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A verdadeira identidade de André Luiz finalmente revelada - parte 3

(OBS de Profeta Gandalf): Uma das figuras mais controversas do Movimento Espírita brasileiro com certeza é o espírito que atende pelo singelo nome de  André Luiz. 

Sem existência comprovada, sem fotografias, de uma suposta evolução espiritual praticamente automática e de obras cheias de absurdos, aceitos sem contestação pelos seguidores de uma doutrina supostamente racional, mas que não analisa nada, Luiz foi obra de um autêntico pseudo-sábio disposto a vandalizar a doutrina, desviando os seus seguidores do bom senso, colocando suas crendices pessoais como se fosse um "complemento" a codificação karceciana.

Desmascarar esse picareta é uma honra e prova de respeito, pois Kardec mesmo havia alertado mais uma vez da necessidade de desmoralizar esses farsantes. Acabar com a mentira, embora poucos percebam, também é uma forma de caridade.

A VERDADEIRA IDENTIDADE DE ANDRÉ LUIZ FINALMENTE REVELADA

Eduardo José Biasetto - Obras Psicografadas

EVIDÊNCIAS DE SIMILARIDADES

1ª) Efetivamente, o livro de Owen inicia-se com uma mensagem recebida em 23/09/1913, alegadamente de sua mãe desencarnada; logo no início, há um trecho que me chamou a atenção, pois a personagem diz textualmente:

“Sobre nosso lar. É muito brilhante e lindo, e nossos companheiros das esferas mais altas têm sempre vindo a nós para nos animarem a seguirmos em nosso caminho para frente” (p. 16).

Na mensagem de 10/10/1913, o tema de o nosso lar retorna:

“Eles vão lhes mostrar mais de nosso lar e seus arredores e, se quiserem, ficarão felizes em acompanhá-los pelos campos afora, já que por lá há muito de seu interesse para ser mostrado” (p. 48).

Comentário: nas duas passagens, a suposta mãe de Owen refere-se à sua “cidade espiritual”, sua nova morada, com a expressão literal nosso lar, tanto no sentido afetivo de “nossa morada”, “nossa casa” quanto de modo denotativo, ou seja, para nominar sua “colônia espiritual”. A presença deste nome é extraordinariamente significativa, afinal, é o exato título da obra de Xavier, segundo este, o nome de uma “colônia espiritual” localizada acima da cidade do Rio de Janeiro. A diferença entre um e outro está apenas na letra maiúscula.

2ª) Na mensagem de 23/09/1913, o “espírito” da mãe de Owen oferece a seguinte descrição, referindo-se à “colônia espiritual” na qual se encontra:

“A Terra aperfeiçoada. (…) Temos colinas, rios, lindas florestas e casas também, e todo o trabalho daqueles que vieram para cá antes de nós, para deixarem tudo pronto. Estamos agora a trabalho, na nossa vez, construindo e arrumando para aqueles que ainda devem continuar a sua batalha na Terra, e quando vierem para cá, encontrarão todas as coisas prontas” (p. 16).

Na mensagem de 20/10/1913, o tema da Terra aperfeiçoada retorna:

“Eu era lenta para aprender tudo que a frase que eu já lhe transmiti implicava, “Terra aperfeiçoada.” Temo que muitos de vocês, quando vierem para cá, ficarão muito chocados ao verem quão naturais são todas as coisas, mesmo que mais bonitas que as da Terra” (p. 62).

Por sua vez, em Nosso lar, André Luiz descreve do mesmo modo a natureza que encontra no além, assim como as características de sua nova morada:

“Deleitava-me, agora, contemplando os horizontes vastos, debruçado às janelas espaçosas. Impressionavam-me, sobretudo, os aspectos da Natureza. Quase tudo, melhorada cópia da Terra. Cores mais harmônicas, substâncias mais delicadas. Forrava-se o solo de vegetação. Grandes árvores, pomares fartos e jardins deliciosos. Desenhavam-se montes coroados de luz, em continuidade à planície onde a colônia repousava. (…) destacando-se algumas casinhas encantadoras, cercadas por muros de hera, onde rosas diferentes desabrochavam” (pp. 45-46).

