Pular para o conteúdo principal

Emmanuel NÃO apoiou o Comunismo! Prestem atenção!!

(Autor: Professor Caviar)

Infelizmente, os brasileiros costumam ler textos às pressas e mesmo muitos esquerdistas de primeira viagem leem sem pensar, na "pesca" de frases soltas e rápidas mais de acordo com seu nível iniciante de compreensão. São prejudicados achando que certos autores lhes parecem solidários à causa esquerdista, quando na verdade são mais ferrenhos opositores. As palavras são, muitas vezes, como objetos cortantes que têm que ser manuseados com muito cuidado.

O texto que reproduziremos de Emmanuel, parágrafo por parágrafo, está incluído no livro Coletânea do Além, de 1945, e, lido de maneira superficial, dá a impressão de que Emmanuel era um socialista convicto e amigo das esquerdas. Isso faria qualquer ingênuo pensar que o medieval padre Manuel da Nóbrega seria o introdutor do marxismo no Brasil, uma tese tão tola quanto a de Kim Kataguiri acreditar que Karl Marx, morto em 1883, estaria, ainda encarnado, revendo seus conceitos após o fim da Primeira Guerra Mundial, 35 anos depois.

Antes de seguirmos com o texto, vamos explicar o contexto do pretenso esquerdismo de Emmanuel, em verdade um sujeito reacionário que nada tinha de esquerdista. Veremos alguns detalhes que devem ser considerados antes que o desavisado leia o texto apressadamente e saia, saltitante pelas ruas, dizendo "Chico Xavier é de esquerda! Chico Xavier é de esquerda!", o que é uma grande incoerência, vide o anti-esquerdismo explícito que o "médium" expressou para uma gigantesca audiência no programa Pinga Fogo, da TV Tupi, em 1971. Vejamos:

1) AINDA NÃO HAVIA A GUERRA FRIA - O texto é de 1945. O contexto era que os EUA toleraram o comunismo como um instrumento útil para combater o nazi-fascismo, regime totalitário que o mundo capitalista apoiou mas que havia saído do seu controle. Antes que a Alemanha virasse um império que ameaçasse a ascensão dos EUA, houve uma temporária aliança com o comunismo da URSS na Segunda Guerra Mundial. No Brasil, o PCB (então Partido Comunista do Brasil, nome que passou para a sigla PC do B) ainda vivia na legalidade.

2) O TEXTO É OBSCURO E PROLIXO - O texto de Emmanuel (alguns desconfiam que é o próprio Chico Xavier que escreveu, mas pode também ter sido ditado pelo espírito, como nessas intuições de obsessores espertos - Nóbrega era considerado maligno, em seu tempo) é rebuscado, prolixo e obscuro, sem a clareza que seus seguidores ingenuamente acreditam, porque, para estes, basta ler um texto truncado e incompreensível que termine com algum recado do tipo "sejamos todos irmãos" para verem clareza onde não existe. Isso vai contra os ensinamentos kardecianos originais, que, aliás, alertou para o perigo dos textos rebuscados como fontes de mistificação e mentiras.

3) "COISAS BOAS" USADAS COMO ISCA - Erasto disse que alguns textos dos deturpadores do Espiritismo apresentariam eventualmente coisas boas. No entanto, o discípulo de Paulo de Tarso alerta que é aí que devemos tomar muito cuidado, redobrando a vigilância contra armadilhas perigosas que se escondem sob relvas floridas. No texto, Emmanuel fala em "fraternidade" e "transformar os pobres em ricos", porque ele usa um falso apoio ao "comunismo cristão" como um meio de inserir conceitos religiosos próprios do Catolicismo medieval, expressos não neste texto, mas em outras ocasiões.

4) EMMANUEL ERA AUTORITÁRIO E REPRESSIVO - A julgar pelas caraterísticas dos textos atribuídos ao jesuíta Emmanuel, independente de acreditarmos ou não que foi ele ou Chico Xavier "ele mesmo" que escreveu o texto, nota-se que o perfil que conhecemos do "mentor" do "médium" é de uma figura autoritária, reacionária, opressiva e que defendia valores análogos aos da precarização do trabalho - sua moral sempre dava ênfase na servidão e na sobrecarga no trabalho - e da Escola Sem Partido. E Emmanuel tinha conduta autoritária, o que a literatura kardeciana com muita antecedência havia alertado que espíritos autoritários que influenciavam a ação dos chamados médiuns eram de natureza moral bastante inferior.

