Emissora que elegeu Chico Xavier "maior brasileiro de todos os tempos", SBT prima pelo reacionarismo
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(Autor: Professor Caviar)
Rede que formatou uma visão elitista da "cultura popular" - que durante anos fez pegadinha com as forças intelectuais de esquerda - e que ultimamente apoia, com muito entusiasmo, o futuro governo de Jair Bolsonaro, o SBT é um dos veículos midiáticos mais conservadores do Brasil.
A rede, comandada pelo empresário Señor Abravanel - popularmente conhecido na sua função de apresentador e entertainer, sob o codinome Sílvio Santos - , também elegeu o "médium" Francisco Cândido Xavier - conhecido pela alcunha de Chico Xavier - o "maior brasileiro de todos os tempos" na votação de 2012, é conhecida pelo seu conservadorismo ferrenho.
Foi a rede que mais formatou a bregalização cultural que contribuiu para a glamourização da pobreza nas classes populares. Foi a que impulsionou a popularização dos programas policialescos de televisão, a partir do Aqui Agora (que inspirou sucessores como Cidade Alerta, Balanço Geral e Brasil Urgente, nas emissoras concorrentes) e a que formatou o comportamento padrão do brasileiro pobre, resignado com sua inferioridade social e apegado por mediocridades fenomenológicas que variam entre o grotesco e o piegas.
Daí que o SBT ajudou muito no imaginário que glorificou tanto o "funk" quanto Chico Xavier e Jair Bolsonaro, três fenômenos diferentes na aparência, porém bastante semelhantes na essência e ligados a um mesmo inconsciente coletivo que permitiu a vitória do candidato de extrema-direita nas eleições presidenciais de primeiro e segundo turno. O SBT não é o único, mas em muitos momentos influiu de forma decisiva na consagração desse imaginário ao mesmo tempo libertino e reacionário, elitista e popularesco.
Sabemos que, no caso do noticiário policialesco, foi Chico Xavier que mais influenciou essa mídia do que o contrário. Pelo menos em primeiro momento. As "cartas mediúnicas" são uma múltipla farsa sensacionalista, tidas oficialmente como "a maior caridade de Chico Xavier", que, se conseguiu ajudar alguém de verdade, este alguém foi a mídia sensacionalista, que adorou esses apelos grotescos e piegas que envolvem religiosidade, sobrenaturalidade e glamourização da tragédia humana, além da "controvérsia" do charlatanismo, que a própria mídia sensacionalista explora contraditoriamente, evocando mas tentando abafar sua gravidade.
As "boas energias" de Chico Xavier fizeram com que se propiciasse a criação do programa "O Povo na TV" (nome usado para o que seria o primeiro Aqui Agora, mas esta denominação foi proibida por questões de direitos autorais), primeiro programa popularesco de variedades da TV contemporânea. O Povo na TV tinha até um suposto médium, depois denunciado por charlatanismo, chamado Roberto Lemgruber, também suposto curandeiro.
Em seguida, o Aqui Agora propriamente dito (nome liberado por acordo judicial), nos anos 1990, e seus sucessores diversos, como Cidade Alerta e Brasil Urgente, servem para o mórbido entretenimento sensacionalista, grotesco e piegas do brasileiro médio e raso. Ratinho também se projetou como locutor policialesco, antes de virar apresentador de variedades, e, vindo do Paraná (de Chitãozinho & Xororó e Sérgio Moro, outros ícones do ultraconservadorismo social), ele tornou-se um dos porta-vozes do moralismo justiceiro caraterístico da mídia sensacionalista.
Em seguida, o Aqui Agora propriamente dito (nome liberado por acordo judicial), nos anos 1990, e seus sucessores diversos, como Cidade Alerta e Brasil Urgente, servem para o mórbido entretenimento sensacionalista, grotesco e piegas do brasileiro médio e raso. Ratinho também se projetou como locutor policialesco, antes de virar apresentador de variedades, e, vindo do Paraná (de Chitãozinho & Xororó e Sérgio Moro, outros ícones do ultraconservadorismo social), ele tornou-se um dos porta-vozes do moralismo justiceiro caraterístico da mídia sensacionalista.
O SBT propagou muito desse inconsciente coletivo que desenha um Brasil medíocre, no qual Chico Xavier é "médium" mais pela associação entre esta palavra, médium, a outras do mesmo prefixo, "mídia" (de "mídia hegemônica", "mídia oligárquica") e "medíocre". E Sílvio Santos, apesar de seu inegável talento de animador, com programas realmente de pura diversão e passatempo, sempre foi uma das figuras mais conservadoras do Brasil.