Comentário: a suposta mãe de Owen, na condição de espírito, ou seja, desencarnada, afirma que a “colônia espiritual” na qual vive é a Terra aperfeiçoada (natural e mais bela do que a Terra material), que possui colinas, rios, lindas florestas e casas. Por sua vez, André Luiz afirma que “colônia espiritual” na qual vive é melhorada cópia da Terra (a natureza é mais harmônica e delicada do que a Terra material), que possui montes, vegetação, grandes árvores e casinhas – tudo no mesmo momento narrativo, ou seja, ao tema da Terra mais perfeita seguem descrições semelhantes nos dois textos, conduzidas com surpresa por dois personagens igualmente recém-chegados ao além. Embutidos na obra do segundo autor estão os mesmos pressupostos filosóficos da obra do primeiro: as crenças neoplatônicas (culturais e bem terrenas) de que o mundo no além (o mundo das idéias platônico) é semelhante e superior ao mundo material. A suposta mãe de Owen faz uma descrição das belezas do lugar, terminando seus apontamentos com a afirmação de que há, por exemplo, casas numa cidade espiritual. André Luiz também faz descrição das belezas de uma cidade espiritual, citando a existência de casinhas, situação que denuncia a verdadeira e idêntica natureza materialista dessas idéias, em discursos pretensamente espiritualistas.

3ª) Em A vida além do véu, o tema material da água é recorrente; em mensagem recebida em 08/11/1917, o “médium espiritualista” inglês “psicografa” uma curiosa tese sobre a natureza da água que existiria no além:

“Você já leu sobre a Água da Vida. Esta frase literalmente incorpora uma verdade, porque as águas das esferas têm propriedades que não são encontradas nas águas da Terra, e propriedades diferentes são encontradas em diferentes águas. As águas de um rio, fonte ou lago são sempre tratadas por Espíritos elevados e dotadas com virtudes de fortalecimento ou iluminação do espírito. Algumas vezes, as pessoas banham-se nelas e adquirem força corporal pelas vibrações vitais que foram colocadas na água pelo exercício de algum grupo de anjos-ministros” (p. 183).

Anteriormente, em mensagem de 20/10/1913, a principal propriedade da água “das esferas”, do além (pensado aqui como esferas aristotélico-tomistas concêntricas, que se comunicam através de “pontes” que conduzem das “regiões inferiores” às superiores, com habitantes assim igualmente hierarquizados) já havia sido adiantada – nutrir:

“As águas que caíam (…) eram coletadas numa corrente maior que partia de um lado da Cidade e caía na planície abaixo, uma cascata brilhante de muitas colorações e de um brilho cintilante. Ela continua atravessando a planície, uma correnteza bem larga suavemente fluindo sobre as areias, e vimos, aqui e ali, algumas crianças banhando-se nelas, jogando água em seus corpos lindos com imensa alegria. Não pensei muito nisto até que minha guia fez com que notássemos que estas crianças eram encorajadas a banharem-se nestas águas, pois são carregadas eletricamente e dão força a elas, pois muitas delas vêm para cá bem fraquinhas, requerendo este tipo de nutrição” (pp. 62-63).

Como lemos no texto acima, a “cidade espiritual” na planície é tema recorrente do texto de Owen. Assim também no texto de Xavier, o Nosso lar fica numa planície (a “planície onde a colônia repousava”, p. 46). De modo similar, igualmente em maiúsculas (Água da Vida/Bosque das Águas), enredo similar e idêntico momento da narração, o tema da água espiritual (que se torna nutritiva e curativa ao corpo e alma quando tratada por ministros angélicos) surge em Nosso lar:

“Estamos no Bosque das Águas. (…) As águas que servem a todas as atividades da colônia partem daqui. Em seguida, reúnem-se novamente, abaixo dos serviços da Regeneração, e voltam a constituir o rio, que prossegue o curso normal. (…) Aqui, ela é empregada sobretudo como alimento e remédio. Há repartições no Ministério do Auxílio absolutamente consagradas à manipulação de água pura, com certos princípios suscetíveis de serem captados na luz do Sol e no magnetismo espiritual. Na maioria das regiões da extensa colônia, o sistema de alimentação tem aí suas bases. Acontece, porém, que só os Ministros da União Divina são detentores do maior padrão de Espiritualidade Superior, entre nós, cabendo-lhes a magnetização geral das águas do Rio Azul, a fim de que sirvam a todos os habitantes de “Nosso Lar”, com a pureza imprescindível. Fazem eles o serviço inicial de limpeza e os institutos realizam trabalhos específicos, no suprimento de substâncias alimentares e curativas” (pp. 60-62).

