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Chico Xavier havia protegido um criminoso?

(Autor: Professor Caviar)

O "médium" e latifundiário João Teixeira de Faria, o goiano João de Deus, tem vínculo, sim, com o "movimento espírita". Sua instituição, a Casa Dom Inácio de Loyola, situada em Abadiânia, a meia-hora da cidade mineira de Uberaba, é uma doação solicitada por Francisco Cândido Xavier, que blindou o pupilo quando este era acusado de charlatanismo e exercício ilegal da medicina.

Duas matérias estabelecem ligação, uma delas referente à acusação contra João de Deus de chefiar uma organização criminosa e o apadrinhamento de Chico Xavier. Deixemos reproduzir um texto, mencionar depois a acusação contra João de Deus, para depois analisarmos a atitude do "médium que erra" mais celebrado do Brasil, o próprio Chico Xavier.

Comecemos, então, com o trecho de uma matéria do jornal O Globo, de autoria de Helena Borges, que foi publicada em 08 de dezembro de 2018 e que chama a atenção pelo motivo que fez Chico Xavier abençoar João de Deus:


Apadrinhado por Chico Xavier, ele mantém o hospital espiritual Casa de Dom Inácio na pequena cidade de Abadiânia (GO) desde 1976. Antes de fundar a Casa, João peregrinava pelo país fazendo cirurgias espirituais.

Em um imagem digitalizada entregue pelo próprio médium à reportagem de O GLOBO, é possível ler a mensagem que teria sido escrita e assinada por Chico Xavier em 1993: “Prezado João, caro amigo, Abadiânia é o abençoado recinto de sua iluminada missão e de sua paz”. Junto ao bilhete, o médium também entregou uma foto na qual um João muito mais jovem recebe uma bênção do mentor espiritual.

O motivo da correspondência era o fato de terem começado a surgir, naquele ano, complicações em torno da atuação do médium. Na época, João foi alvo de denúncias de exercício ilegal da medicina.

Pouco depois, ele também foi acusado de sedução de uma menor de idade, crime pelo qual foi absolvido por falta de provas. O médium também sofreu acusações de pudor, contrabando de minério e até assassinato, mas não foi condenado em nenhum desses casos.

Preso preventivamente por diversas acusações criminais, João de Deus agora é investigado por chefiar uma organização criminosa. É o que diz matéria também publicada em O Globo, no corrente dia de 16 de junho de 2019, de autoria de Patrik Camporez:

BRASÍLIA - Às 9h30m de 12 de dezembro de 2018, o médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus , foi visto pela última vez nas dependências da Casa de Dom Inácio de Loyola, centro espiritual fundado por ele no município de Abadiânia, em Goiás. A aparição durou 20 minutos.

O médium acabara de ser acusado publicamente de cometer violência sexual contra dezenas de mulheres que procuraram o centro espiritual em busca de cura. Foi preso. Sete meses e mais de 90 denúncias de supostas vítimas depois, documentos obtidos pelo GLOBO revelam que os crimes cometidos pelo médium podem ir muito além dos abusos sexuais.

Réu em oito processos por violência sexual, João de Deus é suspeito, em relatório feito pela força-tarefa que investiga o caso, de chefiar uma organização criminosa que construiu um “império” por meio da extorsão de fiéis, lavagem de dinheiro e prática de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional.

Segundo uma outra matéria de O Globo, de 24 de março de 2019, o crime mais antigo do qual João de Deus é acusado data de 1973, quando uma mulher que sobreviveu a uma tentativa de assassinato havia sofrido também abuso sexual. O relato foi transmitido pelo Fantástico, da Rede Globo. Diz a matéria: "De acordo com ela, há 46 anos, depois de ter sido abusada pelo médium, João de Deus teria disparado contra ela três vezes e, por fim, atirado seu corpo num rio. Ela conta que foi resgatada das águas por um pescador.".

Um dado chama a atenção sobre o fato de João de Deus não ser investigado por várias acusações, que vão de enriquecimento ilícito, porte de armas e de ser mandante de dois assassinatos. Diz a matéria da referida data de março passado:

O "Fantástico" também tratou de outros casos pelos quais o médium já havia sido denunciado, entre eles o de ter sido o mandante de dois assassinatos, de tráfico de cocaína e de material radioativo (autunita, mineral que contém urânio). Os casos ou foram arquivados ou terminaram com a absolvição do médium. Para o Ministério Público, as denúncias indicam que o médium contava com uma rede de proteção formada por autoridades de Abadiânia, incluindo policiais e delegados.  

A MODA DOS "MÉDIUNS QUE ERRAM"

A partir desse escândalo, o "movimento espírita" começou a adotar estratégias um tanto suspeitas. A Federação "Espírita" Brasileira foi logo dizendo que João de Deus "nunca foi espírita", chegando a citar que o próprio goiano "havia dito isso". A FEB também se adiantou a dizer que não aprova o atendimento individual dos "médiuns".

