(Autor: Professor Caviar)
Os "espíritas" brasileiros juram de pés juntos que prestam "fidelidade absoluta" a Allan Kardec e "rigoroso respeito" aos seus postulados.
Mas falar é muito fácil e, observando as ideias e práticas do "movimento espírita", sabe-se que isso não é verdade. Na maior parte do tempo, o legado kardeciano é traído violentamente, quando "espíritas" apelam para o igrejismo ocultista que o pedagogo francês reprovaria sem um milésimo de hesitação.
A tese do sofrimento do "espiritismo" brasileiro é um grave exemplo. Ultimamente os "espíritas" andam fazendo apelos não só para as pessoas "suportarem o sofrimento", a pretexto de receber as "bênçãos futuras", mas a "amar o sofrimento", a "sentir prazer pela própria desgraça". Chegam mesmo a dizer que o indivíduo é "o maior inimigo de si mesmo" e por isso "esse inimigo deve ser combatido", para que se obtenha "benefícios certos".
Seus pregadores ignoram que estão defendendo a Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica. E, mediante seus desfiles de palavras bonitas, que não raro bajulam não só Kardec e Jesus de Nazaré, mas também Erasto, São Luís e outros espíritos que pregavam bom senso e coerência, os "espíritas" brasileiros desconhecem que, na verdade, pegaram a Teologia do Sofrimento por intermédio de uma figura muito incômoda: o deturpador francês Jean-Baptiste Roustaing.
Hoje Roustaing é um palavrão dentro do "movimento espírita". E isso falando entre os próprios deturpadores, que, artífices da hábil falácia, sempre alertaram que "não há espiritismos, mas um único Espiritismo, o de Kardec". E quem tanto fala assim, em palestras para ricos e novos-ricos, tem horror da pronúncia do nome de Roustaing, não pelas suas ideias, mas pela má reputação que ele atingiu e que pode contagiar seus herdeiros.
Roustaing é uma espécie de Eduardo Cunha "espírita". Assim como o ex-presidente da Câmara dos Deputados, que armou todas as condições para o projeto político do presidente da República, Michel Temer, Roustaing criou as bases igrejeiras para o "espiritismo" no Brasil e, comprovadamente, teve as ideias do livro Os Quatro Evangelhos habilidosamente adaptadas por Francisco Cândido Xavier à realidade brasileira.
Sim, Chico Xavier foi roustanguista, constatação facilmente comprovada por suas ideias, e dá pena ver os fanáticos seguidores do beato de Pedro Leopoldo acreditarem que havia sido reencarnação do Codificador. O livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, escrito a quatro mãos por Chico e Antônio Wantuil de Freitas, mas levianamente atribuído ao "espírito Humberto de Campos", é na prática uma "tradução brasileira" de Os Quatro Evangelhos, no sentido do pretenso messianismo roustanguista trazido ao público brasileiro.
Pois Roustaing definia a encarnação humana como um "castigo", contrariando Kardec, que a definia como um aprendizado. Os "espiritas" atuais, metidos em sua "fase dúbia", acendendo mil velas para lados bastante opostos, tentam enrolar na sua Teologia do Sofrimento e chegam a dizer que o "sofrimento" não é "sofrimento", mas "aprendizado" e "desafios", ou, citando uma palavra favorita deles, "provas".
Paciência. Contradição não é equilíbrio e os "espíritas" cada vez mais se tornam prolixos e rebuscados para explicar por que dizem uma coisa e depois dizem outra, cometendo equívocos diversos para depois pregar "coerência espírita", estufando o peito, se impondo no balé das palavras, para impressionar os incautos.
Se Roustaing é hostilizado por suas ideias, renegado como "pessoa física", ele no entanto é defendido como "pessoa jurídica", através do legado de suas ideias, que Chico Xavier pôde esconder bem em seus livros que se autoproclamavam "kardecianos" embora traíssem a obra de Kardec o tempo todo.
Daí a visão do "sofrimento", que os "espíritas" explicitamente, mas de forma não assumida e um tanto envergonhada, pegaram de Roustaing, o advogado francês que acreditava que humanos reencarnariam em vermes e que o sofrimento de Jesus nunca existiu, porque ele era um mero fluído. Para defender o sofrimento, vale qualquer lorota.
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