A essa altura, serviram-me (…) água muito fresca, que me pareceu portadora de fluidos divinos. Aquela reduzida porção de líquido reanimava-me inesperadamente. Não saberia dizer que espécie de sopa era aquela; se alimentação sedativa, se remédio salutar. Novas energias amparavam-me a alma, profundas comoções vibravam-me no espírito” (pp. 27-28).

“Por mais de seis meses, os serviços de alimentação, em “Nosso Lar”, foram reduzidos à inalação de princípios vitais da atmosfera, através da respiração, e água misturada a elementos solares, elétricos e magnéticos” (p. 57).

Comentário: ao ler as duas obras, percebe-se que o tema da água é extremamente recorrente. A água “espiritual”, tratada por anjos/ministros/espíritos superiores, torna-se nutritiva e curativa, numa “cidade espiritual” construída sobre uma “planície” e atravessada por um “rio” etc. Não penso que estas sejam apenas “coincidências” das duas narrativas, das supostas “cidades espirituais” ou da vida do além…

4ª) Há várias palavras que se repetem com freqüência nos dois livros; por exemplo, torre (no sentido de torre de edificações), governador, ministros, ministérios etc. Mas a palavra recorrente que mais chama a atenção é tutelado. Em A vida além do véu, o médium que recebe a história é um tutelado de espíritos:

“E agora, meu amigo e tutelado, gostaria de poder capacitá-lo…” (p. 107). “Meu querido amigo e tutelado, estas coisas deveriam ser de outra forma…” (p. 109). “E agora, meu tutelado e companheiro servil no Exército de Deus…” (p. 112). “Querido amigo e tutelado, esta noite falarei…” (p. 133). “Olhe adiante, amigo e tutelado, pois…” (p. 139).

Em Nosso lar, o personagem André Luiz também é citado como alguém tutelado:

“Guardem nosso tutelado no pavilhão da direita. Esperam agora por mim. Amanhã cedo voltarei a vê-lo” (p. 27). “É você o tutelado de Clarêncio? A pergunta vinha de um jovem de singular e doce expressão.” (p. 36).

Comentário: no livro de Owen, o espírito comunicante informa que a condição do médium é a de alguém tutelado, e segue explicando coisas a este, oferecendo informações da “esfera espiritual” etc. No livro de Xavier, Clarêncio e Lísias, veteranos, referem-se a André Luiz, recém-chegado, como alguém tutelado, e também seguem explicando coisas a ele, oferecendo informações da “esfera espiritual” etc.

5ª) Nos dois livros, várias passagens mencionam a presença da música. Em A vida além do véu, lemos a seguinte passagem, em mensagem de 23/09/1913:

“Então, começamos a cantar e, apesar de que não podíamos ver instrumentos, mesmo assim, a música instrumental misturou-se com nosso canto e uniu-se” (p. 17).

Em Nosso lar, dentre outras passagens, a seguinte tem como tema a música:

“Em plena via pública, ouviam-se (…) belas melodias atravessando o ar. Notando-me a expressão indagadora, Lísias explicou fraternalmente: – Essas músicas procedem das oficinas onde trabalham os habitantes de “Nosso Lar” (p. 67).

Comentário: em várias passagens dos dois livros, há destaque para a presença, importância e beleza da música. Os neófitos nas duas “colônias” são surpreendidos com músicas que surgem quase que do nada. Sabe-se que os sons existem propagando-se no ar e, portanto, parece legítimo pressupor que, para o primeiro autor, existiria “ar espiritual”, sendo que o segundo autor também persegue o primeiro neste ponto de seu materialismo “espiritualista”.

6ª) Nos dois livros, várias passagens mencionam aves. Em A vida além do véu, Owen escreveu na mensagem de 02/10/1913:

“Outra coisa que notaríamos seriam bandos de aves vindos de longa distância, e indo, com precisão perfeita, a algum lugar particular. Há pássaros mensageiros treinados na Terra, mas não como esses são treinados. Em primeiro lugar, eles jamais são mortos (???) ou atacados, eles não têm medo de nós. Estes pássaros são um dos meios que usamos para enviarmos mensagens de uma colônia à outra. (…) Estes pássaros estão sempre voando, e são criaturas queridas e amáveis. Parecem saber qual é a sua obrigação, e amam fazer isso” (p. 37).