5) INFLUÊNCIA DE LEON DENIS - Sabe-se que Leon Denis escreveu um livro chamado Socialismo e Espiritismo, aparentemente bem intencionado mas ingênuo nos conceitos igrejistas. Leon era um pensador perdido entre os ensinamentos originais de Allan Kardec - muitos exploram a coincidência do nome Leon Denis com o nome do meio de Kardec, que nasceu Hippolyte Leon Denizard Rivail - e as concessões pós-Jean Baptiste Roustaing que haviam sido feitas pelos sucessores do pedagogo francês. A atitude da FEB em permitir publicar um texto de Emmanuel sob o comunismo segue essa orientação, uma concepção ingênua sobre o legado marxista combinado com preceitos igrejistas que nem sempre se encaixam nessa natureza igrejista e também não dialogam com as formas modernas de esquerdismo, como se viu nos governos do PT, no Brasil.

6) A FEB, ULTRACONSERVADORA, TAMBÉM TOLERAVA O ESQUERDISMO POR RAZÕES DE CONVENIÊNCIA - Ainda não havia o desenho das polarizações ideológicas hoje conhecidas, naquele ano de 1945, e a Federação "Espírita" Brasileira tolerou o varguismo e o comunismo conforme as conveniências sociais do momento. O esquerdismo tinha, ainda, uma influência secundária e o mundo capitalista, em postura corroborada pela FEB, não o via, ainda, como uma ameaça, quadro que se mudaria a partir de dois anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Para quem acredita que a FEB e Chico Xavier são "de esquerda", devemos lembrar, através do conceituado historiador Jorge Ferreira, biógrafo de João Goulart, que "kardecistas" participaram a Marcha da Família Unida Com Deus pela Liberdade, movimento que pediu o golpe civil-militar de 1964. E Chico defendeu a ditadura com suas próprias palavras no Pinga Fogo, chegando a definir o AI-5 e as torturas como "necessárias para combater o caos", postura não muito diferente da que hoje defendem Jair Bolsonaro e seus três principais filhos (Flávio, Eduardo e Carlos).

Vamos então à análise do texto:

"Como devemos encarar o comunismo cristão?

O comunismo em suas expressões de democracia cristã está ainda longe de ser integralmente compreendido como orientador de vossas forças político-administrativas".

O enunciado é anti-esquerdista e mostra a preocupação de Emmanuel e Chico Xavier com o fato de haver um "comunismo" que escapasse do dogmatismo católico, ideia que está por trás de eufemismos "cristãos" que dão a falsa impressão de que o "espiritismo cristão", altamente catolicizado, no entanto é visto como "doutrina livre e espiritualista".

Somente serão entendidas as suas concepções adiantadas, à luz dos exemplos do Cristo, quando reconhecerdes que o Evangelho não quer transformar os ricos em pobres e sim converter os indigentes em ricos do mundo, fazendo desabrochar em cada indivíduo a concepção dos seus deveres sagrados, em face dos problemas grandiosos da vida.

O grande problema é o que são "concepções adiantadas" segundo a ótica jesuíta-medieval. Um Cristo "medievalizado", supostamente preocupado com a "justiça social" e que, em tese, está associado à ideia de que "o Evangelho não quer transformar os ricos em pobres e sim converter os indigentes em ricos do mundo". No entanto, o caráter autoritário de Emmanuel e Chico Xavier está na "concepção dos seus deveres sagrados", e o verdadeiro ponto principal do esquerdismo, a valorização dos direitos humanos, não é mencionado por uma única vírgula nesse texto.

Comunismo ou socialismo cristão não pode ser a anarquia e a degradação que observais algumas vezes em seu nome, significando, acima de tudo, a elevação de todos, dentro da harmonia soberana e perfeita.

Outro problema. A questão é o que Emmanuel e Chico Xavier entendem como "anarquia e degradação". 26 anos depois, Chico Xavier revelou que a "anarquia e a degradação" correspondiam às ações grevistas e outros protestos dos trabalhadores. Nunca podemos esquecer que a visão de trabalho de Chico Xavier sempre foi reacionária, correspondendo à submissão ao patrão, à servidão e à resignação aos limites de direitos trabalhistas. Ideias como tratar patrões e empregados como "irmãos", pondo debaixo do tapete os privilégios desiguais daqueles sobre estes, fazem parte do repertório ultraconservador de Chico Xavier e Emmanuel.

Quando o homem praticar a fraternidade, não como obrigação imposta pelas justas conveniências, mas como lei espontânea e divina do seu coração, reconhecendo-se apenas como usufrutuário do mundo em que vive, convertendo as bênçãos da natureza, que são as bênçãos de Deus, em pão para a boca e luz para o espírito, as forças políticas que dirigem os povos nortear-se-ão sem guerras e sem ambições, obedecendo aos códigos de solidariedade comum.

