
(Autor: Professor Caviar)
Pouco tempo atrás, o "médium" Divaldo Franco afirmou que o então juiz da Operação Lava Jato, Sérgio Moro, era um "enviado do Plano Superior Divino". Franco sonhava em ver Moro "presidente do Brasil" e, em palestra ainda mais recente, o "médium" fez gozação com o termo "República de Curitiba" e defendeu que Moro se tornasse um dia presidente do Brasil.
O "movimento espírita", nesses tempos de 2016 para cá, exaltou as manifestações do "Fora Dilma" por várias atribuições: "despertar político da juventude", "começo de regeneração da humanidade", "reação contra a impunidade da corrupção" e atribuía as marchas dos "coxinhas" e "manifestoches" como "intuição de benfeitores espirituais".
Difícil foi entender como se iniciava essa "regeneração" aconselhada por "espíritos benfeitores" com pessoas mostrando cartazes do tipo "Por que não mataram todos (os esquerdistas) em 1964?", manifestantes fazendo saudações nazistas, cartazes exibindo suásticas e faixas pedindo intervenção militar no Brasil.
Apesar disso, todo o "movimento espírita" fazia coro: "Correio Espírita", TV Mundo Maior, Divaldo Franco, o juiz "espírita" Haroldo Dutra, e o "independente" goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus. Todos falando que março de 2016 era um "grande momento para o Brasil".
Foi também anunciada a inauguração da "pátria do Evangelho", por volta de agosto e setembro de 2017, justamente quando a sociedade ultraconservadora apostava em Jair Bolsonaro como opção "viável" para a sucessão de Michel Temer no comando da República.
É certo que o "Clube do Pensamento Desejoso" vai querer desvincular Francisco Cândido Xavier dessa perspectiva toda, mas a verdade é que, se vivo estivesse, Chico Xavier surpreenderia a todos ao apoiar Jair Bolsonaro como um candidato "não necessariamente ideal, porém necessário para que o Brasil encarasse alguns sacrifícios para se tornar a pátria do Evangelho". Não devemos nos esquecer que Chico Xavier era um anti-petista convicto e até mesmo radical. A exemplo de Regina Duarte, Chico tinha medo de ver o sindicalista Lula governando o Brasil.
Agora, vemos o escândalo divulgado pelo jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, sobre as conversas virtuais de Sérgio Moro, então juiz da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, com seu parceiro principal na Operação Lava Jato, o procurador do Ministério Público Federal no Paraná, Deltan Dallagnol.
As conversas apresentam assuntos bastante suspeitos, como a preocupação de ambos com o fato de que a liberação, em 2018, para jornalistas entrevistarem Lula na prisão, iria influir na vitória do Partido dos Trabalhadores nas eleições presidenciais, e, com isso, criticavam a ação de Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, interessado nessa tarefa. A obsessão em banir o PT do favoritismo dos eleitores, da parte dos dois magistrados, é notória.
PAUTAS CONSERVADORAS
Os "espíritas" deixaram os brasileiros em choque ao defender figuras do conservadorismo político. E isso não é de hoje: Chico Xavier deixou bem claro seu conservadorismo convicto e incurável, em toda sua vida. Em dado momento parecia "mais educado" com paradigmas progressistas como o comunismo, o homossexualismo e o hippismo, mas essa atitude não pode ser confundida com apoio, até porque, no caso dos homossexuais (hoje comunidade LGBTT), Chico Xavier foi um dos precursores da "cura gay", que na forma "espírita" consistiria na "reeducação" da pessoa para aceitar as condições sexuais biológicas determinadas por Deus.
Apesar do jeito efeminado, Chico Xavier era homofóbico. Além do mais, sua aparente humildade também não o faz esquerdista, muito pelo contrário, pois suas raízes sociais o fizeram um sujeito bastante conservador. Muita gente duvidaria que Chico Xavier apoiasse Jair Bolsonaro, mas se até Toquinho, músico com suas obras de pura poesia e esperança, apoiou o hoje presidente da República, por que não apoiaria um religioso que se demonstrava abertamente conservador?
Se lessem os livros de Chico Xavier e de Divaldo Franco - que apoiou o golpe político-jurídico de 2016 - , verão o quanto suas pautas são ultraconservadoras. A rigidez da hierarquia, a servidão humana, o trabalho exaustivo, a conformação com a desgraça, tudo isso era defendido pelos "médiuns", sob a desculpa de que os retrocessos, limitações e prejuízos da vida presente seriam "compensados" pelas "bênçãos da vida futura".
Isso é muito evidente, mas a narrativa que a grande mídia - curiosamente, durante a ditadura militar - fez em favor dos "médiuns", promovendo-os como pretensos "ecumênicos" através de uma retórica que enganou até esquerdistas e ateus, tentou abafar isso.
A MODA DOS "MÉDIUNS QUE ERRAM"
Diante do escândalo das conversas de Moro e Dallagnol, perguntamos se, na moda dos "médiuns que erram", eles "maravilhosamente falharam" em suas pretensas profetizações. Se os fatos de março de 2016 foram "atos falhos", que a inauguração da "pátria do Evangelho" foi cancelada e adiada para mais tarde, que as "marchas dos coxinhas" sofreram interferência de "espíritos obsessores" e, mais uma vez, os "médiuns" erraram em suas análises, isso também deve ser questionado.
Em todo caso, se o "movimento espírita" desembarcar do bolsonarismo que apoia às escondidas, certamente eles não escolherão o esquerdismo petista. Eles, quando muito, devem embarcar nos movimentos da centro-direita "cidadã", representada por Luciano Huck, explícito e fiel adepto de Chico Xavier. O "espiritismo" brasileiro é conservador e temos que aceitar isso e não cair nas tentações fáceis do pensamento desejoso, que tenta colocar a fantasia acima da realidade.
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