(Autor: Professor Caviar)
Atribuir suposto esquerdismo a Francisco Cândido Xavier é um equívoco que sempre se sustenta por ideias soltas e superficiais e por apelos meramente emotivos, sem a menor relação com a realidade.
Mas atribuir reacionarismo a Chico Xavier possui melhor embasamento, com fartas comprovações vindas das próprias palavras do "médium" ou, então, de depoimentos de gente que, embora controversa, como Carlos Baccelli, não tem o objetivo de distorcer a imagem do famoso beato de Pedro Leopoldo.
Quando analisamos o anti-comunismo de Chico Xavier e Emmanuel, fizemos uma abordagem trecho por trecho, e constatamos que o texto, embora possa ser confundido com um "apoio à causa esquerdista", é, na verdade, um texto anti-esquerdista, porque faz cobranças demais aos comunistas e usa jargões como "anarquia" e "degradação", eufemismos que o vocabulário direitista associa a greves e protestos das classes trabalhadoras.
O texto requer leitura cautelosa e não apressada, pelo risco de interpretação errada e oposta ao seu sentido real. Vemos que o texto, atribuído a Emmanuel mas que pode muito bem refletir a visão pessoal de Chico Xavier, só vê "validade" no comunismo se ele se subordinar à Igreja Católica, mas numa visão que não pode ser confundida jamais com o catolicismo de esquerda, porque este não faz as cobranças presentes no texto, do livro Coletânea do Além, de 1945, aqui reproduzido:
"Como devemos encarar o comunismo cristão?
O comunismo em suas expressões de democracia cristã está ainda longe de ser integralmente compreendido como orientador de vossas forças político-administrativas.
Somente serão entendidas as suas concepções adiantadas, à luz dos exemplos do Cristo, quando reconhecerdes que o Evangelho não quer transformar os ricos em pobres e sim converter os indigentes em ricos do mundo, fazendo desabrochar em cada indivíduo a concepção dos seus deveres sagrados, em face dos problemas grandiosos da vida.
Comunismo ou socialismo cristão não pode ser a anarquia e a degradação que observais algumas vezes em seu nome, significando, acima de tudo, a elevação de todos, dentro da harmonia soberana e perfeita.
Quando o homem praticar a fraternidade, não como obrigação imposta pelas justas conveniências, mas como lei espontânea e divina do seu coração, reconhecendo-se apenas como usufrutuário do mundo em que vive, convertendo as bênçãos da natureza, que são as bênçãos de Deus, em pão para a boca e luz para o espírito, as forças políticas que dirigem os povos nortear-se-ão sem guerras e sem ambições, obedecendo aos códigos de solidariedade comum.
Semelhante estado de coisas, porém, nunca será imposto por armas ou decretos humanos. Representará o amadurecimento da consciência coletiva na compreensão dos legítimos deveres da fraternidade e somente surgirá, no mundo, por efeito do conhecimento e da educação de cada indivíduo".
O referido texto acima, publicado num contexto em que os EUA também "toleraram" o comunismo, pouco antes de surgir a Guerra Fria, o que não significa que, mesmo nessa época, o texto "espírita" tenha sido pró-esquerdista, até porque, se observarmos bem, a ideia essencial do texto acaba sendo "menos Comunismo e mais Cristianismo (no sentido católico-medieval)".
Uma prova do anti-esquerdismo de Chico Xavier é este texto, publicado em 1996 em outra coletânea de "espíritos diversos", o livro Doutrina Escola, pela editora IDE. O texto é uma defesa da servidão e apela para os oprimidos se resignarem com a própria opressão em que vivem. O texto também é uma defesa do trabalho exaustivo, o que coloca Chico Xavier em sintonia com a retrógrada "reforma trabalhista" que marcou o governo Michel Temer e está consagrada no governo Jair Bolsonaro:
"RECOMEÇO
Quando o teu próprio trabalho te pareça impossível ...
Quando a dificuldade e sofrimento te surjam a cada passo ...
Quando te sintas à porta de extremo cansaço ...
Quando a crítica de vários amigos te incitem ao abatimento e à solidão ...
Quando adversários de teus ideais e tarefas te apontem por vítima do azar ...
Quando as sombras em torno se te afigurem mais densas ...
Quando companheiros de ontem te acreditem incapaz a fim de assumir compromissos novos ...
Quando te inclines à tristeza e à solidão ...
Levanta-te, trabalha e segue adiante.
Quando tudo reponte no caminho das horas, não te desanimes, porque terás chegado ao dia de mais servir e recomeçar".
O texto é reacionário. As pessoas não percebem isso. Mas identifica-se ideias como "extremo cansaço" e "adversários de teus ideais e tarefas", defendidas por Chico Xavier / Emmanuel através do apelo "Levanta-te, trabalha e segue adiante", a uma visão abertamente conservadora que só mesmo a fé cega de muitas pessoas não consegue reconhecer, mesmo de parte dos que se dizem progressistas e veem esse texto sem um menor índice de desconfiança.
As esquerdas devem prestar atenção neste texto antes de manifestarem qualquer apreço a Chico Xavier. Elas enfrentam "adversários de ideais e tarefas" e "críticas de vários amigos (sic)" que vem da mídia direitista e dos movimentos associados a este plano ideológico.
Além disso, os movimentos sindicais reclamam de horas exaustivas, tarefas difíceis e pesadas sob baixa remuneração, sofrem abatimentos constantes e adoecem. E aí as esquerdas vão publicar umas frasezinhas de Chico Xavier, felizes da vida achando que isso trará a prometida paz, senão mundial, pelo menos a brasileira, e se esquecem que o "médium" defendia o trabalho exaustivo, através de constantes apelos em diversos de seus textos e depoimentos. É bom as esquerdas abrirem o olho.
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