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O Brasil da "justiça" seletiva e os juízes substitutos


(Autor: Professor Caviar)

Antagônicos, o "médium" Francisco Cândido Xavier e o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva se tornaram alvos da seletividade da Justiça brasileira.

Representando simbologias que enganam pela aparência - o esperto Chico Xavier que ilude pela aparência "singela" e "inocente" e o "grosseiro" Lula que, na verdade, se trata de uma pessoa sensível e afetiva - , tanto o religioso quanto o político se situam em posições opostas em termos de abordagens sociais.

O tão adorado Chico Xavier é, na verdade, uma figura que sempre foi ultraconservadora, apesar dos progressistas se sentirem seduzidos pelos seus apelos adocicados associados a conceitos manjados e, nem sempre, realistas de "paz" e "solidariedade". Seus comentários moralistas, relacionados ao "sofrimento em silêncio" e a paradigmas relacionados a Família, Deus e outros símbolos religiosos, são confirmadamente reacionários e se encaixam, como uma luva, à agenda bolsonarista. Até agora nenhum progressista se atentou com isso e há um grande temor das esquerdas, como galinhas endeusando uma raposa, acolherem o reacionário "médium" em seus apelos para a "paz e fraternidade".

Isso é terrível. Não dá para acender duas velas a forças antagônicas. Não dá para defender a liberdade de Lula e a Teologia do Sofrimento de Chico Xavier, ao mesmo tempo. Isso fará as esquerdas se nivelarem aos "idiotas das redes sociais", além de legitimar um arrivista, promovido a "espírito de luz", que foi beneficiado pela mesma "justiça" seletiva que criminaliza Lula. Não é boa ideia as galinhas se sentirem fascinadas pela beleza do focinho da raposa.

Por ironia, juízes substitutos estão associados a sentenças finais tanto no caso do "médium" quanto do ex-presidente. Hoje temos a juíza substituta da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, Gabriela Hardt, que cuidará das condenações definitivas (mas sem provas) contra Lula. Em 1944, o magistrado João Frederico Mourão Russell, juiz suplente da 8ª Vara Criminal do Distrito Federal (na época, o Rio de Janeiro), declarou "improcedente" o processo movido pelos herdeiros de Humberto de Campos, que moveram contra Chico Xavier e a FEB uma ação por conta das supostas psicografias. A ação beneficiou o arrivista Xavier, que "cresceu" como bola de neve desenvolvendo, em torno de si, uma idolatria marcada pela fascinação obsessiva (condenada pela Doutrina Espírita original) e pelo fanatismo religioso (exercido, mas nunca assumido pelos "espíritas").

Como um misto de Sérgio Moro, no que diz à interpretação tendenciosa das leis, e de Gilmar Mendes, na capacidade de liberar réus condenáveis, Mourão Russell (note-se que o sobrenome Mourão anda muito a serviço de aventuras conservadoras, como o Olímpio Mourão Filho, do golpe de 1964, e de Antônio Hamilton Mourão, vice do presidente eleito Jair Bolsonaro) inocentou Chico Xavier, favorecendo um perigoso processo de divinização dessa pessoa arrivista, que de realizador de literatura fake passou a ter um vertiginoso caminho para ser tido como pretenso "espírito de luz", falsamente associado a ideias de "amor" e "dedicação ao próximo", às custas de uma série de retóricas muito bem montadas, incluindo influências importadas do inglês Malcolm Muggeridge.

Isso porque Mourão Russell ignorou que a "psicografia" que usava o nome de Humberto de Campos era visivelmente fake, e até mesmo as semelhanças tão alardeadas de estilo não são tantas como se pensa. O estilo do "espírito Humberto" é muito diferente do que o autor maranhense deixou em vida, e leituras comparativas podem confirmar isso.

Essa confirmação é tão certa que o "movimento espírita" aposta, recentemente, em duas manobras. Primeiro, fazer um lobby para que os livros originais de Humberto de Campos sejam colocados fora de catálogo, para evitar uma leitura comparativa que comprometesse o êxito das "psicografias" no mercado literário. Segundo, pela leviana atitude de considerar as supostas obras mediúnicas "nem falsas nem verdadeiras", permitindo a aceitação pública das mesmas "de acordo com a fé de cada um", um acinte em relação à memória literária brasileira.

JUSTIÇA PARCIAL

As duas manobras do "movimento espírita" - religião que se aproxima do bloco conservador formado por setores ultraconservadores do Catolicismo e pelas seitas evangélicas neopentecostais - são feitas para alimentar os interesses comerciais em torno de Chico Xavier, nunca assumidos devidamente. Quando foram vazadas denúncias de que a FEB teria faturado comercialmente devido às traduções em inglês dos livros do "médium", Chico, na sua esperteza, tirou o corpo fora e disse, naquela época (1969), se sentir "muito entristecido" com o episódio.

