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Conceito de Chico Xavier sobre "vida futura" é contrário à Codificação

(Autor: Professor Caviar)

Tomados da cegueira emocional das paixões religiosas, os seguidores de Francisco Cândido Xavier ignoram ou subestimam que suas ideias contrariavam, de maneira frontal e vergonhosa, as lições originais da Codificação.

Uma dessas violações, que deveriam ser vistas como preocupantes e não como coisa pequena - devemos rejeitar a ideia confortável de que Chico Xavier catolicizou o Espiritismo por "mero entusiasmo de suas origens religiosas" - , é usar a ideia de "vida futura" como pretexto para as pessoas suportarem, caladas, resignadas e sem reclamar, as desgraças acumuladas pelas adversidades da vida presente.

Chico Xavier era do tipo que pouco importava que uma encarnação fosse desperdiçada com tanto sofrimento. Se valendo de um moralismo punitivista, Chico Xavier achava que era na velhice, na encarnação seguinte ou no além-túmulo que viriam as "bênçãos futuras" do sofredor que perde o controle até de sua capacidade de resolver problemas. A partir de Chico Xavier, os "espíritas" costumam dizer uma frase dotada de puro sadismo: "Que são décadas de intenso sofrimento diante da eternidade de bênçãos divinas?".

O excesso de adversidades oprime a alma, irrita ou deprime a pessoa, torna ela preguiçosa, perversa ou traiçoeira. É o instinto animal combinado com as sensações psicológicas. Como um gato ou um cachorro fofos que, acuados, se tornam agressivos, o homem que sofre infortúnios demais passa também a ser agressivo, e, mesmo que tenha que controlar seus atos e instintos, vai reagir a certas situações de alguma forma, nem sempre de maneira positiva. Em muitos casos, a ganância e não a humildade é a filha da desgraça humana excessiva.

Tais ideias, que Chico Xavier expôs em vários livros e depoimentos, mesmo quando atribuídos à autoria de pessoas mortas, contraria seriamente os ensinamentos originais trazidos pela Doutrina Espírita. Embora o foco fosse a previsão do futuro, a Codificação descreve a negligência do presente como efeito da preocupação excessiva com a "vida futura", e um certo desprezo ao momento corrente, que permite, pelo moralismo punitivista de Chico Xavier, aguentar uma overdose de desgraças.

Vejamos o que diz a questão 869 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, Capítulo 10, Lei de Liberdade, no item VII, Conhecimento do Futuro:

"869. Com que fim o futuro é oculto ao homem?

 — Se o homem conhecesse o futuro, negligenciaria o presente e não agiria com a mesma liberdade de agora, pois seria dominado pelo pensamento de que, se alguma coisa deve acontecer, não adianta ocupar-se dela, ou então procuraria impedi-la. Deus não quis que assim fosse, afim de que cada um pudesse concorrer para a realização das coisas, mesmo daquelas a que desejaria opor-se. Assim é que tu mesmo, sem o saber, quase sempre preparas os acontecimentos que sobrevirão no curso da tua vida".

Embora os "espíritas" ou mesmo Chico Xavier adotem uma postura confusa sobre a vida presente, uma hora dizendo "viva o hoje" e "não se preocupe com o amanhã, seja feliz agora", em outra dizendo "aguente o sofrimento, não reclame da vida, suporte em silêncio e creia em Deus porque um dia tudo passa".

A questão 869 já é ruim quando se fala da "profecia da data-limite", porque o modo com que a suposta previsão de Chico Xavier era feita indica violações aos ensinamentos da Codificação, por sinal muitíssimo graves, nas quais bobagens como a invasão de extraterrestres ou a simples provocação de expectativas desnecessárias por conta de uma tal "data-limite", que é o ano corrente de 2019, correspondem, na verdade, a atos típicos de espíritos zombeteiros e grosseiros, o que derruba qualquer atribuição ao "médium" como "espírito de luz".

