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O falso equilíbrio religioso de Chico Xavier

(Autor: Professor Caviar)

Devemos ter muito cuidado com as declarações de Francisco Cândido Xavier sobre Espiritismo e Catolicismo, porque dá a falsa impressão de que ele era fiel à doutrina francesa, quando sabemos que ele a deturpou de maneira vergonhosa e severa.

O falso equilíbrio de Chico Xavier também deve ser observado com muita cautela, pois só no Brasil é que temos a falácia de "equilibrar" os postulados espíritas originais com o igrejismo brasileiro, como se fosse natural a relação binária entre Fé e Razão, quando esta se encontra em desvantagem diante da supremacia daquela.

Publicamos aqui dois depoimentos de Chico Xavier que merecem essa prevenção extrema, porque não são frases que inspirassem admiração, antes manifestassem a falsidade do pretenso médium e sua ambição em desfigurar totalmente o Espiritismo, substituindo o cientificismo original pelo igrejismo medieval.

Além disso, se Chico Xavier criticou o Catolicismo, é porque ele condenou as mudanças que modernizaram essa religião e contrariam a ortodoxia que Chico sempre professou dessa religião, que foi a sua formação religiosa original, por conta de suas raízes sociais e familiares. Vejamos, primeiro, esta mensagem:

"O Catolicismo que, deturpando nos seus objetivos as lições do Evangelho, se tornou uma organização política em que preponderam as caraterísticas essencialmente mundanas".

O alvo dessa crítica é duplo. Vai tanto contra os católicos conservadores, que puseram dúvidas à suposta (e comprovadamente fake) mediunidade de Chico Xavier, quanto para os católicos progressistas que fundaram a Teologia da Libertação, corrente surgida em 1961, lançada pelo II Concílio do Vaticano, e que constituiu em ações progressistas associadas ao esquerdismo católico.

Do lado dos católicos conservadores, podemos citar o célebre Alceu Amoroso Lima, que passou rasteira no "médium" quando este continuou apoiando a ditadura militar e o escritor católico (também conhecido pelo pseudônimo Tristão de Athaíde) passou a se opor ao regime dos generais.

Do lado dos católicos progressistas, da Teologia da Libertação, temos figuras como Dom Paulo Evaristo Arns (bajulado, de maneira hipócrita, por setores do "movimento espírita" que não apreciam essa corrente católica), Frei Beto e Leonardo Boff, todos associados à "organização política em que preponderam as caraterísticas essencialmente mundanas", ou seja, grupos como as Comunidades Eclesiais de Base, muitas delas conhecidas por terem realizado, com o curiosamente ateu Paulo Freire, escolas em que o método desse saudoso professor amaldiçoado por bolsonaristas era adotado para alfabetizar adultos e fazê-los não só lerem, escreverem e trabalharem, mas pensar criticamente o mundo em que vivem e ajudarem-se na transformação de seu meio.

Chico Xavier não via com bons olhos a Teologia da Libertação porque ela seria um concorrente para o "movimento espírita" ainda mais vantajoso, se percebemos que os "espíritas" adotaram para si o mesmo pensamento conservador dos católicos medievais, fazendo apenas pequenas concessões para assuntos ocultistas, como Astrologia e Ufologia, como se a Igreja Católica medieval tivesse feito um acordo com feiticeiros e videntes da época e fundado uma nova religião.

Vamos agora ao que Chico Xavier havia dito a respeito de sua "iniciação ao Espiritismo", publicada no livro No Mundo de Chico Xavier, de Elias Barbosa:

"Logo após os meus primeiros contatos com o Espiritismo, voltei à igreja de Pedro Leopoldo, ainda uma vez, para dar-lhe notícia de minha nova situação. Só podia vê-lo, nesse dia, no confessionário. Para lá me dirigi. Ajoelhei-me, como sempre fazia, e contei-lhe tudo o que se passara, a cura de minha irmã, minha emoção ao conhecer as ideias espíritas, os livros de Allan Kardec que estava lendo, as melhoras do meu estado íntimo.. Ele não me condenou, disse apenas que não ler até aquela ocasião qualquer obra do Espiritismo e por isso nada podia dizer... Disse-me que a Igreja não aprovava o Espiritismo e que eu ainda era muito jovem para assumir compromissos e tomar decisões. Eu respondi a ele que apesar de respeitá-lo muito, ia estudar o Espiritismo e dedicar-me à mediunidade. Ele permaneceu calado. Então, disse a ele que eu não queria separar-me dele, que fora sempre tão bondoso comigo, deixando-o contrariado. Pedi a ele que me desse a mão, e ele me estendeu a mão direita. Depois de beijá-la, pedi a ele que me abençoasse. Ele então me disse: 'Seja feliz, meu filho. Eu rogarei à nossa Mãe Santíssima para que te abençoe e te proteja'... Levantei-me e saí, mas sabendo que havia tomado a decisão de praticar a mediunidade, quando cheguei à porta de saída, voltei-me para vê-lo, ainda uma vez e notei que ele, mesmo de longe, me acompanhava com o olhar e me sorria". 

Lendo esse texto, o desavisado pularia de alegria ao ver que Chico Xavier preferiu o Espiritismo do que o Catolicismo, mas não é bem assim. Primeiro, porque os livros de Allan Kardec que o "médium" recebeu para ler são de traduções deturpadas de Guillon Ribeiro, então um influente dirigente da Federação "Espírita" Brasileira. Segundo, porque Chico não queria romper com o Catolicismo, como mostra sua declaração.

Além disso, devemos desconfiar da alegação de que Chico "ia estudar o Espiritismo e dedicar-se à mediunidade", porque isso ele nunca fez, pelas convicções igrejistas que sempre teve e que, ao longo dos anos, só se intensificou. Até mesmo nos anos 1970, quando, no escândalo dos bastidores do "movimento espírita", místicos e científicos entraram em grave conflito, os "médiuns" (do grupo dos místicos) se aliaram tendenciosamente aos científicos prometendo "colaborar na recuperação do Espiritismo original", Chico Xavier descumpriu sua promessa e, nas últimas décadas, sua atuação foi do mais intenso e obstinado igrejismo, de fazer J. B. Roustaing ficar de queixo caído.

Isso é um falso equilíbrio religioso, conforme observamos na confrontação das duas mensagens. O "heroico" Chico Xavier que "combatia o Catolicismo e seguia fiel na Doutrina Espírita" é uma grande falácia, porque o que ocorreu na verdade é outra coisa completamente diferente do que o superficialismo das palavras mostra.

Chico Xavier condenava os católicos que desconfiaram de sua "mediunidade". E, como conservador, condenava também os católicos que aderiram ao "materialismo de esquerda". Para o "médium", o método educacional de Paulo Freire não tem valor, e sim o método da Escola Sem Partido, porque basta apenas o ensino da leitura, da escrita, do trabalho e da religiosidade. O resto, segundo Chico Xavier, só pode ser obtido no "silêncio da prece" e por decisão de Deus.

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