No entanto, sabemos que o que Chico Xavier disse foi conversa para boi dormir. O "médium" sabia, sim, o tempo todo, que a FEB faturava com os livros dele e que o dinheiro iria para a cúpula da federação. Assim como as doações para Madre Teresa de Calcutá iriam para os cofres do clero conservador que domina a cúpula do Vaticano. Tudo uma grande farsa combinada, porque o dinheiro da "caridade" nunca ajudou o Brasil a se progredir, como deveria sugerir a grandeza com que se autoproclama o "movimento espírita" e seus "médiuns".

As pessoas se iludem com a imagem adocicada de Chico Xavier trabalhada pela mídia hegemônica e mesmo as esquerdas se deixam levar por essa abordagem trazida nos anos 1970 pelos noticiários tendenciosos e manipuladores da Rede Globo, que pregavam paradigmas ultraconservadores de "caridade" e "amor ao próximo", rigorosamente presos à ótica institucional e de efeitos meramente paliativos, tratando o povo pobre como se fossem animais domésticos.

Isso tudo foi favorecido pela seletividade de uma Justiça que, no Brasil, quase sempre primou pela parcialidade. A ignorância do juiz substituto Mourão Russell, quanto ao conteúdo grotesco das supostas psicografias, que nem de longe refletem o estilo original de Humberto de Campos, permitiu que um espertalhão como Chico Xavier, se deixando valer pelas aparências físicas de caipira ingênuo, que, mais tarde, se somaram a de um velhinho frágil, ganhasse as glórias da Terra.

Chico Xavier só é um "espírito de luz" pelo capricho das paixões terrenas. Imaginemos que as fantasias das paixões humanas se limitem tão somente à simbologia sexual, mas a simbologia religiosa mostra aspectos ainda mais traiçoeiros. Chico é idolatrado como um "velocino de ouro", o que poderia fazer Moisés, um dos notáveis profetas da Bíblia, rejeitar severamente o "médium", que também não seria bem visto por Jesus e Allan Kardec.

"ESPÍRITAS" APOIARAM SÉRGIO MORO, FUTURO MINISTRO DE BOLSONARO

O que deixa o "movimento espírita" cheio de dedos é que, em 2016, denunciou-se seu apoio às passeatas do "Fora Dilma" e às atividades da Operação Lava Jato, chegando a definir tais fenômenos, respectivamente, como "começo do processo de regeneração humana" e "movimento jurídico orientado pela espiritualidade superior".

Sérgio Moro chegou a ser visto como "mensageiro de benfeitores espirituais" e como "homem simples que deu um basta à impunidade e à cupidez humana". Mas, diante da má repercussão desses episódios, que culminaram na vitória eleitoral de Jair Bolsonaro - que escolheu Moro para ser seu ministro da Justiça - , os "espíritas" ficaram em silêncio.

Hipócritas, os "espíritas" da linha igrejeira e devotos de Chico Xavier ficam omissos diante da urgência de assumir seu bolsonarismo. Sua pauta reacionária - sobretudo a condenação inflexível ao aborto, a defesa da servidão do trabalho excessivo e da aceitação da desgraça humana sem queixumes - se identifica muito bem com a agenda bolsonarista, mas os "espíritas", oportunistas e contraditórios, ensaiam a cooptação de movimentos de esquerda, se valendo pela retórica "dócil" que só difere, na aparência, ao discurso claramente raivoso dos neopentecostais.

A situação, no entanto, está tão complicada que a retórica pseudo-progressista dos "espíritas" praticamente focaliza apenas Chico Xavier, pois seus seguidores Divaldo Franco e João Teixeira de Feria, o João de Deus, deram declarações abertamente ultraconservadoras, sobretudo desejando que Sérgio Moro se tornasse "presidente da República". E chegaram perto disso.

Como Chico Xavier morreu em 2002, uma corrente de seus seguidores tentará, em vão, montar uma imagem "progressista", na tentativa inútil de dissociá-lo de Jair Bolsonaro, a quem se tornou muito comparado pela trajetória arrivista - o "médium" e o ex-capitão se ascenderam, ambos, a partir de episódios causadores de muita confusão - e pelo conservadorismo extremo de suas ideias (os comentários de Chico Xavier no Pinga Fogo da TV Tupi caem como luva na agenda bolsonarista).

Só que Chico Xavier exerce força de "pé frio" para as esquerdas, devido ao contraste das ideias pessoais do "médium" com a agenda progressista dos movimentos esquerdistas. Além do mais, o próprio fato de um dos homens fortes do futuro governo Bolsonaro, Gustavo Bebianno, cotado para a Secretaria-Geral da Presidência da República, se lembrar de Chico Xavier, em 1971, defendendo a ditadura militar para "eliminar o caos no Brasil", é um alerta para os esquerdistas que, com o coração mole, se deixam levar pelos memes montados com o rosto do "médium" flutuando sobre flores e céus ensolarados.

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