Mas a estratégia mais estranha é a moda de se afirmar, com estranhíssimo alarde, sobre a tese dos "médiuns imperfeitos" ou dos "médiuns que erram", dentro de um contexto de banalização dos erros humanos e da mania de pessoas confundirem simplicidade com falha, adotando a preconceituosa expressão "gente como a gente" e a pergunta "quem nunca errou na vida?" como formas de medir a modéstia humana pela frequência dos erros cometidos.

Por ironia, essa visão preconceituosa de atribuir pessoas modestas a tendência de errar muito se deu num caso envolvendo a atriz Letícia Sabatella, que fez o papel da mãe de Chico Xavier, Maria João de Deus, em Chico Xavier - O Filme, de 2010. Ela havia se embriagado numa noite e o caso gerou má repercussão, mas houve uma campanha de solidariedade a ela na Internet e muitas pessoas passaram a defender o direito de se embriagarem, havendo até mesmo manifestações de "deitaço", ou seja, com gente deitando no chão.

Em outra ironia, esses mesmos solidários à embriaguez de Letícia passaram a hostilizá-la nas redes sociais quando ela se manifestou defender ideias de esquerda. Embora fizesse várias críticas ao governo Dilma Rousseff, Letícia defendia sua permanência no governo, acreditando que, pelo menos, ela era aberta ao diálogo e poderia fazer algo pelo Brasil. A atriz chegou a ser xingada nas ruas de Curitiba, cidade onde ela foi criada.

No caso recente, a ideia de que "todo mundo erra" é feita tanto para abafar o caso João de Deus como um problema externo ao "espiritismo" brasileiro quanto para blindar os "médiuns" que atendem a interesses comerciais da religião, como Chico Xavier e Divaldo Franco, famosos pelas vendas de seus livros e, de parte do segundo, de palestras.

A onda dos "médiuns que erram" é um modismo que distorce a ideia de "médium imperfeito" que Allan Kardec havia citado em O Livro dos Médiuns, no Capítulo 20, Influência Moral dos Médiuns, na questão 9:

9. Qual seria o médium que poderíamos considerar perfeito?

- Perfeito? É pena, mas bem sabes que não há perfeição sobre a Terra. Se não fosse assim, não estarias nela. Digamos antes bom médium, e já é muito, pois são raros. O médium perfeito seria aquele que os maus Espíritos jamais ousassem fazer uma tentativa de enganar. O melhor é o que, simpatizando com os bons Espíritos, tem sido enganado menos vezes.

O grande problema que vemos é que Chico Xavier não se encaixa sequer no critério de "bom médium", porque, sabemos, seu histórico de escândalos é muito grande e muito grave. Sejamos lógicos, um bom médium, por mais imperfeito que fosse, não cometeria erros da natureza de Chico, que em muitos casos são de sua própria responsabilidade. 

Se os espíritos inferiores agiram sobre Chico Xavier, ele também fez por manter afinidades vibratórias com estes espíritos, até porque as práicas "mediúnicas" apresentam uma farta quantidade de provas de que não só eram fraudulentas como também as fraudes eram cometidas sob a colaboração de uma equipe da FEB e alguns colaboradores de instituições "espíritas" de Minas Gerais. Até Suely Caldas Schubert, sem querer, publicou uma carta na qual Chico confessa que suas obras "mediúnicas" recebiam revisão dos editores da FEB.

Outro fato grave é que Chico Xavier assinou atestados relacionados a fraudes de materialização. Em 1954, vários documentos vieram à tona, como formas de promover uma carteirada para as ações fraudulentas, com a assinatura do festejado "médium". Esse apoio a práticas farsantes diz muito quanto aos erros de Chico Xavier que não podem de forma alguma serem subestimados. Eis o que O Livro dos Médiuns, no mesmo capítulo, diz a respeito de "médiuns levianos", que com certeza é o que melhor define Chico Xavier, para desgosto de seus seguidores:

6. Se as qualidades morais do médium afastam os Espíritos imperfeitos, porque um médium dotado de boas qualidades transmite respostas falsas ou grosseiras?

- Conheces todos os segredos da sua alma? Além disso, sem ser vicioso ele pode ser leviano e frívolo. E pode também necessitar de uma lição, para que se mantenha vigilante.

Em outras palavras, esta questão já nos alerta quanto a "médiuns" que parecem supostamente generosos, bondosos e simpáticos, que facilmente conquistam as pessoas e que parecem excelentes amigos ou companheiros. O Brasil ainda vai aprender muito sobre os inimigos internos, que não são sempre pessoas casmurras que atuam por trás e podem estar entre aqueles que parecem "amigos demais" elogiando tudo, pagando o chope dos amigos, indo para as mesas de palestras e estando na frente, nas reuniões.

"CARIDADE" COMO MERO ESPETÁCULO, QUE NÃO COMBATE REALMENTE A POBREZA

Se é grave Chico Xavier ter apoiado fraudes de materialização, com supostos médiuns posando para fotos com algodões e esparadrapos enfiados na boca, e modelos encapuzados vestidos de branco com retratos de mortos fotocopiados e colados na parte da cabeça, o apoio dado a João de Deus é da mais extrema gravidade.

