Divaldo), os "espíritas" passaram a ficarem mais melindrosos (um termo da moda, usado num diálogo entre Moro e Dallagnol).
Sem assumir uma postura político-ideológica - apesar de, na prática, a quase totalidade do "movimento espírita" tendesse para a direita, como sempre havia sido o mais ilustre membro Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier, que apoiou a ditadura militar e, se vivo fosse, sinalizaria apoio a Jair Bolsonaro) - , os "espíritas" tentam agora dizer que "erraram" e "foram enganados" pelas perspectivas do momento.
Falar é fácil. O problema é que os "espíritas" nunca verificaram se as manifestações eram tendenciosas ou não. É muito cômodo se dizer agora que errou e foi enganado, quando no calor do momento não houve a consciência do risco de certas expectativas.
Ultimamente o "espiritismo" brasileiro anda errando muito em prognósticos e, na véspera da "data-limite" de Chico Xavier - que tem tudo para ser um fiasco, a partir do fato de que o próprio Allan Kardec reprovava a prática (prever o futuro com datas fixas) - , isso soa como um alarme. Daí a onda dos "médiuns que erram" e um estranho "orgulho de ser imperfeito" que os "espíritas" hoje usam para dar a falsa impressão que estão "mais pés-no-chão".
Só que isso mostra uma completa falta de responsabilidade e de respeito humano, e faz com que os "espíritas", incluindo o "renomado" Divaldo Franco, que causou má repercussão fazendo comentários homofóbicos e anti-esquerdistas num evento "espírita", sejam cobrados em seus compromissos.
A religião "espírita" acaba vivendo de caneladas sucessivas, e isso não é de hoje, como vemos na suposta mediunidade de Chico Xavier que, exposta ao rigor da Lógica e da Razão, seria facilmente desqualificada e creditada como fake, não fosse a blindagem que o "médium", falecido em 2002, recebe de "peixes grandes" da nossa sociedade, com uma rede de proteções de fazer inveja a políticos do PSDB.
Todavia, não se pode cometer tais caneladas. Isso desmascara o "espiritismo" brasileiro, que já reconhecidamente é uma religião que se desviou dos ensinamentos kardecianos originais e se demonstrou ideologicamente ultraconservador, por conta de ideias da Teologia do Sofrimento (aceitar a desgraça sem reclamar, trabalhar exaustivamente, meter a cara nas dificuldades da vida etc), e no entanto nunca quer assumir suas decisões negativas ou equivocadas.
É muito fácil relativizar a verdade, sob a falácia de que "uma verdade que vai contra os princípios da Fé é mais mentirosa do que a mentira que se faz em favor do Cristo", que os falsos Erastos do "espiritismo" brasileiro demonstram apoiar. Mas o "espiritismo" não consegue remover as manchas de suas más decisões e, mais uma vez, terá que se explicar por que apoiou tanto a Lava Jato e o "Fora Dilma" sem perceber os aspectos ocultos desses eventos.
Com isso, só podemos dizer que a atual mania dos "espíritas" dizerem que "erram muito", para disfarçar a vaidade e evitar responsabilidades, é um grande ato irresponsável, omisso, que causa vergonha devido a uma religião que nunca cumpriu corretamente os compromissos originais de Kardec. E ainda está para surgir um "Intercept" do "movimento espírita"...
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