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(Autor: Professor Caviar)
Os caminhos do "espiritismo" de Chico Xavier e do bolsonarismo se aproximam, diante de tantas e tantas comparações e pontos em comum que surpreendem qualquer um, desafiando o mais hercúleo pensamento desejoso que tentasse muitos artifícios para criar, em relação ao "médium", uma imagem "progressista" que, por mais agradável que pareça, não condiz à realidade.
Desta vez, vemos que o braço-direito de Jair Bolsonaro, o advogado e ex-presidente interino do PSL, Gustavo Bebianno - que comandou o partido porque o presidente da sigla, Luciano Bivar, se licenciou para tentar (e conseguir) reeleição como deputado federal por Pernambuco - , é um entusiasmado simpatizante de Francisco Cândido Xavier.
Também lutador de jiu-jitsu e criado na Zona Sul carioca, Bebianno - que, como advogado, continuará filiado ao PSL, ainda mais com Bolsonaro eleito presidente da República - foi o principal articulador de campanha do ex-capitão, se lembrou do que ouvia na infância de Chico Xavier, quando era entrevistado no programa Pinga Fogo, da TV Tupi de São Paulo.
Segundo Bebianno, que tinha sete anos na ocasião (hoje tem 54), Chico Xavier falava da existência de uma "nuvem negra" sobre o Brasil, com "forças negativas muito contrárias". O advogado, em entrevista ao UOL, se lembrou das declarações do "médium", que defendia a ditadura militar para que "não venhamos a descambar para qualquer desfiladeiro de desordem".
O direitismo de Bebianno o fazia analisar, comparando os comentários de Chico Xavier, com os fatos recentes, aos quais ele atribuiu o caos às forças políticas derrubadas em 2016, ligadas a uma linhagem democrática e constitucional da Nova República. Para o advogado, "o país foi assaltado, tomado por uma corja de hipócritas, de sanguessugas, gente com o objetivo de extrair o máximo para si, em causa própria".
Por incrível que se possa parecer, Chico Xavier daria razão a Bebianno. Se vivo estivesse, Chico Xavier sinalizaria a tendência que moveu uma linhagem de famosos, que inclui pessoas do nível de Márcio Garcia, Luciano Huck e o "espírita" Carlos Vereza (que interpretou o médico Adolfo Bezerra de Menezes no cinema) a apoiarem Jair Bolsonaro.
Chico Xavier sempre foi anti-petista e seu temor era de que o rival de Jair, Fernando Haddad, sob a ótica dos direitistas, fosse "testa-de-ferro" do ex-presidente Lula, que o "médium" não tinha a menor simpatia e só expressaria, por ele, "misericórdia" (jargão que os "espíritas" usam para expressar sua aversão "civilizada" a determinadas personalidades).
A imagem fantasiosa, construída por uma narrativa que prevaleceu no imaginário dos seguidores de Chico Xavier, é que supôs um esquerdismo que nunca existiu. Uma narrativa idealizada, motivada pelo pensamento desejoso, na qual a supremacia de uma retórica que sempre evocasse "grandes virtudes" sempre moldava o "médium" conforme a imaginação de qualquer um, é que fez supor que Chico fosse apoiar o PT, com base na combinação de ideias soltas e supostas alusões à caridade e outras qualidades positivas.
No entanto, um ídolo religioso pode ser extremamente conservador, assumindo posturas retrógradas de maneira firme e irremediável. E Chico Xavier, pelas raízes sociais ultraconservadoras, pela educação católico-ortodoxa que recebeu, pela sua identificação natural com as ideias neoliberais (daí que, não por acaso, ele evocou o espírito do padre Manuel da Nóbrega, jesuíta de ideias e práticas medievais e que foi rebatizado Emmanuel), era mais um cidadão de direita, e isso se confirma com os fatos, do contrário do suposto progressismo do "médium", fragilmente sustentado por fantasias, ideias soltas e sem nexo que, embora mais agradáveis, não condizem à realidade dos fatos.
Por isso é que surgem cada vez mais circunstâncias, conceitos, comparações e outros aspectos que colocam Chico Xavier no contexto do bolsonarismo. Até os seguidores do "médium" e do ex-capitão, por defenderem o mesmo moralismo ideológico e religioso e por acolherem obras fake que lhes tragam mensagens favoráveis ao conservadorismo social em moda desde 2013, cultuam ambos pelos mesmos apelos emocionais e psicológicos, marcados pela catarse e pelo baixo senso crítico que permite que se exaltem esses dois arrivistas sociais - o "médium" que escandalizou com livros fake e o ex-capitão que planejou atos terroristas - em pretensas unanimidades sociais.
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