Algo está muito errado no nosso país. A eleição de Jair Bolsonaro mostrou o quanto os brasileiros sofrem uma grande imaturidade, votando com o fígado e motivados somente por um ódio intolerante ao Partido dos Trabalhadores.
Para piorar, os brasileiros tiveram outros anti-petistas para elegerem, bem melhores que Jair Bolsonaro (que, contrariando a embalagem de "novo", revela-se e se comprova cada vez mais um genérico mais agressivo de Michel Temer). Marina Silva, Henrique Meirelles, Álvaro Dias, ou mesmo Geraldo Alckmin, e, um pouquinho mais à esquerda, Ciro Gomes. Henrique Meirelles seria um genérico de Michel Temer mais inofensivo. Geraldo Alckmin seria quase um Bolsonaro, mas com mais respeito às leis e às instituições.
A teimosia dos brasileiros, por sinal enclausurados no WhatsApp, mostra o quanto a sociedade brasileira está doente e precisa de uma reeducação emocional, perceptiva e cognitiva. As pessoas desprezam seus próprios problemas e, em nome da "retirada do PT do poder", preferem perder direitos trabalhistas, baixar o salário enquanto as contas se multiplicam e se reajustam constantemente, e ver as riquezas serem vendidas a preço de banana para empresas estrangeiras, cujos lucros elas levam para bem longe daqui.
Nem mesmo a possibilidade de "projetos beneficentes" a serem, em tese, patrocinados pelas multinacionais como Shell, é animadora. Além dos investimentos serem mais modestos, haverá maior ênfase na publicidade, e aí os investimentos em propaganda se tornam maiores do que os investimentos em educação gratuita e "assistência social".
A sociedade brasileira apenas leva às últimas consequências vários problemas que ocorrem em âmbito social, político e econômico no mundo. Lá, por exemplo, a vitória de Donald Trump nos EUA é um fato influenciado pela indústria das fake news e pelo Efeito Dunning-Kruger (síndrome na qual os ignorantes desconhecem sua própria ignorância e se acham "inteligentes e triunfantes", daí o nome de "síndrome da superioridade ilusória" ou "síndrome do idiota confiante").
A "síndrome da superioridade ilusória", no Brasil, é tão grave que não só atinge o chamado "valentão da Internet", que agride os outros achando que não será punido com isso. Para piorar, essa síndrome atinge até mesmo o "espiritismo" brasileiro, por causa da pretensa "superioridade espiritual" dos ditos "médiuns", a partir do próprio Francisco Cândido Xavier. É notório que Chico Xavier virou um "herói" nas redes sociais, pelas mesmas pessoas que apreciam fake news e defenderam a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro.
Pode soar doloroso para quem está acostumado com a visão oficial de Chico Xavier, considerada "límpida" e "admirável", mas esconde pontos bastante sombrios como a combinação de arrivismo com trabalhos fake, além da defesa explícita da ditadura militar e de sua pregação ultraconservadora, que se fundamenta em pedir aos oprimidos "aguentarem suas desgraças em silêncio, sem reclamar", princípio próprio da Teologia do Sofrimento, que influi mais no "espiritismo" brasileiro do que os próprios ensinamentos de Allan Kardec.
A idolatria a ele é um problema tão grave quanto a de Bolsonaro. A adoração a Chico Xavier envolve uma cegueira emocional e ela se tornou um hábito preocupante que quase nenhum de seus adeptos, sejam seguidores ou simpatizantes, tem ideia de que essa imagem "iluminada" do suposto médium foi construída por discursos tendenciosos ao longo dos anos, mas reforçados por uma narrativa que a Rede Globo de Televisão montou sob inspiração de Malcolm Muggeridge, que fez o mesmo trabalho de idealização da imagem de Madre Teresa de Calcutá.
Portanto, isso também envolve uma péssima educação emocional, na qual não existe motivo lógico para adorar Chico Xavier. Não há razões de cunho racional, e o mais preocupante é que se exaltam as motivações emocionais, com falácias das mais piegas como "é preciso ouvir o coração", uma tolice que pega desprevenida muita gente considerada progressista, avançada e até mesmo ateísta ou de esquerda.
Sim, porque até pessoas assim também se rendem a velhos paradigmas emocionais que há muito deixaram de fazer sentido, mas tentam uma retomada à força nos últimos tempos, para o bem e para o mal. Da fascinação obsessiva aos "médiuns" até a fúria agressiva dos fascistas, o nível emocional dos brasileiros é tomado de vícios extremos, que precisam ser curados. Afinal, embora sejam atos socialmente aceitos e até estimulados, eles são problemas de levar qualquer um para um analista.
Temos que rever até mesmo conceitos de "paz" e "caridade". A "paz" que não resolve os conflitos humanos, antes jogando as injustiças debaixo do tapete, mediante soluções meramente paliativas que só reparam os excessos, sem resolver os problemas em jogo, tem que ser questionada. Do mesmo modo, a "caridade" que rende mais aplausos ao "benfeitor" - como se vê no caso dos "médiuns espíritas" - do que benefícios aos mais necessitados também merece questionamento.
É necessário coragem para romper com paradigmas. Corajoso é aquele que decide romper com a idolatria a Chico Xavier, e passar a vê-lo como um reacionário deturpador do Espiritismo original, que mais prejudicou do que beneficiou a doutrina. Afinal, temas como as comunicações entre vivos e mortos foram prejudicados pelo "médium", que preferiu abrir precedentes para uma indústria de psicografakes que só servem para fazer propaganda religiosa.
É necessário sair das zonas de conforto de moralismos, fés religiosas, necessidades pragmáticas (ou seja, só querer o "básico", eufemismo para os retrocessos na qualidade de vida) e outros aspectos viciados, que contribuíram para os retrocessos sócio-culturais, econômicos e políticos que causam tantos prejuízos, mas que são defendidos a ferro e a fogo por uma parcela da sociedade porque seguem uma simbologia mais agradável a ela.
Isso é um grande engano. O apego a velhos paradigmas criará um trauma futuro, e fará com que as pessoas tenham que encarar novos prejuízos, sem poder reagir com represálias, vinganças ou outros atos abusivos. O momento político a se desenhar no Brasil em 2019 já é considerado uma "vitória de Pirro", anunciando prejuízos àqueles que apoiaram a vitória de Jair Bolsonaro, que cada vez mais se revela o "velho político de sempre". É bom já ir se acostumando com isso.
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