Mais uma questão a ser vista com cautela. Além da ênfase exagerada de igrejismo, que nem sempre condiz à realidade das relações sociais, o texto é vazio de sentido se entendido fora da cegueira emotiva das paixões religiosas. São ideias abstratas como "fraternidade", "luz para o espírito" e "solidariedade comum" que nem sempre se encaixam nos problemas de desigualdades existentes. Ver nesse parágrafo algum esquerdismo é ser, no mínimo, muito ingênuo. O Catolicismo medieval também apelava para tais conceitos, mesmo da parte de sacerdotes inquisidores e perversos, que afirmavam "estarem combatendo apenas aqueles que desviavam dos caminhos do Cristianismo".

Semelhante estado de coisas, porém, nunca será imposto por armas ou decretos humanos. Representará o amadurecimento da consciência coletiva na compreensão dos legítimos deveres da fraternidade e somente surgirá, no mundo, por efeito do conhecimento e da educação de cada indivíduo".

Tomemos muita cautela com esse trecho. Juntando outros textos da série Emmanuel, devemos ver esse último parágrafo, supostamente generoso, com cuidado. São também ideias abstratas, soltas, como os demais parágrafos aqui analisados. São ideias genéricas, que parecem muito generosas no enunciado, mas podem ser armadilhas traiçoeiras, como aquelas em que se simula uma quantidade de grama cobrindo buracos profundos e perigosos. Por isso, não podemos entender "conhecimento" e "educação de cada indivíduo" pelo mesmo prisma de Paulo Freire, porque não se pode confundir o medievalismo de Emmanuel e Chico Xavier com humanismo de toda espécie. Ideias soltas como "consciência coletiva", "fraternidade", "conhecimento" e "educação" farão muito esquerdista sonhar que os "espíritas" mais igrejeiros são "esquerdistas mesmo" e vão cair da cadeira se vissem o que Chico Xavier falou do comunismo no programa Pinga Fogo, bem ao contrário da fantasia de seus seguidores e simpatizantes.

MÍDIA REACIONÁRIA TAMBÉM "APOIOU" O ESQUERDISMO

Não dá para acreditar em tolices, como as que se deram em 2018, quando veio até blog comparando Nosso Lar a uma sociedade comunista. Isso é simplório e, se for por esse raciocínio raso, a Barra da Tijuca seria a "sociedade comunista" (ou "comunidade socialista") e Rio das Pedras seria o "mundo capitalista" por causa da combinação de favelados oprimidos e condomínios imponentes.

A situação não pode ser vista desta forma tão binária e Nosso Lar mais parece um "paraíso de luxo", concebido à maneira dos condomínios de gente rica, um "admirável mundo novo" pelo avesso, no qual os ricos e limpinhos são os "bonzinhos", diante de um contexto de exclusão social na qual o "umbral" seria, na verdade, uma alusão às favelas e à realidade do sem-teto. Portanto, não há a menor lógica em definir Nosso Lar como "socialista", uma concepção ridícula que foi montada por peças soltas e sem nexo pelo pensamento desejoso de alguns "espíritas" alucinados.

O que devemos perceber é que também a mídia reacionária já lançou textos com o mesmo apelo "esquerdista" de Emmanuel e Chico Xavier. São textos que, como o relato "espírita", fazem um falso apoio ao comunismo, dentro daquela lógica: "Comunismo só é bom se ele estiver nos limites das ideias conservadoras em que acredito". A revista Veja, a Rede Globo e a Folha de São Paulo contém vários exemplos neste sentido, da turma que "apoia o comunismo, desde que castrado". É o mesmo que vemos no discurso de anti-democratas que "defendem a democracia" e de violadores da Constituição Federal de 1988, no Brasil, que dizem pregar a "fidelidade total à Carta Magna".

A "justiça social" também sempre foi defendida, no discurso, pela mídia e política reacionárias. Pessoas que defendem a "reforma trabalhista" visando "melhorar a renda do povo pobre". O discurso que defende o fim dos direitos trabalhistas também apresenta falácias "em favor dos trabalhadores", sobretudo quando foram ditas pelo demagógico ex-presidente Michel Temer.

A ditadura militar falava em "fraternidade", tema também exaltado pela retórica dos mesmos sacerdotes que queimavam hereges em praça pública. "Conhecimento" e "Educação" são palavras soltas defendidas por obscurantistas de toda ordem, na tentativa de inverter o discurso da idiotização e da alienação através da falácia de que "só o poder dominante traz Conhecimento e Saber".

Temos que prestar atenção no perfil de Emmanuel, que em outras ocasiões expressava pautas direitistas, como a servidão no trabalho, o machismo da mulher submetida ao lar e à prece e à criminalização do debate aprofundado, definido maliciosamente como "tóxico do intelectualismo". Esses aspectos, ditos com mais explicitude do que o texto "comunista", este cheio de ambiguidades e pontos nebulosos, mostram o quanto Emmanuel e Chico Xavier devem ser sempre entendidos como pessoas reacionárias e não progressistas.