Não se pode mais minimizar os erros de Chico Xavier, dizer que "ele errou muito, sim" e depois deixar tudo como está. São erros gravíssimos, de efeitos bastante danosos, que não podem sequer ser subestimados como "problemas menores". Eles desmerecem a pessoa do "médium" e esses erros são suficientes para definir Chico Xavier como uma pessoa mesquinha e deplorável.

O curioso e o mais irõnico é que a matéria de O Globo que alertou sobre o apadrinhamento de Chico Xavier a João de Deus - que contraria a tese da FEB de que o goiano não tem relação com o "movimento espírita" - foi trazido por um veículo das Organizações Globo, a mesma empresa que blindou o "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba nos anos 1970.

Com base no que o inglês Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá, depois denunciada por maltratar doentes e pobres nas casas das Missionárias da Caridade - denúncia depois confirmada por estudos universitários - , a Rede Globo promoveu Chico Xavier como um pretenso filantropo, um falso humanista suja projeção na época, final dos anos 1970, era estratégica para usar a idolatria religiosa para abafar a indignação popular contra a ditadura militar, que era apoiada por Roberto Marinho.

Os moldes da imagem de Chico Xavier como um "caridoso e pacifista", que até hoje é propagada pela mídia, são os mesmos que fazem, hoje, o apresentador e empresário Luciano Huck um pretenso ativista e filantropo. Trata-se de paradigmas de um suposto ativismo pacifista e filantropo, trabalhados de maneira espetacularizada, visando mais promover um suposto benfeitor, às custas de ações meramente paliativas e pontuais que não resolvem o problema da pobreza como um todo, mas apenas atendendo casos pessoais ou parcialmente problemas coletivos. 

Esse padrão de "caridade" é denominado Assistencialismo, que promove mais o prestígio do suposto benfeitor do que realmente atende às carências dos mais necessitados. Portanto, do contrário que se pensa, não é uma caridade que transforma vidas, mas que força a comoção pública a partir de espetáculos de meras ações eventuais.

Na verdade, nem Chico Xavier nem Luciano Huck fizeram ou fazem caridade. O primeiro apenas pedia para seus seguidores doarem objetos e mantimentos e se promovia às custas das ações alheias (que nem de longe combatiam realmente a miséria). O segundo recebe colaborações dos produtores do Caldeirão do Huck e de patrocinadores, estes sim empenhados na tarefa que pode ser apenas um simulacro de ações filantrópicas, pela maneira espetacular e extremamente publicitária com que são divulgados, e dos quais não há repercussão plena fora de seus meios privativos de divulgação.

Afinal, não se vê essas ações de "caridade" refletindo fora de seus veículos de divulgação. No caso de Chico Xavier, as ações repercutem pouco fora do raio de divulgação da FEB e de instituições "espíritas" brasileiras. No caso de Luciano Huck, as ações, embora causassem comoção profunda dos seus espectadores, não repercutem fora do Caldeirão do Huck e não se projetam sequer nas campanhas do Renova BR e Agora, movimentos político-ativistas dos quais o apresentador é um de seus líderes.

APOIO DE CHICO XAVIER A JOÃO DE DEUS É GRAVÍSSIMO

O apoio de Chico Xavier a João de Deus é gravíssimo, pelas razões aqui apresentadas. Afinal, isso mostra o quanto Chico Xavier tem responsabilidade por muitos atos gravemente negativos e pelos efeitos danosos que eles causam.

Mesmo quando admitimos que "médiuns também erram muito", esperaria-se que Chico Xavier tivesse alguma cautela ou espírito de prevenção para que desconfiasse da figura de João de Deus, que acumulava escândalos naquela época, 1993, com duas décadas de denúncias de escândalos, hoje abertamente conhecidos.

Não há como livrar Chico Xavier de responsabilidade, da mesma forma que ele também deve ser responsabilizado pela deturpação do Espiritismo (que não foi um "acidente" causado pelo entusiasmo por suas raízes católicas), pelo apoio às fraudes de materialização, pela defesa da ditadura militar (a ponto de comparecer, com gosto, a homenagens) e pela cumplicidade no caso Otília Diogo. E isso diante de outras coisas aberrantes, como ofender as vítimas do incêndio num circo de Niterói e fazer maledicência contra os amigos de Jair Presente, desconfiados das supostas psicografias.

No caso de João de Deus, não há como inocentar Chico Xavier porque ele tinha condições, mesmo no limite de sua alardeada imperfeição, de se prevenir quanto ao caso, pelo menos sentindo um pressentimento em relação ao goiano, um pressentimento que qualquer mortal poderia ter.

E isso é mais grave ainda, porque, se um sujeito que é considerado "o maior médium do Brasil" é incapaz de ter um pressentimento que qualquer pessoa comum ou mesmo um débil-mental poderia ter, a coisa então se torna mais séria, pois Chico Xavier poderia ter evitado a ascensão de João de Deus que abriu caminho para novos crimes.

Mas, também, o que esperar mesmo de Chico Xavier, um deturpador do Espiritismo e criador de fraudes "mediúnicas"?...

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