Em Nosso lar, no mesmo instante da narração, aves também surgem:

“Aquelas aves – acrescentou, indicando-as no espaço -, que denominamos íbis viajores, são excelentes auxiliares dos Samaritanos, por devorarem as formas mentais odiosas e perversas, entrando em luta franca com as trevas umbralinas” (p. 184).

Comentário: as passagens apresentam semelhanças no texto, no contexto e na idéia. As aves não só exercem uma função especial em ambos os livros (embora as funções sejam diferentes) como a informação deste fato é transmitida em situações semelhantes: em Owen, um personagem explica ao neófito que as aves viajantes espirituais são treinadas e realizam suas obrigações para com os espíritos humanos, desempenhando a função de mensageiras. Em Nosso lar, a enfermeira Narcisa explica a André Luiz que os íbis viajores espirituais auxiliam os samaritanos em funções belicosas, devorando “formas mentais” malignas e lutando contra as “trevas umbralinas”[14].

7ª) Outro tema presente nos dois livros é o da guerra. Em A vida além do véu, a 1ª Guerra Mundial é citada numerosas vezes, como na mensagem de 08/09/1917:

“Esta Grande Guerra é, nos eternos conselhos, nada mais que um ronco na respiração de um gigante adormecido, sem descanso, porque sobre seu cérebro entorpecido estão sendo impingidos raios de luz que seus olhos não podem ver, e uma música que não pode ouvir está sendo enviada sobre ele…” (p. 181).

Em Nosso lar, em variadas oportunidades, o tema da 2ª Guerra Mundial comparece; aqui, o ano seria 1939:

“Negras falanges da ignorância, depois de espalharem os fachos incendiários da guerra na Ásia, cercam as nações européias, impulsionando-as a novos crimes” (p. 131).

Comentário: a princípio, não haveria problema algum, porque o livro de Owen começou a ser “recebido” quando se desenrolava a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), enquanto a história de o Nosso lar se desenrola durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945). Não obstante, pergunto: não é mais uma “coincidência” aparecer nos dois livros, de modo tão recorrente, o tema da guerra, todas as desgraças envolvidas nas batalhas, as lamentações e tudo mais?

8ª) Em A vida além do véu, quando as esferas inferiores são mencionadas, lemos na mensagem obtida na noite de ano novo de 1917:

“Conforme descíamos, nossos olhos acostumavam-se à escuridão, e podíamos ver sobre nós, como numa noite alguém pode ver a região fora da cidade pelas chamas avermelhadas nas torres de observação. (…) Havia árvores também, algumas muito grandes, e estas com folhas nada graciosas. (…) Aqui e ali, atravessávamos cursos d’água com pouca água e cheios de pedregulho e pedras afiadas, e a água era pegajosa e fedida pelo lodo” (p. 243).

Por sua vez, o umbral é assim descrito por André Luiz, em Nosso lar:

“A paisagem, quando não totalmente escura, parecia banhada de luz alvacenta, como que amortalhada em neblina espessa, que os raios de Sol aquecem de muito longe. (…) De quando em quando, deparavam-se-me verduras que me pareciam agrestes, em torno de humildes filetes d’água a que me atirava sequioso” (pp.17 e 23).

Comentário: André Luiz afirma que, no “umbral”, há humildes filetes d’água; o autor do livro A vida além do véu diz que, nas “esferas inferiores”, há cursos d’água com pouca água (até o apóstrofe, em “d’água”, foi igualmente utilizado). Há outras semelhanças, no momento da narrativa e nos termos ligeiramente modificados: “luz alvacenta/neblina espessa” correspondem a “escuridão/numa noite”; “verduras que me pareciam agrestes” correspondem a “folhas nada graciosas”.

9ª) Sobre as regiões das trevas e seu papel salvífico, Owen escreveu o seguinte em A vida além do véu, em mensagem de 04/01/1918:

“Daquela colônia, fomos adiante às regiões das trevas. Fizemos o que nos foi possível, indo de grupo em grupo onde havia conjuntos de casas ou onde fogueiras ardiam, e ministramos conforto e advertências àqueles que nos recebiam. Mas a maioria não estava com muita prontidão para isto. Uns poucos seriam capazes de conduzir seus passos para acima daquele lugar, mas a maior parte desceria mais, para a miséria dos lugares abaixo, antes que sua dureza desse lugar ao desespero, e o desespero fizesse com que clamassem, e uma cintilação de luz acendesse nestas pobres almas perdidas” (p. 246).

