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(Autor: Professor Caviar)
É praticamente impossível recorrer ao pensamento desejoso e aos malabarismos discursivos para tentar apagar a imagem conservadora de Francisco Cândido Xavier, hoje bastante comparado a Jair Bolsonaro, sobretudo pela identificação entre os lemas "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" e "Brasil, acima de tudo, Deus, acima de todos" e de uma série de comparações e afinidades, neste contexto em que a "data-limite" sonhada pelo "médium" se dará sob um governo de extrema-direita.
Fala-se que muitos dos seguidores não-bolsonaristas de Chico Xavier estão correndo para vasculhar textos tardios, escritos de preferência nas últimas décadas de vida do "médium", que possam permitir uma interpretação fantasiosa e idealizada, motivada pelo pensamento desejoso e manipulada por interpretações tendenciosas.
Nota-se que existe uma corrente de chiquistas que tenta trabalhar Chico Xavier como se fosse um "ativista progressista". Só que essa imagem vem com apelos tão frágeis que se sustentam somente pela emoção, mas são facilmente derrubáveis diante do menor raciocínio mais reflexivo.
Essa imagem é sustentada por aspectos frágeis, inconsistentes, mas profundamente agradáveis, o que vale a sua prevalência para muitos de seus seguidores. Suas bases principais são:
1) A imagem idealizada de Chico Xavier trabalhada pela grande mídia (Rede Globo, sobretudo), que o fez um pretenso filantropo aos moldes que o inglês Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá;
2) Os apelos sentimentais das imagens de pessoas pobres, sobretudo crianças negras, vinculadas a Chico Xavier, o que garante o envolvimento emocional de muitos seguidores;
3) O reforço sentimental das paisagens celestiais e dos cenários floridos que ilustram as frases de Chico Xavier que circulam nas redes sociais;
4) A combinação, tendenciosa e falaciosa, desse mito "filantrópico" com a abordagem positiva das ideologias progressistas de esquerda.
Diante disso, os artífices do pensamento desejoso que sonham, de maneira bastante artificial e postiça, retirar Chico Xavier do seu próprio conservadorismo, comprovado por suas explícitas raízes sociais e por sua formação católica ortodoxa, através de interpretações levianamente tendenciosas, embora bastante agradáveis, de textos tardios publicados depois de 1985, mais ou menos.
É uma armação tendenciosa, na qual temos que tomar muito cuidado. Vai surgir fulano escrevendo que tal frase de Chico Xavier se "encaixaria perfeitamente" no pensamento do ex-presidente Lula, o que é uma falácia sem tamanho. Será uma declaração que merece um imediato questionamento, porque Chico Xavier, conservador, não pode ser associado a vínculo tão tendencioso.
Um "médium" não é um boneco de massa de modelar ao qual se faz da forma que seu seguidor quiser. Tivemos absurdos como a "liberdade" de acreditar ou duvidar da autenticidade das obras "psicográficas", uma aberração que ofende a memória de uma pessoa morta, transformando a fé religiosa numa permissividade irresponsável.
Não há como transformar Chico Xavier em "progressista", para o agrado de uma parcela de seus seguidores ou para tentar mantê-lo "incólume" diante de uma possível crise do governo Jair Bolsonaro. Paciência, Chico foi um direitista convicto da juventude até o fim da vida, e seus apelos para os sofredores "nunca reclamarem da vida" e "aceitarem o sofrimento em silêncio", que acompanhou toda a linha de pensamento do "médium", é de um conservadorismo escancarado, medieval de tão retrógrado.
É impossível se sustentar por imagens fantasiosas que promovem Chico Xavier para justificar uma pretensa imagem progressista. Devemos parar de ver os "médiuns" como fadas-madrinhas da vida real, porque todos eles sempre foram ultraconservadores e até mesmo seu padrão de "caridade" segue paradigmas conservadores. Ou temos que aceitar o conservadorismo dos "médiuns" ou então teremos que ver se nosso progressismo também não é contaminado por um viés conservador.
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