(Por Marilena Sousa de Lima, via e-mail)
Quanto fiquei decepcionada quando soube que o badalado médium - ou pelo menos o que a gente considera como tal - , Divaldo Franco, disse, numa entrevista depois de um evento espírita, que os refugiados do Oriente Médio, principalmente da Síria, eram reencarnações de colonizadores que dizimaram povos na América Latina.
Quanta frustração diante de um orador que eu admirei tanto e vi muitos vídeos. Durante muitos anos, eu, meu marido e meus filhos, acreditávamos em suas palavras, imaginávamos que ele era um sábio, mantinha contato direto com os mais elevados espíritos, e era um porta-voz genuíno dos ensinamentos cristãos.
Eu já começava a pensar e refletir se isso tudo não era ilusão, quando entrei em contato com pessoas que me lembravam de escândalos que eu não acreditava terem ocorrido. Desde que uma amiga minha me falou dizendo que Divaldo Franco começou plagiando Chico Xavier, eu ouvia pacientemente e, no começo, não dei nenhum crédito. Não acreditava que duas pessoas tão maravilhosas fossem capazes de tamanhos escândalos.
Só depois vi que estava mergulhada numa ilusão, que era justificada pela educação religiosa que tivemos, sempre a confiar em quem tem fala macia e vincula sua imagem ao lado de crianças pobres e velhinhos doentes. O que a Internet está mostrando de fraudes mediúnicas faz a gente parar para pensar, e ver se não estamos sendo ignorantes na nossa fé, e o quanto estamos aceitando coisas absurdas "em nome do amor".
Quando vi os noticiários dos refugiados do Oriente Médio, sempre tive um sentimento de misericórdia. Eu e meu marido conversávamos muito, imaginando o que eram aquelas famílias, fugindo de áreas em conflito, com atentados a bomba matando civis, destruindo casas, arruinando vidas. Nós vivemos um conforto satisfatório, mas aquelas famílias, fugindo levando o que podem levar, assustadas, traumatizadas, sonhando pesadelos todos os dias e vivendo na carne o pesadelo cotidiano capaz de destruir esperanças nas almas das crianças, só querem algum sossego e um mínimo de qualidade de vida e dignidade.
Mas aí leio que Divaldo Franco acusa tais pessoas de terem sido, em outras vidas, aqueles colonizadores que escravizaram e golpearam a faca muitos povos, destruindo com incêndios muitas casas, e fiquei muito chocada. Aí eu vi a insensibilidade de um senhor desses, famoso por tão belas palavras e uma oratória melodiosa e segura, que pensávamos ser a Sabedoria personificada.
Me lembro de um episódio de um menino de uns três anos que era de uma família de refugiados e que, num naufrágio, teria morrido afogado. Seu corpo foi encontrado depois e a imagem chocou o mundo. Não me preocupa, diante dessa imagem chocante, em saber se esse belo menino, que poderia ser um filho nosso, ter sido um navegador tirânico que jogava pobres coitados ao mar.
Já vi casos de pessoas que, por acusações semelhantes a de Divaldo, foram processadas por danos morais. E a minha decepção é mais grave quando se vê que são os próprios espíritas que falam para ninguém acusar quem quer que fosse. Chico Xavier pedia para outros não acusarem, mas apontava o dedo acusador aos outros, se necessário. Ele ofendeu até os amigos de um jovem falecido, Jair Presente, depois que o dito médium de Minas Gerais usou o nome dele para produzir mensagens e os amigos, com muita razão (eles conviveram com Jair), manifestavam sua desconfiança.
Eu, meu marido e meus filhos já estamos pensando em largar o Espiritismo, porque virou uma doutrina do juízo de valor, preocupada mais em pedir para as pessoas aguentarem o sofrimento pensando nas tais "bênçãos da vida eterna", mas também acusando os pobres coitados de terem sido tiranos em outras vidas. Uma religião assim não nos traz conforto, só traz angústia. Para que continuar nela, se ela não estimula nem a fé que diz defender?
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