Igualmente, as trevas das regiões mais inferiores cumprem um papel regenerador em Nosso lar:

“Chamamos trevas às regiões mais inferiores que conhecemos. (…) Outros, preferindo caminhar às escuras, pela preocupação egoísta que os absorve, costumam cair em precipícios, estacionando no fundo do abismo por tempo indeterminado” (p. 244).

Segundo o personagem André Luiz, seu resgate só ocorreu quando, levado ao extremo desalento pela pressão do infernal purgatório espírita, reconsiderou sua atitude em face da religião:

“Era imprescindível ocultar-me das enormes manadas de seres animalescos, que passavam em bando, quais feras insaciáveis. Eram quadros de estarrecer! acentuava-se o desalento. Foi quando comecei a recordar que deveria existir um Autor da Vida, fosse onde fosse. Essa idéia confortou-me. Eu, que detestara as religiões no mundo, experimentava agora a necessidade de conforto místico. (…) E, quando as energias me faltaram de todo, quando me senti absolutamente colado ao lodo da Terra, sem forças para reerguer-me, pedi ao Supremo Autor da Natureza me estendesse mãos paternais, em tão amargurosa emergência. Quanto tempo durou a rogativa? Quantas horas consagrei à súplica, de mãos-postas, imitando a criança aflita? Apenas sei que a chuva das lágrimas me lavou o rosto; que todos os meus sentimentos se concentraram na prece dolorosa. (…) Foi nesse instante que as neblinas espessas se dissiparam e alguém surgiu, emissário dos Céus. Um velhinho simpático me sorriu paternalmente. Inclinou-se, fixou nos meus os grandes olhos lúcidos, e falou: (…) – Prestemos ao nosso amigo os socorros de emergência. Alvo lençol foi estendido ali mesmo, à guisa de maca improvisada, aprestando-se ambos os cooperadores a transportarem-me, generosamente. Quando me alçavam, cuidadosos, Clarêncio meditou um instante e esclareceu, como quem recorda inadiável obrigação: – Vamos sem demora. Preciso atingir Nosso Lar com a presteza possível” (pp. 24/25).

Comentário: nas duas obras, as narrativas sobre as regiões inferiores, o umbral e as trevas são muito semelhantes. No espiritualismo de Owen, protestante anglicano e crente num céu elevado e num purgatório “infernal”, não surpreende que se imagine uma descida a um lugar “infernal”, dantesco. Contudo, o espiritismo kardecista (até a influente inflexão de Xavier) negava a existência de algo como um lugar purgatorial “infernal” (pois, com razão ou não, para Kardec, a eventual infelicidade após a morte seria um estado íntimo); menos ainda que exista um “em cima” e um “em baixo” no cosmos. Ao seguir Owen nesse ponto, Xavier reintroduziu um tema cristão antigo no espiritismo, conduzindo-o a um “chiquismo” e à Idade Média aristotélico-tomista (a estrutura do mundo do além – longe de “complementar o pensamento de Kardec”, como os simpatizantes descrevem o trabalho de Xavier, este o modificou num sentido retrocessivo) e dantesca (a introdução de um purgatório no espiritismo – como lemos acima, o “inferno” purgatorial do umbral, no enredo de o Nosso lar, exerceu seu papel regenerador e reconduziu André Luiz a Deus).

10ª) Distintamente de Xavier, que comprou de Owen as esferas aristotélico-tomistas, Allan Kardec era um newtoniano e, portanto, advogava outra visão de mundo, na qual não existem lugares fixos no cosmos, tais como o céu e o inferno. Acerca das esferas espirituais que circundariam a Terra, Owen escreveu na mensagem de 24/10/1913:

“Podemos, para ilustrar e entender, colocar desta forma: a Terra é o centro sobre o qual muitas esferas estão, e está incluída nestas esferas todas. E os residentes da vida terrestre estão potencialmente em contato com todas as esferas, e realmente estão, na proporção de sua altitude considerada espiritualmente – espiritualmente, porque estas esferas são espirituais, e não materiais” (pp. 88-89).

Sem dúvida, há aqui uma variante do modelo do cosmos de Aristóteles e Ptolomeu, com Aquino e a Igreja Católica tornado “espiritual”.

AMANHÃ: MAIS EVIDÊNCIAS DE SIMILARIDADES

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