Isso porque o esforço (vão) de "esquerdizar" Chico Xavier é sempre sustentado por ideias soltas e vagas, por apelos emocionais cegos e exagerados, por supostas coincidências que se baseiam em dados superficiais e por conceitos delirantes motivados pelo pensamento desejoso. Tudo isso gera uma abordagem que soa muitíssimo agradável, mas é completamente fora da realidade.

As esquerdas não podem sequer sonhar com Chico Xavier. O "médium" foi, em toda sua vida, uma figura reacionária e tão ultraconservadora quanto qualquer um que apoiou a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro. Se estivesse vivo em 2018, Chico Xavier, anti-petista desde o começo, teria apoiado, com certeza absoluta, o hoje presidente da República. Até Gustavo Bebianno, braço-direito de Jair e chefe da Secretaria de Governo, expressou admiração por Chico Xavier.

Periga dos esquerdistas caírem da cadeira se, mais uma vez, insistirem em mais uma adoração a Chico Xavier. Principalmente quando descobrirem o que ele disse no Pinga Fogo a respeito das esquerdas. Vamos aceitar a realidade, por mais dolorosa que seja, em vez de nos perdermos na fantasia confortável do pensamento desejoso. Chico Xavier e Emmanuel NUNCA apoiaram o Comunismo, seja de que forma ele se manifestasse, pois eles só queriam um "comunismo" castrado pelas regras do Catolicismo medieval.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Publio Lentulus nunca existiu: é invenção de "Emmanuel" da Nóbrega! - Parte 3

OBS de Profeta Gandalf: Este estudo mostra que o personagem Publio Lentulus, utilizado pelo obsessor de Chico Xavier, Emmanuel, para tentar dizer que "esteve com Jesus", é um personagem fictício, de uma obra fictícia, mas com intenções reais de tentar estragar a doutrina espírita, difundindo muita mentira e travando a evolução espiritual. Testemunhos Lentulianos Por José Carlos Ferreira Fernandes - Blog Obras Psicografadas Considerações de Pesquisadores Espíritas acerca da Historicidade de Públio Lêntulo (1944) :   Em agosto de 1944, o periódico carioca “Jornal da Noite” publicou reportagens investigativas acerca da mediunidade de Francisco Cândido Xavier.   Nas suas edições de 09 e de 11 de agosto de 1944, encontram-se contra-argumentações espíritas defendendo tal mediunidade, inclusive em resposta a uma reportagem anterior (negando-a, e baseando seus argumentos, principalmente, na inexistência de “Públio Lêntulo”, uma das encarnações pretéritas do

Provas de que Chico Xavier NÃO foi enganado por Otília Diogo

 (Autor: Professor Caviar) Diante do caso do prefeito de São Paulo, João Dória Jr., que divulgou uma farsa alimentícia durante o evento Você e a Paz, encontro comandado por Divaldo Franco, o "médium" baiano, beneficiado pela omissão da imprensa, tenta se redimir da responsabilidade de ter homenageado o político e deixado ele divulgar o produto vestindo a camiseta do referido evento. Isso lembra um caso em que um "médium" tentava se livrar da responsabilidade de seus piores atos, como se ser "médium espírita" permitisse o calote moral. Oficialmente, diz-se que o "médium" Francisco Cândido Xavier "havia sido enganado" pela farsante Otília Diogo. Isso é uma mentira descarada, sem pé nem cabeça. Essa constatação, para desespero dos "espíritas", não se baseia em mais um "manifesto de ódio" contra um "homem de bem", mas em fotos tiradas pelo próprio fotógrafo oficial, Nedyr Mendes da Rocha, solidário a

Um grave equívoco numa frase de Chico Xavier

(Autor: Professor Caviar) Pretenso sábio, o "médium" Francisco Cândido Xavier é uma das figuras mais blindadas do "espiritismo" brasileiro a ponto de até seus críticos terem medo de questioná-lo de maneira mais enérgica e aprofundada. Ele foi dado a dizer frases de efeito a partir dos anos 1970, quando seu mito de pretenso filantropo ganhou uma abordagem menos confusa que a de seu antigo tutor institucional, o ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas. Nessa nova abordagem, feita sob o respaldo da Rede Globo, Chico Xavier era trabalhado como ídolo religioso nos moldes que o jornalista católico inglês Malcolm Muggeridge havia feito no documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God) , em relação a Madre Teresa de Calcutá. Para um público simplório que é o brasileiro, que anda com mania de pretensa "sabedoria de bolso", colecionando frases de diversas personalidades, umas admiráveis e outras nem tanto, sem que tivesse um