A atribuição da "profecia" de Chico Xavier como um ato leviano, da natureza de espíritos inferiores, grosseiros e zombeteiros - sobretudo quando empurra a tal tese da "invasão de ETs", feita ao sabor dos delírios ufologistas e sob o arrepio total da Ciência Espírita - , é identificada em outro livro kardeciano, O Livro dos Médiuns, na 2ª Parte, Das Manifestações Espíritas, Capítulo 26, Perguntas Que Se Podem Fazer, correspondente ao Conhecimento do Futuro (item 289):

7. Os Espíritos podem nos desvendar o futuro?

— Se o homem conhecesse o futuro, negligenciaria o presente. É esse um problema sobre o qual sempre insistis para obter resposta precisa. Trata-se de um grave erro, porque a manifestação dos Espíritos não é meio de adivinhação. Se insistirdes numa resposta ela vos será dada por um Espírito leviano. Temos dito isso a todo instante.(Ver O Livro dos Espíritos, conhecimento do futuro, nº 868).

8. À vezes, entretanto, alguns acontecimentos futuros não são anunciados espontaneamente pelos Espíritos de maneira verídica?

— Pode acontecer que o Espírito preveja coisas que considera conveniente dar a conhecer, ou que tenha por missão revelar-vos. Mas é nesses casos que mais devemos temer os Espíritos mistificadores, que se divertem fazendo predições. É somente pelo conjunto das circunstâncias que podemos julgar o grau de confiança que elas merecem.

Notemos que Chico Xavier deu, em várias ocasiões, predições oportunistas que tinham por fim combinar a provocação de sensacionalismo com a do fanatismo religioso. Misturando medo com deslumbramento, os chiquistas ignoram que suas "profecias" são profundamente levianas, além de cheias de erros geológicos e sociológicos grosseiros, e que ele havia dito para se divertir (sim, é isso mesmo). Chico Xavier se aproveitou, por exemplo, da ingenuidade dos expectadores do Pinga Fogo (em 1971) e do entusiasmo ingênuo do jovem Geraldo Lemos Neto (em 1986) para despejar suas fantasias "proféticas" como pretensa ciência.

Como os seguidores, ou mesmo alguns simpatizantes "distanciados" e "leigos" de Chico Xavier são tomados de paixões religiosas, seduzidos pela imagem traiçoeira desse grave deturpador dos postulados espíritas, ninguém desconfia de tais "profecias" e nem se atém a parar para pensar e admitir que elas correspondem ao que Allan Kardec definiu como "brincadeira de espíritos inferiores".

Kardec era muito claro ao dizer que, quando espíritos - encarnados ou desencarnados - decidem definir dadas precisas para acontecimentos futuros, eles demonstram serem não iluminados ou superiores, mas espíritos inferiores, de nível moral baixíssimo, de caráter zombeteiro e que se aproveita da credulidade e da ignorância coletiva para impor medo e ansiedade através de pretensas previsões.

A vida futura é um mistério. Não se sabe o que vai acontecer porque os interesses e relações humanos podem mudar completamente, assim como o curso das sociedades e das nações. Imprevistos como o incêndio do Museu Nacional não eram imaginados pela maioria das pessoas, mesmo com o descaso das autoridades à preservação do seu prédio, na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro. Também era inimaginável, em 2012, que o fascista Jair Bolsonaro iria vencer as eleições presidenciais.

Prever o futuro com datas precisas é, portanto, uma ação leviana de arrogância e baixa moral que comprovadamente coloca o "médium" Chico Xavier num nível de grotesca inferioridade espiritual, desfazendo a imagem "iluminada" que sua propaganda insiste em fazer, promovendo pretensa unanimidade, por conta da rendição fácil dos brasileiros às tentações maliciosas das paixões religiosas.

Da mesma forma, querer que a pessoa aceite ser capacho das adversidades do Destino sob o pretexto de que "na vida futura será melhor" é uma manifestação não de moral superior, mas antes do egoísmo do pregador religioso e do desprezo com o sofrimento alheio. Em muitos momentos, Chico Xavier demonstrou seu caráter desumano, sobretudo quando acusou as vítimas do incêndio do Gran Circo Norte-Americano, em Niterói, no final de 1961, de terem sido "romanos sanguinários". Vale lembrar que acusações semelhantes já renderam processos judiciais por danos morais. A carteirada religiosa não pode ser desculpa para se permitir juízos de valor tão perversos.

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