Ele contratou o reacionário Danilo Gentili, humorista tão ruim que se projetou ofendendo os outros, com comentários machistas, direitistas e de naturezas similares. Seu The Noite conta como banda musical de apoio o grupo Ultraje a Rigor, que já foi um grande nome do Rock Brasil, até seu vocalista Roger Rocha Moreira se tornar um dos maiores porta-vozes da direita reacionária brasileira, recentemente apoiando, com gosto, a candidatura de Jair Bolsonaro.
No SBT também está contratada Rachel Sheherazade, hoje uma bolsonarista arrependida, mas que já chegou a fazer apologia à tortura de um menino pobre acusado por pequenos roubos, enquanto pedia para perdoar Justin Bieber pelos escândalos que ele cometeu no auge da carreira. Durante anos Rachel era uma das porta-vozes do reacionarismo social, tanto que ela chegou a ser denominada a "Sarah Palin brasileira".
Sílvio Santos, recentemente, se envolveu em incidentes de puro ultraconservadorismo. Entusiasmado com Jair Bolsonaro, declarou voto a ele e disse que, após sua vitória eleitoral, o presidente eleito "começou acertando". Mais tarde, lançou vinhetas evocando símbolos da propaganda ditatorial do "milagre brasileiro" de 1969-1974, com a música "Eu Te Amo, Meu Brasil", de Dom e Ravel, e o lema "Brasil: Ame-o ou Deixe-o", muito difundido na época. Sílvio também fez um comentário machista sobre uma roupa da cantora Cláudia Leitte, que causou revolta nas redes sociais.
Recebendo, durante o evento filantrópico Teleton (o mesmo do assédio a Cláudia Leitte) uma mensagem por telão de Bolsonaro, Sílvio Santos comentou que gostaria que o "mito" tivesse dois mandatos e seu ministro Sérgio Moro, mais dois: "Não vou falar aquilo que penso, mas acho que nos próximos oito anos o senhor vai ficar no nosso Governo e depois nos outros oito anos, tenho a impressão, é um palpite, não sou político, mas a sua escolha do juiz Sergio Moro [para o Ministério da Justiça]… então eu acho que você pode ficar oito anos, depois passando para o Moro e ele fica mais oito. Então, o Brasil vai ter 16 anos de homens com vontade de fazer o Brasil caminhar. Pode ser que isso não aconteça, mas se depender, eu não vou viver até lá, é claro, mas se depender da minha vontade e das pessoas que querem um Brasil pra frente, oito anos com Bolsonaro e oito anos com Moro, [o país] vai ter 16 anos de um bom caminho. Peço a Deus que isso se realize".
Recebendo, durante o evento filantrópico Teleton (o mesmo do assédio a Cláudia Leitte) uma mensagem por telão de Bolsonaro, Sílvio Santos comentou que gostaria que o "mito" tivesse dois mandatos e seu ministro Sérgio Moro, mais dois: "Não vou falar aquilo que penso, mas acho que nos próximos oito anos o senhor vai ficar no nosso Governo e depois nos outros oito anos, tenho a impressão, é um palpite, não sou político, mas a sua escolha do juiz Sergio Moro [para o Ministério da Justiça]… então eu acho que você pode ficar oito anos, depois passando para o Moro e ele fica mais oito. Então, o Brasil vai ter 16 anos de homens com vontade de fazer o Brasil caminhar. Pode ser que isso não aconteça, mas se depender, eu não vou viver até lá, é claro, mas se depender da minha vontade e das pessoas que querem um Brasil pra frente, oito anos com Bolsonaro e oito anos com Moro, [o país] vai ter 16 anos de um bom caminho. Peço a Deus que isso se realize".
É esse múltiplo ambiente que propiciou o público padrão do SBT a escolher, em 2012, Chico Xavier como "maior brasileiro de todos os tempos". O "médium" mais conservador do Brasil - seu conservadorismo encontra ressonância em discípulos como Divaldo Franco e João Teixeira de Faria, o João de Deus - , conforme prova suas declarações explícitas no Pinga Fogo da TV Tupi, era ideologicamente afinado ao conservadorismo moralista e paternalista da sociedade dominante no Brasil, entre "pobres de direita" e ricaços elitistas.
Muitos se assustam quando se fala que Chico Xavier apoiaria Jair Bolsonaro, mas um sem-número de fatores justifica essa possibilidade. Também, o "médium" que só ficava escrevendo que os oprimidos deveriam sofrer desgraças em silêncio, sem reclamar da vida, só poderia ser ultraconservador, por mais que a imagem adocicada plantada nos últimos 40 anos tentasse mostrar o contrário. Anti-petista convicto até o fim da vida, Chico Xavier nunca foi com a cara dos movimentos esquerdistas e sempre defendeu um moralismo mais rígido e conservador. Suas ideias comprovam isso, contrariando as fantasias de parte de seus seguidores que tentam promovê-lo como pretenso progressista.
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